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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Crônica do dia

Hoje, a crônica da aluna Honorina, em que nos relata o que lhe aconteceu em 2004, no cemitério de Inhaúma. Boa leitura!

Cenas reais do Cemitério de Inhaúma

Eu já tinha lido uma crônica de Lima Barreto, falando sobre enterros no Cemitério de Inhaúma. Ele conta que o defunto foi cuspido do caixão quando era conduzido para o cemitério, devida à estrada ruim, e que o morto estava vivo, ficou muito irritado por ter voltado ao mundo dos vivos, querendo processar quem o tinha trazido de volta.
Outro  caso que o autor relata é a do enterro do Felisberto Catarino, que por ser muito querido, todos o queriam levar à última morada. Como era muito distante, durante o cortejo, em todo bar por que passavam, paravam para tomar um trago e deixavam o morto na beira da estrada, aconteceu que ficaram bêbados e perderam o defunto, só quando chegaram ao Campo Santo, que sentiram sua falta e voltaram para procurar. Isso ocorreu em 1922. Entretanto, agora, em 2004, presenciei um fato muito cômico, também no cemitério de Inhaúma, o qual posso relatar.
Por volta das 14:30 horas, todos reunidos para as despedidas do corpo, como é de praxe. Ele era marido de uma colega de trabalho. Na hora de carregar o caixão, para o carro que levaria à sepultura, houve um grande tumulto, eu pensei que era assalto, pois estava acontecendo muito assalto em velórios. Houve correrias, gritos e um grande barulho, eu imaginei serem tiros, fiquei apavorada. Então eu e minha supervisora corremos e entramos no banheiro dos homens, e saímos rápido, tendo impressão de que estavam nos seguindo, me perdi dela, corri até o final das salas e tinha outro defunto sendo velado. Só havia uma moça, eu entrei e sentei-me no banco, fiquei imóvel, não consegui levantar com uma dor na coluna de nervoso. Nesse momento de aflição, olho para cima e vejo uma imagem de São Jorge, eu começo a pedir que me tirasse dessa angústia. Garanto que, se aquela confusão chegasse até ali, eu abraçaria o caixão naquele momento. Só havia uma moça na sala e que na hora saiu para ver o que estava acontecendo. Logo que diminuiu a confusão, eu perguntei à moça o que tinha acontecido. Ela respondeu que era briga de família. Quando parou, eu saí e vi o irmão e o pai da minha colega feridos, rasgados, um sem camisa, vasos quebrados... E o caixão estava dividido entre o carro e o chão, foi horrível. Eu consegui passar e saí rápido, de volta para casa. De repente, vem minha colega (a viúva) com o filho caçula, em passos largos, até me assustei, achei que nem sepultaram o defunto, passaram por mim rápidos, e sumiram. Eu estava nervosa, pois não vinha o ônibus, o tempo fechado, já escurecendo, parecia que era outro mundo. Eu tive vontade de pegar um táxi, mas no momento só tinha vale transporte, pensei em pegar, e em casa pagar, mas finalmente o ônibus 360 apareceu.
Quando passei em frente à capela, não havia mais nada, respirei aliviada. Quanto a minha supervisora, só nos encontramos no dia seguinte, no trabalho. Aquele lugar me deu uma sensação horrível.
Chegando a casa, tomei um chá de camomila bem forte, para acalmar os nervos e esquecer aquele episódio... Aconteceu em 2004.

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