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terça-feira, 25 de maio de 2010

Crônica do Dia

Já parou pra pensar na questão dos feriados brasileiros? Será que somos mesmo um povo preguiçoso que não gosta de trabalhar e adora um feriado? Será que eles mais ajudam ou prejudicam a correria da nossa vida cotidiana? Nosso aluno Samuel Kauffmann escreveu esta crônica com seus sentimentos e reflexões sobre o assunto. Confira e pense você também!

Feriados: Aspectos Positivos e Negativos

Pretendo expor minhas impressões pessoais, acerca dos feriados, em pelo menos três períodos da existência.

1º - Infância.
Na remota antiguidade, os povos interrompiam suas atividades econômicas, porém sem obrigatoriedade, para festejar os deuses, com rituais pagãos. Foi somente com o Mestre Moisés que veio instruções, com rigor, para interromperem seus afazeres, dedicando-se, a partir daí, em homenagear e cumprir os mandamentos do Deus Uno, incluindo o descanso semanal – o que era observado por um povo entre os povos.
O sentido de interrupção legal, de não se poder trabalhar, é bem mais recente e mais abrangente.
Quando eu era criança, ficava maravilhado com a ocorrência de um dia, ou mais, independente dos finais de semana, às vezes ajuntando-se com esses, de não me sentir obrigado aos estudos e com liberdade para outras atividades. O papai e o vovô ficavam com a família reunida. Recebíamos visitas dos parentes de outra cidade. As refeições principais eram festivas, com guloseimas especiais. Afora os passeios programados para outras localidades, principalmente as praias de municípios vizinhos. Era um sonho que acabava no primeiro dia útil. Permanecia em mim um sentimento de euforia por mais um tempo.
A verdade é que eu não tinha consciência das conseqüências advindas da interrupção das atividades regulares. Porque se acumulavam as lições e exercícios escolares; dentro de casa as conversas se reduziam ao mínimo; aumentavam as tarefas domésticas; via menos o pai e o avô por uns dias mais, ou até o próximo fim de semana.
Enfim, estavam todos correndo para se recuperarem financeiramente. Ainda assim, meus olhos mentais não estavam abertos para uma realidade maior e profunda.

2º - Juventude.
Nesta fase, sufocado pelas obrigações escolares do ginásio, ansiava, em verdade, por um período de descanso além dos finais de semana. Aproveitava para colocar em dia as lições e as leituras. Confesso, também, o permitir-me um pouco de preguiça. Numa vida ego-centrado, pouco me importava com o que podia estar se passando além de minha esfera pessoal. Em que um feriado curto ou longo (como o carnaval) podia ter resultantes, positivas ou negativas, eu não estava nem aí...
No período do curso Cientifico, é que chegava aos meus ouvidos um “zum zum” político; mudança da capital federal; o Brasil em atividade febril; um “corre corre” pelo ganhar mais dinheiro. Aí, escutava, de alguns, reclamações sobre o excesso de feriados – religiosos e institucionais. Percebi que tais queixas partiam de pessoas com atividades autônomas – porque dependiam somente deles a própria sobrevivência – nesta situação não lhes era permitido trabalhar. Tinham suas razões?

3º - Maturidade.
Já casado, pai de dois filhos, vendedor autônomo, trabalhando de sol a sol os cinco dias da semana, ansiava por um feriado que emendasse com o final de semana, para poder sair da grande metrópole, ir para uma praia distante ou cidade serrana.
Naquela época, diferente dos dias atuais, as estradas ainda não ficavam congestionadas. A única desvantagem era ter de aguardar a barcaça para atravessar a baía. Acabávamos chegando ao destino sempre à noite, tanto na ida quanto na volta. Perdíamos preciosas horas de lazer – mas a grande família estava toda reunida.
Após a construção da Ponte Rio - Niterói, o fluxo de veículos foi gradualmente aumentando, as estradas eram de mão dupla; freqüentamos Saquarema. Aí sim, o que era um prazer foi se tornando um desprazer. Viagens que duravam uma hora e meia, passaram para quatro ou cinco horas. Tudo que podíamos aproveitar se perdiam naqueles congestionamentos. Um inferno...
Um episódio humorístico aconteceu numa daquelas viagens. Estávamos na rodovia Amaral Peixoto, já noite, aí pelas dezenove horas, tínhamos saído às dezesseis horas de Saquarema, quando começou o para e anda, no carro não conseguia engatar uma terceira marcha. Meia hora depois, começaram as reclamações.
- Pai, eu quero fazer xixi...
-Mulher, bota para fazer no pinico, eu não posso parar...
- Eu não trouxe o pinico...
- Eu não agüento mais, vou fazer aqui no carro...
- Puxa, mulher, eu falei para trazer aquela garrafa de boca bem larga...
- E eu estou com sede – falou choramingando o menor.
- Dê a mamadeira de água para ele...
- Não consigo encostar o carro, estão trafegando pelo acostamento...
- Já estou nervosa, você deixa tudo por minha conta...
- Quer saber de uma coisa, eu também estou precisando esvaziar o joelho; vou encostar de qualquer jeito...
Às vinte e duas horas estávamos em nosso lar doce lar.
Anos depois tomei uma decisão: nos feriados prolongados passamos a ficar aqui na cidade – aproveitamos muito mais. A praia é logo ali...

Conclusões:
Esta semana ocorreu um feriadão. Um deles institucional e nacional, o outro religioso e municipal. Ficamos aqui na cidade. Mas não se pode trabalhar, produzir e ganhar a vida material. E o lazer tornou-se bem complicado.

Samuel Kauffmann

terça-feira, 18 de maio de 2010

Crônica do Dia

Hoje temos uma crônica que mostra de uma maneira particular, porém leve, como se apresenta o tema "releitura" no decorrer de nossas vidas. Você vai se identificar, afinal quem nunca se surpreendeu ao reler um livro, ou mesmo ao rever um filme?

Orgulho e Preconceito

 
Uma história vista e lida por uma pessoa em duas etapas de sua longa jornada de vida vai levar a duas conclusões bem diversas uma da outra.
Quando era jovem adolescente, o filme foi visto com o sentimento basicamente romântico e, em muitos trechos, tanto no livro como no filme, eu me sentia a própria Elisabeth, personagem principal. O “príncipe encantado”, na tela, foi muito bem representado por Lawrence Olivier que me encantou com sua pose de fidalgo. A família de Elisabeth era bem diferente da minha e, por causa disso, na maioria das vezes eu os achava meio caricatos: pai, mãe, irmãs, etc. A mentalidade machista era constante na época, mas, mesmo assim, para mim não correspondia a realidade que eu tinha em casa.
O filme, no seu âmago, foi um conjunto de sentimentos, tudo muito enfeitado de coraçõezinhos e florzinhas...
Há poucos anos atrás vi o mesmo filme, com outros atores e também fiz questão de reler o livro.
O livro me pareceu meio prolongado, mas, apesar dos pesares, foi muito interessante ver a sociedade da época com seus pensamentos românticos e machistas e também com um linguajar e relações bem diferentes dos atuais.
Todos os dois filmes foram bem representados e, principalmente, o atual mostrou, com muita precisão e detalhes bem específicos tanto nos ambientes quanto nos vestuários, que o amor é sempre a mola do mundo. Porém, também o são e o dinheiro e o preconceito.
Os sentimentos são iguais em sua essência, em sua base, mas o enfoque dado a eles, há sessenta anos atrás, é bem diferente do que se vê e sente atualmente!

Stella Maria Oliveira Muehlbauer 

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Crônica do Dia

Nessa semana a crônica do dia é de nossa aluna Sandra e segue tão emocionante quanto as anteriores. Boa leitura!

Amor Bandido


O levantar tornou-se inexeqüível naquela manhã sem o Bandido. A tristeza invadiu a casa como uma rajada de neve embranquecendo tudo, inclusive meus cabelos, e a vida me pareceram completamente sem sentido.
O ser humano se julga perene, no entanto, em diversos momentos, as circunstâncias nos imobilizam e nos colocam inteiramente à disposição dos acontecimentos que se sucedem num ritmo próprio e como expectadores... Assistimos, vez por outra, interferimos.
Foi em um dia de sol que vi o Bandido pela primeira vez dominado e esperando...
Quando eu abria os olhos, às seis da manhã, ele já se encontrava de pé com seu olhar fulminante e sua impaciência à flor da pele, aguardando que eu levantasse para levá-lo à rua em seu passeio matinal.
Na semana que sucedeu sua morte foram os hábitos os carrascos que me torturaram e me levaram às lágrimas e ao recolhimento, sei que preocupações futuras virão bater em minha porta com o passar do tempo, fazendo com que eu me lembre dele e sofra ainda mais.
O propósito dos passeios diurnos era esvaziar a bexiga e marcar o território do “macho” mais “fofo” da área. Passear com o Bandido tornara-se não só um hábito em minha vida como também uma obrigação prazerosa, afinal ele, como “Bandido”, tinha de assaltar alguém, roubar um carinho, um beijo, dar um cheirinho, paquerar as cadelinhas gostosas de fitas rosa, fazer vários amigos... E, com sua simpatia característica, me permitir um deleite sem dimensões.
Bandido tornou-se o centro da minha vida, integrou-se nela como o odor de um perfume raro que se entranha na pele e se faz presente, participou do meu cotidiano como um escravo pronto para servir o dono, conquistou meus amigos, inimigos e familiares que, até então, não sentiam a menor intimidade com cachorros. Foi roubando meu coração sem o menor pudor e, sem constrangimento, se apoderou do meu espaço como um verdadeiro “Bandido”.
Obedecia sem reservas, sua carência afetiva o fazia único, seus olhos meigos e espertos nos faziam acreditar na humanidade, seu andar faceiro e elegante provocava olhares e risos dos transeuntes. Zafir era um poodle de porte pequeno com uma pelagem mesclada de preto e branco que desceu do morro em um dia de sol e não soube voltar, história esta contada pelo seu antigo dono. Sua aparência era de um cachorro saudável, porém, ao examiná-lo melhor constatei uma idade avançada, os dentes podres, a pele ferida, uma peculiar infestação de pulgas e carrapatos e, após uma visita ao veterinário foi detectada Erlichiose.
Nos dias que antecederam sua partida ele foi ficando magrinho, muito magrinho, mais do que já era quando eu o encontrei perdido. Suas costelas proeminentes me deixavam aflita e triste, a morte parecia inevitável. Para ludibriar o sofrimento e não deixar a tristeza me abater antes da hora, comecei a fazer um tipo de humor negro: dei-lhe o codinome de “Fiapo” e assim passei a chamá-lo.
“Fiapo” dos últimos dias e ex-bandido nos dias anteriores e Zafir quando morava no morro, mesmo com o coração fraco e muita falta de ar, não se detinha. Nos momentos de alegria pulava e brincava tanto que cheguei a pensar em perdê-lo ali mesmo, naqueles momentos.
Seu coraçãozinho foi ficando mais fraco, por um fio, e foi parando... Parando de bater. Não conseguindo bombear devidamente o sangue, seu pulmão se encheu de líquido e, na mesa, fazendo eletro, ele teve um enfisema pulmonar seguido de uma parada cardíaca...
“Fiapo”, “Bandido”, “Zafir” - não importa o nome nem o codinome!... O cachorrinho que achei na rua deixou uma saudade. Uma saudade tão grande que, todas as manhãs, me faz chorar só de pensar que ele poderia estar ali me olhando e me pedindo para levá-lo à rua.
Mas a saudade ameniza e, no final do dia, estou rindo com as lembranças dos quatro anos que ele passou em minha companhia, com as alegrias que me proporcionou e com sua transformação de menino de rua a moço de família.
FIM

Sandra Temporal

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Crônica do Dia.

Aproveitando a proximidade com o dia das mães postaremos hoje uma crônica sensível e emocionada do nosso aluno Samuel Kauffmann. Uma boa dica para ler a todas as mães na manhã de domingo.
Leiam, aproveitem e, desde já, desejamos a todos um feliz dia para todas as mães.


Dia das Mães

Na próxima semana, quando aqui estivermos reunidos, já se terá transcorrido mais um dia das mães. Permitam-me homenageá-las desde agora.
Mamãe, a primeira palavra pronunciada racionalmente por mim, como soa doce e apelativa, a fim de satisfazer meus instintos e sentimentos, desde bebê.
Mamãe, tu me cedeste metade deste corpo, que habito temporariamente, com sacrifício e plena satisfação amorosa, mesmo que inconscientemente.
Mamãe, tu me envolveste no princípio em tuas entranhas, com carinho e amor sem igual, e mesmo depois de vir à luz, continuastes me envolvendo com aquela mesma proteção amorosa que somente tu és capaz de manifestar.
Mamãe, hoje, adulto e tão idoso como tu, eu olho para ti e vejo teus lindos cabelos brancos, teu olhar terno, tuas mãos trêmulas buscando tocar-me, tua fronte luminosa, irradiando a luz da sabedoria acumulada por décadas de sofrimento e experiência, teu corpo alquebrado buscando uma firmeza para vir ao meu encontro, chamando-me ainda: "meu menino".
Mamãe, como anseio, constantemente, estar eternamente contigo, numa doação recíproca de amor. Sou seu devedor e ainda não sei como retribuir o quanto me amas. Coloco-me aos teus pés como servo, pedindo tua benção - e não a negas estendendo tuas sagradas mãos sobre minha cabeça, e beijando-me a testa consumas este ato sublime.
Mamãe, que o reconhecimento do Eterno está contigo, eu o sinto em meu coração. Esteja Nele e com Ele. Até breve...


Samuel Kauffmann
09/05/2010