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quinta-feira, 21 de março de 2013

Crônica do dia

Hoje nossa aluna Yara nos relata o sufoco que teve para encontrar a sala do LerUerj, logo em sua primeira aula na Oficina! Acompanhemos seu trajeto turbulento pelos corredores da universidade!


Confusão ou Destino?

Desejava me conhecer um pouco mais. Minha capacidade de comunicação e exposição de ideias. Enfim, interagir. Mas como?
No momento da escolha, tive dúvidas, mas como se diz "quem arrisca não petisca", resolvi: vou ingressar na Oficina de Crônicas da UNATI. Assim fiz.
Cheguei à UERJ em cima da hora do início da primeira aula. Até aqui tudo bem. A partir de então começou o teste de resistência física e emocional. Busco a sala indicada anteriormente no mural. Sim, porque com antecedência tinha anotado, e nada. Sem prévio alongamento, começo o circuito de busca da sala pelos longuíssimos corredores da UERJ. Sobe andar, procura bloco, sala, desce andar no mesmo circuito e nada. Cadê a sala, meu Pai? Naquele momento me senti perdida nos labirintos da universidade. Os minutos correndo soltos no relógio e eu atrás da sala. Pensei: isso é um aviso para desistir. Vou jogar a toalha e voltar para casa. Minhas pernas já sinalizavam: STOP!
Pensei: o cão treinado obedece a comandos e o burro empaca na teimosia. Eu sou um pouco dessa mistura. Voltei para a UNATI. No mural descobri o motivo do meu desacerto. A nova indicação da sala, escrita a caneta, corrigia a anterior. Com quase uma hora de atraso localizo a sala.
Esbaforida e porque não dizer envergonhada reflito: "entro ou não? Sou mesmo tupiniquim." Tomei coragem, pedi licença ao Gabriel (professor) e entrei. Neste momento, olhos me vendo, a vergonha aumentou, mas a curiosidade foi maior. Fiquei.
Sonetos do POETINHA seriam analisados pela turma junto com o Gabriel. Coloquei meus neurônios em alerta, já que nunca me atraiu a poesia (lembrando tenho muito de burro xucro).
A aula correndo, o professor explanando e eu pensando: caí de pára-quedas nesta oficina, tudo contra, tanta confusão, mas, se foi o destino? Está tudo certo.
Vou pagar para ME ver.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Crônica do dia

A crônica de hoje é da aluna Rosa, que faz pequenos apontamentos sobre os sonetos "O verbo no infinito" e "O ar", de Vinicius de Moraes. Boa leitura!


O VERBO NO INFINITO

A forma é de uma ciranda de palavras baseada em contrastes.
A criação de um ser ou o nascer do amor, se bem que, quando um ser nasce, ele nasce com o amor, e daí a ciranda se confunde em o ser e o amor.
Continuando na ciranda, o ser ou o amor está crescendo e se desenvolvendo.
No crescimento, o ser passeia por saber e ganhar e perder e se maldizer.
Finalmente, o ser ganha um novo amor para retomar a ciranda.

O AR

O eu lírico projeta no vento seu ciúme e desejo de posse da amada, que, em seu devaneio, apraz-se com as carícias do vento, ou de outro.
Ele, continuando com seu ciúme, descreve a beleza de sua amada e o atrevimento do vento e/ou de outros com ela.
Justifica-se em sua inocência por não haver percebido nada, quando desde o princípio ele já demonstra ciúmes em relação ao vento.
Numa tentativa de se afirmar como garanhão ante a amada, chama o vento de velho, e se vangloria em saber "brincar" muito bem de vento.

terça-feira, 19 de março de 2013

Crônica do dia

Hoje temos a crônica do aluno Samuel, fazendo algumas considerações sobre os poemas trabalhados em sala. Boa leitura!


Vinicius de Moraes

O Poetinha, como era conhecido, se já não estivesse ausente há trinta e dois anos, estaria por completar um centenário de idade em outubro próximo. Esta sua ausência privou-nos de sua companhia a nós idosos, e tantos outros nossos contemporâneos.
E perguntamos se nós idosos teríamos o direito de examinar e comentar sua obra, e mais ainda seus sonetos. Sim, teríamos este direito porque ele nos deixou com 66 anos de idade - na terceira idade, tal como nós nos encontramos nestes dias.
No soneto "O verbo no infinito", ele expõe sua elevada mística calcada nos dogmas cristãos, de tal modo a unir a Luz que nos vem de cima com a materialidade do cotidiano em estado de continuidade perene, para enfim retornar à infinitude da origem atemporal, num ciclo que se repete infinitamente. Sem perder a visão interior dos fenômenos de uma existência terrena, toca por tangente na sensualidade do amor. Comungando com ele, participamos como se fôssemos nós mesmos a passar por aquela existência contida na poética do soneto. E nisto estamos a criar, a gerar, a transformar, a amar, a viver, a crescer, a conhecer, a ter e perder, a recomeçar, a abandonar, a retornar fora do tempo que nos limita. Pulsar com esperança de uma solução de continuidade é a mensagem que o Poetinha está a nos passar.
Do terceiro soneto de "Os quatro elementos", "O ar", para termos melhor noção e visão, faz-se necessário que conheçamos os demais sonetos - "O fogo", "A terra" e "A água", escritos em Montevidéu, em 1960. Ali, ele manifesta em plenitude sua alma de poeta, abordando direto o desejo sensual pela sua Amiga Amada, numa narrativa que nos excita a imaginação e, se possível for, as funções endócrinas. Fantasiamos com ele em deserta praia em companhia de deslumbrante uruguaia. Faz-nos sonhar com amores proibidos e impossíveis. Se o permitimos, arrasta-nos no fogo, pela terra, envoltos no ar e na água da sensualidade. Como um personagem que enfrenta adversários subjetivos como o Sol, a Terra, o Vento e a Água fluídica, ele termina por ter como prêmio o corpo da Amada Amiga. Deste modo, ele confessa, em narrativa, suas aventuras amorosas em solo alienígena. Expõe-nos a sua particular concepção de que prazer não é pecado; contudo, não é lícito o prazer no pecado.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Crônica do dia

Mais um semestre se inicia e desejamos boas vindas aos novos alunos!
Hoje começamos as postagens das crônicas dos alunos.
Semana passada lemos dois sonetos de Vinicius de Moraes, inspirada em um deles, nossa aluna Yolanda faz uma bela confidência. Uma boa leitura!


Com mão contente a Amada abre a janela
sequiosa de vento no seu rosto
e o vento, folgazão, entra disposto
a comprazer-se com a vontade dela.

Mas ao tocá-la e constatar que bela
e que macia, e o corpo que bem-posto
o vento, de repente, toma gosto
e por ali põe-se a brincar com ela.

Eu a princípio não percebo nada...
Mas ao notar depois que a Amada tem
um ar confuso e uma expressão corada

A cada vez que o velho vento vem
eu o expulso dali, e levo a Amada:
- Também brinco de vento muito bem!
(Vinicius de Moraes)

Cá entre nós, poetinha...
Este seu soneto me reportou até janeiro de 1976.
Vento gostoso de final de dia, vento balançando as casuarinas... Brando, gostoso, com aquele barulho de vento... inesquecível.
Casa cheia de veranistas, convidados dos primos Antônio e Laís.
Camas lotadas, colchonetes espalhados pelo chão, para os solteiros.
Um fogo abrasador tomava os corpos de um casal com dois anos de convívio.
Tempos de grandes chamas e que vento nenhum era capaz de apagar. Como apagar a chama do amor?
Saímos na calada da noite e nos entregamos e concebemos uma doce menina.
Nove meses se passaram. Em outubro, a prima Laís queria, a todo custo, saber "como?", "onde?".
Eu nunca contei para ninguém, mas, você, poetinha, me fez voltar no tempo, me envolveu novamente no vento.
O seu vento se transformou naquele vento de casuarina de Arraial do Cabo!
É o nosso grande segredo, meu poeta.