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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Crônica do dia

Terminando esta semana, postamos o conto "Um bilhete", de Machado de Assis. Surpreendam-se!

Um bilhete

Antes mesmo que acabasse o baile, Maria Adelaide dizia à mãe que não queria ficar um minuto mais que fosse.
— Que é isso? disse-lhe a mãe. Deu uma hora agora mesmo.
— Não quero saber. Vamo-nos embora.
— Ora, meu Deus!
— Vamos, vamos.
Não havia que dizer, a mãe era governada pela filha, e perderia o lugar no céu, se tanto fosse preciso, para não desgostá-la. Note-se que não cedia pouco desta vez; cedia a ceia, que era excelente, e a boa viúva professava esta filosofia: — que as ceias excelentes são preferíveis às boas, as boas às más e as más às que não têm existência. Sacrificava a melhor parte do baile; mas, enfim, contanto que a filha não padecesse.
Padecer, padecia. No carro, logo que as duas entraram, Maria Adelaide começou a ralhar com tudo, com o carro, com a capa, com o calor, com o pó, com a mãe e consigo mesma. A mãe entendeu logo: era algum desgosto que o Chico Alves lhe dera. Realmente, lembrou-se que o Chico Alves, indo despedir-se delas, nem alcançou que Maria Adelaide olhasse para ele. A moça deu-lhe os dedos, a pontinha apenas, e falou-lhe de costas; naturalmente estavam brigados.
A viagem foi atribulada. Nunca o mau humor da moça foi tamanho nem tão explosivo. A mãe pagou pelo namorado, mas como era prudente e estava com fome, preferiu não dizer nada.
Em casa, continuou o mau humor. A pobre criada da moça padeceu como nunca. Maria Adelaide entrou para os seus aposentos, furiosa, despiu-se às tontas, dizendo coisas duras, rasgando uma das mangas do vestido, atirando as flores ao chão, raivosa e indignada sem causa aparente. No fim, disse à criada que se fosse embora, e ficando só rebentaram-lhe as lágrimas. Assim mesmo sozinha, ia falando, mordendo os lábios, dando punhadas nos joelhos. Depois arrancou da cadeira, foi à secretária e escreveu este bilhete:
“Nunca pensei que o senhor fosse tão pérfido. Nunca imaginei que pudesse proceder como fez no baile; creia que não manifestei o meu desgosto, por dois motivos: — o primeiro, porque ainda tive força de me dominar; segundo, porque depois do que o senhor me fez, nada pode haver mais entre nós. Case-se com a viúva, se quer. Mande as minhas cartas e adeus. Esta determinação é irrevogável. Qualquer tentativa de reconciliação obrigar-me-á ao que não quero.”
Tinha dado expansão à cólera, deitou-se para dormir. O sono não veio logo; a raiva agitou a pobre moça, e só quando começou a madrugada foi que ela pôde dormir um pouco. No dia seguinte, o Chico Alves recebia este bilhete:
“Desculpa algumas palavras que te disse ontem no baile. Estava muito zangada. Vem hoje tomar chá, e eu te explico tudo.”





quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Crônica do dia


Hoje temos em mais um dia de postagem, temos o texto de Marcelo Coelho onde ele apresenta sua visão sobre o Edifício Master. DIVIRTAM-SE!   

EDIFÍCIO MASTER
"Sobre a alegria de cantar ‘My Way’", copyright Folha de S. Paulo, 11/12/02

"Há várias coisas inquietantes em ‘Edifício Master’, o documentário de Eduardo Coutinho sobre um prédio em Copacabana onde moram cerca de 500 pessoas, encapsuladas em 276 apartamentos do tipo kitchenette.
Claustrofobia, evidentemente, é uma das primeiras sensações que o filme provoca. Com certa insistência, Eduardo Coutinho mostra a própria equipe de filmagem se espremendo no elevador ou nos corredores do prédio antes de bater à porta de algum dos entrevistados.
Parece não haver muito espaço para a movimentação de tantas câmeras e refletores. E também não há espaço para todas as histórias e todas as emoções que cada pessoa tem para apresentar no breve depoimento, na aparição sem retorno, no trecho de vida que o documentário lhe concede.
Não é bem que o espectador consiga ‘espiar’, graças à câmera, aquilo que se passa dentro de cada apartamento ou da alma de cada morador. Não há em ‘Edifício Master’ voyeurismo ou invasão de privacidade. É mais o movimento inverso: como se a câmera fosse uma janela que os entrevistados, muitas vezes levando uma vida solitária e presos dentro de si mesmos, pudessem abrir para respirar.
Um aspecto curioso do filme, aliás, é que não se mostra nunca a fachada do edifício; estamos sempre ‘dentro’ dele -no máximo, acompanhamos pelos monitores dos guardas a chegada de visitantes na portaria, ou então vemos, de uma janela, outras janelas de outros apartamentos, num mundo sem horizontes, sem saída.
Impressiona como está presente, em diversos depoimentos, a ameaça ou a tentação do suicídio: depois de sofrer um assalto, uma senhora abre a janela, pensa em atirar-se. Desesperada com os ciúmes do marido, uma outra quase se jogou também.
Na primeira entrevista do filme, ficamos conhecendo uma mulher que morou a vida inteira no ‘Master’. Mudou inúmeras vezes de apartamento, pulou de um andar para outro, mas nunca saiu de lá. Ela conhece, claro, muitas histórias do edifício. A equipe de Eduardo Coutinho alugou um apartamento no prédio. Pois bem -a entrevistada hesita um pouco- nesse mesmo apartamento já houve uma tragédia.
A depressão atinge brutalmente uma jovem professora de inglês, que se fecha o quanto pode entre as paredes do apartamento. Outro morador, vítima de derrame, é salvo da morte pelo vizinho. E também há morte, simbólica ou fictícia, no depoimento de um ator aposentado, cuja carreira terminou no momento em que filmavam um assassinato com tiros de espoleta.
Mas o documentário de Eduardo Coutinho não é mórbido nem deprimente. O que ‘Edifício Master’ exerce sobre o espectador -e esse ponto já foi ressaltado, creio, por Inácio Araujo e Contardo Calligaris- talvez seja, antes de tudo, um efeito democratizante.
Podemos rir das esquisitices, das fraquezas, até do rosto ou das roupas deste ou daquele entrevistado; podemos nos comover com algumas histórias, sentir pena de muitos moradores, desdenhar de suas crenças, idéias ou preocupações. Há várias cenas no filme que não seria difícil classificar de patéticas, de pungentes, de ridículas. Sim, tudo isso é verdade, mas funcionaria se estivéssemos vendo o filme e seus personagens de um ângulo externo, à distância, ‘de fora’.
Mas, no momento em que estamos dentro da sala de cinema -ou melhor, ‘dentro’ do edifício Master-, cada entrevistado aparece para nós mostrando o que tem de mais valioso, de mais importante, de mais vital. Em cada depoimento, vibra, por assim dizer, uma convicção simples, sem palavras, que é a convicção da própria vida. Acima de todas as estranhezas, diferenças, vergonhas que possamos sentir uns com relação aos outros, é como se uma dignidade intensa e intocável se irradiasse de cada pessoa, quando esta se revela por inteiro.
É por isso, creio, que o clímax do filme é o momento em que um dos moradores, Henrique, canta entusiasticamente o sucesso ‘My Way’ de Frank Sinatra, sublinhando a idéia de que cada um vale pelo que é, do jeito que é. A cena a princípio me pareceu constrangedora, mas... como fiquei contente ao perceber que meu constrangimento ia acabando quanto mais alto o homem cantava! Deveríamos ter batido palmas naquele momento.
O documentário de Eduardo Coutinho parece ter concentrado, em cada uma de suas cenas curtas, tal ‘coeficiente de verdade humana’ -graus tão altos de temperatura e pressão existencial- que a gente sai do cinema num estado que é simultaneamente de exaltação e de humildade; o filme é claustrofóbico e libertador ao mesmo tempo.
Talvez seja essencial à democracia a sensação de que, sendo todos iguais, somos também totalmente diferentes uns dos outros. Sem dúvida, no edifício Master, estão em jogo não apenas diferenças individuais mas também de condição social, de idade, de educação.
O que há de ‘sociológico’ no filme pareceu-me, contudo, acessório diante do que se destaca ali de ‘humano’. Talvez porque, bem ou mal, o filme focalize a classe média, o que sempre facilita a identificação do espectador. Mas há muitas classes médias naquele mesmo barco, isto é, naquele mesmo prédio. De certa forma, o filme nos convence de que também moramos nele -e de que só morrendo a gente muda de endereço. Não sei se esta é uma conclusão muito verdadeira a tirar de um documentário; mas foi a minha."
Marcelo Coelho



quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Crônica do dia

Hoje postamos um texto do heterônimo de Fernando Pessoa, Bernardo Soares, do "Livro do Desassossego", que nos dá uma definição do que seja a arte. Boa reflexão!


§ 260


A arte consiste em fazer os outros sentir o que nós sentimos, em os libertar deles mesmos, propondo-lhes a nossa personalidade para especial libertação. O que sinto, na verdadeira substância com que o sinto, é absolutamente incomunicável; e quanto mais profundamente o sinto, tanto mais incomunicável é. Para que eu, pois, possa transmitir a outrem o que sinto, tenho que traduzir os meus sentimentos na linguagem dele, isto é, que dizer tais coisas como sendo as que eu sinto, que ele, lendo-as, sinta exactamente o que eu senti. E como este outrem é, por hipótese de arte, não esta ou aquela pessoa, mas toda a gente, isto é, aquela pessoa que é comum a todas as pessoas, o que, afinal, tenho que fazer é converter os meus sentimentos num sentimento humano típico, ainda que pervertendo a verdadeira natureza daquilo que senti.
Tudo quanto é abstracto é difícil de compreender, porque é difícil de conseguir para ele a atenção de quem o leia. Darei, por isso, um exemplo simples, em que as abstracções que formei se concretizarão. Suponha-se que, por um motivo qualquer, que pode ser o cansaço de fazer contas ou o tédio de não ter que fazer, cai sobre mim uma tristeza vaga da vida, uma angústia de mim que me perturba e inquieta. Se vou traduzir esta emoção por frases que de perto a cinjam, quanto mais de perto a cinjo, mais a dou como propriamente minha, menos, portanto, a comunico a outros. E, se não há comunicá-la a outros, é mais justo e mais fácil senti-la sem a escrever.
Suponha-se, porém, que desejo comunicá-la a outros, isto é, fazer dela arte, pois a arte é a comunicação aos outros da nossa identidade íntima com eles; sem o que nem há comunicação nem necessidade de a fazer. Procuro qual será a emoção humana vulgar que tenha o tom, o tipo, a forma desta emoção em que estou agora, pelas razões inumanas e particulares de ser um guarda-livros cansado ou um lisboeta aborrecido. E verifico que o tipo de emoção vulgar que produz, na alma vulgar, esta mesma emoção é a saudade da infância perdida.
Tenho a chave para a porta do meu tema. Escrevo e choro a minha infância perdida; demoro-me comovidamente sobre os pormenores de pessoas e mobília da velha casa na província; evoco a felicidade de não ter direitos nem deveres, de ser livre por não saber pensar nem sentir – e esta evocação, se for bem feita como prosa e visões, vai despertar no meu leitor exactamente a emoção que eu senti, e que nada tinha com infância.
Menti? Não, compreendi. Que a mentira, salvo a que é infantil e espontânea, e nasce da vontade de estar a sonhar, é tão-somente a noção da existência real dos outros e da necessidade de conformar a essa existência a nossa, que se não pode conformar a ela. A mentira é simplesmente a linguagem ideal da alma, pois, assim como nos servimos de palavras, que são sons articulados de uma maneira absurda, para em linguagem real traduzir os mais íntimos e subtis movimentos da emoção e do pensamento, que as palavras forçosamente não poderão nunca traduzir, assim nos servimos da mentira e da ficção para nos entendermos uns aos outros, o que, com a verdade, própria e intransmissível, se nunca poderia fazer.
A arte mente porque é social. E há só duas grandes formas de arte – uma que se dirige à nossa alma profunda, a outra que se dirige à nossa alma atenta. A primeira é a poesia, o romance a segunda. A primeira começa a mentir na própria estrutura; a segunda começa a mentir na própria intenção. Uma pretende dar-nos a verdade por meio de linhas variadamente regradas, que mentem à inerência da fala; outra pretende dar-nos a verdade por uma realidade que todos sabemos bem que nunca houve.
Fingir é amar. Nem vejo nunca um lindo sorriso ou um olhar significativo que não medite, de repente, e seja de quem for o olhar ou o sorriso, qual é, no fundo da alma em cujo rosto se sorri ou olha, o estadista que nos quer comprar ou a prostituta que quer que a compremos. Mas o estadista que nos compra amou, ao menos, o comprar-nos; e a prostituta, a quem compremos, amou, ao menos, o comprarmo-la. Não fugimos, por mais que queiramos, à fraternidade universal. Amamo-nos todos uns aos outros, e a mentira é o beijo que trocamos.


terça-feira, 27 de setembro de 2011

Crônica do dia

Hoje temos em mais um dia de postagem, a crônica da aluna Stella vem mostrar a diversidade presente no Edifício Master e que está presente nas vidas de todos nós.       

    Edifício Master/ Brasil

Ao assistir a este documentário, percebe-se como o Mundo é diversificado.
Ao mesmo tempo que existe a prostituta, achando tudo muito natural, existe o casal que se ama e um vive para o outro. 
Há também as vizinhas que levam bolo de aniversário para a amiga, cantando "Parabéns para você".
Existe graças a Deus em pouco número, aquele morador que mal abre a porta da entrada e não quer conversa, qual uma fera enjaulada e sozinha no Mundo. 
O zelo das mães e a paranoia de alguns moradores fazem o contraste com os barulhentos que tocam seus instrumentos musicais a toda altura., sem se importar se do lado existe alguém alguém doente ou dormindo... É o egoísmo!
Há também aquele senhor, pai de quatro filhos, todos morando no exterior e ele, aqui no Rio, sozinho em um apartamento de quarto e sala em Copacabana.
Tem o artista, o trabalhador braçal, a dona de casa, o aposentado, enfim, todos diferentes, um do outro e cada um vivendo sua vida com ou sem companhia.
Para controlar tudo isso, o síndico, há dez anos no poder, consegue transformar uma Torre de Babel, um edifício mal afamado, em um edifício Master, quase familiar e completamente vivo, com personalidade própria. Educação, limites, regras? Quem será que mudou tudo isso? O síndico ? Os próprios moradores? 
O diretor do documentário conseguiu focar bem a diversidade, como uma colcha de retalhos e eu, sem maiores pretensões, desejo um Brasil igual, diversificado e, ao mesmo tempo, unido, educado, com regras e com menos corrupção! Sem nenhuma corrupção, acho impossível, mas gostaria de poder ver o meu país mais coeso, menos "podre" e com menos gente querendo tanto o que é dos vizinhos, o "alheio"...

Stella Muehlbauer                                                            

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Crônica do dia

Hoje para começarmos a semana temos a crônica da aluna Ney Bretas que fala sobre o caos que está a nossa saúde. REFLITAM!

                    Socorro Inesperado

Acabava de chegar do hospital, onde fui fazer exame de sangue e consulta ao oftalmologista. Quando lá pelo meio dia de segunda feira, recebi um telefonema de minha cunhada. Aflita, me disse que meu cunhado muito enfermo, tinha dado entrada no Hospital Salgado Filho, no Méier.
Meu filho, o Flavio veio almoçar comigo, e viu que eu queria ir lá depressa para ver se podia ajudar. Assim fizemos.
Chegando lá, ele foi embora e me deixou dizendo que a hora que precisasse ele iria me buscar. Ele não ficou para ver o tio, porque tem angustia por hospital, por outras experiências, inclusive comigo, não é por que não quisesse. Informei, vai, qualquer notícia lhe telefono e assim fui fazendo.
Cheguei a recepção, me identifiquei, pedi informações e logo me disseram que meu cunhado estava na sala de reanimação. Foi um susto enorme, pois pensei que talvez ele estivesse morrendo. 
Fiquei um tempo grande para poder ver ou saber realmente o que era verdade. Geovana, casada com meu sobrinho Marcelo, estava lá acompanhando desde a manhã, corajosa, companheira da família, aguentando tudo ao lado do Celsinho, meu cunhado, tio do Marcelo e de meus filhos. 
Por fim, chegou uma assistente social para dar informações. Dei o nome do paciente e ela me informou que era só um minutinho. Entrei, vi meu cunhado que parecia melhor um pouco, mas seu estado era grave. Geovana me informou mais ou menos tudo  que havia acontecido, pois nosso tempo era pouquinho. Foi ai que propus ficar lá em seu lugar. Ela e Marcelo tem duas criancinhas lindas, a Lorena e o Thiago. Assim fizemos.
Fiquei a espera do Celsinho ser transferido para a emergência. Vai aguardar, Deus sabe quando, uma enfermaria. Não tinha lugar lá dentro, ele ficou no corredor, com outros pacientes graves, enfrente a tal porta de acesso para pacientes recém chegados. Lá só podiam baixar até uns quinze no máximo, haviam  mais de cinquenta, encostados, uma maca na outra. Não era cama hospitalar, isto para caber mais gente. Ficamos no corredor que era passagem para o raio X  e tomográfo, porta de entrada de todos os casos graves, tais como baleados, acidentados como o que foi registrado pelo noticiário da Globo, ontem a noite (20 de setembro). Um rapaz que havia caído do telhado lá pelos lados de Xerém, ficou quase sete horas para ser atendido, passando por diversos hospitais sem sucesso. O paciente estava em estado de coma, o único que o aceitou foi o bendito Salgado Filho, sem nenhuma condição de vaga, mas mesmo assim, prestou atendimento imediato. 
Noite traiçoeira, só quem passa sabe , aprecia que não acabar. Meu cunhado ficou a noite toda em uma maca sem colchão, meu coração não aguentava ver tanto sofrimento. O atendimento dos muitos, mas poucos que se desdobravam para atender a imensidão de doentes, era muito exaustivo para aqueles auxiliares, enfermeiros e médicos. Mesmo assim, não posso negar que eles fazem até o que não podem para atender tantos casos, diferentes; medicação sempre dada com rigor. 
Fiquei tentando passar auxílio para outros colegas de corredor. Dei atenção e carinho no que pude. Tentamos, então conseguimos depois da lavação do corredor, eu e a mãe de um garoto. O menino não conseguiu ficar na pediatria, por ser grandão, não havia acomodação. Conseguimos arrumar num banco de cimento lá atrás, um leito feito com um colchonete trazido pelos familiares, isto já era lá pelas duas da madrugada, por fim o garoto parou de chorar e dormiu, sua mãe também sentou na cadeira que estava com o garoto e dormiu, pedindo para eu lhe chamar na hora da medicação.
Um auxiliar, se desdobrando, atendeu meu pedido, fez uma higiene no meu cunhado, para que pudesse até descansar limpo, um pouquinho naquela maca sem colchão. Ele também arrumou dois cobertores, pois o ar-condicionado gelava.
Foi muito triste aquela noite, em pé, vendo passarem por ali todos aqueles que precisavam de atendimento urgente. Mais deprimente ver passarem pacotes humanos para o necrotério.
Trabalhei em um hospital, mas nunca tinha vivido situação tão difícil e assustadora. Foi então que me dei conta de como anda precária nossa saúde, sem infraestrutura, sub-humana.
Agradeço a atenção de todos vocês, colegas e professores, em ouvir meu relato, onde outras pessoas diariamente vivem tudo isto. É assustador. Quero sempre confiar em Deus, para me auxiliar sempre nestes momentos difíceis. Obrigado, meu Jesus, a quem implorei todo tempo por ajuda.
                                                                                                    

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Crônica do dia

Terminando mais uma semana, trazemos um conto do escritor Julio Cortázar que dialoga com o conto trabalhado na Oficina de Crônica dessa semana. Boa leitura!

Continuidade dos parques

Começara a ler o romance dias antes. Abandonou-o por negócios urgentes, voltou à leitura quando regressava de trem à fazenda; deixava-se interessar lentamente pela trama, pelo desenho dos personagens. Essa tarde, depois de escrever uma carta a seu procurador e discutir com o capataz uma questão de parceria, voltou ao livro na tranquilidade do escritório que dava para o parque de carvalhos. Recostado em sua poltrona favorita, de costas para a porta que o teria incomodado como uma irritante possibilidade de intromissões, deixou que sua mão esquerda acariciasse de quando em quando o veludo verde e se pôs a ler os últimos capítulos. Sua memória retinha sem esforço os nomes e as imagens dos protagonistas; a fantasia novelesca absorveu-o quase em seguida. Gozava do prazer meio perverso de se afastar linha a linha daquilo que o rodeava, e sentir ao mesmo tempo que sua cabeça descansava comodamente no veludo do alto respaldo, que os cigarros continuavam ao alcance da mão, que além dos janelões dançava o ar do entardecer sob os carvalhos. Palavra por palavra, absorvido pela trágica desunião dos heróis, deixando-se levar pelas imagens que se formavam e adquiriam cor e movimento, foi testemunha do último encontro na cabana do monte. Primeiro entrava a mulher, receosa; agora chegava o amante, a cara ferida pelo chicotaço de um galho. Ela estancava admiravelmente o sangue com seus beijos, mas ele recusava as carícias, não viera para repetir as cerimônias de uma paixão secreta, protegida por um mundo de folhas secas e caminhos furtivos. O punhal ficava morno junto a seu peito, e debaixo batia a liberdade escondida. Um diálogo envolvente corria pelas páginas como um riacho de serpentes, e sentia-se que tudo estava decidido desde o começo. Mesmo essas carícias que envolviam o corpo do amante, como que desejando retê-lo e dissuadi-lo, desenhavam desagradavelmente a figura de outro corpo que era necessário destruir. Nada fora esquecido: impedimentos, azares, possíveis erros. A partir dessa hora, cada instante tinha seu emprego minuciosamente atribuído. O reexame cruel mal se interrompia para que a mão de um  acariciasse a face do outro. Começava a anoitecer.
Já sem se olhar, ligados firmemente à tarefa que os aguardava, separaram-se na porta da cabana. Ela devia continuar pelo caminho que ia ao Norte. Do caminho oposto, ele se voltou um instante para vê-la correr com o cabelo solto. Correu por sua vez, esquivando-se de árvores e cercas, até distinguir na rósea bruma do crepúsculo a alameda que levaria à casa. Os cachorros não deviam latir, e não latiram. O capataz não estaria àquela hora, e não estava. Subiu os três degraus do pórtico e entrou. Pelo sangue galopando em seus ouvidos chegavam-lhe as palavras da mulher: primeiro uma sala azul, depois uma varanda, uma escadaria atapetada. No alto, duas portas. Ninguém no primeiro quarto, ninguém no segundo. A porta do salão, e então o punhal na mão, a luz dos janelões, o alto respaldo de uma poltrona de veludo verde, a cabeça do homem na poltrona lendo um romance.


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Crônica do dia

Hoje em mais um dia de postagem, temos Clarice Lispector, contando sobre o seu sonho de ser lutadora, se não tivesse sido o que foi. DIVIRTAM-SE!



Um nome para o que sou , importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser.
O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis.Porque foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de "a protetora dos animais". Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la. E eu sentia o drama social com tanta intensidade que vivia de coração perplexo diante das grandes injustiças a que são submetidas as chamadas classes menos privilegiadas. Em Recife eu ia visitar aos domingos  a casa de nossa empregada em mocambos. E o que eu via me fazia prometer que não deixaria aquilo continuar. Eu queria agir. Em Recife onde morei até os 12 anos de idade, havia muitas vezes nas ruas  um aglomerado de pessoas diante das quais alguém discursava  ardorosamente sobre a tragédia social. E lembro-me de como eu vibrava e de como eu me prometia que  um dia  esta seria minha tarefa: a de defender os direitos dos outros.
No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura profundamente o que sente e usa a palavra que o exprima.
É pouco, é muito pouco.

Clarice Lispector,

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Crônica do dia

Ao invés de encontrar consigo mesma, a aluna Stella, em sua crônica, faz uma projeção do que ela será ou gostaria que fosse em uma vida futura. Boa leitura!

Projetos para uma vida futura

Não me lembro de ter nenhuma vocação definida quando criança. Aos onze anos, passei para o Instituto de Educação que, na época, era um dos melhores colégios da Tijuca e, praticamente, às filhas mulheres só era permitido ser professora primária.
Sempre gostei de estudar e, ao final do curso, já se tinha um emprego garantido... Era o sonho de todos...
Com seis anos de magistério efetivo, fui transferida para uma escola perto de casa e, trabalhando de dia, passei a fazer minha faculdade à noite. Quando me aposentei, nova ainda, já com outra matrícula no estado, trabalhei até completar setenta anos, quando no funcionalismo público aparece a aposentadoria compulsória. Sempre gostei de fazer o que fiz a vida inteira: ENSINAR.
Há duas outras áreas que sempre me atraíram: história e arqueologia. Leio muito sobre o assunto e "viajo" nessas leituras. Vejo-me em outros lugares: Petra, Jerusalém, Cairo, México, Roma e também no Brasil, conhecendo um sambaqui nas praias do sul, vendo as Sete Cidades e a Serra da Capivara no Piauí e, aqui no Rio, indo ao Valongo, bairro da Saúde, olhando a Pedra da Gávea e imaginando: será que os fenícios estiveram mesmo aqui?
Sonhos, futuro, nada mais me assombra e, quem sabe, voltando em outra vida, serei uma arqueóloga brasileira famosa que descobrirá ruínas de uma civilização anterior à dos índios aqui neste Brasil imenso?  

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Crônica do dia

Hoje em mais um dia de postagem, temos a crônica do aluno Homero, falando de como gostaria de encontrar com seu outro eu e conhecê-lo . 

Tu me Decifras ou eu te devoro! 

Todos nós, lá em um cantinho qualquer da nossa mente ou cérebro, temos aquele outro eu escondido, nem sempre notados por nós e, assim travamos com ele, verdadeiro duelo de morte, sem que tenhamos razão para tal enfrentamento.
O curioso é que isso é velho, que vem sendo um desafio, para o mundo e, ele nem, desconfiava  estar diante de tal abismo, em vista de estar em confronto consigo mesmo.
No dia 7 de setembro, compareci ao Tijuca Tênis Clube para assistir a apresentação de corais de vários lugares, sendo que um dos maestros, presentes seria o regente de vários daqueles corais. 
Trata-se de uma pessoa muito atenciosa e muito competente, porém se bem observado, deixando escoar um certo ar de vaidade. O que é muito natural, para alguém com tanto talento. Mas, insuportável para alguém, também portador de talento, mas que, não se deixa enfeitiçar por aquela glória que jorra a olhos vistos, como é o caso do referido maestro.
 Pois bem, tudo ia muito bem, até que com o convite ao maestro para entrar em cena, uma voz de mulher disse: 
-Burro que só ele!
O que para mim foi até cruel, não caberia , num dia 7 de setembro, em um lugar tão importante para a cidade, como é o Tijuca Tênis Clube, ouvir-se falar de alguém presente e prestando serviços, aquele tipo de reverência.
O mesmo voltando a acontecer, no dia 11 de setembro, em plena Praça São Salvador, durante a apresentação dos músicos que seriam homenageados pelo grupo Roda de Chorinho, como se denomina aquele grupo de excelentes músicos, que ali comparecem, todos os domingos, para encher aquela gente de alegria e de emoções, como foi o caso repetido naquele domingo. Foi só entrar na Praça, ali próximo ao Corpo de Bombeiros que já deu para ouvir o som do trombone e do pistão, instrumentos que desde a minha infância fazem da minha vida, um encanto  sempre que vejo alguém tocar tais instrumentos da forma que um bom instrumentista toca. 
E, ao ouvir aquele som de extraordinária beleza, o que me veio amente, foi o trombone tocado pelo saudoso Raul de Barros, cujos discos gravados por ele, com marchinhas de carnaval, onde o seu trombone, com aquela verdadeira brincadeira de gato e rato, fugindo daqui para ali, faz com que um solo de um bom instrumento, nos leve vida a fora a degustar aquele som mavioso.
Segui caminhando até chegar ao coreto, onde os músicos se reúnem. E lá estavam os responsáveis por aquela beleza de melodia, onde Noel, Pixinguinha e todo aquele bando de anjos da arte vem nos mostrando que o mundo pode ser melhor, mas que nós, cabeças duras, não fazemos por onde para que essa maviosa orquestra entrasse em cena. Por estarmos o tempo todo discutindo conosco mesmos, sobre se devemos ou não abrir o nosso ouvido e coração para que por eles entrem as reais vias de acesso à vida. 
Olha gente, por mais clara que possa ser a minha narrativa, nem assim vocês irão fazer ideia do que foi aquele espetáculo de domingo 11 de setembro de 2011, na Praça São Salvador.
O curioso é que eu não lembrava mais da fisionomia do Zé da Velha. Aliás, devo confessar que sou péssimo para fazer o reconhecimento de uma pessoa com quem já tenha convivido, na infância ou na adolescência, e que voltei a ver lá, já de cabelos brancos ou com a falta deles, como é o meu caso. 
Quando eu descia a Rua Conde de Bonfim, em direção ao Tijuca, alguém gritou: 
-Homero, como vai você? Quanto tempo?!
Correspondi ao cumprimento, mas que diz que sei de quem se tratava?
é com esse meu eu, que mora dentro de mim, que gostaria de encontrar só para ver como sou nesse meu outro, de quem fala Jorge Luis Borges, ao encostar a turma da Oficina de Crônicas naquele paredão do tu me decifras, ou eu te devoro.

Homero                                                                                  

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Crônica do Dia

Inspirados no conto "O outro", de Jorge Luiz Borges, pedimos aos alunos que escrevessem contos ou crônicas em que se encontrassem com seus próprios eus em outras épocas. A leitura de hoje é um belíssimo conto do aluno Samuel, em reação à nossa proposta. Recomendamos a leitura deste conto e do que citamos anteriormente (aqui, o link do texto de Borges).

Aquele outro cara

Lúcio apressou o passo, sabendo, por antigos conhecidos, que a velha turma estava reunida algumas quadras adiante. Pesava sobre o seu emocional e mental um sentimento de culpa, por um fato acontecido há poucos meses. Não deseja ao seu adversário o autojulgamento atroz que o vinha arrasando. Nem com a esposa desabafara, com receio de ser mal compreendido. Na informalidade da reunião com os velhos colegas seria mais fácil falar.
 Era uma pachorrenta tarde de verão, em uma das praias da Região do Lagos; deitados à sombra de frondosa nogueira, os “amigos do mar” deleitavam-se com geladas cervejadas, quando o Lúcio apareceu e iniciou a narrar mais uma de suas histórias fantásticas, de homem muito viajado. Não que ele queira ser o centro das atenções, mas sua expressão ansiosa exprime a necessidade de desembuchar algo que lhe angustiava a mente e o coração.
Aquela galera se reunia há trinta e seis anos – nem sempre toda a turma. E, exatamente, o Lúcio foi o grande ausente durante a maior parte do tempo decorrido. Quando ele reapareceu diante dos amigos, sucedeu aquela festa pela surpresa de uma presença já esquecida.
Envolveram-no com perguntas, tais como: por onde andara e o que fez durante tanto tempo afastado; se estava casado e com quantos filhos; sobre o pai e a mãe e irmãos; sobre a saúde, etc. Como é comum a curiosidade dos humanos diante do inesperado reencontro.
Após alguns goles refrescantes, principiou a dar as informações solicitadas. Tinha percorrido quase toda a Região Sul e Sudeste deste país, em decorrência da profissão assumida – tornara-se, por essas sortes da existência, um Representante Comercial. Visitava com constância anual tanto os clientes como os fabricantes – estes em sua maioria lá pelo sul. Também com a responsabilidade de sustentar a família – atualmente são sete, incluindo ele. Pai e mãe já falecidos, restando os irmãos – quatro - cada qual no seu canto.
Foi quando um dos amigos disse:
- Pelas minhas lembranças, após o serviço militar, tu aspiravas seguir uma carreira acadêmica, pesquisador da robótica, da astrofísica, da energia nuclear, da teoria quântica e tantas outras coisas que dizias e já nem me lembro. Conte-nos o que te aconteceu, para abandonares assim os teus sonhos juvenis.
Dando-lhe a oportunidade de continuar, Lúcio respondeu:
- Dificuldades de sobreviver neste nosso meio social, da necessidade do dinheiro, meu amigo. Tranquei matrícula, prometendo-me retornar o quanto antes aos estudos almejados. No entanto os anos foram passando tão rápidos, que quando dei por mim três décadas lá se foram. Olho-me no espelho e vejo a imagem de um senhor de cabelos grisalhos, cujos sonhos e esperanças do conhecimento superior jazem sepultados. Venho correspondendo aos meus deveres familiares e nada mais. Contentando-me com apenas esta missão cumprida. Contudo, um vazio e uma frustração permanecem em meu coração, por não ter realizado aquelas aspirações do espírito.
Outro disse:
- Como tu és, agora, o caçula dentre nós, continue e satisfaça-nos o conhecer-te nos dias atuais.
Depois de mais uns goles da “geladinha”, Lúcio, já um pouquinho “alto”, prosseguiu:
- Se vocês, meus velhos amigos, estão a dar-me a vez de expor meus sentimentos, antecipadamente os agradeço. Espero não lhes aborrecer ou decepcioná-los, pois não são “histórias de pescador”. Nestes últimos dois anos, eu tenho encontros fortuitos com uma mesma e única pessoa, sempre. Como é natural, depois de nos vermos por algumas vezes, acabamos por nos apresentar. Observando-lhe a face - feição jovem e vigorosa - parecia-me alguém que não via há décadas. Uma lembrança vaga de um passado distante. Ocorreu-me ter visto, faz bastante tempo, a fotografia dos meus pais no dia do casamento – e era ali que a semelhança mais se acentuava. Cheguei a suspeitar que ele fosse um filho bastardo, resultado de algum adultério cometido pelo meu “velho”. Perguntei-lhe se me conhecia de qualquer outro lugar, ou se minha fisionomia lhe era familiar - respondeu-me que não. Insisti neste assunto e ele sempre negava, mas que sentia imenso prazer de estar em minha companhia.
 “No próximo encontro que tivemos, começamos por nos perguntar em qual atividade cada um de nós estava envolvido, propondo, assim, nos familiarizarmos melhor. Tomei a iniciativa de lhe falar de mim; da minha atividade profissional; dos meus gostos pessoais; dos livros que eram de minha preferência, dos que já tinha lido e outros que ainda estava por ler e constantes da minha biblioteca; dos meus long-plays; dos meus CDs atuais; dos meus filmes preferidos e de outros que ainda esperava ter a oportunidade de assistir, seja em casa ou nos cinemas, etc.
“Interrompeu-me o Luciano – este o nome com que se apresentara. O seu olhar demonstrava estar surpreendido e ao mesmo tempo interrogando-me sem palavras. Admirei-me quando perguntou o que eram CDs. Alegou que o meu discurso coincidia com muitas de suas aspirações existenciais, principalmente nos assuntos concernentes à riqueza dos conhecimentos superiores do espírito humano. Estava a se preparar para os exames vestibulares, que lhe dariam a chance de adquiri-los.
“Naquela noite, no hotel, rememorando o nosso encontro casual, achei estranho tal semelhança em pessoas de idades tão diferentes. Aos poucos fui relembrando que o meu pai costumava me chamar por aquele nome: ‘Luciano’; era o nome que queria com que eu fosse batizado, porém respeitou o desejo de minha mãe e ficou ‘Lúcio’. Eu já não me recordava com exatidão de minha fisionomia na juventude. Logo que pude estar em casa, busquei fotografias antigas, e grande foi o meu espanto quando vi o Luciano naquelas fotos de minha pessoa. Um arrepio desceu desde o alto de minha cabeça até aos pés. Excessivamente misterioso e sem explicação plausível. Não consegui dormir com tranquilidade. Acordei ansioso por um novo encontro; todavia não tinha como saber em que local e em que tempo ocorreria.
“Passados alguns meses, com aquela angústia oprimindo-me, tornei a encontrar o Luciano, em lugar e tempo inesperados. Ele também estava aflito, porque começou a se reconhecer em minha pessoa. Com o objetivo de identificação exata, perguntei-lhe pelo nome de seu pai e de sua mãe. Respondeu-me que o pai se chamava José e a mãe Cirene. De imediato disse-lhe que estes eram exatamente os nomes dos meus pais. Ficamos pálidos, simultaneamente.”
- Afinal, quem é você e quem sou eu? Somos a mesma pessoa existindo em tempos diferentes? – nos perguntamos.
“Então ele disse”:
- Você sou eu no futuro? É possível? Eu não quero ser você! Tenho sonhos que em você não se realizam. Por quê? Que maldição ou destino me aguarda? Se assim for, não quero mais existir. Quero uma grandeza que não vejo em você, um simples homem de negócios. Se tudo isso é verdade insofismável, quero desde já desaparecer, tornar-me névoa do passado.
“Antes que ele pudesse terminar, falei”:
- Não... Não, por favor, meu jovem amigo, vá vivendo a sua vida, percorrendo o seu caminho, assim como eu venho vivendo a minha e trilhando a minha senda...
- Impossível – interrompeu-me – não há como modificar os acontecimentos ocorridos no seu passado, que lhe fez chegar até aqui neste momento e como tal você se apresenta ante os meus olhos! Apenas peço-lhe que não lamente o que irás assistir. Adeus!
“Atônito, sem qualquer poder de argumentação, silenciei com lágrimas, sentindo em meu ser aquele jovem frustrado que não realizou suas ambições culturais e em quem elas não se efetivariam.
“Ante meu olhar aterrorizado, o Luciano, como possuidor de um poder de bruxo, fragmentou-se em pontos luminosos, absorvidos pela atmosfera envolvente; um fenômeno que talvez somente a física quântica pudesse esclarecer...
“Olhei em derredor, buscando um apoio ou uma ajuda, percebi que as pessoas nem se deram pela nossa presença - pois estava quase a desmaiar. Daquele fato somente eu estava consciente? Era ou não uma realidade? Ou seria uma projeção de meus malogros?
“Desde então o meu sentimento de frustração é enorme. Sinto-me um ser humano inacabado. Tomara que eu receba a graça de recomeçar ou de me renovar.
“Juro-lhes de pés juntos que o que acabo de contar realmente aconteceu. Se se trata de uma realidade objetiva ou subjetiva, isto eu não sei definir.”
Um pesado silêncio pousou sobre os presentes, por alguns minutos. Todos os olhares se concentravam no Lúcio. Possivelmente, crença ou dúvida se exprimiam naquelas faces.
O mutismo foi quebrado por um deles:
- Estou aqui pensando... Tu foste perseguido pelo teu próprio fantasma? Tens tido, por acaso, pesadelos constantes ou sonhos recorrentes?
Apartou outro:
- Não pode ser fantasma, cara! Lúcio não está morto – está aqui conosco! Ou então somos todos falecidos e nem o sabemos...
E outro:
- Que nada! Deve ter sido um desencarnado obsessor.
O segundo:
- Ora, não venhas com tuas teorias espíritas. Como ele mesmo disse, deve ter sido uma projeção do ego, de um modo bem mais concreto.
Um deles, mais próximo:
- Lúcio, eu te aconselho a procurar por um psiquiatra ou um Kabalista! Isto é, se queres paz contigo mesmo. Ninguém pode suportar viver deste modo.
Lúcio retomou a palavra:
- Meus prezados companheiros, eu agradeço de todo o coração as boas intenções com que todos vocês estão a me orientar. Acredito que somente o tempo há de curar as feridas da minha alma. Sinto-me aliviado do sentimento de culpa, porém persiste um sentimento de vergonha.  Agradeço por terem me escutado – já me aliviou bastante, embora não seja o assunto ideal para este momento. Sei que muitas dúvidas estão em suas mentes e não sou eu quem poderá dissipá-las. Amanhã pela manhã, bem cedo, estarei viajando a negócios. Bem, já está a anoitecer. Meus estimados amigos, adeus.
Lúcio abraçou a todos, um após outro. E lá se foi, em passos lentos, envolvido numa aura da qual somente ele tinha consciência. 

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Crônica do dia

O racismo na TV foi um dos temas trabalhados neste semestre, na Oficina de Crônicas, com o documentário "A negação do Brasil". Agora estamos frente à frente com um caso racista, recentemente veiculado na TV aberta, em uma propaganda da Caixa Econômica, em que nosso maior escritor, Machado de Assis, que era negro, aparece totalmente branco... Segue o vídeo da propaganda como denúncia de um problema que devemos combater.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Crônica do Dia

O texto do dia é um conto do moçambicano Mia Couto, publicado no belíssimo livro "O fio das missangas" - uma ótima indicação de leitura a todos que acompanham o blog e gostam de bons contos. Uma reflexão sobre o choro e seu importante papel na vida humana. "O pranto é o consumar de duas viagens: da lágrima para a luz e do homem para uma maior humanidade. Afinal, a pessoa não vem à luz logo em pranto? O choro não é a nossa primeira voz?" Boa leitura!

Os machos lacrimosos


Eles se encontravam por causa de alegrias. No bar de Matakuane, os homens anedotavam, fabricando risadas. Um único móbil: festejavam a vida. As suas esposas não suportavam aquele disparatar. Afinal, elas, as mulheres, não precisam de ritual para festejar a vida. Elas são a festa da vida. Ou a vida em festa? Para elas, aquela cumplicidade masculina era coisa de tribo. Reminiscência atávica.
Mas os homens não se importavam. Fosse atávico e tribal, eles mantinham o cerimonial. Cada um que chegava ao bar disparava, logo à entrada:
— Sabem a última?
E assim se produziam eles, se consumiam elas. Até que sucedeu a noite em que Luizinho Kapa-Kapa, o grande animador dos encontros, trouxe a notícia tristonha. Estava-se em lua muito minguante e ali, na esplanada, pela primeira vez, os copos ficaram cheios toda a noite. É que Luizinho foi desenrolando a história com voz acabrunhada. Antes de chegar ao busílis do relato, quem sabe um irreversível falecimento, Kapa-Kapa cascateou-se em pranto. E os amigos, copo suspenso, em redor da mesa:
— Então, Kapa-Kapa, como é que é?
Até o musculoso e calado estivador Silvestre Estalone ajudava a animar o lamentoso:
— Verticaliza, homem, verticaliza.
Mas o choroso todaviou-se. E foi crescendo de choraminguado para carpideiro. Entre soluços, soltava os fios da fúnebre narrativa. Já nem se percebia palavra, tal maneira as falas vinham envoltas em babas. Na sala surgiu um lenço e rodou de mão em mão, coletando excessos. Tarde de mais: as chamas da tristeza já haviam devorado o coração de Kapa-Kapa.
Desistiram de o consolar. Amolecidos, os amigos foram-se rendendo a um descaimento no peito, o singelo peso da lama na alma. Fosse isso a tristeza. E chegou mesmo a escorrer, dissimulata, uma lágrima no rosto barbudo do dono do estabelecimento.
No dia seguinte, quando se sentaram no bar, ainda foi disparado um gracejo: Sabem a última? Mas o homem logo se arrependeu: o que ele estava a dar era um ar de sua desgraça. A melancolia se instalara como toalha sobre a mesa. Silvestre Estalone ainda insistiu com nova graça. Mas ninguém riu. Estava-se mais interessado em escutar os novos capítulos da tristeza.
E pediram a Luizinho Kapa-Kapa: ele que divulgasse mais detalhes, rasgando véus, desocultando destinos. E o Luizinho desfez-se na vontade: o drama se desfolhou, ante o olhar lacrimoso dos presentes. Não tardou que todos chorassem babas e rebanhos.
E foi sucedendo uma e outra noite. Uma e outra rodada de tristeza. Os baristas de Matakuane foram deixando a piada e o riso. E passaram a partilhar lamentos, soluços e lágrimas. E até Silvestre Estalone, o mais macho e sorumbático da tribo, acabou confessando:
— Nunca eu pude imaginar, malta. Mas como é bom chorar!
Chorar, mas chorar junto, acrescentaram os outros. E até um se lembrou de propor uma associação de choradores. Pudessem mesmo substituir as profissionais carpideiras dos velórios. Mas os restantes se opuseram, firmes. Afinal, ainda restava neles o fundo preconceito macho de que lágrima pública é coisa para o mulherido.
E foi sucedendo tão devagar que nem parecia acontecer. Ocorria, porém, que os antigos anedoteiros passaram a mudar de trato com o mundo. Aos primeiros sinais do anoitecer lá um declarava ter que regressar a casa.
— Para ajudar a minha gente — confessava, meio envergonhado.
E um outro declinava a insistência de mais uma bebida.
— Não quero que a minha patroa se zangue — justificava.
— Quem quer bebida, pede medida — proverbiavam todos.
E mesmo o Silvestre, que era quem sempre fechava o bar, apelava para que olhassem o relógio. Voltassem todos aos seus lares, convidava o ex-boémio.
— Sim, vamos para nossas casas. Mas não sem derramarmos mais uma lágrima.
— Sim, sai uma para o caminho.
E lá vinha mais história de puxar lustro à tristeza. Que chorar era coisa de maricas, isso já nenhum se lembrava. Nos arredores do bar, a noite se adoçava, escutando-se o suave soluçar da rapaziada.
As mulheres até recearam ao ver tanta mudança: seus homens, inexplicavelmente, se revelavam mais delicados e atenciosos. E palavras, flores, carinhos: tudo isso elas passaram a receber. Mordedura de mosca, repentina mudança de idade? E acertaram nem sequer perguntar. Aquilo era tão bom, tão inverossímil, que o melhor era deixar dormir a poeira.
Hoje quem passa pelo bar de Matakuane pode certificar: chorar é um abrir do peito. O pranto é o consumar de duas viagens: da lágrima para a luz e do homem para uma maior humanidade. Afinal, a pessoa não vem à luz logo em pranto? O choro não é a nossa primeira voz?
E é o que, por outras palavras, sentencia Kapa-Kapa: a solução do mundo é termos mais do nosso ser. E a lágrima nos lembra: nós, mais que tudo, não somos água?

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Crônica do dia

Pensando sobre a correção das crônicas dos alunos da UnATI, um tema muito polêmico veio à tona: a norma "culta". Muitas vezes ficamos paralisados, não conseguindo escrever o que pensamos, pois aparecem dúvidas de regras gramaticais... Muitas vezes temos atitudes preconceituosas com as pessoas por elas não falarem "corretamente", segundo aquelas mesmas regras gramaticais... Para refletimos sobre essas questões e outras que puderem aparecer, leiamos a crônica do jornalista Sérgio Rodrigues e pensemos no assunto.

Coitada da Norma, tão culta...

– E a Norma, hein?
– O que é que tem?
– Você não soube? Anda mal falada.
– A Norma? Depois de velha? Mas ela é tão culta!
– Pois é. E com aquela pose toda, a mania de ditar regrinhas de bom comportamento, de corrigir todo mundo…
– Mas o que foi que aconteceu?
– Ora, o que aconteceu é que caiu a máscara da madame, né? Descobriram finalmente como ela é autoritária, elitista e preconceituosa. E pior, arbitrária, totalmente desconectada da realidade.
– Puxa, eu sempre achei a Norma tão correta…
– Correta demais, aí é que está. Era para desconfiar, acho que demorou. Parece que até aqueles amigos que ela se orgulhava de ter no ministério andam virando a cara para ela.
– Ah, coitada. Eu sinto pena.
– Pois eu acho ótimo. Nunca fiquei à vontade na presença da dona, sabia? Muitas vezes aconteceu de eu ter alguma coisa importante para falar e ficar com medo. Preferia nem abrir a boca.
– Isso é verdade, a Norma sempre foi difícil.
– Tá vendo? Nem você, que é meio puxa-saco, está disposto a defender a megera!
– Estou sim, defendo sim. E você? Fica aí esculachando mas até que está se expressando direitinho, do jeito que ela gosta.
– Eu?
– Você.
– Ah, você não viu nada, meu amigo. A gente vamos barbarizar!
(http://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/cronica/coitada-da-norma-tao-culta/, acesso em 13 setembro 2011)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Crônica do dia

Para começarmos bem a semana, o aluno Aldo Raposo, nos traz uma crônica sobre uma filosofia de vida muito interessante. DIVIRTAM-SE!     

Filosofia de vida de um idoso

Eduardo tem 69 anos, é brasileiro, aposentado, casado com dois filhos e três netos. Deixou de trabalhar há dois anos e, finalmente, conseguiu implantar sua filosofia de vida antes, os chefes, os clientes e as empresas para as quias trabalhou ocupavam um percentual de tempo elevado da sua rotina diária, o que impossibilitava que realizasse um dos  sonhos de sua vida que era implantar conhecimentos que adquiriu ao longo da vida er poderiam ser resumidos na sua Arte de Viver. Com tudo, mesmo hoje, ele tem dificuldades em definir com clareza não só quais os aspectos mais importantes a respeito da sua existência como também em relação ao conceito de viver com sabedoria. Nessa sociedade em que habita, em muitas ocasiões, pessoas e instituições lhe parecem indignas e irracionais. Isto se reflete sobre ele e é algo que o inquieta, pois tem a certeza de que muito tem a refletir e a investigar a respeito.
A pós a aposentadoria e os filhos criados, ele se sente com mais tempo e se considera dono do livre arbítrio  para escolher os melhores caminhos a seguir. Acredita nas verdadeiras palavras de Cristo no Novo Testamento, mas, inúmeras vezes, não está de acordo com as palavras disseminadas pelos religiosos e pelas religiões. Crê na democracia como a melhor forma de governo para o Brasil e reconhece a importância de uma imprensa livre. Decide quais as pessoas que considera amigas; Escolhe formas de lazer; Local para morar; E a quem amara de maneira duradoura.
Além disso, percebe que suas ações são motivadas: Valores; Sonhos; Vontades; Paixões; Amor pela família; Necessidades de comer; Dormir e atender aos instintos sexuais. Na busca de uma qualidade de vida: Pratica esportes cinco vezes por semana; Controla os níveis de stress; Faz exames médicos  preventivos; Frequenta grupos de terceira idade; E se alimenta de legumes, frutas e produtos saudáveis. Percebe com clareza que seus grandes ideais dão direções mais claras e definidas aos caminhos que trilham. É também influenciado e movido por pessoas que o cercam: Esposa; Filhos; Líderes políticos e religiosos; Orgãos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário do Brasil; Imprensa informatizada, escrita, televisada e falada. é bem verdade que vive em uma eterna reflexão para decidir corretamente, levando em conta todos os fatores citados e mais buscar a felicidades e o prazer, considerados por eles como os principais vetores da vida. Todavia, diariamente as vinte e quatro horas de que dispõe são dilaceradas e almejadas pelos que o rodeiam (Seres humanos e máquinas) e ele considera, por incrível que pareça, que ainda tem pouco tempo para sua individualidade e liberdade. Certamente, a busca por tal liberdade inclui aumentar o tempo de que dispõe para reflexões e leituras.
Ele tem consciência de que  o poder executivo honera os brasileiros com impostos diversos, o que obrigado todos a gastarem em parcelas ponderável dos salários. Fala-se que se trabalha a cerca de 12 meses e paga-se anualmente o valor de quatro de sal´[ario em impostos. Como retorno, a imprensa denuncia corrupção nos vários níveis do executivo (como o Mensalão do PT, liderados pelo Dirceu; o Mensalinho do DEM; o tráfego de influência da microempresa do Pallocci; a gestão fraudulenta dos familiares da Erenice Guerra; o recebimento de propina pelo ex governador Roriz  e sua família; a corrupção nos ministérios dos transportes e dos turismos etc, etc). Como retorno, o Brasil tem uma educação deficiente, mostradas pelos indicadores de avaliação. Como retorno, a rede de saúde é precária e a segurança nas cidades e nos campos deixa a desejar. Os tentáculos do Leviatão de Hobbes na sua versão brasileira, encontraram os cidadãos, tornando-os escravos de elevados impostos e de excessivas regulamentações, devolvendo muito pouco em troca do que lhe é dado. Por sua vez, o poder legislativo é lento, com, vários dos seus políticos corruptos e corruptores e que não defendem os reais interesses dos seus eleitores. Quanto ao poder judiciário, ele apresenta inúmeras limitações, entre elas: Morosidade dos processos e excessivos graus de recursos apelativos. Isto se observa nos níveis federal, estadual e municipal. Entretanto, apesar de todas essas mazelas e corrupções, ele percebe que o Brasil está melhorando os níveis de distribuição de renda e é reconhecido internacionalmente como um dos países em desenvolvimento com economia puljante ao lado da Federação Russa, China, Índia e Africa do Sul(BRICS). Eduardo conhece bem as potencialidades do país e de seu povo e acredita em dias melhores.
Em função do que pensa e analisa, percebe que são muitos os fatores que influenciam e limitam sua vida. Diz também que, para ele, viver bem é acreditar em Deus e relacionar-se intensamente com o próximo, amando-o ou não. Tem a convicção de que o seu "Norte" é almejar o aprimoramento contínuo e obter liberdade e boa qualidade de vida. Ele sabe que as ações dos poderes constituídos continuarão a ocupar seus maus pensamentos, pois o "Leviatã brasileiro" estará sempre na espreita, impondo mais impostos e novas legislações. Entretanto, tem  consciência de que deve continuar oi processo cíclico e regenerativo de reflexão dialética com ele mesmo investigando sempre o mundo que o rodeia e tirando conclusões, de modo a decidir com sabedoria e aprimorar, cada vez mais, a sua arte de viver. 
Pude conviver de perto com Eduardo na Universidade Aberta da Terceira Idade da UERJ e, após muitas conversas e trocas de ideias, foi possível transcrever nessa crônica sua Filosofia de Vida. 

Aldo Raposo                                           
                                                  

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Crônica do dia

Terminamos a semana com a crônica do aluno Samuel, em que ele questiona o "elixir da eternidade". Boa leitura.

Mentiras... Por quê?


Acreditas que o corpo em que tens a ilusória consciência de propriedade realmente te pertence?
Ora, haverás de me perguntar: "Por que estás a me indagar sobre este assunto de caráter metafísico?"
Resta-me responder com outra pergunta: "Gostarias de viver eternamente?"
Tu me olhas estupefato, silencioso, porque mexi com o mais importante de teus instintos - o da sobrevivência. Agora, a tua face demonstra ansiedade por se tratar de uma necessidade básica e queres, com presteza, saber mais.
E mais uma indago, observando seres um idoso: "Se eu te oferecesse o 'elixir da eternidade', tu o tomarias, fosse um comprimido, uma injeção ou um líquido?"
Vozes ao redor de nós soam; umas dizendo "não" e outras falando "sim". Porém, tu, sábio pela tua idade e experiência, hesitas por breve momento e alegas: "Faria uso sim, com a condição de ter um corpo jovem e não este que está em estado de degeneração natural."
Pessoa plena de sabedoria tu és! Não nos é possível ou permitido recuar no tempo biológico.
Vejamos o que a mídia vem nos apresentando. Um dos cientistas britânico, especializado na área da bio-gerontologia, vem alegando que dentro dos próximos trinta ou quarenta anos nos será possível viver eternamente. Utópico, não é? No entanto a sua Fundação vem recebendo doações de centenas de milhares de dólares, para prosseguir com tais pesquisas. Essas doações são oriundas de uns poucos bilionários em meio a nossa humanidade neste planeta. Provavelmente eles não querem morrer. E a morte é uma fatalidade biológica natural de todos os seres vivos.
Suponhamos que seja possível tal conjectura. Viver perenemente... E quais seriam as consequências para tal situação de fato, se somente uns poucos dentre nós fossem privilegiados? Não seria justo! Se muitos pudessem pagar, ainda assim não seria justo. Se todos os seres humanos obtivessem a oportunidade de serem beneficiados, seria justo?
De imediato, talvez digam sim, que aí é justo. Seria justo para o planeta?  Pensem profundamente nas consequências. Ninguém mais morre... Contudo o instinto de conservação da espécie prossegue ativo. Crianças continuam nascendo.
Atualmente, com aproximadamente seis bilhões de humanos na superfície deste orbe, já há tanta miséria, fome, doenças, discórdias, guerras; imaginem como seria a situação até o final deste século. A população, beneficiada pela medicina avançada, estaria duplicada ou triplicada. Ocorreria falta de recursos naturais como água potável, energia renovável, alimentos, etc.. Pleno desequilíbrio ecológico. Situação insustentável...
Todavia, aquele cientista versado na ciência enganosa, apoiado por alguns temerosos do inevitável, afirma com ênfase tal absurdo, prosseguindo em suas pesquisas sem termo.
Ah! A presunção do Homem... A Mãe Natureza é plenamente sábia em suas Leis Cósmicas, optando pela renovação constante dos seres vivos, onde nada se cria e nada se perde e tudo se transforma abençoadamente.
Concluindo, falo por mim: Eu não tomaria o tal elixir da perenidade. Quero ir vivendo em plenitude, feliz se possível, aceitando a realidade como se apresenta, até o momento de minha própria transformação, qualquer que seja ela. 

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Crônica do dia

Em mais um dia de postagens, temos hoje o texto da Aluna Maria Lúcia, que nos conta muitas histórias do jogo dos poderosos por mais poder, chegando até a passar por cima dos interesses pessoais de cada um. DIVIRTAM-SE!   

Os Poderosos   

Em 1819 nasce no Brasil uma princesa de nome simplório: Maria da Gloria Carlota Leopoldina da Cruz Franciscana Xavier de Paula Isidora Micaela Rafaela Gonzaga - Princesa da Beira do Grão Pará, filha do Imperador Dom Pedro I e da Arquiduquesa da Áustria, D. Leopoldina.
Desde cedo, aos 7 anos, entra no jogo dos poderosos da política, quando Dom Pedro I nega-se a voltar a Portugal e a faz casar-se com seu tio, Dom Miguel por procuração este, nomeado regente, assume o trono de Portugal. Maria vai estudar na Europa, Paris e Londres, e aos 15 anos vai para Portugal, que encontrava-se em guerra civil, anula o casamento e se faz rainha. Precisava, necessitava de herdeiros para que no futuro, herdassem o trono.  
Casa-se com o irmão de sua madrasta, mas este a deixa 2 meses depois, viúva. Mas e os herdeiros? O jogo dos poderosos depois de negociações aponta para Fernando, sobrinho do Rei da Bélgica, nascido na Áustria. Este casamento é realizado 3 meses após a viuvez, é jogo rápido.
Ela gostou do Fernando, apesar de do coração preferir um fidalgo francês; tiveram 12 filhos.
Na biografia consta que era chamada de tirana, mas era querida pelos portugueses, que usava roupas sujas, mas cuidava bem dos filhos e administrava o governo junto com o marido de forma admirável. Ficou no poder 19 anos, morreu de parto aos 34 anos.               

Maria Lucia                       

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Crônica do dia

Hoje temos em mais um dia de postagem, o texto do aluno Homero que nos conta  vários fatos da história do Brasil de uma outra maneira e com um novo enfoque. DIVIRTAM-SE!   


O Descumprimento do Brasil  

Tudo no Brasil obedece a um sistema inteiramente anacrônico, em vista de tudo ser planejado, porém sem o intuito de se cumprir o regulamento ou qualquer tipo de razão ou compromisso. Aqui  cada um faz o que muito bem entende por saber-se ser amparado por recursos, onde o fora da lei conta com aquele apoio que nega ao justo, ao inocente.
É claro que Cabral deve ter ouvido lá por aquelas esquinas da Cidade Luz os cochichos da desordem do país a ser descoberto.
Tanto é assim que, após o Descobrimento do Brasil, embora recebendo um cem número de manifestações de simpatia da Coroa, jamais voltou a vestir a Camisa do Vasco da Gama, aquela época em vista do próprio Napoleão Bonaparte haver tomado conhecimento daquele desvio para o Caminho das índias com volta ao Brasil. 
Nas Correspondências de Pero Vaz de Caminha foram encontrados após a sua morte documentos que nunca foram revelados de cartas amorosas trocadas com algumas índias, a quem ele prometera casamento e até propondo levá-las para Portugal para que elas vissem e sentissem o glamour de uma dona de boteco. Essa tendência para o comércio que o imigrante português demonstrou, e alguns deles foram muito longe como foi o caso do cidadão Manoel Carlos Calça Curta, descendente de espanhóis que se radicou ali no Largo da Lapa, com uma cantina, já naquele tempo para vender fumo de rolo, muita coisa foi descoberta pela polícia, mas tudo abafado, graças ao poder da propina, do Toma-lá-da-Cá.
Para quem lembra daquela música cantada por Donga, cuja letra dizia: " O chefe da Polícia pelo telefone mandou me avisar que lá na Carioca tem uma roleta para a gente jogar", vem lá do tempo do Cabral.
O próprio Padre José de Anchieta vendeu na Europa muita obra do Aleijadinho como sendo obra sua.
Essa história de direitos humanos de que tanto se fala, nada mais é aquilo que foi no passado o tal "passar a mão pela cabeça".
Naquele tempo ainda não se tinham notícias de bebida além do vinho, só muito mais tarde é que se tomou conhecimento da "mardita pinga", de que tantos alguns boêmios fizeram e desfizeram tratados. Era só encher a cara e tomar umas calibrinas. 
Essa história do Bondinho de Santa Tereza é muito velha, tanto é assim que o estado deplorável dos bondes é pelo fato de que as empresas que fabricavam os velhos ônibus não existirem há muito tempo, é  como arranjar peças para a reposição.
Essa culpa que estão querendo colocar no Sergio Cabral deveria ser atribuída ao Pedro. Como sabemos, o Sergio Cabral pai é jornalista e não entende nada sobre bondinhos e muito menos sobre Santa Teresa.
De minha parte, tudo isso, não passa de um enorme motivo para se arranjar dinheiro para ser partilhado por. Tenho uma amiga do PT que foi convidada para ir para o PSDB e ela respondeu: 
-Só vou se me derem uma fazenda e um carro importado, para que não me sinta culpada pela troca.                             

Homero