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quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Hoje temos para mais um dia de criança, a crônica da aluna Stella, contando suas peraltices da infância. Divirtam-se!  

Minha infância: Desabafo 

Minha infância foi tranquila. Embora no exterior o mundo desabasse e explodisse com a segunda guerra mundial.
Morávamos no Rio de Janeiro, naquele tempo Distrito Federal, numa casa grande com um quintal também grande, onde meu avô, o dono, como um bom português, plantava todas as espécies de árvores frutíferas que eu conhecia.
Eu e minha irmã brincávamos de balanço com os galhos de um pé de tamarindo. Subíamos nas goiabeiras, nas mangueiras e outras árvores, e colhíamos todas as pitangas, jabuticabas, jamelões, ameixas, direto e íamos comendo até empurrar com o dedo pela goela a baixo. No dia seguinte, não se ia a escola, pois o aparelho digestivo não aguentava.
Meu avô, com aparência moura, tinha uma voz forte, que nos assustava, mas a lembrança que tenho dele e de minha avó é a melhor possível, pois, qualquer que fosse a travessura, eles sempre nos defendiam, tivéssemos razão ou não. Lembro-me bem de que, quando minha mãe ralhava, eu corria para vovó. Ela, mesmo dando razão à mamãe, acrescentava com um sorriso carinhoso e cúmplice:
__Stellinha, não devias ter feito isso, mas vem cá. Tenho um docinho de pera de que tanto gostas, e espera aqui até os ânimos acalmarem...
Ah, o docinho de pera... Nunca mais comi igual.
Meu pai e minha mãe foram bem casados, durante mais de quarenta anos, o que hoje raramente se vê. Minha mãe era "disciplinadora", mas usava mais as palavras do que o chinelo. Bastava um olhar seu e eu e minha irmã já entendíamos o que ela queria dizer...
Fui muito tímida, mas fazia minhas peraltices. Era, porém, minha irmã gêmea, quem puxava o "cordão das artes" e eu ia atrás. O interessante dos nossos temperamentos é que nos complementávamos e sempre nos entendemos muito bem, apesar de sermos completamente diferentes uma da outra, em todos os aspectos. 
Pelo fato de ser muito tímida, só quando comecei a trabalhar e fazer minha faculdade à noite, é que mudei. Sou hoje uma senhora idosa extrovertida que conserva boas lembranças da infância.
Se me perguntarem hoje, diria que não gostaria de voltar à infância, pois a timidez atrapalhou. Só comecei a viver e usufruir da vida, depois dos vinte anos. 
E começar de novo, não. Só em uma próxima vida e que eu venha uma criança mais extrovertida.             

Stella Muehlbauer

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