Cenas reais do Cemitério de Inhaúma
Eu já tinha lido uma crônica de Lima Barreto, falando sobre enterros no Cemitério de Inhaúma. Ele conta que o defunto foi cuspido do caixão quando era conduzido para o cemitério, devida à estrada ruim, e que o morto estava vivo, ficou muito irritado por ter voltado ao mundo dos vivos, querendo processar quem o tinha trazido de volta.
Outro caso que o autor relata é a do enterro do Felisberto Catarino, que por ser muito querido, todos o queriam levar à última morada. Como era muito distante, durante o cortejo, em todo bar por que passavam, paravam para tomar um trago e deixavam o morto na beira da estrada, aconteceu que ficaram bêbados e perderam o defunto, só quando chegaram ao Campo Santo, que sentiram sua falta e voltaram para procurar. Isso ocorreu em 1922. Entretanto, agora, em 2004, presenciei um fato muito cômico, também no cemitério de Inhaúma, o qual posso relatar.
Por volta das 14:30 horas, todos reunidos para as despedidas do corpo, como é de praxe. Ele era marido de uma colega de trabalho. Na hora de carregar o caixão, para o carro que levaria à sepultura, houve um grande tumulto, eu pensei que era assalto, pois estava acontecendo muito assalto em velórios. Houve correrias, gritos e um grande barulho, eu imaginei serem tiros, fiquei apavorada. Então eu e minha supervisora corremos e entramos no banheiro dos homens, e saímos rápido, tendo impressão de que estavam nos seguindo, me perdi dela, corri até o final das salas e tinha outro defunto sendo velado. Só havia uma moça, eu entrei e sentei-me no banco, fiquei imóvel, não consegui levantar com uma dor na coluna de nervoso. Nesse momento de aflição, olho para cima e vejo uma imagem de São Jorge, eu começo a pedir que me tirasse dessa angústia. Garanto que, se aquela confusão chegasse até ali, eu abraçaria o caixão naquele momento. Só havia uma moça na sala e que na hora saiu para ver o que estava acontecendo. Logo que diminuiu a confusão, eu perguntei à moça o que tinha acontecido. Ela respondeu que era briga de família. Quando parou, eu saí e vi o irmão e o pai da minha colega feridos, rasgados, um sem camisa, vasos quebrados... E o caixão estava dividido entre o carro e o chão, foi horrível. Eu consegui passar e saí rápido, de volta para casa. De repente, vem minha colega (a viúva) com o filho caçula, em passos largos, até me assustei, achei que nem sepultaram o defunto, passaram por mim rápidos, e sumiram. Eu estava nervosa, pois não vinha o ônibus, o tempo fechado, já escurecendo, parecia que era outro mundo. Eu tive vontade de pegar um táxi, mas no momento só tinha vale transporte, pensei em pegar, e em casa pagar, mas finalmente o ônibus 360 apareceu.
Quando passei em frente à capela, não havia mais nada, respirei aliviada. Quanto a minha supervisora, só nos encontramos no dia seguinte, no trabalho. Aquele lugar me deu uma sensação horrível.
Chegando a casa, tomei um chá de camomila bem forte, para acalmar os nervos e esquecer aquele episódio... Aconteceu em 2004.
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