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quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Crônica do dia


Texto da aluna Rosa Rinaldi, sobre a problemática da definição de uma identidade brasileira.


Ser Brasileiro

“O brasileiro, quando não é canalha na véspera,
é canalha no dia seguinte”
(Nelson Rodrigues)


Três textos e a anunciação do “samba do crioulo doido”. Vamos combinar que misturar o Guarani, de José de Alencar, com obrasil, de Oswald de Andrade, e com o texto crítico de Eliane Brum, e daí tirar o que é ser brasileiro, é coisa para dar um nó na cabeça e queimar os neurônios que me restam.
Mas só para começar, já disse Guimarães Rosa que “o nordestino é um forte”, e eu amplio o conceito e digo que todo brasileiro também o é. Não sei quem recentemente afirmou que “sou brasileiro e não desisto nunca”. Também endosso essa afirmativa.
Brigava eu com ideias pulando na minha mente no afã de serem as escolhidas para a crônica de hoje, quando folheando o jornal da seção de esportes, leio: SERGIPANO VIRA ESPANHOL – REVOLTA.
Curiosa, pego o periódico e me deparo com uma notícia verdadeiramente assombrosa.
Um jogador de futebol, brasileiro, natural do estado de Sergipe, atualmente jogando em um time na Espanha, e sendo por aquelas bandas considerado um craque, resolve se naturalizar espanhol para poder atuar na seleção de futebol da Espanha.
Ora, dirão: mas o que tem isso de mais? Fui ler a matéria, dar uma “goolgada”, e se não estou no nível de um comentarista de futebol, acho que já dá para emitir alguns palpites.
O referido rapaz atuou na seleção brasileira, e parece-me que não foi lá muito bem, daí como surgiu a chance de jogar a Copa do Mundo pela Espanha, o moço não pensou duas vezes e resolveu: “é fácil, eu me torno espanhol”.
Então é assim que funciona? Onde está o sentimento de brasilidade? O nacionalismo? O verás que um filho teu não foge à luta?
Vida que segue, vou visitar uma amiga adoentada, e ela me conta de uma colega sua de faculdade que se radicou na França, onde trabalha como psiquiatra, tendo a referida médica vários títulos e artigos publicados na sua especialidade, mas que, curiosamente, ao resolver se instalar em Paris, fez um curso com uma fonoaudióloga para perder o sotaque brasileiro, o que, segundo seus pares, não lhe ajudaria em nada; ao contrário, atrapalharia sua carreira.
Então para vencer no exterior você renega sua própria língua?
Há poucos dias, ouvindo em uma entrevista de um músico brasileiro que foi criado, por motivos políticos, no Chile, para onde seus pais foram, que nós brasileiros viramos as costas para a América do Sule só nos reportamos aos países do chamado primeiro mundo.
E é verdade, pouco conhecemos da cultura dos países que nos são vizinhos, mas sabemos tudo o que acontece na Europa, nos Estados Unidos e, por extensão desses, em alguns países da Ásia e da África, mormente os que estão em conflitos bélicos de interesses daqueles.
Mas vamos voltar à difícil tarefa de se definir o ser brasileiro, porque já vimos como é fácil deixar de lado a brasilidade ao procurar vencer no exterior.
Quando se fala em o que é ser brasileiro, vem logo à memória Macunaíma. O herói brasileiro é retratado como mentiroso, traidor, safado, desbocado, além de ser extremamente preguiçoso.
O jogador que para ganhar dinheiro e fama renega sua nacionalidade; a médica que, para ter seu trabalho reconhecido no exterior, extirpa o sotaque para que não seja reconhecida como brasileira, e outros tantos exemplos de pessoas que, para atingir seus objetivos, viram as costas e ignoram suas raízes, são cópias de Macunaíma.
A identidade brasileira realmente é complexa. Todos têm um pouco de tudo, e essa mistura que marca pela alegria, otimismo, beleza, e solidariedade entre tantas outras boas qualidades, também carrega os defeitos dessa mesma complexidade. Apesar dos altos índices de violência, acredito que uma das maiores qualidades do brasileiro é a de ser de paz; por outro lado, é por baixa autoestima que grande parte de nossos conterrâneos acredita que só é bem sucedido quem vence no primeiro mundo.

Como bem definiu Nelson Rodrigues, o brasileiro “é um feriado”.

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