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terça-feira, 22 de maio de 2012

Crônica do dia

Hoje temos uma reescrita surpreendente da aluna Dilza. Boa leitura!

Falta de sorte

Ele era uma pessoa correta, muito ética, mas sentia-se um fracassado.
Nada que fazia dava certo:
A faculdade teve que interromper faltando apenas dois períodos para o término. Engravidara a namorada e teve de assumi-la junto com o filho, que não poderia deixar sem nome e sem lar. Casou-se, sem pompas, sem festa e o mais rápido que pôde. Mas, com um caminhão de dívidas, pois apesar de optar morar com a mãe a fim de economizar despesas, teve que mobiliar seu antigo quarto, para acomodar sua esposa e o filho que chegaria em breve: comprou cama e colchão de casal, berço para o neném e um enxoval simples, mas necessário.
Atolado em dívidas e sem emprego. Fora demitido do estágio que fazia, pois parara a faculdade.
O filho chegou. O emprego não. Continuava procurando e procurando. Sobreviviam com a pensão da mãe viúva, mas isto lhe incomodava bastante. O que fazer?
Um amigo lhe disse que a causa de seus problemas só poderia ser algum trabalho, alguma mandinga bem feita que o trazia bem amarrado, que não deixava sua vida ir para frente. Pensou, pensou... e acabou achando que seu amigo bem poderia estar certo.
Só uma dúvida: se não desejava o mal de ninguém, quem poderia ter lhe entravado a vida dessa maneira, tão fortemente que nada dava certo para ele? Ah! só se fosse a sua ex-namorada. Aquela com quem terminara para ficar com sua atual esposa. Mulher rejeitada é pior que um animal feroz: faz de tudo para destruir o outro e, nesse caso, o outro era ele. Sim, só poderia ter sido ela. Dúvida sanada, procurou o amigo. Queria um aconselhamento. Será que ele sabia como desfazer o tal trabalho?
É claro, disse o amigo, vamos ao terreiro que frequento. Lá são especialistas em fazer e desfazer mandingas. É tiro e queda, não tem erro!
Combinaram e no dia marcado lá se foram os dois. O amigo tranquilo, ele ansioso. Finalmente seus problemas acabariam...
Chegou a sua vez de ser atendido. Mandaram que ele fizesse um despacho à meia noite numa encruzilhada: rosas vermelhas, uma garrafa de espumante e alguns charutos. Só isso? Vai ser mais fácil do que eu pensava. Comprou tudo e lá se foi arriar o despacho. Missão cumprida, voltava para casa aliviado. Finalmente seus caminhos estavam liberados e a sorte lhe sorriria. Parecia que havia se desfeito de um peso enorme. Estava leve, feliz e distraído. Tão distraído que não percebeu na calçada mal iluminada um buraco relativamente grande. Foi a conta: caiu nele e, por sorte, apenas quebrou uma perna.

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