Texto do aluno Samuel Kauffmann sobre a inovação tecnológica e as relações pessoais.
Já
não tenho um tempo meu para meditar. Quando pensei em escrever e calcular
usando velhos métodos, colocaram um computador em minha mesa e disseram:
-
Agora é tudo por aqui. “Se vira”...
Céus!
Que é que eles querem de mim, um idoso? Olhei para aquela máquina que já tinha
visto em outras empresas. Havia um pouco de familiaridade. Onde? Ah! Aqui no
teclado. E só! Parece com a minha velha máquina de escrever. E esses outras
teclas para que servem? Fiz uma série de experiências e deu em nada. Opa! Acho
que complicou... A máquina travou.
Naquela
noite fiquei após o expediente e coloquei a correspondência em dia, mas com a
velha datilografia. Também terminei os cálculos com a calculadora de impressão.
Estas duas nunca falharam comigo.
No
dia seguinte, à noite, procurei por escolas de informática no bairro. Encontrei
uma perto de minha residência. Expliquei ao diretor, que me honrou em atender,
o que tinha acontecido e sobre minha grande preocupação. Disse-lhe que tinha
apenas experiência em datilografia.
-
Não se angustie – falou para me acalmar – é fácil! O senhor terá um aprendizado
superficial da informática. Verá que é o quanto lhe bastará nesse início. Mais
adiante, se lhe interessar, temos cursos avançados. OK?
Concordei
e fiz a matrícula. Mas, para ser realista, até hoje estou com aquele “É fácil”
engasgado em minha mente.
Sempre fui fã da ficção científica e do avanço
das tecnologias; entretanto nunca me imaginei manuseando tais máquinas. Agora
reconheço o quanto elas são complexas. Nos anos sessenta do século anterior
apresentaram uma série televisiva intitulada “Jornada nas Estrelas”. Aqueles
astronautas tinham sempre em mãos um aparelho de comunicação, um telefone
móvel, a que chamavam, exatamente, de “comunicador” – semelhantes aos celulares
hodiernos.
E
já que estou mencionando o celular, foi aí que descobri as primeiras
dificuldades. Foi quando recebi pela primeira vez uma mensagem escrita. Ela
estava com as palavras abreviadas, causando-me dificuldade de entender com
clareza. Depois de algumas analogias consegui traduzir. Parecia uma linguagem
alienígena, ou melhor, futurista por encolhimento. Resolvi responder num bom
português. Claro, não posso deixar por menos. Que agressão ao nosso belo
idioma...
Doutra
feita, já um pouco mais familiarizado com a internet, ingressei no Facebook.
Qual surpresa minha! Um dos meus conhecidos, possivelmente muito apressadinho,
trocou mensagens comigo usando a tal abreviação. Mas eu não deixei por menos –
dei-lhe respostas com os termos completos, sem qualquer pressa. A única
alteração que fiz foi substituir o “você” por “vc”. No final, foi ele que deu por terminado o
assunto, confirmando que luta contra o tempo. Coitado, mal sabe que nunca
haverá de vencer o tempo. Eu aprendi que o tempo sempre nos vence – o que me
proporciona tranquilidade. Por isso vou indo devagar...
Penso
e sinto que com o predomínio da educação global e constante haver-se-á de
salvar a língua portuguesa – e, quiçá, outras línguas faladas e escritas por
esse mundo afora. Porque não passa de um modismo entre os jovens – eles querem
sempre estar bem atualizados e na corrente do modernismo amparado pela
tecnologia. Ler bem, escrever bem, falar bem no sentido de se expressar,
desenvolve a nossa mente e nos educa pessoalmente e socialmente. A um grunhido
eu não quero descer oralmente.
Atualmente
os celulares sofreram uma transformação. Já não são nada simples como os
primeiros. Para mim, cada vez mais complexos. São os “smart-fones”. Além de
sintonizarem emissoras radiofônicas e de TV, recebem sinais da web em banda
larga, via satélite. Nunca tive um deles em minhas modestas mãos – e não faço
questão de tê-los. Uso meu celular com a simples intenção de telefonar – talvez
eu esteja perdendo oportunidades, não sei...
Bem,
o que eu quero comentar é que vejo muitos humanos tão apegados a tal aparelho,
alienados do que está ocorrendo entorno deles. Andam distraídos, telefonando,
escutando música, assistindo a TV, acessando a internet, praticando joguinhos,
etc.. Casais já não conversam – cada qual com o seu smart-fone. Preocupa-me tal
estado de coisas. O que será desta geração jovem no futuro? Digo jovens, porque
raramente vejo idosos com tal comportamento.
O
relógio do tempo psicológico está acelerado. Descobertas e inovações ocorrem à
velocidade da luz. Uma carga de informações que não conseguimos absorver nos
impacta e nos retarda. Parece que as nossas aulas começaram anteontem e
recomeçaram ontem. Que uma gestação humana já não dura nove meses. Nosso tempo
individual está reduzido pelas circunstâncias. Ao que me parece, essas
circunstâncias são uma correria por adquirir bens materiais, por consumir mais,
acumular mais objetos, serem os primeiros a terem em mãos as novidades que
surgem a cada dia – tudo isso de um modo talvez inconsciente e promovido pela
mídia. Não faz muito tempo assisti uma reportagem: Um grande magazine
nova-iorquino iria lançar em primeira mão, no dia seguinte, mais uma tecnologia
recém-desenvolvida. Pela manhã fria, antes de serem abertas as portas da loja,
uma multidão, de principalmente jovens, lá estavam aguardando desde a
madrugada. Eu considero que estão envolvidos por perigosa ilusão – como que uma
idolatria.
Que é que está a acontecer? O que estamos ganhando com tudo isso? Temos
que meditar muito sobre tudo isso. Será um bem? Será um mal? Aonde tudo isso
nos conduzirá? Eu não sei. Vocês sabem?
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