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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Crônica do dia

Texto da aluna Ney Freitas sobre a temática da identidade.


Espelho


Sonhava muito, esperava da vida as melhores oportunidades. Viveu esperando tudo dela, quando lhe foi dado aquilo que plantou. Talvez não quisesse passar por aquela estrada. Não vamos dizer que não houve grande esforço, empenho. O tempo é marcador, não tem como escapar, passado não se consegue voltar atrás. O que aconteceu não pode ser mudado, passou! Foi página virada... Mudou o capítulo...
Assim ficou olhando como num espelho, vendo e revendo tudo que tentou e muito pouco conseguiu alcançar, pois, sabe hoje, ilusões não são fáceis, iludem, desnorteiam. Bolas!!! Lá se vai quase cinquenta e poucos anos. Criança já tentava alcançar um céu inatingível, parecia estar no mundo da Lua, levitando para um futuro sem compromisso, sonhador.
Chegou aí a tal adolescência, não se deu conta dos perigos e desafios; sonhadora, aconteceram lágrimas, pois seu coração foi fácil de se apaixonar, aprisionar. Qual que todos falam, explicam, mas como todos os apaixonados não escutam; nesta idade não ouvem a voz da razão, só seu coração – e aí sofre coração! E assim aconteceram vezes, até que o amor nasceu de verdade, sólido, conveniente; e assim achou ter algo de seu verdadeiro, sua própria família, ansiedade desejada desde daquela já velha adolescência. Sim, vamos viver tudo por esta família, dar o de mais profundo do seu ser. Olha que valeu muito apena, pois hoje conseguiu muito daquilo que sonhou, pois o amor de seus filhos se completa, neles vê muito de seus sonhos realizados pela linha de suas vidas, que se reflete em cada um, num algo especial. Pergunto: Como estará o espelho de cada um? Isto não me compete... Deixa prá lá. Olha! Os sonhos são deles...
Estar vivendo este momento faz saber que tudo almejado foi vivido para dar certo, o importante é que chegando até aqui, com decepções e vitórias, tudo ficou para traz, isto é, tornam as pessoas fortes, que almejam todo o bem para si e os outros que estão a sua volta e agradece este presente da vida tão revigorador! Compreensão nunca vivida, podendo amar passiva e verdadeiramente seu amor sem esperar tudo, e sim, momentos que lhe são devidos! Viver intensamente o presente que lhe é oferecido com alegria e paz no seu coração.
Espelho, espelho meu, diga: Quem está feliz... Como agora, para sempre sou eu.



quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Crônica do dia

Texto da aluna Stella Muehlbauer a partir do conto O outro, de Jorge Luis Borges.

Coincidência Maravilhosa 

Uma senhora estava sentada num banco à beira da lagoa e aproxima-se uma menina que parecia ter uns dez anos de idade...
- Senhora, posso me sentar aqui?
- É claro, menina. Como você se chama?
- Chamo-me Stellinha... E a senhora?
- Eu sou Stella. Que coincidência, não?
- É verdade! Na realidade sou Stella, mas a família me chama de Stellinha, pois tenho uma prima mais velha com o mesmo nome. É prá não confundir!  Mas, eu gosto muito desse nosso nome...
- Eu também, mas como sou alta, larga e gorda, não gosto de diminutivos, pois às vezes me soa como deboche...
- Ah, querida, não pense assim. Eu, na minha idade, acho que diminutivos são indicativos de carinho.
- Que bom!
- Estou adorando conversar com a senhora, pois passei até a achar bonitinho o meu nome...
- Ih! Olhe, lá vem um barco se aproximando. Que bonito!
- Também acho. Será que é um barco de turistas? Está parecendo...
- V amos perguntar. Senhor, boa tarde. Vocês são todos turistas? O passeio foi bom?
E o senhor respondeu:
- O passeio foi ótimo até uns quinze minutos atrás, quando esta senhora passou mal e tivemos de voltar.
- Senhor, traga-a até aqui e deixe que ela se sente junto a nós até melhorar.
- Ótimo! Venha, senhora.
Os dois se aproximaram; ela sentou e conversaram por uns instantes, quando a “nova amiga” disse:
- Estamos conversando; já estou melhor e ainda não nos apresentamos... Eu me chamo Stella Maria.
Riram as outras duas.
- Eu sou Stella e ela é Stellinha.
- Que coincidência!
Que trio maravilhoso!


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Crônica do dia

Texto da aluna Maria Lúcia sobre reflexões em torno da corrupção.

Bandidos

O bandido que controla a favela através do dinheiro das drogas. O bandido que controla as comunidades através das taxas sobre o gás, o funcionamento das pequenas lojas, do comércio das Vanessa, dos "gatos" de luz, dos canais de TV. O bandido de terno e gravata do congresso, do senado, da câmara, que desviam dinheiro dos mais variados projetos quer seja diretamente ou superfaturando, utilizando laranjas. Ou ainda através de votos com mensalidades. Os bandidos da internet, das escutas. Todos estes são alguns bandidos atuais. Alguns bandidos antigos: Alexandre, o Grande bandido, dominou muitos países saqueando e matando, o que os Césares de Roma acharam bonito e repetiram, assim como: ingleses, franceses, holandeses, espanhóis, portugueses, etc. Fizeram com a Índia, a China, até com continentes inteiros, como as Américas. Chegaram até a dividir o planeta: “daqui até ali é meu” disseram os portugueses e os espanhóis, que tinham por trás deles a Inglaterra, a França, a Holanda e outros países. Podemos dividir os bandidos em dois grupos: os oficiais que promovem guerras, sempre por dinheiro, muitas vezes com a bandeira da religião, mas isso não é dito, sempre se justifica defesa e crescimento da nação. Hoje em dia, direitos humanos e de outros animais também, veja o caso da invasão em um laboratório de pesquisa em São Paulo.Bandidos não oficiais: das favelas, das prisões. Todos os bandidos têm para si uma moral elevada. Os bandidos das milícias que não deixam entrar o tráfico de drogas. Os bandidos das drogas que fazem enterros de quem não tem dinheiro no morro, compram remédio, comida, eletrodomésticos, principalmente quando assaltam caminhões. Bandidos oficiais que desviam dinheiro da educação, saúde, controlam as bolsas de valores, provocam recessões, dão empregos, tiram empregos, aumentam e diminuem os valores de qualquer tipo de mercadoria. Sempre com intenção de ajudar todos os povos e por isso fazem reuniões dos mais variados G.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Crônica do dia

Texto do aluno Samuel Kauffmann sobre a inovação tecnológica e as relações pessoais. 

  WWW. Tbm?

Já não tenho um tempo meu para meditar. Quando pensei em escrever e calcular usando velhos métodos, colocaram um computador em minha mesa e disseram:
- Agora é tudo por aqui. “Se vira”...
Céus! Que é que eles querem de mim, um idoso? Olhei para aquela máquina que já tinha visto em outras empresas. Havia um pouco de familiaridade. Onde? Ah! Aqui no teclado. E só! Parece com a minha velha máquina de escrever. E esses outras teclas para que servem? Fiz uma série de experiências e deu em nada. Opa! Acho que complicou... A máquina travou.
Naquela noite fiquei após o expediente e coloquei a correspondência em dia, mas com a velha datilografia. Também terminei os cálculos com a calculadora de impressão. Estas duas nunca falharam comigo.
No dia seguinte, à noite, procurei por escolas de informática no bairro. Encontrei uma perto de minha residência. Expliquei ao diretor, que me honrou em atender, o que tinha acontecido e sobre minha grande preocupação. Disse-lhe que tinha apenas experiência em datilografia.
- Não se angustie – falou para me acalmar – é fácil! O senhor terá um aprendizado superficial da informática. Verá que é o quanto lhe bastará nesse início. Mais adiante, se lhe interessar, temos cursos avançados. OK?
Concordei e fiz a matrícula. Mas, para ser realista, até hoje estou com aquele “É fácil” engasgado em minha mente.
 Sempre fui fã da ficção científica e do avanço das tecnologias; entretanto nunca me imaginei manuseando tais máquinas. Agora reconheço o quanto elas são complexas. Nos anos sessenta do século anterior apresentaram uma série televisiva intitulada “Jornada nas Estrelas”. Aqueles astronautas tinham sempre em mãos um aparelho de comunicação, um telefone móvel, a que chamavam, exatamente, de “comunicador” – semelhantes aos celulares hodiernos.
E já que estou mencionando o celular, foi aí que descobri as primeiras dificuldades. Foi quando recebi pela primeira vez uma mensagem escrita. Ela estava com as palavras abreviadas, causando-me dificuldade de entender com clareza. Depois de algumas analogias consegui traduzir. Parecia uma linguagem alienígena, ou melhor, futurista por encolhimento. Resolvi responder num bom português. Claro, não posso deixar por menos. Que agressão ao nosso belo idioma...
Doutra feita, já um pouco mais familiarizado com a internet, ingressei no Facebook. Qual surpresa minha! Um dos meus conhecidos, possivelmente muito apressadinho, trocou mensagens comigo usando a tal abreviação. Mas eu não deixei por menos – dei-lhe respostas com os termos completos, sem qualquer pressa. A única alteração que fiz foi substituir o “você” por “vc”.  No final, foi ele que deu por terminado o assunto, confirmando que luta contra o tempo. Coitado, mal sabe que nunca haverá de vencer o tempo. Eu aprendi que o tempo sempre nos vence – o que me proporciona tranquilidade. Por isso vou indo devagar...
Penso e sinto que com o predomínio da educação global e constante haver-se-á de salvar a língua portuguesa – e, quiçá, outras línguas faladas e escritas por esse mundo afora. Porque não passa de um modismo entre os jovens – eles querem sempre estar bem atualizados e na corrente do modernismo amparado pela tecnologia. Ler bem, escrever bem, falar bem no sentido de se expressar, desenvolve a nossa mente e nos educa pessoalmente e socialmente. A um grunhido eu não quero descer oralmente.
Atualmente os celulares sofreram uma transformação. Já não são nada simples como os primeiros. Para mim, cada vez mais complexos. São os “smart-fones”. Além de sintonizarem emissoras radiofônicas e de TV, recebem sinais da web em banda larga, via satélite. Nunca tive um deles em minhas modestas mãos – e não faço questão de tê-los. Uso meu celular com a simples intenção de telefonar – talvez eu esteja perdendo oportunidades, não sei...
Bem, o que eu quero comentar é que vejo muitos humanos tão apegados a tal aparelho, alienados do que está ocorrendo entorno deles. Andam distraídos, telefonando, escutando música, assistindo a TV, acessando a internet, praticando joguinhos, etc.. Casais já não conversam – cada qual com o seu smart-fone. Preocupa-me tal estado de coisas. O que será desta geração jovem no futuro? Digo jovens, porque raramente vejo idosos com tal comportamento.
O relógio do tempo psicológico está acelerado. Descobertas e inovações ocorrem à velocidade da luz. Uma carga de informações que não conseguimos absorver nos impacta e nos retarda. Parece que as nossas aulas começaram anteontem e recomeçaram ontem. Que uma gestação humana já não dura nove meses. Nosso tempo individual está reduzido pelas circunstâncias. Ao que me parece, essas circunstâncias são uma correria por adquirir bens materiais, por consumir mais, acumular mais objetos, serem os primeiros a terem em mãos as novidades que surgem a cada dia – tudo isso de um modo talvez inconsciente e promovido pela mídia. Não faz muito tempo assisti uma reportagem: Um grande magazine nova-iorquino iria lançar em primeira mão, no dia seguinte, mais uma tecnologia recém-desenvolvida. Pela manhã fria, antes de serem abertas as portas da loja, uma multidão, de principalmente jovens, lá estavam aguardando desde a madrugada. Eu considero que estão envolvidos por perigosa ilusão – como que uma idolatria.

 Que é que está a acontecer?  O que estamos ganhando com tudo isso? Temos que meditar muito sobre tudo isso. Será um bem? Será um mal? Aonde tudo isso nos conduzirá? Eu não sei. Vocês sabem? 

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Crônica do dia


Texto da aluna Rosa Rinaldi, sobre a problemática da definição de uma identidade brasileira.


Ser Brasileiro

“O brasileiro, quando não é canalha na véspera,
é canalha no dia seguinte”
(Nelson Rodrigues)


Três textos e a anunciação do “samba do crioulo doido”. Vamos combinar que misturar o Guarani, de José de Alencar, com obrasil, de Oswald de Andrade, e com o texto crítico de Eliane Brum, e daí tirar o que é ser brasileiro, é coisa para dar um nó na cabeça e queimar os neurônios que me restam.
Mas só para começar, já disse Guimarães Rosa que “o nordestino é um forte”, e eu amplio o conceito e digo que todo brasileiro também o é. Não sei quem recentemente afirmou que “sou brasileiro e não desisto nunca”. Também endosso essa afirmativa.
Brigava eu com ideias pulando na minha mente no afã de serem as escolhidas para a crônica de hoje, quando folheando o jornal da seção de esportes, leio: SERGIPANO VIRA ESPANHOL – REVOLTA.
Curiosa, pego o periódico e me deparo com uma notícia verdadeiramente assombrosa.
Um jogador de futebol, brasileiro, natural do estado de Sergipe, atualmente jogando em um time na Espanha, e sendo por aquelas bandas considerado um craque, resolve se naturalizar espanhol para poder atuar na seleção de futebol da Espanha.
Ora, dirão: mas o que tem isso de mais? Fui ler a matéria, dar uma “goolgada”, e se não estou no nível de um comentarista de futebol, acho que já dá para emitir alguns palpites.
O referido rapaz atuou na seleção brasileira, e parece-me que não foi lá muito bem, daí como surgiu a chance de jogar a Copa do Mundo pela Espanha, o moço não pensou duas vezes e resolveu: “é fácil, eu me torno espanhol”.
Então é assim que funciona? Onde está o sentimento de brasilidade? O nacionalismo? O verás que um filho teu não foge à luta?
Vida que segue, vou visitar uma amiga adoentada, e ela me conta de uma colega sua de faculdade que se radicou na França, onde trabalha como psiquiatra, tendo a referida médica vários títulos e artigos publicados na sua especialidade, mas que, curiosamente, ao resolver se instalar em Paris, fez um curso com uma fonoaudióloga para perder o sotaque brasileiro, o que, segundo seus pares, não lhe ajudaria em nada; ao contrário, atrapalharia sua carreira.
Então para vencer no exterior você renega sua própria língua?
Há poucos dias, ouvindo em uma entrevista de um músico brasileiro que foi criado, por motivos políticos, no Chile, para onde seus pais foram, que nós brasileiros viramos as costas para a América do Sule só nos reportamos aos países do chamado primeiro mundo.
E é verdade, pouco conhecemos da cultura dos países que nos são vizinhos, mas sabemos tudo o que acontece na Europa, nos Estados Unidos e, por extensão desses, em alguns países da Ásia e da África, mormente os que estão em conflitos bélicos de interesses daqueles.
Mas vamos voltar à difícil tarefa de se definir o ser brasileiro, porque já vimos como é fácil deixar de lado a brasilidade ao procurar vencer no exterior.
Quando se fala em o que é ser brasileiro, vem logo à memória Macunaíma. O herói brasileiro é retratado como mentiroso, traidor, safado, desbocado, além de ser extremamente preguiçoso.
O jogador que para ganhar dinheiro e fama renega sua nacionalidade; a médica que, para ter seu trabalho reconhecido no exterior, extirpa o sotaque para que não seja reconhecida como brasileira, e outros tantos exemplos de pessoas que, para atingir seus objetivos, viram as costas e ignoram suas raízes, são cópias de Macunaíma.
A identidade brasileira realmente é complexa. Todos têm um pouco de tudo, e essa mistura que marca pela alegria, otimismo, beleza, e solidariedade entre tantas outras boas qualidades, também carrega os defeitos dessa mesma complexidade. Apesar dos altos índices de violência, acredito que uma das maiores qualidades do brasileiro é a de ser de paz; por outro lado, é por baixa autoestima que grande parte de nossos conterrâneos acredita que só é bem sucedido quem vence no primeiro mundo.

Como bem definiu Nelson Rodrigues, o brasileiro “é um feriado”.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Crônica do dia


Texto da aluna Stella Muehlbauer, sobre a problemática da definição de uma identidade brasileira.


Identidade Brasileira

É difícil descrever e opinar sobre a identidade brasileira pois as influências são inúmeras e variadas.
Primeiro o índio selvagem (será selvagem?...), com seu primitivismo, sua simplicidade, sua limpeza, sua inocência e sua lógica natural. Foi o elemento que mais nos ligou à natureza e até hoje podemos vê-lo “civilizado”, mas conservando seu orgulho por todas as coisas que faz, produz e pelos exemplos que se nos apresentam.
Depois aparece o europeu, sofisticado para a época, e sempre querendo nos mostrar sua supremacia. Primeiro os portugueses, depois os holandeses, os franceses e todos os outros imigrantes que para aqui vieram em busca de oportunidades e de riqueza, a tal ponto que a ganância os fez tirar ouro, diamantes e variadas pedras preciosas e produtos como açúcar, café, etc.
Nesse meio tempo aparece o negro, aviltado por humilhações e sugado nas suas forças físicas.
Completando aparece o elemento asiático que, com seus mistérios, conseguiu com que a miscigenação brasileira ficasse “uma colcha de retalhos” e resultando no que somos hoje: povo orgulhoso do seu samba, do seu futebol, do seu “em desenvolvimento”, mas também violento, amoroso, corrupto e honesto e, principalmente, hospitaleiro. Sabemos receber bem os estrangeiros, sabemos produzir cientistas, médicos, professores, pesquisadores e sabemos, mais do que tudo, criar ídolos e ser o povo mais eclético, ufanista e orgulhoso desse nosso Brasil!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Crônica do dia

Texto da aluna Rosa Rinaldi sobre a comunicação e a expressão contemporâneas.

Fragmentos

“A liberdade consiste em se fazer
tudo o que não prejudica os outros”
(Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão)


Av. Rio Branco, quarta-feira às 14h30.
Paro para esperar o sinal e começam os fragmentos de informações, as mais variadas possíveis, e daí serem tão especiais.
Alguém ao meu lado diz “... mas já falei para você que não quero assim...”; do outro lado, uma voz feminina um tanto irritada complementa “... mas isso é tudo o que eu queria”, e risinhos... Aponto minha antena auditiva para trás, onde um homem forte e bem suado exclama para o mundo “... pô! Mas isso é sacanagem. Vai ou não vai querer? ...”
Assustada, olho para o lado de onde havia partido o primeiro contato e reparo que outras pessoas já se acomodaram no lugar e que, com pequenos aparelhos acoplados ao ouvido, trazem à baila as mais variadas discussões.
Torcendo para o sinal não abrir, mas preocupada com o acúmulo de pessoas, tento me concentrar para ouvir mais informações.
Não demora e novamente à direita uma jovem com todo jeito de militar na área do Direito reclama em altos brados “... mas o quê? Aquele juiz cafajeste não deu a liminar?”; penso assustada e com pena do pobre juiz que nem de longe imagina que está sendo seu trabalho discutido na av. Rio Branco e, sem que eu possa pensar muito, uma voz, que percebo ser de um rapaz bem jovem que havia se postado na minha frente, exclama “... pqp, o que ela pensa que é?”.
Rapidamente tento organizar meus pensamentos, mas não era um juiz que acabara de ser espinafrado pela moça, e então quem era a que pensava ser, mas não era?
Abre o sinal. Até parece música do Paulinho da Viola que narra o encontro de dois amigos no sinal de trânsito, e uma multidão vem ao encontro da multidão que vai, assim como eu, para simplesmente trocar de lado da rua.
Não é tão simples assim. A multidão que vem, na sua maioria, também fala ao celular e se entretece com a que vai no sentido contrário, e são muitos fragmentos de conversas que por vezes fazem sentido e formam uma teia, por outras despertam a vontade de tecer tal qual uma trama essa sequência de colóquios.
O que me assombra é que tornou-se muito fácil expor sua vida numa conversa de telefone celular, e tornar públicas todas as belezas e mazelas que se carrega.
A impressão que tenho é que nós não estávamos preparados para  o uso das novas tecnologias, e as gerações mais novas, já nascendo dentro deste contexto de falar tudo, com todos, em alto som em seus celulares, transformou nossas vidas em um grande drama popular, onde não temos nenhum pudor de falar publicamente em travessia de ruas, transportes coletivos, etc, os atos de nossa comédia de vida.
Não sou velha, sou antiga, e prefiro ainda uma conversa ao pé do ouvido ou um longo papo ao telefone com os amigos, espichada na minha poltrona predileta.  



terça-feira, 5 de novembro de 2013

Crônica do dia


Texto da aluna Isaura sobre a comunicação e expressão contemporânea. Boa Leitura!

Tempos Modernos

É, a modernidade está veloz demais. São tantas as invenções, que o que é inventado hoje, amanhã não servirá, pois haverá outras invenções que serão mais úteis e mais práticas. 
Com a internet, nos trasportamos com o olhar na tela aos mais longíncuos. Com o celular, se resolve problemas em minutos. 
Nós que somos menos jovens, corremos contra o tempo para não ficarmos muito para trás. Temos que ficar mais ativos por conta da aceleração que a modernidade nos impõe. 
A linguagem futura talvez venha a ser monossilábica.
Sintetizando, mesmo com toda agitação deste mundo moderno, gostaria de ter nascido agora.
A única expressão que não se modernizou e será sempre atual é: Como o tempo voa! Nossa, estou atrasada! 

terça-feira, 2 de julho de 2013

Crônica do dia

Hoje o belo texto é da aluna Ney, que fala da falta de amor em nossa sociedade atualmente. Boa leitura!

Os sofrimentos impostos pela falta de amor

Na quinta passada, esperava o ônibus aqui, na frente da UERJ, que por sinal demorou muito. Lembrava do texto em questão lido em sala de aula. Tudo aconteceu em segundos, e, sem que eu percebesse, fui sacudida bruscamente e roubaram do meu pescoço um cordãozinho com uma medalhinha de São Bento. Aturdida com o acontecido, tendo um arranhão no meu peito e minha blusa sem botão e rasgada, todos ali, em minha volta, me perguntavam se estava tudo bem. Olhei para o chão procurando minha medalhinha, mas não estava. Pensei: tomara que ele, que não vi nem o rosto, olhe para ela e reflita. Desista daquela vida tão perigosa. Eu, sem saber o que responder, passada com o acontecido. 
No momento, revi um filme. Na minha mente voltou o que já ocorreu em outras duas vezes comigo. Lembrei uma vez na praia, distraída com meus amigos, e outra com sacolas de compras, chegando em casa. Esta foi terrível, pois ele mostrava por baixo da bermuda uma arma. Chegou de bicicleta, pensei que ia pedir alguma informação. Que nada, era mesmo um assalto! Pediu que lhe entregasse meus dois cordõezinhos e minha pulseirinha. Como não podia nem me movimentar, pois estava com as mãos ocupadas com as sacolas, ele não conversou, arrebentou meus cordões e minha pulseira. Eu, transtornada, falei: Por que isso? Disse ele em tom ameaçador, "Siga em frente e não olhe para trás. Não fale com ninguém, senão, olha!", mostrando novamente a arma. Aturdida, cheguei em casa, mais uma vez agradecida por não ter acontecido nada pior. 
Sei que todas as minhas medalhas se foram, mas sua proteção ficou comigo. Apesar do susto, rezo sempre para que estas pessoas que cometem todos os tipos de desatino. Indivíduos que não conhecem Deus, não tem estrutura familiar e de amor, vivem sempre egoisticamente se destruindo de todas as formas, sem lembrar que, por mais difícil que a vida lhes pareça, existe uma luz no fundo do túnel, com amor e tolerância. A vontade de crescer será alcançada por muitos.
Voltando ao texto comentado em aula, acredito que aquele professor não tenha feito aquilo gratuitamente, já havia sido chamado de frouxo pela direção, explicação não deu, sabe-se lá por quê. Talvez quisesse falar a língua da turma, para que houvesse melhor aproximação, isto não é desprestigiar o ensino, e sim tentar conviver com situações diferentes daqueles alunos. Neste dia, talvez, tenha havido um grande mal entendido. Este menino não entendeu o que deveria estar acontecendo, não relevou o apelido que deveria ser de costume, sem ser o bullyng usual, falou de forma abusiva ao mestre, o chamando de "cabeçudo". Isto não deveria ser habitual como troca de palavras entre eles, este não deveria estar sendo um dia fácil para os dois e desencadeou uma situação de agressão. Isto acontece nas escolas, pois não existem nem parte de professores, nem da parte dos alunos amizade, respeito, por falta daquilo que sabemos, ambas as partes estão sendo tragadas pela violência e impunidade.
Vamos pedir a Deus que nos oriente nesta hora tão difícil que vivemos.
Agradeço aos professores e colegas.
Ney Bretas  

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Crônica do dia

Terminamos a semana com a contemplação sutil do aluno Samuel Kauffmann sobre nossas sensações e pensamentos. Boa leitura!

Examinar e contemplar



"O verde do céu azul antes do Sol ir a nascer.
E o azul branco do ocidente onde o brilhar do Sol se sumiu.
As cores verdadeiras das cores que os olhos veem.
O luar não branco mas cinzento levemente azulado.
Contenta-me ver com os olhos e não com as páginas lidas."
                                               Alberto Caeiro


Cara leitora, caro leitor, nós percebemos tua admiração por iniciarmos com a poesia assinada por um dos codinomes de Fernando Pessoa.
O que pretende de nós o poeta? A princípio, é uma poesia que nos intriga. E isso é o que o poeta pretende. Ele faz uso das palavras, joga com as palavras. Induz-nos a pesquisar em que condições físicas e emocionais ele contemplou o fenômeno.
Se fôssemos nós as testemunhas vivas de tais fenômenos atmosféricos, teríamos o mesmo pensamento, o mesmo sentimento, o mesmo êxtase do poeta? Sim, é possível.
Então, tentemos nos colocar no lugar dele; pensar e sentir como ele. Ele que indicar a reflexão para o que é mais importante em nossas vidas. Será o esmiuçar os fatos ou nos preenchermos com a simples contemplação dos fatos acontecidos, que não têm como retornarem ou como serem modificados? Tal como afirmam os orientais: "o que aconteceu é porque tinha de acontecer." É uma questão de aceitação dos fatos consumados. Calma... Chegaremos lá!
Apreciar os fenômenos naturais, que sabemos terem explicação científica, porém, que por um instante somos arrebatados pela beleza ou pela violência, sem sequer termos um lapso de tempo para reagir, absorvendo-o por completo em nossas mentes, deixa-nos estáticos e maravilhados, nos integrando com a natureza, e inseparáveis dela. É a contemplação sem análise que nos contenta.
Se, por outro lado, não apreciamos por falta de oportunidade, mas lemos o que outro escreve, nos perdemos no espaço e no tempo dos exames mentais que nunca haverá de nos contentar, de nos preencher o vazio de nossas consciências. Isso porque o mais importante é sentir, preencher nossas emoções. É a vida em plenitude...
Por isso, o poeta termina com o verso em que afirma: - Contenta-me ver com os olhos e não com as páginas lidas. Porque, se antes de apreciar e introjetar, ele tivesse lido e elaborado em sua mente a beleza, nunca haveria satisfação em seu sensível espírito.
Por analogia, comparemos com os acontecimentos ocorridos no dia 20 próximo passado, nas planícies do meio oeste norte-americano, em que os humanos locais tiveram de enfrentar um dos piores tornados jamais ocorridos naquele território.
Os tornados são imprevisíveis, aleatórios; uma resultante de forças naturais em oposição; de duas frentes atmosféricas opostas em temperatura e pressão. Do norte se aproxima uma frente fria e do sul vem uma frente quente. Ao encontro destas duas frentes poderá ocorrer ou não o tornado. Se a frente quente for de massa maior, com possibilidades de se alterar durante o percurso, perder ou ganhar massa, com fortes ventos ascendentes, aí sim, o que poderia ser uma fortíssima ventania com chuvas transforma-se no tornado, com ventos concêntricos e ascendentes de altíssima velocidade. Um fenômeno terrificante e horroroso pelas consequências ao meio humano.
Talvez, por isso, andam afirmando que Mãe Gaia está reagindo.
E qual é a relação com o que antes estávamos a abordar?
É simples. por não estarmos presentes, experimentando o medonho, mas, tomando ciência pela mídia, teremos de realizar uma colossal lucubração em nossas mentes para vivenciarmos uma situação virtual, não real, sem possibilidades de sentir de fato o medo igual ao de quem lá estava passando por tudo aquilo, ou sendo vítima como o foram dezenas de crianças de uma escola primária.
Ler ou ver fotos ou imagens cinematográficas não satisfazem a humanidade em nós outros. Não nos contenta o espírito - este quer vivenciar. Pois o real é existir participando, ter o contato direto. De outro modo, continuamos frios, talvez com indiferença, sem sentimentos de culpa - embora não há que tê-la.
É exatamente isso que o poeta, muito sensível, quer nos alertar. O que poderá, sempre, nos contentar é ver com os olhos e não com as páginas lidas, cujo significado é sutilmente abrangente.
Pensamos que atingimos o âmago da questão proposta, sem necessidade de nos estendermos em demasia num campo que, antes de tudo, é o da contemplação.
Por isso, extasiem-se diante dos fenômenos naturais, que seja por um segundo, sem qualquer pensamento a ocupar a mente, que neste provável momento está contemplativa, meditativa.

"Não se preocupe em entender.
Viver ultrapassa todo entendimento.
Mergulhe no que você não conhece."
                            Clarice Lispector

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Crônica do dia

Esta crônica da aluna Ney nos mostra sua leitura sobre os tornados que ocorreram nos EUA e sobre a beleza do Cristo Redentor. Uma boa leitura!

Páginas lidas, será real o que descrevem...


Hoje, só peguei no computador para ler e ver a reportagem, aterrorizante, tanto a leitura como os retratos. Mostra o desastre provocado por um tornado. Pessoas que vivem neste local sabem como é difícil conviver com o medo e o desespero previsto para o dia de amanhã. Mesmo assim vivem ali, por que será? Apego a sua natividade ou então por não poder modificar este tipo de situação. Mas vamos lá tentar ver aquilo que se passou, não imagino como cada um se sentiu ou procedeu, pois não estava lá sofrendo tudo aquilo que acontecia, difícil estar na pele de cada um. Na reportagem retratam o que havia de mais assombroso, vejo aquilo consternada, mas sem poder fazer nada, e digo "Deus, tenha piedade, misericórdia daqueles que ficaram órfãos, viúvos e com situações parecidas, como doentes no hospital que procuravam a cura de suas doenças, e encontraram a morte." As crianças da escola que foram ali para aprender, e alguns deles talvez seriam, um dia, um cientista, podendo encontrar uma boa solução, agora não existente. "Deus, será possível que isto acontece sem que saiba?" Sei que o "criador" não criou o mundo para ser destruído, mas nós mesmos tentamos mudar a criação, talvez por isto tudo esteja acontecendo. Vejo a fotografia e leio o dramático texto exposto, mas nem eu, nem algum de nós aqui poderemos sentir tudo aquilo descrito, pois não vivemos o momento daquela catástrofe.
Vou falar agora de uma das mais lindas "Maravilhas do Mundo". No morro do Corcovado, aqui no Rio de Janeiro, encontra-se o monumento do Cristo Redentor, de braços abertos acolhendo a nós e o mundo inteiro. Quando subo lá procuro olhar todo o entorno desta cidade "Maravilhosa" nos mínimos detalhes. Horizonte com seu mar verde azulado, praias lindas com suas areias branquinhas, suas montanhas verdes claro e escuro, a gente! que visão mais linda. Ver o pôr-do-sol ofusca os olhos de quem o fixa, são tantas as cores que o deslumbre é indescritível, inenarrável. São situações que, por mais visível que seja, não conseguimos sentir sem ser diferenciado um dos outros, pois todo "Ser" tem sua concepção individual naquilo que vive, não adianta ninguém lhe dizer, você até tenta se transportar, mas não consegue atingir o seu ideal, tem que viver de verdade, aquilo está a sua frente, sentindo o momento, olhando, observando com toda atenção, para então poder descrever com diferenças para outros, que vão ler e querer também visualizar outra vez diferente, diferente...
Obrigada, professores e colegas. 

terça-feira, 25 de junho de 2013

Crônica do dia

Temos a visão da aluna Stella - uma crônica, como diz no próprio texto, resumida, apresentando seu ponto de vista sobre não somente as imagens ou as palavras, mas também sobre os sons que ouvimos; além de apresentar de modo breve o estilo de alguns colegas da Oficina de Crônicas.  

Imagens nas nossas vidas

Cada imagem que vemos, cada palavra que lemos, cada som que ouvimos, quem me garante que seja o mesmo ouvido, lido ou visto pelas outras pessoas?
Assim, ao ler um soneto, ou um livro, dou a minha interpretação que, certamente, será influenciada pela minha experiência de vida. Quando adolescente, li o livro O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queiroz; reli agora e, para mim, a mensagem que me foi passada aos 15 anos foi totalmente diferente da atual. Para isso influíram minhas experiências e também a mudança da moralidade que se contrapõe à daquela época, década dos anos cinquenta. Pude, lendo aos 70 anos, quase oitenta, interpretar de maneira totalmente diferente da presente no século XX.
Quanto aos sons, eu os ouço atualmente somados às pessoas e aos ambientes nos quais eu me encontrava quando os escutava pela primeira vez. Por exemplo: Strangers in the night, música cantada por Frank Sinatra, nos anos setenta, quando eu a escuto agora, vem-me à lembrança o cantor ainda jovem, vivo e também as pessoas que estavam ao meu redor, naquele momento. É claro que para outras pessoas, com experiências diversas das minhas, o som será diferente!
Cada ser humano dá a sua interpretação aos livros que lê, aos filmes que vê e às músicas que ouve. Nossas interpretações serão diferentes das do cego, do surdo-mudo e de qualquer outro ser humano, seja até seu irmão gêmeo.
Se Vinicius de Moraes escreveu milhares de sonetos e letras de música, certamente ele colocou neles sua vida diplomática, amores (teve 9 esposas...), e todas as vivências que foram influindo sua vida.
Conosco também isso acontece e a prova é que, ao termos um tema para fazer uma crônica, cada um escreve com um enfoque diferente. Aparecem, portanto:
1- Minha crônica objetiva e resumida;
2- A poesia de Honorina;
3- Os intergaláticos escritos do Samuel;
4- As correspondências e "causos" do Homero;
5- Os casos familiares da Ney;
6- E assim por diante.........

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Crônica do dia

Da temática "palavras ou imagens - qual delas falam melhor da realidade?" cada aluno traz sua opinião nas crônicas escritas. Começamos hoje com a da aluna Maria Luiza. Vejamos o que ela prefere: ou as imagens (do jornal) ou as palavras (de um belo poema). Boa leitura!


Da arte necessária e da vida insuficiente


Não tenho certeza, mas acho que foi o poeta Ferreira Goulart quem fez tal correlação. Não importa, no nosso tempo essa minha dúvida grosseira não faz diferença. Tempo de excesso de informação e pauperismo da memória individual, tempo de entropia e do anonimato.
Hoje, toda a construção parece coletiva e o dejà-vu não inquieta mais as consciências.
Hoje, o real não é reinventado a partir dele mesmo, mas transposto para outras plataformas em que suas várias "leituras" nos deslumbram menos como objeto artístico em si, mas pelas infinitas representações possíveis em que o capturamos.
Mas não pretendo fugir ao questionamento do nosso curso por uma estrada tão larga, tão abrangente, onde qualquer um de nós ou todos juntos pudéssemos escapar por ela.
Vou tomar o percurso ignorado por mim mesma até este momento, passar por uma porta estreita e disfarçada que me conduzirá ao misterioso vestíbulo do self e de lá trazer, na semi-escuridão, as sombras vislumbradas do alpendre.
"Que me estimula mais?" - pergunto a Ninguém, guia eletivo nessa etapa da caminhada. A objetividade da reportagem que dá uma tijolada no meu entendimento do mundo; a fotografia, que me captura e exacerba meus sentidos, ou a recriação literária que sintetiza tudo: existência, ciência, arte e filosofia?
Profissão de fé: sou poeta, não jornalista; confundo, não explico; não vejo, imagino. Sobretudo não dou conta a ninguém, senão a mim mesma do que vejo, sinto, imagino. O território da língua é chão da minha liberdade.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Crônica do dia

Hoje, o excelente texto da aluna Ângela sobre a relação dentro das escolas atualmente. Boa leitura!


Quem bate? Quem apanha? 


Há dez anos atrás, um jornal, com certo estardalhaço, noticiou que um professor de ensino médio havia apanhado de um aluno. "Tapa na cara", dizia o jornal! O colégio, João Alfredo, pronunciou-se e providenciou a transferência do aluno. 
O tempo passa e vemos com tristeza cenas de verdadeiro pugilato entre alunos, alunos e professores e professores sendo surrados entre muros da Instituição para qual trabalham e se dedicam em prol da melhor educação dos jovens.
Sei que falar de educação de base e dedicação é difícil. Carga horária e programa ser cumprido não batem nunca. Quase sempre dá ao mestre a sensação de que algo mais poderia ser feito com seriedade no investimento dos recursos necessários. Sei de professores que suportam o calor de Santa Cruz, sem ventilador, em classe logicamente barulhenta, por não achar justo ele ter um ventilador de mesa, e a classe nenhum. No entanto, tem laptop à vontade. 

O teto tem infiltração, os banheiros não resistem ao tempo.
No meu tempo, havia um inspetor. Hoje, não sei, mas acho que até nesta hora o mestre é exigido. E ele segue com seus problemas pessoais, sua vontade de acertar e se sente responsável por cada um que vê nele um professor pronto para lhe tirar alguma dúvida ou até mesmo ter um papo amigo.
Amigo, professor, educador, tudo isso em uma só pessoa que não desiste e todo dia recomeça a lição. 

terça-feira, 21 de maio de 2013

Crônica do dia

Dando uma pausa nos textos acerca dos temas propostos em sala de aula, hoje temos um texto, escrito pela aluna Yara, sobre bela atitude do amigo Homero na aula que antecedeu o Dia das Mães. Boa leitura!


A rosa do senhor Homero 

O senhor Homero é um verdadeiro cavalheiro. Daqueles que ainda mandam flores.
Parafraseando Hebe Camargo: "uma gracinha de pessoa".
Na semana antecedente ao Dia das Mães, na Oficina de Crônicas, recebo junto as demais senhoras uma linda rosa vermelha, ainda botão.
Fico feliz, pois, nos tempos modernos, a mulher não é considerada e nem respeitada como tal, pela maioria dos homens. Mas, com o senhor Homero é diferente, ele faz a diferença, vive anos-luz a frente de uma geração imbeciloide em atitudes.
Bem, continuemos, eu amo flores, principalmente rosas, mas percebo que elas não me correspondem com o mesmo entusiasmo porque quase sempre não gostam de mostrar o interior para mim. Fenecem antes disso. Por isso, quando recebo uma rosa já fico esperando o retorno. Amar-me ao se abrir com suas pétalas perfumadas ou não? Pergunto em silêncio.
Senhor Homero, muito obrigada pelo seu carinho por todas nós.
No domingo - Dia das Mães - a rosa vermelha, que recebi do senhor, estava me amando, totalmente aberta, mostrando que o senhor é, acima de tudo, um ser especial, nos tempos de hoje.
Em tempo, meu amado Franco também é assim. 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Crônica do dia


Hoje temos o texto da aluna Yara interpretando a leitura do item IV do Sermão da Sexagésima do Padre Antônio Vieira. Boa leitura!

É, antes de mais nada, uma crítica construtiva sobre a posição dos pregadores da igreja daquele momento.
O pregador deve ser convincente de tal forma que venha a modificar as atitudes de quem o ouve, mas sempre com o fim de elevação do ser. Precisa, no mínimo, provocar em quem ouve a vontade de buscar a modificação necessária para seu crescimento ético.
O pregador, antes de tudo, deve ter em mente que a palavra por si não garante alcançar o fim desejado junto aos seus seguidores.
Todo o discurso, principalmente de cunho religioso, deve ser fundamentado no exemplo positivo de vida. A palavra de um pregador precisa vir acompanhada da ação. Deve ter uma linguagem clara e envolvente, sempre acompanhada do exemplo de vida edificante para que não só seja ouvida, mas também absorvida pelas almas que o seguirão. 

Uma frase que destaco do texto que, para mim, sucintamente Padre Viana, com muita propriedade, cita: "a definição do pregador é a vida e o exemplo", encerra todo o pensamento de como deve ser um pregador. Inclusive esta definição do Padre Vieira se aplica a qualquer pessoa que se situe na vida doméstica, profissional, etc.
Existe um conceito popular que diz: "quem não vive para servir não serve para viver." Se bem analisada, nos leva a simplificar a visão do Padre Antônio Vieira em seu sermão.

Na atualidade, temos um pregador que se enquadra nos padrões que Padre Vieira idealizava. O novo Papa Francisco, representante máximo da fé católica apostólica romana, é um exemplo significativo do pregador detentor de conhecimentos, atitudes e palavras.
No entanto, o oposto também existe quando indivíduos se dizendo pregadores de alguma corrente religiosa emporcalham-na, desvirtuando pessoas a conceitos errôneos de valores morais, se dizendo pregadores da fé cristã.
Para estes últimos nem com milagres do grande Antônio Vieira, só cadeia.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Crônica do dia

Hoje temos o interessantíssimo texto da aluna Maria Luiza. Boa leitura!

Crimes contra a honra

Os sermões do Padre Antonio Vieira são um Clássico da Literatura Mundial e estão revestidos de uma aura mística para os luso-brasileiros. Seu alcance só não é maior e universalmente reconhecido dadas as mesmas razões pelas quais grandes nomes da Literatura Nacional, por exemplo, não são divulgados em todo o mundo na escala a que fazem jus.
Não cogitamos aqui dos fenômenos editoriais. A verdade é que a consagração intelectual se oferece da Europa aos Estados Unidos movida mais pela hegemonia das nações do que pela promoção da riqueza cultural da humanidade. Textos do Oriente e de um ou outro país da América Latina são promovidos pelo único Prêmio Nobel que fazemos questão de ignorar. Alguma injustiça havemos de cometer com essa afirmativa mas será por conta da generalização a que nos obriga o breve espaço desta crônica.
Na semana passada, fomos tocados pelo Sermão do Padre Antônio Vieira sobre a conduta moral do pregador, na leitura perfeita do Gabriel. Belos ensinamentos, os do Padre e os do professor.
Vieira relaciona a autoridade moral à honradez daquele que pretende influenciar seus ouvintes, trazê-los e conservá-los na verdade que proclama. Honra conferindo poder.
De fato, o vocábulo vem do latim Homos, nome do deus da guerra que inspirava coragem aos combatentes. Por consequência, a honra reveste de poder aqueles que, reconhecidamente, a ostentam. Não é por outro motivo que o conceito tem largo emprego social desde a Antiguidade.
Confundida com a Ética, seja na sua derivação cultural, seja no imperativo religioso, a menção à honra é sempre usada para designar o status de uma pessoa e muito frequentemente remete para além do valor pessoal. Visa-se afirmar ou negar prestígio, isto é, conferir ou retirar poder de um grupo ou de um indivíduo em particular.

A justificativa da carnificina entre povos primitivos ou até dos ditos "civilizados" foi sempre a de que os "outros" seriam homossexuais, bêbados, preguiçosos, covardes e ladrões, e suas mulheres, prostitutas. Nos dias atuais, os afrodescendentes levantaram a bandeira do "black is beautiful" para adquirir "black power" e os homoafetivos lutam para terem mais de cem direitos legais exclusivos dos heterossexuais.
De que maneira a sociedade tem mantido tamanha opressão? Desonrando-os. E a desonra vem sendo a arma mais eficaz de eliminação do inimigo, seja na forma da mesquinha maledicência ou na calúnia em escala mundial como na guerra suja que se travou contra o Iraque. Como as guerras química e atômica, esse meio de destruição é covarde e cruel. Covarde porque a difamação é usada por quem, julgando-se inferior ao seu oponente, comete um homicídio social contra aquele que sua razão enlouquecida julga ameaçá-lo. Cruel porque, ao longo da História, sabemos que as questões em torno da honra mataram mais pessoas que a Peste e causaram mais disputas do que o dinheiro.
Mas a Idade Média ficou para trás e estamos nos afastando da era Vitoriana e até do século XX na velocidade da luz. No século XXI, a bandeira da antiga moralidade sexual está rota e por terra. 

Em meio aos excessos naturais, fruto da imaturidade no uso de uma liberdade desconhecida, os jovens em geral e as mulheres em particular experimentam o poder, antes privilégio viril, de usar seu corpo até então aprisionado politicamente.
Na disputa político-partidária, a difamação de cunho sexual apenas satisfaz nosso apetite inferior pelo escândalo que, uma vez saciado, é esquecido. No retorno à razão, a consciência pessoal e coletiva se volta contra os detratores. Covarde e pornográfico é quem divulga fatos retirados da vida particular de alguém para expô-los ao público com intenções criminosas, não a vítima que teve sua privacidade invadida.
No entanto, tal não se dá nas outras áreas de interesse coletivo como nos desvios do erário público trazidos à luz pela crescente transparência das contas governamentais. Nesses casos, a relação favorece o bem-comum e pode até ser premiada.
Por fim, e exemplificando: quem ousaria atacar o líder Martin Luther King ao vê-lo fazendo sexo na intimidade de um quarto de hotel? Que isso tem a ver com sua luta heroica pelos direitos civis? Por outro lado, que julgamento fazemos dos canalhas racistas que o chantagearam e assassinaram?
Diante de tantas variáveis históricas, sociais, antropológicas, de faixa etária, de gênero, etc, cabe perguntar: "onde reside a honra de uma pessoa?" E o verdadeiro humanismo do nosso tempo responderá: "somos o único juiz de nossa honra."

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Crônica do dia

Hoje temos o texto da aluna Stella, falando um pouco sobre as façanhas da voz. Boa leitura!

O poder da voz

Um dos maiores poderes que o homem possui é a sua voz: a voz cavernosa, a voz fanha, a voz aguda, a voz grave, a voz rouca, sensual, enfim: muitas formas de usá-la, o que faz o ser humano diferente dos outros animais.
Se alguém paquera outro alguém, sua voz se torna adocicada, melosa... Se quer demonstrar autoridade, o homem "engrossa" a voz e até grita, berra, esbraveja!
Como professora procurei sempre ter a minha voz sadia, bem impostada para poder aguentar os muitos anos de trabalho e, graças a essa atitude e graças a Deus, nunca tive problemas com ela! Diga-se de passagem, sou taurina e dizem as "más línguas" que o ponto fraco dos taurinos é a garganta...
Voz de tenor, barítono, de contralto, de soprano, vozes diversas de cantores e cantoras que a usam e, muitas vezes, erradamente. Na minha opinião, Elza Soares usa-a erradamente, já há outros brasileiros que sempre a usaram de modo certo. Haja vista o nosso teatro que nos deu um Sérgio Brito, um Mário Lago, Paulo Gracindo, e tantos outros atores que nos deliciavam e deliciam nossos ouvidos com suas vozes claras e com uma dicção perfeita!
Quando, na TV, aparecem os desenhos animados, mesmo sem olhar, sabemos se o personagem é bom, é mau, é um monstro, é uma criança, ou adulto (jovem ou velho)...
Isso é o que chamamos de "O poder da voz" e para tanto devemos sempre saber usá-la corretamente, pois só assim faremos sua duração ser eterna e... quem sabe... nossa personalidade poderá influir nos outros seres deste planeta, de um modo positivo, tentando conduzi-los para o bem! 

terça-feira, 16 de abril de 2013

Crônica do dia

Hoje temos a crônica da aluna Yara, na qual cria um diálogo entre duas personagens: ela mesma com a idade atual e ela quando criança. Boa leitura!

O diálogo do silêncio

Sentada em minha cadeira preferida, refletia sobre a beleza de viver. A vida como uma gangorra num sobe e desce constante.
Senti-me observada e ao meu lado vejo uma criança sorrindo para mim. No entanto, não a reconheço. É-me totalmente desconhecida, até naquele momento. Fiquei intrigada porque estava só, em casa, portas trancadas, silêncio total. Fixei-a por longos minutos no que fui correspondida, com aquele sorrisinho infantil. Uma inquietude se apossou de mim. Pensei em romper o silêncio por ser a adulta naquela situação, e iniciar um diálogo esclarecedor. No entanto, a criança foi mais rápida e disse: - Oi! Você me chamou e eu vim. Respondi: - Não entendi direito. Como posso ter chamado você, criança, se nem te conheço?
Ela gargalhou deixando à mostra seus lindos dentinhos e duas covinhas nas bochechas morena. E disse-me: - Conheço tudo sobre você porque te conheço muito bem.
Aparvalhada ainda falo: - Como assim?
- Você quer ver? Eu provo. Quer? - disse rápida.
- Como?!
Começa então a narrar tudo sobre minhas vivências e, em alguns momentos, ressaltando com riqueza de detalhes situações vividas e até já esquecidas nos arquivos da minha memória. Até as experiências do momento, meus ideais, metas a alcançar, sentimentos e sensações. - Provei? - ela diz.
Penso: Quem é essa criança mágica? Belisco-me e sinto dor, então concluo: - É real! Enlouqueci! Será?
Ela, sempre muito rápida, esclarece: - Não se assuste porque esta vivência é real. Simplesmente você mergulhou em si mesma e eu emergi. Porque eu sou a criança que vive em você e sempre seremos amigas, alegres e felizes.
Abraçamo-nos, fecho os olhos e volto a dormir com a minha criança.


terça-feira, 9 de abril de 2013

Crônica do dia

Trabalhamos na última semana com o gênero Reportagem, propondo que os alunos utilizassem a manchete de um conhecido jornal do Rio, o Meia Hora, para que produzissem seus textos. A seguir, o divertido texto da aluna Rosa. Boa leitura! 


Manchete: "Kamilla do "BBB 13" detona MISERINHA DE ELIESER NÃO VALE UMA ESTALECA"



O assunto é sério.

No caderno de economia do jornal O Globo, a informação é de que a "Balança comercial tem o pior trimestre desde 2001." Mais adiante, vemos que a "Bolsa começa abril com queda de 0,80%".
No site G1, constatamos que o "Lucro das empresas de capital aberto no Brasil cai 33% em 2012", e quando se fala do PIB brasileiro, lê-se que a "Produção industrial de fevereiro recua 2,5% a maior retração desde dezembro de 2008."
Ora, senhores, os dados econômicos mostram como se apequenam os índices e marcadores que norteiam a nossa economia, o que, como sabemos, influencia diretamente na vida de cada cidadão.
E para complementar esses dados alarmantes, a manchete do tabloide Meia Hora destaca que nossa querida: Kamilla do BBB 13 afirma que a "Miserinha de Elieser não vale uma estaleca".
Definitivamente é o caos. 
Prosseguindo em nossa pesquisa, o conceituado jornal "Folha de São Paulo", em sua edição de 03/01/2013, arrasa de vez com nossas pretensões de sermos os maiores do mundo quando afirma que "...O crescimento econômico do Brasil terá a média mais baixa entre os países da América do Sul entre os anos de 2011 e 2013..."
Continuando a apreciação, o periódico destaca "a economia peruana como a mais dinâmica da região", tal qual Kamilla, mais adiante ratificando: "...concordam que o crescimento econômico do Peru ficará situado em 6,4%".
Vejam, senhores, que a nossa denúncia é baseada em dados concretos, não estamos divagando nem nos fazendo de vítimas.
O grito de alerta, revolta e desespero ante a constatação das diminutas dimensões da miserinha do Elieser faz da valente e corajosa moça um ícone, um símbolo da retração econômica global. Afinal, índices como Dow Jones, NASDAQ ou os diversos PIB's (produto interno bruto, ou, para os mais chegados, parceiro íntimo do brother) não deixam dúvidas: o mundo está em crise.
É preciso que estudos sejam realizados, para que possamos, com transparência e seriedade, estabelecer até que ponto o crescimento do Peru - e de outros países - e a "miserinha" do Elieser estão interligados. Que o alerta de Kamilla ecoe pelos ares de todo o mundo, levando nossos bravos chefes de Estado a cortar gastos supérfluos.
Afinal, se é para ser uma miserinha, melhor não ser nada...

quinta-feira, 21 de março de 2013

Crônica do dia

Hoje nossa aluna Yara nos relata o sufoco que teve para encontrar a sala do LerUerj, logo em sua primeira aula na Oficina! Acompanhemos seu trajeto turbulento pelos corredores da universidade!


Confusão ou Destino?

Desejava me conhecer um pouco mais. Minha capacidade de comunicação e exposição de ideias. Enfim, interagir. Mas como?
No momento da escolha, tive dúvidas, mas como se diz "quem arrisca não petisca", resolvi: vou ingressar na Oficina de Crônicas da UNATI. Assim fiz.
Cheguei à UERJ em cima da hora do início da primeira aula. Até aqui tudo bem. A partir de então começou o teste de resistência física e emocional. Busco a sala indicada anteriormente no mural. Sim, porque com antecedência tinha anotado, e nada. Sem prévio alongamento, começo o circuito de busca da sala pelos longuíssimos corredores da UERJ. Sobe andar, procura bloco, sala, desce andar no mesmo circuito e nada. Cadê a sala, meu Pai? Naquele momento me senti perdida nos labirintos da universidade. Os minutos correndo soltos no relógio e eu atrás da sala. Pensei: isso é um aviso para desistir. Vou jogar a toalha e voltar para casa. Minhas pernas já sinalizavam: STOP!
Pensei: o cão treinado obedece a comandos e o burro empaca na teimosia. Eu sou um pouco dessa mistura. Voltei para a UNATI. No mural descobri o motivo do meu desacerto. A nova indicação da sala, escrita a caneta, corrigia a anterior. Com quase uma hora de atraso localizo a sala.
Esbaforida e porque não dizer envergonhada reflito: "entro ou não? Sou mesmo tupiniquim." Tomei coragem, pedi licença ao Gabriel (professor) e entrei. Neste momento, olhos me vendo, a vergonha aumentou, mas a curiosidade foi maior. Fiquei.
Sonetos do POETINHA seriam analisados pela turma junto com o Gabriel. Coloquei meus neurônios em alerta, já que nunca me atraiu a poesia (lembrando tenho muito de burro xucro).
A aula correndo, o professor explanando e eu pensando: caí de pára-quedas nesta oficina, tudo contra, tanta confusão, mas, se foi o destino? Está tudo certo.
Vou pagar para ME ver.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Crônica do dia

A crônica de hoje é da aluna Rosa, que faz pequenos apontamentos sobre os sonetos "O verbo no infinito" e "O ar", de Vinicius de Moraes. Boa leitura!


O VERBO NO INFINITO

A forma é de uma ciranda de palavras baseada em contrastes.
A criação de um ser ou o nascer do amor, se bem que, quando um ser nasce, ele nasce com o amor, e daí a ciranda se confunde em o ser e o amor.
Continuando na ciranda, o ser ou o amor está crescendo e se desenvolvendo.
No crescimento, o ser passeia por saber e ganhar e perder e se maldizer.
Finalmente, o ser ganha um novo amor para retomar a ciranda.

O AR

O eu lírico projeta no vento seu ciúme e desejo de posse da amada, que, em seu devaneio, apraz-se com as carícias do vento, ou de outro.
Ele, continuando com seu ciúme, descreve a beleza de sua amada e o atrevimento do vento e/ou de outros com ela.
Justifica-se em sua inocência por não haver percebido nada, quando desde o princípio ele já demonstra ciúmes em relação ao vento.
Numa tentativa de se afirmar como garanhão ante a amada, chama o vento de velho, e se vangloria em saber "brincar" muito bem de vento.

terça-feira, 19 de março de 2013

Crônica do dia

Hoje temos a crônica do aluno Samuel, fazendo algumas considerações sobre os poemas trabalhados em sala. Boa leitura!


Vinicius de Moraes

O Poetinha, como era conhecido, se já não estivesse ausente há trinta e dois anos, estaria por completar um centenário de idade em outubro próximo. Esta sua ausência privou-nos de sua companhia a nós idosos, e tantos outros nossos contemporâneos.
E perguntamos se nós idosos teríamos o direito de examinar e comentar sua obra, e mais ainda seus sonetos. Sim, teríamos este direito porque ele nos deixou com 66 anos de idade - na terceira idade, tal como nós nos encontramos nestes dias.
No soneto "O verbo no infinito", ele expõe sua elevada mística calcada nos dogmas cristãos, de tal modo a unir a Luz que nos vem de cima com a materialidade do cotidiano em estado de continuidade perene, para enfim retornar à infinitude da origem atemporal, num ciclo que se repete infinitamente. Sem perder a visão interior dos fenômenos de uma existência terrena, toca por tangente na sensualidade do amor. Comungando com ele, participamos como se fôssemos nós mesmos a passar por aquela existência contida na poética do soneto. E nisto estamos a criar, a gerar, a transformar, a amar, a viver, a crescer, a conhecer, a ter e perder, a recomeçar, a abandonar, a retornar fora do tempo que nos limita. Pulsar com esperança de uma solução de continuidade é a mensagem que o Poetinha está a nos passar.
Do terceiro soneto de "Os quatro elementos", "O ar", para termos melhor noção e visão, faz-se necessário que conheçamos os demais sonetos - "O fogo", "A terra" e "A água", escritos em Montevidéu, em 1960. Ali, ele manifesta em plenitude sua alma de poeta, abordando direto o desejo sensual pela sua Amiga Amada, numa narrativa que nos excita a imaginação e, se possível for, as funções endócrinas. Fantasiamos com ele em deserta praia em companhia de deslumbrante uruguaia. Faz-nos sonhar com amores proibidos e impossíveis. Se o permitimos, arrasta-nos no fogo, pela terra, envoltos no ar e na água da sensualidade. Como um personagem que enfrenta adversários subjetivos como o Sol, a Terra, o Vento e a Água fluídica, ele termina por ter como prêmio o corpo da Amada Amiga. Deste modo, ele confessa, em narrativa, suas aventuras amorosas em solo alienígena. Expõe-nos a sua particular concepção de que prazer não é pecado; contudo, não é lícito o prazer no pecado.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Crônica do dia

Mais um semestre se inicia e desejamos boas vindas aos novos alunos!
Hoje começamos as postagens das crônicas dos alunos.
Semana passada lemos dois sonetos de Vinicius de Moraes, inspirada em um deles, nossa aluna Yolanda faz uma bela confidência. Uma boa leitura!


Com mão contente a Amada abre a janela
sequiosa de vento no seu rosto
e o vento, folgazão, entra disposto
a comprazer-se com a vontade dela.

Mas ao tocá-la e constatar que bela
e que macia, e o corpo que bem-posto
o vento, de repente, toma gosto
e por ali põe-se a brincar com ela.

Eu a princípio não percebo nada...
Mas ao notar depois que a Amada tem
um ar confuso e uma expressão corada

A cada vez que o velho vento vem
eu o expulso dali, e levo a Amada:
- Também brinco de vento muito bem!
(Vinicius de Moraes)

Cá entre nós, poetinha...
Este seu soneto me reportou até janeiro de 1976.
Vento gostoso de final de dia, vento balançando as casuarinas... Brando, gostoso, com aquele barulho de vento... inesquecível.
Casa cheia de veranistas, convidados dos primos Antônio e Laís.
Camas lotadas, colchonetes espalhados pelo chão, para os solteiros.
Um fogo abrasador tomava os corpos de um casal com dois anos de convívio.
Tempos de grandes chamas e que vento nenhum era capaz de apagar. Como apagar a chama do amor?
Saímos na calada da noite e nos entregamos e concebemos uma doce menina.
Nove meses se passaram. Em outubro, a prima Laís queria, a todo custo, saber "como?", "onde?".
Eu nunca contei para ninguém, mas, você, poetinha, me fez voltar no tempo, me envolveu novamente no vento.
O seu vento se transformou naquele vento de casuarina de Arraial do Cabo!
É o nosso grande segredo, meu poeta.