As saudades da aluna Ângela são o nosso deleite literário de hoje.
Eu me lembro com saudades...
Quando penso na escola, no aprendizado e na convivência, fico feliz em perceber o quanto foi plena a minha infância.
Cresci no emprego da minha mãe, doméstica e mãe solteira. Sua patroa era minha madrinha e juntas tiveram a tarefa de me preparar para o mundo e para a vida. E assim foi.
_Acorda, minha filha! O dia já chegou e não espera por você! Escove os dentes e venha tomar o café da manhã.
_Já fez os deveres? Deixa eu ver.
Minha mãe não sabia ler ou escrever e eu nunca a vi titubear diante dos meus cadernos.
_O que é isto aqui? Com esta letra?
Eu lia cuidadosamente e ela respondia: ah! Bom, assim está ótimo.
E havia a madrinha atenta, corrigindo o necessário e elogiando sempre.
_Pronto, a tarefa está pronta. Vamos para o banho! Não esqueça os ouvidos.
O uniforme imaculado em cima da cama me esperava com o emblema e a divisa para serem colocados no peito e no ombro. E havia a boina, para mim, o toque final.
_Linda, mãe, eu estou linda!
Tio Fausto era o nosso padeiro, que entrava na rua com uma buzina na mão, pedalando o seu triciclo. Que cesta! Cheia de pães e doces. Com creme, com açúcar cristal, goiabada, enfim, um sonho diário. Escolhia o meu e subia feliz para minha mãe, assim, arrumar a merendeira. Limonada, café com leite, ou Toddy? Ah! Tudo é bom com pão doce!
Já estou indo para a escola. Vou de bonde, mas não posso me sentar na ponta.
_É perigoso, diz minha mãe, vem no colo porque assim você não paga passagem.
Lá vou eu no colo da minha mãe, vendo tudo e todos do alto.
Não fico triste, o colo é bom, quentinho e seguro. Não tenho medo de nada quando estou com ela; nem mesmo quando passo pelo portão. Fico na escola com a certeza de que mais tarde estarei de volta à minha casa e às minhas mães. Vai ser bom. Se volto de bonde? Aí... É uma outra crônica.
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