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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Crônica do dia

Texto do aluno Samuel Kauffmann sobre a inovação tecnológica e as relações pessoais. 

  WWW. Tbm?

Já não tenho um tempo meu para meditar. Quando pensei em escrever e calcular usando velhos métodos, colocaram um computador em minha mesa e disseram:
- Agora é tudo por aqui. “Se vira”...
Céus! Que é que eles querem de mim, um idoso? Olhei para aquela máquina que já tinha visto em outras empresas. Havia um pouco de familiaridade. Onde? Ah! Aqui no teclado. E só! Parece com a minha velha máquina de escrever. E esses outras teclas para que servem? Fiz uma série de experiências e deu em nada. Opa! Acho que complicou... A máquina travou.
Naquela noite fiquei após o expediente e coloquei a correspondência em dia, mas com a velha datilografia. Também terminei os cálculos com a calculadora de impressão. Estas duas nunca falharam comigo.
No dia seguinte, à noite, procurei por escolas de informática no bairro. Encontrei uma perto de minha residência. Expliquei ao diretor, que me honrou em atender, o que tinha acontecido e sobre minha grande preocupação. Disse-lhe que tinha apenas experiência em datilografia.
- Não se angustie – falou para me acalmar – é fácil! O senhor terá um aprendizado superficial da informática. Verá que é o quanto lhe bastará nesse início. Mais adiante, se lhe interessar, temos cursos avançados. OK?
Concordei e fiz a matrícula. Mas, para ser realista, até hoje estou com aquele “É fácil” engasgado em minha mente.
 Sempre fui fã da ficção científica e do avanço das tecnologias; entretanto nunca me imaginei manuseando tais máquinas. Agora reconheço o quanto elas são complexas. Nos anos sessenta do século anterior apresentaram uma série televisiva intitulada “Jornada nas Estrelas”. Aqueles astronautas tinham sempre em mãos um aparelho de comunicação, um telefone móvel, a que chamavam, exatamente, de “comunicador” – semelhantes aos celulares hodiernos.
E já que estou mencionando o celular, foi aí que descobri as primeiras dificuldades. Foi quando recebi pela primeira vez uma mensagem escrita. Ela estava com as palavras abreviadas, causando-me dificuldade de entender com clareza. Depois de algumas analogias consegui traduzir. Parecia uma linguagem alienígena, ou melhor, futurista por encolhimento. Resolvi responder num bom português. Claro, não posso deixar por menos. Que agressão ao nosso belo idioma...
Doutra feita, já um pouco mais familiarizado com a internet, ingressei no Facebook. Qual surpresa minha! Um dos meus conhecidos, possivelmente muito apressadinho, trocou mensagens comigo usando a tal abreviação. Mas eu não deixei por menos – dei-lhe respostas com os termos completos, sem qualquer pressa. A única alteração que fiz foi substituir o “você” por “vc”.  No final, foi ele que deu por terminado o assunto, confirmando que luta contra o tempo. Coitado, mal sabe que nunca haverá de vencer o tempo. Eu aprendi que o tempo sempre nos vence – o que me proporciona tranquilidade. Por isso vou indo devagar...
Penso e sinto que com o predomínio da educação global e constante haver-se-á de salvar a língua portuguesa – e, quiçá, outras línguas faladas e escritas por esse mundo afora. Porque não passa de um modismo entre os jovens – eles querem sempre estar bem atualizados e na corrente do modernismo amparado pela tecnologia. Ler bem, escrever bem, falar bem no sentido de se expressar, desenvolve a nossa mente e nos educa pessoalmente e socialmente. A um grunhido eu não quero descer oralmente.
Atualmente os celulares sofreram uma transformação. Já não são nada simples como os primeiros. Para mim, cada vez mais complexos. São os “smart-fones”. Além de sintonizarem emissoras radiofônicas e de TV, recebem sinais da web em banda larga, via satélite. Nunca tive um deles em minhas modestas mãos – e não faço questão de tê-los. Uso meu celular com a simples intenção de telefonar – talvez eu esteja perdendo oportunidades, não sei...
Bem, o que eu quero comentar é que vejo muitos humanos tão apegados a tal aparelho, alienados do que está ocorrendo entorno deles. Andam distraídos, telefonando, escutando música, assistindo a TV, acessando a internet, praticando joguinhos, etc.. Casais já não conversam – cada qual com o seu smart-fone. Preocupa-me tal estado de coisas. O que será desta geração jovem no futuro? Digo jovens, porque raramente vejo idosos com tal comportamento.
O relógio do tempo psicológico está acelerado. Descobertas e inovações ocorrem à velocidade da luz. Uma carga de informações que não conseguimos absorver nos impacta e nos retarda. Parece que as nossas aulas começaram anteontem e recomeçaram ontem. Que uma gestação humana já não dura nove meses. Nosso tempo individual está reduzido pelas circunstâncias. Ao que me parece, essas circunstâncias são uma correria por adquirir bens materiais, por consumir mais, acumular mais objetos, serem os primeiros a terem em mãos as novidades que surgem a cada dia – tudo isso de um modo talvez inconsciente e promovido pela mídia. Não faz muito tempo assisti uma reportagem: Um grande magazine nova-iorquino iria lançar em primeira mão, no dia seguinte, mais uma tecnologia recém-desenvolvida. Pela manhã fria, antes de serem abertas as portas da loja, uma multidão, de principalmente jovens, lá estavam aguardando desde a madrugada. Eu considero que estão envolvidos por perigosa ilusão – como que uma idolatria.

 Que é que está a acontecer?  O que estamos ganhando com tudo isso? Temos que meditar muito sobre tudo isso. Será um bem? Será um mal? Aonde tudo isso nos conduzirá? Eu não sei. Vocês sabem? 

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