E para comemorar a volta do feriadão em clima de romantismo, trazemos a crônica de Dia dos Namorados do Samuel. Encantem-se...
UM HOMEM/UMA MULHER
Que impressões, que emoções, que lembranças poderiam ser sentidas, após assistirmos um filme como “Carta para Julieta”?
Meditei sobre o tema, considerando a situação particular dos que atravessam a fase da terceira idade. Enquanto não nos faltar o entusiasmo, sustentado pela paixão, buscamos nos realizar como entidades opostas em comunhão. O princípio masculino em união perfeita com o princípio feminino.
Quantos de nós temos deixado lá no passado um relacionamento incompleto, que por algum temor imaturo não se concretizou... Mesmo um namorico na infância fica gravado em nossos corações; devido à insegurança daquela fase, são lembranças de uma fantasia pueril. Alcançando a adolescência, a atração física saudável para ambos os seres surge por instinto. Promessas para um futuro incerto são necessários para uma possível continuidade.
O tempo passa e muitas causas vão modificando as relações humanas. Se alguma promessa não for cumprida, isso não significa, forçosamente, uma traição. São apenas adaptações sociais a que se submetem os enamorados. Alguns nunca mais hão de se encontrar. Outros se cruzarão nos caminhos da existência, apenas para se reconhecerem já compromissados. Outros tantos, após uma separação dolorosa, por divórcio ou por viuvez, possivelmente terão a grata sorte de reencontrarem aquele amor da juventude, em iguais condições de estado. E aí poderá ocorrer, ou não, mais uma vez, a conjunção das almas viventes.
Considerando a nossa situação na terceira idade ou na segunda infância – como queiram -, já com a produção dos hormônios atenuadas, ganhamos algo excepcional, que é a sublimação de nossos egos. O homem já não se sente atraído por aquilo que “contempla”; a mulher já não se sente atraída por aquilo que “escuta”. Então, o que é capaz de nos aproximar do outro ser que nos completa numa plenitude existencial? Seria a necessidade simples de se apoiarem um ao outro? Ou seria sentir a espiritualidade manifesta do outro, aceitando como ele ou ela é? E, aceitando, deixamos o outro livre. A beleza enaltecida dessa liberdade é que nos possibilita atingir o paraíso, no aqui e agora, enquanto possível à vida no corpo.
Que encanto a aproximação de idosos sem a imposição da atração física. Quão maravilhosa é a manifestação de um amor puro, desinteressado, cristalino, envolvido numa felicidade radiosa, capaz de ser percebida e sentida por outros corações. É a união das energias dos princípios opostos, em harmonia holística, geradora do amor e de amar, da criatividade e da criação, do silêncio e do som, do estático e da dança, do transitório e do eterno.
Naturalmente, uma sedução por sensualidade poderá ocorrer e em nada obstar uma conjunção carnal, se desejada pelos amantes.
O mais admirável e emocionante, sempre, é o reencontro dos apaixonados, após longo período de separação física. A nós expectantes, causa-nos um nó na garganta e um aperto no peito, do qual não devemos, em hipótese alguma, nos envergonhar de tal sentimento – eleva-nos o espírito.
Por isso, nós, os idosos, temos a oportunidade, quando descompromissados, com liberdade, já não tão sujeitos ao instinto de reprodução, de realizar aquilo pelo que realmente existimos, isto é, manifestar AmoR (R maiúsculo de responsabilidade), com o respeito espiritual merecido por ele ou ela - a outra face da mesma moeda.
Também, porque o Universo nos escuta, devemos sempre expressar verbalmente, agradecidamente, constantemente, sem leviandade:
- Eu te amo, meu amor!
Em 12 de junho de 2011 – Dia dos Namorados.
Crônica dedicada a minha namorada, Alegra, após 43 anos de matrimônio.
Samuel Kauffmann.
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