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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Crônica do dia

Hoje temos um conto surpreendente da aluna Ney. Divirtam-se!

A surpresa do descansado

Embora saibamos que podemos humanamente ser capazes de resolver nossos próprios problemas, sempre arrumamos desculpas para crises existenciais.
Aconteceu com Marcelo, não conseguia prosseguir estudando, não conseguia um bom emprego que pudesse abrandar seu infortúnio. Sempre na aba de seus pais.
Conheceu Zilda, moça trabalhadeira, cheia de sonhos, mas que foi logo se apaixonar pelo descansado. Claro que a família não fazia gosto naquela união. Seu irmão Zeca tinha raiva do sujeito, sabia que o cara era um garganta, sempre arrumando desculpas dos seus desempregos. Falava para os amigos que o patrão implicava com ele sem motivos, dizia até que parecia coisa feita, que um dia ia descobrir que mandinga era quela que não deixava ir para frente. Já andei até pesquisando no jornal por uma boa cartomante, o dia que arranjar algum emprestado, vou lá, ah se vou!
Assim, passaram muitos anos, e a vida da vítima não mudava, sempre com as mesmas desculpas. Ao contrário, sua mulher batalhando muito para sustentar casa e filhos, não esmorecia, moça bonita e formosa, já estava ficando envelhecida de tanta luta, sempre procurava mais para fazer, encontrando todo tipo de trabalho para favorecer seu lar.
Zilda, de tanto ouvir o cara falar de cartomante, ficou querendo saber se elas poderiam dizer aquilo que fazia pessoas acreditarem nas coisas para melhorar suas vidas. Havia clientes que só faziam tudo com conselho de sua cartomante. Foi então que começou a ler livros de quiromancia e tentar se tornar uma boa cartomante. Visitou uma, e outra, e percebeu que era fácil ludibriar pessoas ansiosas, e se assim fizesse também, ali iria ganhar um bom dinheirinho para aumentar o sustento de sua casa, claro, não deixando seu trabalho de carteira assinada, para não dar na pinta.
Assim se passaram mais alguns meses, Zilda, hoje Madame Zuleica, faz sucesso com suas adivinhações, passado, futuro, dizia seu pequeno anúncio, num jornal.
Chegava sempre em casa cansada do trabalho, e nos dias em que também dava as consultas era um caos. Pois tinha que usar de toda sua malícia para poder convencer seus clientes, que agora iam aumentando. Ela ficava admirada com tanta popularidade que adquirira. Foi passando o tempo, já produzira uma vestimenta apropriada para seu desempenho cigano.
Um belo dia, ia já fechar os trabalhos, quando bateram em sua tenda, ao abrir, deparou com o seu marido. Ela não se abalou nem um pouco, pois sabia das intenções do descansado. Ele por sua vez ficou apavorado com a surpresa, sua mulher tão dedicada, provedora da família, ali na sua frente vestida daquele jeito, até muito formosa, como há muito não lhe apreciava.
Para ela não houve nenhum espanto, falou com voz firma: Senhor, quer saber o quê?

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