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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Crônica do dia

Hoje, para terminarmos a nossa semana de tradições/costume, temos a crônica da aluna Thaïs Thedim que fala sobre momentos de nossa vida que não valorizamos  e objetos que consideramos sem  importância.  

Cacos? Quebra Cabeça? 

"Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara.
Sem uso, ela nos espia do aparador" 

        Carlos Drummond de Andrade 

Poucas palavras me lembraram o Haikai.
Não precisamos escrever ou falar muito para expressarmos nossos pensamentos. Fiquei com vontade de fazer crescer este poema de Drummond, acrescentando sentimentos que ele me transmitia. 
Primeiro escrevi: 
Perdi aquele caco. 
Será que vou achar? Será que preciso achar ? 
É um pedaço de minha vida que seria melhor esquecer, jogar fora. Mas, sem ele, fica aquele buraco, vazio... Tenho medo de deixar a vida escorrer por ali, levando também as boas lembranças. 
Quero aquele caco! 
Preciso achar aquele caco. 
Dias depois, me deu vontade de explicar melhor o que estava acontecendo e escrevi: 
Cacos!
Quantos cacos comporiam minha vida? 
Fico lembrando de tudo que já se quebrou desde que eu era pequena. Não falo dos brinquedos...nem das pontas dos lápis.
Lembro bem da caneta do colega de trabalho de minha mãe; mal segurei, ela se partiu."Estabanada!" Sempre ouvia essa palavra.
Não eram, entretanto, estes cacos. Eram as emoções, os sentimento.
Não é a caneta quebrada o problema, e sim o que ela representava: Coitada de minha mãe, tão sem dinheiro, como iria comprar outra para devolver inteira ? 
Cada decepção, cada perda, cada sonho não realizado...são pedaços da minha vida. Como em um grande quebra cabeça, vou juntando todos eles, mas não consigo formar uma figura completa. O que falta? Será que houve perdas tão insignificantes que se esfarelaram com o tempo? Fico pensando, tentando juntar mais peças. Faltam muitas; muito mais do que já achei. 
De repente, o Arpoador, na hora do por do sol. Acompanho os aplausos do espetáculo da natureza. As cores me fazem lembrar do arco íris de Foz do Iguaçu, do amanhecer na Avenida Atlântica- rosa, quase vermelho- dos primeiros desenhos dos meus filhos (muitas cores misturadas). O olho azul do meu neto, as pestanas castanhas do outro, o cabelo dourado da pequenininha. O colorido da platéia que me aplaudia de pé quando eu terminei o discurso de formatura, as brincadeiras, a Torre Eifel, o passeio de gôndola em Veneza, a água azul de Mônaco, as conquistas, as vitórias conseguidas, quantas... com tantas cores.
A figura, antes incompleta, começa a tomar forma. Vou pensando em tanta coisa boa. Uma lembrança puxa a outra, e percebo que, enquanto eu procurava cacos de tristeza, esquecia os inúmeros pedaços de alegria que encheram minha vida. 
A figura ainda não está completa. O que falta? 
Alguns caquinhos de tristeza, ainda irão aparecer, mas farão parte do conjunto maravilhoso de minha história. Ainda vou preencher muitos espaços com alegrias e conquistas ! 

Thaïs Thedim
                    

Um comentário:

Anônimo disse...

Thais,
Magnífica manifestaçao do seu íntimo.
Por isso dizem que a esperança é a ultima que morre!
Parabens e continue!
Do colega
Samuel.