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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Crônica do Dia

Começando bem o segundo semestre, vamos falar sobre moda, com a crônica do aluno Apolinário Albuquerque.

Seu nome é sucesso

Quando a conheci – ela tinha uns cinco anos – surpreso vi anunciarem o seu nome naquele desfile. Aí lembrei daquela menina espiritada, muito ativa  e, quase sempre, a organizar as brincadeiras e comandar as ações que o grupo de crianças iria praticar naquela tarde. Até a sua chegada, era aquela brincadeira de criança sem maiores consequências, mas bastava ela chegar para que a coisa pegasse fogo. O pior é que as vezes pegava fogo mesmo, e os testemunhas nem se zangavam – até riam, os irresponsáveis. 
As suas ideias não desagradavam nem um pouco aos moradores daquele prédio – era mais um motivo de alegria a sua inocente intervenção eletrizante a marcar as nossas vidas. Sabíamos todos que ali naquela moreninha estava uma inteligência a desenvolver habilidades – que mais tarde lhe serviriam à vida profissional.
O que eu não sabia era que o destino lhe reservaria ir tão longe, meu Deus. 
Pelo que soube, ela tentou estudar geologia, mas, no meio do curso, conheceu um Francês, aqui no Rio mesmo, e quis o acaso que eles se envolvessem – mesmo ele sendo um pouco mais velho do que os belos vinte e poucos anos dela. Assim se vai a nossa moreninha residir em, nada mais nada menos que: Paris. Como o destino dos predestinados, o seu francês vem a falecer seis anos depois de casados. Mas a nossa heroína não podia ficar a ver navios – para salvar barcos em tempestades é que foi treinada, não? 
Herdou um lugar para morar e uma fábrica de camisas falida – como sempre, agiu: foi buscar a solução para aquele problema  o qual, em seu íntimo, gritava muito mais como uma oportunidade, e não um problema de verdade. 
Assim foi dar expediente de tempo integral na sua fabrica – sem nada saber de moda, de costura, de modelos, de comércio, de relações, enfim, de nada versus nada. Mas sabia que tudo que precisava estava no seu interior e se chamava: vontade. 
Arregaçou as mangas e, como loba faminta, pôs-se a trabalhar – das sete às 22:00h – aprendeu rapidamente a diagnosticar por que as camisas que fabricava não eram bem aceitas pelos pressupostos clientes. Aprendeu a farejar o mercado – aprendeu a sentir o gosto da moda – e se lembrou da sua terra – das festas de ano novo, em que todos vestiam branco; lembrou-se das apresentações na praia, no último dia de cada ano, quando os centros de umbanda e de candomblé faziam suas oferendas – todos vestidos de branco. 
Achou o caminho – faltava aprender a desenhar, a fazer com que seus desenhos virassem peças únicas e desejadas. Começou com camisas brancas – sempre brancas – vários modelos, todos com babados, com rendas e lembranças de sua terra e suas crenças. 
Passaram-se os anos de chumbo – de trabalho árduo – até que se tornasse a mais conhecida estilista do mundo, como se diz por aí, “todos só querem saber da cachaça que eu bebo, mas ninguém quer saber dos tombos que eu levo”. Assim, ela se tornou a estilista mais especializada em camisas brancas e tem o privilégio de vestir gente como: “Uma Thurman, Britney Spears, Catherine Deneuve, Michelle Obama, Carla Bruni e muitas outras celebridades”. 
Hoje a nossa menina é conhecida no mundo todo como a "estilista das camisas brancas"; chega a desenhar mais de 1,4 mil peças, mas nem todas são realmente produzidas, porque  esses desenhos são apresentados para escolha de peças únicas, exclusivas. 
As peças produzidas em escala são vendidas em 70 boutiques, espalhadas pelos diversos países do mundo – Europa, Japão, Estados Unidos. Setenta é um número provisório, porque ela continua trabalhando. 
Claro que, em suas lojas, além das famosas camisas brancas, também se vendem outras peças, sempre artigos de moda, principalmente vestimentas femininas – acessórios, bolsas, cintos – tudo desenhado e produzido pela estilista, aquela menina espiritada lá do prédio da rua das laranjeiras. 
Fiquei tão empolgado que quase me esqueci de informar: se estiver em Paris, ou noutro centro de moda mundial, e quiser fazer uma compra exclusiva, prepare-se para gastar em uma camisa, de trezentos até sete mil reais. Procure por Anne Fontaine. Não se preocupe com o idioma, ela fala português brasileiro e, o melhor, carioquês, se você for daqui. Se ela não puder lhe atender pessoalmente, não se estresse por isso, deve estar viajando por esse mundão que Deus lhe deu para se tornar uma vencedora. 

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