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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Crônica do Dia

A aluna Ney nos relata a boa lembrança e sentimentos que o avô lhe deixou.

Carinho e afeto...

Lembro que, quando menininha, morava com meu pai e minha mãe na casa de meus avós maternos.
Vida difícil, que não percebia por ser uma criança. Problemas não faltavam, mas, mesmo assim, eu era feliz com o afeto que meu avô me dava. Mesmo durão com todos, ele encontrava tempo para me dar carinho.
Todas as noites, quando chegava, ia tomar banho, depois jantar a comida muito gostosa que vovó fazia. Ficava a esperar uma brecha para me aproximar e filar umas garfadas de seu prato. Vovô sabia da minha vontade, dava uma piscadinha e lá ia eu me encostando do ladinho dele; eu sempre fazia isso, mesmo contra a vontade de minha mãe, pois quando percebia me tirava correndo dali. Não ficava nem um pouco chateada, às vezes ia até rindo do acontecido, pois sabia que no outro dia eu ia fazer o mesmo.
Homem alto e forte, era assim que via meu avô com seu cabelo grisalho, tinha aparência cabocla, ouvia dizer que ele era descendente de índio, nunca soube ao certo.
Passada a hora do jantar, ia ele para a cadeeira de balanço, ligava o rádio para ouvir a Ave Maria, a Voz do Brasil, o Repórter ESSO, depois cantigas sertanejas, pois meus avós vieram lá das Minas Gerais. Tinham saudade da roça, onde não conseguiram ficar, e vieram tentar a vida sacrificada da Cidade. Mesmo assim, ele conseguia ser o patriarca e amigo. Neste momento, ia outra vez me aconchegar no seu colo, e, no balanço da cadeira, adormecia, às vezes não tinha nem tomado banho. Mamãe aborrecida, mais uma vez, me tirava daquele colo gostoso, me colocava na cama onde dormia junto de minha irmã mais nova.
Sei que muitas vezes ele pedia para mamãe, "deixa a menina comigo", ela falava, " ela tem que dormir na cama". Isso ele me contava quase sempre quando conversava comigo, tentando explicar que ela queria também o meu bem. Velho e sábio, ele entendia os problemas de meus pais e meu apego por ele.
Meu avô me ensinou a querer bem às pessoas, me ensinou a ter fé, foi meu amigo mais afetuoso. Sou assim do jeitinho que ele me mostrou, sou muitas vezes durona, mas tenho muito amor para dar.
Espero ter passado para vocês, colegas e professores, que, apesar de todas as dificuldades de uma pessoa, sempre há um anjo, como meu avô, para ensinar a modelar bons sentimentos num ser em crescimento.
Vovô, espero que, onde você estiver, escute esta homenagem em agradecimento pela pessoa que plantou em mim. Deus o abençoes.

Ney Bretas Neves 

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