Já parou pra pensar na questão dos feriados brasileiros? Será que somos mesmo um povo preguiçoso que não gosta de trabalhar e adora um feriado? Será que eles mais ajudam ou prejudicam a correria da nossa vida cotidiana? Nosso aluno Samuel Kauffmann escreveu esta crônica com seus sentimentos e reflexões sobre o assunto. Confira e pense você também!
Feriados: Aspectos Positivos e Negativos
Pretendo expor minhas impressões pessoais, acerca dos feriados, em pelo menos três períodos da existência.
1º - Infância.
Na remota antiguidade, os povos interrompiam suas atividades econômicas, porém sem obrigatoriedade, para festejar os deuses, com rituais pagãos. Foi somente com o Mestre Moisés que veio instruções, com rigor, para interromperem seus afazeres, dedicando-se, a partir daí, em homenagear e cumprir os mandamentos do Deus Uno, incluindo o descanso semanal – o que era observado por um povo entre os povos.
O sentido de interrupção legal, de não se poder trabalhar, é bem mais recente e mais abrangente.
Quando eu era criança, ficava maravilhado com a ocorrência de um dia, ou mais, independente dos finais de semana, às vezes ajuntando-se com esses, de não me sentir obrigado aos estudos e com liberdade para outras atividades. O papai e o vovô ficavam com a família reunida. Recebíamos visitas dos parentes de outra cidade. As refeições principais eram festivas, com guloseimas especiais. Afora os passeios programados para outras localidades, principalmente as praias de municípios vizinhos. Era um sonho que acabava no primeiro dia útil. Permanecia em mim um sentimento de euforia por mais um tempo.
A verdade é que eu não tinha consciência das conseqüências advindas da interrupção das atividades regulares. Porque se acumulavam as lições e exercícios escolares; dentro de casa as conversas se reduziam ao mínimo; aumentavam as tarefas domésticas; via menos o pai e o avô por uns dias mais, ou até o próximo fim de semana.
Enfim, estavam todos correndo para se recuperarem financeiramente. Ainda assim, meus olhos mentais não estavam abertos para uma realidade maior e profunda.
2º - Juventude.
Nesta fase, sufocado pelas obrigações escolares do ginásio, ansiava, em verdade, por um período de descanso além dos finais de semana. Aproveitava para colocar em dia as lições e as leituras. Confesso, também, o permitir-me um pouco de preguiça. Numa vida ego-centrado, pouco me importava com o que podia estar se passando além de minha esfera pessoal. Em que um feriado curto ou longo (como o carnaval) podia ter resultantes, positivas ou negativas, eu não estava nem aí...
No período do curso Cientifico, é que chegava aos meus ouvidos um “zum zum” político; mudança da capital federal; o Brasil em atividade febril; um “corre corre” pelo ganhar mais dinheiro. Aí, escutava, de alguns, reclamações sobre o excesso de feriados – religiosos e institucionais. Percebi que tais queixas partiam de pessoas com atividades autônomas – porque dependiam somente deles a própria sobrevivência – nesta situação não lhes era permitido trabalhar. Tinham suas razões?
3º - Maturidade.
Já casado, pai de dois filhos, vendedor autônomo, trabalhando de sol a sol os cinco dias da semana, ansiava por um feriado que emendasse com o final de semana, para poder sair da grande metrópole, ir para uma praia distante ou cidade serrana.
Naquela época, diferente dos dias atuais, as estradas ainda não ficavam congestionadas. A única desvantagem era ter de aguardar a barcaça para atravessar a baía. Acabávamos chegando ao destino sempre à noite, tanto na ida quanto na volta. Perdíamos preciosas horas de lazer – mas a grande família estava toda reunida.
Após a construção da Ponte Rio - Niterói, o fluxo de veículos foi gradualmente aumentando, as estradas eram de mão dupla; freqüentamos Saquarema. Aí sim, o que era um prazer foi se tornando um desprazer. Viagens que duravam uma hora e meia, passaram para quatro ou cinco horas. Tudo que podíamos aproveitar se perdiam naqueles congestionamentos. Um inferno...
Um episódio humorístico aconteceu numa daquelas viagens. Estávamos na rodovia Amaral Peixoto, já noite, aí pelas dezenove horas, tínhamos saído às dezesseis horas de Saquarema, quando começou o para e anda, no carro não conseguia engatar uma terceira marcha. Meia hora depois, começaram as reclamações.
- Pai, eu quero fazer xixi...
-Mulher, bota para fazer no pinico, eu não posso parar...
- Eu não trouxe o pinico...
- Eu não agüento mais, vou fazer aqui no carro...
- Puxa, mulher, eu falei para trazer aquela garrafa de boca bem larga...
- E eu estou com sede – falou choramingando o menor.
- Dê a mamadeira de água para ele...
- Não consigo encostar o carro, estão trafegando pelo acostamento...
- Já estou nervosa, você deixa tudo por minha conta...
- Quer saber de uma coisa, eu também estou precisando esvaziar o joelho; vou encostar de qualquer jeito...
Às vinte e duas horas estávamos em nosso lar doce lar.
Anos depois tomei uma decisão: nos feriados prolongados passamos a ficar aqui na cidade – aproveitamos muito mais. A praia é logo ali...
Conclusões:
Esta semana ocorreu um feriadão. Um deles institucional e nacional, o outro religioso e municipal. Ficamos aqui na cidade. Mas não se pode trabalhar, produzir e ganhar a vida material. E o lazer tornou-se bem complicado.
Samuel Kauffmann
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