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sexta-feira, 27 de maio de 2011

Crônica do Dia

E pra encerrar a semana, quem nos traz a releitura de uma história de arrepiar é a aluna Regina. 
Aproveitem o conto e bom final de semana!!!

"Além da Imaginação"
(Uma cena no Museu)


Pós-guerra, década de 40; no bairro do Brooklin vivia Herbert, um homem de aspecto solitário, chapéu, echarpe no pescoço, barba e bigodes bem acentuados.
Parecia querer não ser reconhecido. Pouco saía de casa. Nas raras vezes em que saia, era ao cair da noite, para não ser percebido. Ele era de naturalidade alemã e estava se refugiando em áreas predominantemente de pessoas judias.
Há anos trabalhara em campos de concentração nazistas com instrumentos de tortura.
Nas noites que saia de casa, temeroso de ser reconhecido, ia para um museu, próximo de seu esconderijo.
Entrava no museu e apreciava lentamente, cuidadosamente, detalhadamente as obras de arte ali exposta.
Certa feita, deparou com um quadro de paisagens muito verdes, um grande lago e um barco ao longe.
Ele se transportava e se imaginava horas a frio neste barco, velejando bem devagar, apreciando minuciosamente a natureza que circundava o referido lago.
Depois, retomava à realidade e ia para casa.
Certa vez, perto do quadro que ele gostava muito, reparou um outro, e ficou arrepiado. Era a cópia de uma "Cadeira do Dragão", instrumento de tortura nazista, que ele mesmo idealizara e fabricara.
Ao olhar fixamente para o quadro, ele viu sua própria figura ao lado do referido artefato.
Voltou logo para casa, nervoso, e no meio do caminho, esbarrou com um homem que pareceu tê-lo reconhecido.
_Ei, você! Não  nos conhecemos?
Mais angustiado, foi para casa e resolveu que iria se mudar.
Pegou seus pertences, deu para os vizinhos, e pensando consigo mesmo foi direto para o museu, já noite, na intenção de refugiar-se definitivamente no lago.
Sem que ele soubesse, dias antes estavam organizando uma exposição, que modificaria a disposição dos quadros.
Chegando lá, com o museu às escuras, apavorado e querendo fugir de si mesmo, ele procurou o local do tal quadro do lago e, sem hesitar, entrou na referida gravura.
No dia seguinte, com a abertura normal do museu, as pessoas puderam apreciar a nova exposição...
 o museu estava cheio.
Uma senhora com sua filhinha apreciavam a exposição, quando a menina perguntou:
_Mamãe, está ouvindo uma voz estranha vinda daquele quadro?
A mãe nem dava atenção, pois via o absurdo de sua palavras.
A menina insistia:
_Estou ouvido um voz vindo daquele quadro: Socoooooooooooorro! (voz da menina)
A mãe, prestando atenção, mais perto da filha, diante da "cadeira do Dragão", ouve também...
_Socooooooooorro, Socooooooooorro, tirem-me daqui!

Regina Celia

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