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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Crônica do dia

Iniciamos a semana com uma crônica em que a nossa aluna Maria Luiza reflete sobre o que seja para ela a Oficina de Crônicas. Boa leitura!! 

NA OFICINA DE CRÔNICAS UNATI-UERJ

 Que leva alguém a ser escritor? Amador ou profissional, fecundo ou bissexto, prolixo ou seco, amador ou profissional, romancista, poeta ou ensaísta, quem é que abraça o ofício de escrever?
 Em princípio, ouvir-se e comunicar-se resumem, para mim, a questão. Intencionalmente ou não, a escrita é sempre auto-reveladora e comunicativa. Tudo o mais são ganhos extras: fama, fortuna, alvo de controvérsia ou referência dogmática - tudo, efeitos colaterais.
 Assim refletindo, ficou mais fácil discorrer sobre minha inserção na Oficina de Crônicas da UNATI.
 Precisava me comunicar. E a comunicação que move a nós idosos é o compartilhamento do que fizemos com o que a vida nos fez. Um verdadeiro exame de consciência - nossas opções e suas consequências e, sim, o mais importante: o que aprendemos com isso.
 Filhos e netos não querem nem saber e talvez estejam certos. O mundo mudou, a vida lhes trouxe desafios impensáveis, suas opções serão necessariamente outras e as consequências... ah! Para as consequências eles não estão nem aí. O mundo acaba hoje!
 Assim dizendo, segue-se o meu depoimento.
 Como explicar que aquela timidez, o ar cansado, os olhos sem brilho, a figura encurvada, enfim, todos os dotes daqueles que vivem na total "invisibilidade", deram lugar a joviais senhorinhas palradeiras de riso fácil e espontâneo, acompanhadas de guapos e gentis cavalheiros, sempre discretos mas igualmente comunicativos, enturmados?
 Que se passa naquela salinha acolhedora do LerUERJ que nos livrou do mero narcisismo e fez de nós um grupo saudável, não-terapêutico, pois quem está lá já ajudou a si mesmo?
 Seria a Iluminação por grandes Mestres da Sabedoria? Seriam os textos instrumentais dotados de extraordinária sugestibilidade?
 Sinto muito, nada tão misterioso mas, por outro lado, muito difícil de se encontrar. São pessoas que envelheceram sem envilecer, carentes, sim, mas generosas no compartilhamento do rico acervo de suas experiências e jovens... ah! Os queridos jovens-futuros-mestres que se comprazem em ouvir os mais velhos!
 Existe isso?!
 Sim!
 Firmo e dou Fé.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Crônica do dia

Depois de uma longa pausa devido à greve, retornamos às nossas aulas e às nossas postagens no blog. 
Hoje temos uma crônica inspiradora do nosso aluno Aldo. Boa leitura!

DESEJOS E DESTINOS

 Quando criança, ela queria ser piloto de caça; hoje, é instrutora de asa delta.
 Quando adolescente, queria ser famoso pintor de quadros; hoje, é excelente pintor de paredes.
 Quando estava no ensino médio, sonhava ser jornalista, hoje, para sustentar a família, cuida da banca de jornais do falecido pai, Giuseppi.
 Quando criança, sonhava ser um grande artista de circo; hoje, tem sido visto fazendo malabarismos no sinal de trânsito.
 Quando criança, ele se imaginava como "príncipe sapo" perseguido por uma princesa beijoqueira; hoje, aos sessenta e cinco anos, percebeu que passou a vida "engolindo sapos".
 Quando jovem, gostava de maltratar animais e adorava ver filmes de terror com participação de sádicos e assassinos; nos dias de hoje, é ex-deputado federal, cassado por ter matado pessoas utilizando motosserra.
 Quando jovem, gostava de jogar no bicho e trapacear em jogos com amigos; nos dias de hoje é figura central da "CPI do Cachoeira".
 Quando criança, sonhava em ser auxiliar de enfermagem, como sua mãe; hoje é médica de renome.
 Quando criança, sonhava em ser soldado; hoje é general.
 Quando jovem, ela adorava crianças; atualmente é dona de creche.
 Desde criança ele gostava de argumentos e contra-argumentos; atualmente é um advogado de prestígio.
 Quando jovem, lia muito e elaborava excelentes textos; atualmente é diretora de redação de importante jornal carioca.
 Desde pequena ela transcrevia seus pensamentos e externava sensibilidade de observar o passar da vida, transformava tudo em livros, ela não morreu! É a imortal Clarice Lispector.
 Quando jovem, adorava jogar futebol; hoje é o Neymar.
 Sonhos e desejos pequenos transformam-se em grandes destinos, em contrapartida, sonhos grandes tornam-se realidades pequenas. Mas, como dizia o filósofo, a beleza e a grandeza não estão nos pontos de partida ou chegada, e sim na maneira como caminhamos indiferentes e apreciamos ou odiamos as estradas da vida. 

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Cineclube LerUERJ: A Pele Que Habito


É nesta próxima quarta-feira, dia 27/06, às 17:30 no 11º andar da UERJ (Campus Maracanã) que será realizada uma das nossas atividades durante a greve, com a exibição do filme "A Pele Que Habito", de Pedro Almodóvar, seguida por um debate. A sala da exibição será divulgada em breve. Contamos com a presença maciça de todos! Vamos ocupar a UERJ!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Crônica do dia

Hoje contemplaremos a fábula da aluna Stella Maria Oliveira Muehlbauer. Apreciem a leitura!


O SAPO 

Beatriz era uma mocinha sempre insatisfeita com a vida que tinha. Estava sempre com um olhar triste e, certa vez, caminhando ao redor de um lago que existia perto de sua casa, viu um sapo feio coaxando, parecendo muito velho e lembrou-se de uma certa fábula.
Chegou perto dele e falou:
_ Amigo sapo, que aconteceria se lhe desse um beijo?
Espantada, escutou o animal falando:
_Amiga, faça-o! Beije-me pois transformar-me-ei no mais belo príncipe que você já viu.
Ela então, animada, beijou-o. E... realmente, ele era um lindo homem, olhos azuis, cabelos negros, alto, bem vestido, e, logo a seguir, pediu-lhe a mão em casamento.
Beatriz e a família ficaram felicíssimos! E, casada, Beatriz mudou. Estava sempre rindo e seus olhos brilhavam de felicidade.
Quando a rotina começou, porém, o príncipe Alexandre (assim era o seu nome humano) também foi se transformando. Aliás, não era uma mudança; ele, aos poucos, passou a mostrar o íntimo de seus sentimentos, do seu caráter; orgulhoso, fútil, dava valor só às coisas materiais, era grosseiro com todos. Tinha sempre uma resposta rude para as inocências e ignorâncias da esposa imatura.
Cetra vez chegou a ameaçá-la com um chicote só porque a sopa que ela fizera ficara um pouco salgada.
Beatriz, sofrendo muito, pediu-lhe o divórcio, pois chegou à conclusão que “as aparências enganam” e que, na vida, muitas vezes temos que “engolir muitos sapos” para continuar vivendo!

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Crônica do dia

Iniciamos a semana com crônicas que evidenciam a intenção de quem escreve notícias. Com isso, temos a crônica da aluna Stella, em que nos mostra a tendência preconceituosa de uma notícia. Boa leitura!

Notícia

"Era um dia nublado e Maria de Souza, empregada doméstica, negra, quarenta e oito anos, seguia para seu trabalho quando foi abordada por dois homens brancos que se aproximaram dela e tentaram entabular uma conversa. Maria não lhes respondeu, acelerou o passo, mas os rapazes disseram:
- Não adianta acelerar, vai passando a bolsa com o dinheiro, o celular e esse anel aí, nós sabemos que é de ouro!
Maria, revoltada, deu-lhes duas fortes pancadas com o guarda-chuva que carregava e colocou os dois a nocaute esparramados no chão, desmaiados.
Olhando a fisionomia deles, ela os reconheceu: eram dois vizinhos brancos que, dias mais tarde, disseram-lhe que só estavam brincando...
Para azar deles, passou um carro de policiais que levaram os dois para o hospital e Maria para a delegacia, onde a autuaram por 'tentativa de homicídio', ainda mais que os dois ficaram bem mal, por uma semana.
Um dos policiais xingou-a de 'negra assassina', demonstrando com isso sua intolerância e preconceito."

Análise: será que, se Maria fosse branca e os rapazes, negros, teria sido detida? Não. Provavelmente, seria advertida a não agredir e talvez ainda fosse chamada para ser testemunha de acusação. O repórter que escreveu a notícia mostra sua tendência ao preconceito, quando faz questão de citar a cor dos personagens da notícia, o que, na minha opinião, não tem nada a ver com o caso narrado e, se ele está descrevendo a agressão, a cor da agressora e dos agredidos seria totalmente dispensável e o mais importante seria o motivo da agressora.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Crônica do dia

Para finalizar a semana, temos um outro texto de Luis Fernando Verissimo.


A aliança

Esta é uma história exemplar, só não está muito claro qual é o exemplo. De qualquer jeito, mantenha-a longe das crianças. Também não tem nada a ver com a crise brasileira, o apartheid, a situação na América Central ou no Oriente Médio ou a grande aventura do homem sobre a Terra. Situa-se no terreno mais baixo das pequenas aflições da classe média. Enfim. Aconteceu com um amigo meu. Fictício, claro.
Ele estava voltando para casa como fazia, com fidelidade rotineira, todos os dias à mesma hora. Um homem dos seus 40 anos, naquela idade em que já sabe que nunca será o dono de um cassino em Samarkand, com diamantes nos dentes, mas ainda pode esperar algumas surpresas da vida, como ganhar na loto ou furar-lhe um pneu. Furou-lhe um pneu. Com dificuldade ele encostou o carro no meio-fio e preparou-se para a batalha contra o macaco, não um dos grandes macacos que o desafiavam no jângal dos seus sonhos de infância, mas o macaco do seu carro tamanho médio, que provavelmente não funcionaria, resignação e reticências... Conseguiu fazer o macaco funcionar, ergueu o carro, trocou o pneu e já estava fechando o porta-malas quando a sua aliança escorregou pelo dedo sujo de óleo e caiu no chão. Ele deu um passo para pegar a aliança do asfalto, mas sem querer a chutou. A aliança bateu na roda de um carro que passava e voou para um bueiro. Onde desapareceu diante dos seus olhos, nos quais ele custou a acreditar. Limpou as mãos o melhor que pôde, entrou no carro e seguiu para casa. Começou a pensar no que diria para a mulher. Imaginou a cena. Ele entrando em casa e respondendo às perguntas da mulher antes de ela fazê-las.
— Você não sabe o que me aconteceu!
— O quê?
— Uma coisa incrível.
— O quê?
— Contando ninguém acredita.
— Conta!
— Você não nota nada de diferente em mim? Não está faltando nada?
— Não.
— Olhe.
E ele mostraria o dedo da aliança, sem a aliança.
— O que aconteceu?
E ele contaria. Tudo, exatamente como acontecera. O macaco. O óleo. A aliança no asfalto. O chute involuntário. E a aliança voando para o bueiro e desaparecendo.
— Que coisa - diria a mulher, calmamente.
— Não é difícil de acreditar?
— Não. É perfeitamente possível.
— Pois é. Eu...
— SEU CRETINO!
— Meu bem...
— Está me achando com cara de boba? De palhaça? Eu sei o que aconteceu com essa aliança. Você tirou do dedo para namorar. É ou não é? Para fazer um programa. Chega em casa a esta hora e ainda tem a cara-de-pau de inventar uma história em que só um imbecil acreditaria.
— Mas, meu bem...
— Eu sei onde está essa aliança. Perdida no tapete felpudo de algum motel. Dentro do ralo de alguma banheira redonda. Seu sem-vergonha!
E ela sairia de casa, com as crianças, sem querer ouvir explicações. Ele chegou em casa sem dizer nada. Por que o atraso? Muito trânsito. Por que essa cara? Nada, nada. E, finalmente:
— Que fim levou a sua aliança? E ele disse:
— Tirei para namorar. Para fazer um programa. E perdi no motel. Pronto. Não tenho desculpas. Se você quiser encerrar nosso casamento agora, eu compreenderei.
Ela fez cara de choro. Depois correu para o quarto e bateu com a porta. Dez minutos depois reapareceu. Disse que aquilo significava uma crise no casamento deles, mas que eles, com bom-senso, a venceriam.
— O mais importante é que você não mentiu pra mim.
E foi tratar do jantar.

Texto extraído do livro "
As mentiras que os homens contam", Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2000, pág. 37.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Crônica do dia


Hoje, dialogando com o texto "A verdade" de Luis Fernando Verissimo, a aluna Honorina escreveu esta interessante fábula. Boa leitura!

O lápis e o papel

Um dia o papel disse para o lápis:
-Lápis você não está com nada, eu sou mais importante que  você, querendo esnobar.
O lápis respondeu,
-Ah! Eu sou tão importante quanto você, estamos sempre em  qualquer lugar do mundo .
Somos feitos  de madeira, só que a minha importância é maior, pois sem meu grafite não há escrita.O grafite é minha alma, pensa em tudo para ser escrito.
-Eu sou colorido, bonito, quanto a você,está sempre sendo cortado pelo apontador até chegar onde não se consegue segurar;ainda emendam com um pedacinho de madeira,para tentar escrever.
-Aí é que você se engana, vou mostrar o meu valor, além dos que já te falei. Você sabia que na escola, quando eu meço mais ou menos 6 centímetros  vou para a cesta do lixo, pois bem, eu e meus irmãos somos recolhidos por uma criatura, às vezes estamos  sujos. Por estarmos misturados com outros objetos, somos lavados e guardados com muito carinho, pois nem sempre essa pessoa tem lápis para escrever, então recorre a sua caixinha  de cotocos, onde somos guardados. Eu na minha simplicidade, guiado pela mão de quem  me usa, escrevo coisas bonitas do amor, poesia, filosofia, sátiras e humor... Espero ser sempre útil a outrem, no sentido de engrandecer a humanidade.
O papel refletiu:
-É verdade, unidos faremos muito, cada um na sua parte .
- Eu também tenho o meu valor, as pessoas pobres usam-me como caderno pela metade vou para colégios que vivem de doações.
-Aí damos as mãos e fazemos muita gente feliz aprender a ler e escrever. Pode até ser um escritor,um poeta, um cientista, etc.  Já pensou? Talvez sejamos do mesmo lugar e pertençamos à mesma pessoa, quem sabe?... - disse  o lápis.
-Ah, com  certeza ,disse o papel...
-Sabe, eu também sou de doação, disse o lápis, às vezes não dão valor a pequenos objetos, nem olham pra gente, nos veem como lixo mesmo, até botam fogo...
O papel e o lápis deram uma lição de vida , mostrando seus valores.

Moral da história :
A união faz a força.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Crônica do dia

Hoje temos um conto surpreendente da aluna Ney. Divirtam-se!

A surpresa do descansado

Embora saibamos que podemos humanamente ser capazes de resolver nossos próprios problemas, sempre arrumamos desculpas para crises existenciais.
Aconteceu com Marcelo, não conseguia prosseguir estudando, não conseguia um bom emprego que pudesse abrandar seu infortúnio. Sempre na aba de seus pais.
Conheceu Zilda, moça trabalhadeira, cheia de sonhos, mas que foi logo se apaixonar pelo descansado. Claro que a família não fazia gosto naquela união. Seu irmão Zeca tinha raiva do sujeito, sabia que o cara era um garganta, sempre arrumando desculpas dos seus desempregos. Falava para os amigos que o patrão implicava com ele sem motivos, dizia até que parecia coisa feita, que um dia ia descobrir que mandinga era quela que não deixava ir para frente. Já andei até pesquisando no jornal por uma boa cartomante, o dia que arranjar algum emprestado, vou lá, ah se vou!
Assim, passaram muitos anos, e a vida da vítima não mudava, sempre com as mesmas desculpas. Ao contrário, sua mulher batalhando muito para sustentar casa e filhos, não esmorecia, moça bonita e formosa, já estava ficando envelhecida de tanta luta, sempre procurava mais para fazer, encontrando todo tipo de trabalho para favorecer seu lar.
Zilda, de tanto ouvir o cara falar de cartomante, ficou querendo saber se elas poderiam dizer aquilo que fazia pessoas acreditarem nas coisas para melhorar suas vidas. Havia clientes que só faziam tudo com conselho de sua cartomante. Foi então que começou a ler livros de quiromancia e tentar se tornar uma boa cartomante. Visitou uma, e outra, e percebeu que era fácil ludibriar pessoas ansiosas, e se assim fizesse também, ali iria ganhar um bom dinheirinho para aumentar o sustento de sua casa, claro, não deixando seu trabalho de carteira assinada, para não dar na pinta.
Assim se passaram mais alguns meses, Zilda, hoje Madame Zuleica, faz sucesso com suas adivinhações, passado, futuro, dizia seu pequeno anúncio, num jornal.
Chegava sempre em casa cansada do trabalho, e nos dias em que também dava as consultas era um caos. Pois tinha que usar de toda sua malícia para poder convencer seus clientes, que agora iam aumentando. Ela ficava admirada com tanta popularidade que adquirira. Foi passando o tempo, já produzira uma vestimenta apropriada para seu desempenho cigano.
Um belo dia, ia já fechar os trabalhos, quando bateram em sua tenda, ao abrir, deparou com o seu marido. Ela não se abalou nem um pouco, pois sabia das intenções do descansado. Ele por sua vez ficou apavorado com a surpresa, sua mulher tão dedicada, provedora da família, ali na sua frente vestida daquele jeito, até muito formosa, como há muito não lhe apreciava.
Para ela não houve nenhum espanto, falou com voz firma: Senhor, quer saber o quê?

terça-feira, 22 de maio de 2012

Crônica do dia

Hoje temos uma reescrita surpreendente da aluna Dilza. Boa leitura!

Falta de sorte

Ele era uma pessoa correta, muito ética, mas sentia-se um fracassado.
Nada que fazia dava certo:
A faculdade teve que interromper faltando apenas dois períodos para o término. Engravidara a namorada e teve de assumi-la junto com o filho, que não poderia deixar sem nome e sem lar. Casou-se, sem pompas, sem festa e o mais rápido que pôde. Mas, com um caminhão de dívidas, pois apesar de optar morar com a mãe a fim de economizar despesas, teve que mobiliar seu antigo quarto, para acomodar sua esposa e o filho que chegaria em breve: comprou cama e colchão de casal, berço para o neném e um enxoval simples, mas necessário.
Atolado em dívidas e sem emprego. Fora demitido do estágio que fazia, pois parara a faculdade.
O filho chegou. O emprego não. Continuava procurando e procurando. Sobreviviam com a pensão da mãe viúva, mas isto lhe incomodava bastante. O que fazer?
Um amigo lhe disse que a causa de seus problemas só poderia ser algum trabalho, alguma mandinga bem feita que o trazia bem amarrado, que não deixava sua vida ir para frente. Pensou, pensou... e acabou achando que seu amigo bem poderia estar certo.
Só uma dúvida: se não desejava o mal de ninguém, quem poderia ter lhe entravado a vida dessa maneira, tão fortemente que nada dava certo para ele? Ah! só se fosse a sua ex-namorada. Aquela com quem terminara para ficar com sua atual esposa. Mulher rejeitada é pior que um animal feroz: faz de tudo para destruir o outro e, nesse caso, o outro era ele. Sim, só poderia ter sido ela. Dúvida sanada, procurou o amigo. Queria um aconselhamento. Será que ele sabia como desfazer o tal trabalho?
É claro, disse o amigo, vamos ao terreiro que frequento. Lá são especialistas em fazer e desfazer mandingas. É tiro e queda, não tem erro!
Combinaram e no dia marcado lá se foram os dois. O amigo tranquilo, ele ansioso. Finalmente seus problemas acabariam...
Chegou a sua vez de ser atendido. Mandaram que ele fizesse um despacho à meia noite numa encruzilhada: rosas vermelhas, uma garrafa de espumante e alguns charutos. Só isso? Vai ser mais fácil do que eu pensava. Comprou tudo e lá se foi arriar o despacho. Missão cumprida, voltava para casa aliviado. Finalmente seus caminhos estavam liberados e a sorte lhe sorriria. Parecia que havia se desfeito de um peso enorme. Estava leve, feliz e distraído. Tão distraído que não percebeu na calçada mal iluminada um buraco relativamente grande. Foi a conta: caiu nele e, por sorte, apenas quebrou uma perna.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Crônica do dia


Nesta semana teremos crônicas que fazem uma releitura de outros textos, baseado no conto "A cartomante", de Lima Barreto. Começamos com a crônica da aluna Stella. Boa leitura!

Romeu e Julieta

Os personagens desta história moravam em Santos, cada um num bairro dessa belíssima cidade.
Julieta morava na orla, com seus pais e possuía uma Ferrari, pois pertencia a uma família rica, cujo pai desejava para ela um casamento equilibrado em todos os sentidos, inclusive que seu príncipe encantado possuísse o mesmo status econômico.
Romeu possuía uma moto, pois fazia entregas para um supermercado. Era um “motoboy”.
O destino fez com que se encontrassem em Vila Belmiro, pois, por coincidência, ambos gostavam de futebol.
Conversa vai, conversa vem, marcaram encontro para um próximo jogo e daí, para se aproximarem, foi um passo.
O pai de Julieta “subiu pelas paredes” quando soube e, como bom machista e autoritário que era, proibiu que se encontrassem mais.
Foi o que faltava para o fruto proibido torna-se mais doce e os dois apaixonadíssimos continuaram a encontrar-se escondido.
Um ano depois, Julieta soube que estava com uma grave doença. Foi internada e a solução seria uma transfusão de sangue. O seu sangue era raro; finalmente encontraram um doador. Qual não foi a surpresa quando, depois de Julieta curada, descobrirem que a doadora havia sido a irmã de Romeu.
Ao contrário da história tradicional, as famílias se uniram, Romeu e Julieta casaram-se, tiveram dois filhos e foram felicíssimos para sempre!

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Crônica do dia


Terminamos nossa semana com um conto de Fernando Sabino. Boa leitura!

Albertine Disparue

Chamava-se Albertina, mas era a própria Nega Fulô: pretinha, retorcida, encabulada. No primeiro dia me perguntou o que eu queria para o jantar:
— Qualquer coisa — respondi.
Lançou-me um olhar patético e desencorajado. Resolvi dar-lhe algumas instruções: mostrei-lhe as coisas na cozinha, dei-lhe dinheiro para as compras, pedi que tomasse nota de tudo que gastasse.
— Você sabe escrever?
— Sei sim senhor — balbuciou ela.
— Veja se tem um lápis aí na gaveta.
— Não tem não senhor.
— Como não tem? Pus um lápis aí agora mesmo!
Ela abaixou a cabeça, levou um dedo à boca, ficou pensando.
— O que é lapisai? — perguntou finalmente.
Resolvi que já era tarde para esperar que ela fizesse o jantar. Comeria fora naquela noite.
— Amanhã você começa — conclui. — Hoje não precisa fazer nada.
Então ela se trancou no quarto e só apareceu no dia seguinte. No dia seguinte não havia água nem para lavar o rosto.
— O homem lá da porta veio aqui avisar que ia faltar — disse ela, olhando-me interrogativamente.
— Por que você não encheu a banheira, as panelas, tudo isso aí?
— Era para encher?
— Era.
— Uê...
Não houve café, nem almoço e nem jantar. Saí para comer qualquer coisa, depois de lavar-me com água mineral. Antes chamei Albertina, ela veio lá de sua toca espreguiçando:
— Eu tava dormindo... — e deu uma risadinha.
— Escute uma coisa, preste bem atenção — preveni: — Eles abrem a água às sete da manhã, às sete e meia tornam a fechar. Você fica atenta e aproveita para encher a banheira, enche tudo, para não acontecer o que aconteceu hoje.
Ela me olhou espantada:
— O que aconteceu hoje?
Era mesmo de encher. Quando cheguei já passava de meia-noite, ouvi barulho na área.
— É você, Albertina?
— É sim senhor...
— Por que você não vai dormir?
— Vou encher a banheira...
— A esta hora?!
— Quantas horas?
— Uma da manhã.
— Só? — espantou-se ela. – Está custando a passar...

*
— O senhor quer que eu arrume seu quarto?
— Quero.
— Tá.
Quarto arrumado, Albertina se detém no meio da sala, vira o rosto para o outro lado, toda encabulada, quando fala comigo:
— Posso varrer a sala?
— Pode.
— Tá.
Antes que ela vá buscar a vassoura, chamo-a:
— Albertina!
Ela espera, assim de costas, o dedo correndo devagar no friso da porta.
— Não seria melhor você primeiro fazer café?
— Tá.
Depois era o telefone:
— Telefonou um moço aí dizendo que é para o senhor ir num lugar aí buscar não sei o quê.
— Como é o nome?
— Um nome esquisito...
— Quando telefonarem você pede o nome.
— Tá.
— Albertina!
— Senhor?
— Hoje vai haver almoço?
— Se for possível.
— Tá.
Fazia o almoço. No primeiro dia lhe sugeri que fizesse pastéis, só para experimentar. Durante três dias só comi pastéis.
— Se o senhor quiser que eu pare eu paro.
— Faz outra coisa.
— Tá.
Fez empadas. Depois fez um bolo. Depois fez um pudim. Depois fez um despacho na cozinha.
— Que bobagem é essa aí, Albertina?
— Não é nada não senhor — disse ela.
— Tá — disse eu.
E ela levou para seu quarto umas coisas, papel queimado, uma vela, sei lá o quê. O telefone tocava.
— Atende aí, Albertina.
— É para o senhor.
— Pergunte o nome.
— Ó.
— O quê?
— Disse que chama Ó.
Era o Otto. Aproveitei-me e lhe perguntei se não queria me convidar para jantar em sua casa.

*
Finalmente o dia da bebedeira. Me apareceu bêbada feito um gambá; agarrando-me pelo braço:
— Doutor, doutor... A moça aí da vizinha disse que eu tou beba, mas é mentira, eu não bebi nada... O senhor não acredita nela não, tá cum ciúme de nóis!
Olhei para ela, estupefato. Mal se sustinha sobre as pernas e começou a chorar.
— Vá para o seu quarto — ordenei, esticando o braço dramaticamente. — Amanhã nós conversamos.
Ela nem fez caso. Senti-me ridículo como um general de pijama, com aquela pretinha dependurada no meu braço, a chorar.
— Me larga! — gritei, empurrando-a. Tive logo em seguida de ampará-la para que não caísse: — Amanhã você arruma suas coisas e vai embora.
— Deixa eu ficar... Não bebi nada, juro!
Na cozinha havia duas garrafas de cachaça vazias, três de cerveja. Eu lhe havia ordenado que nunca deixasse faltar três garrafas de cerveja na geladeira. Ela me obedecia à risca: bebia as três, comprava outras três.
Tranquei a porta da cozinha, deixando-a nos seus domínios. Mais tarde soube que invadira os apartamentos vizinhos fazendo cenas. No dia seguinte ajustamos as contas. Ela, já sóbria, mal ousava me olhar.
— Deixa eu ficar — pediu ainda, num sussurro. — Juro que não faço mais.
Tive pena:
— Não é por nada não, é que não vou precisar mais de empregada, vou viajar, passar muito tempo fora.
Ela ergueu os olhos:
— Nenhuma empregada?
— Nenhuma.
— Então tá.
Agarrou sua trouxa, despediu-se e foi-se embora.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Crônica do dia

Hoje temos o ponto de vista do aluno Homero. Deixo ao leitor fazer suas próprias considerações. Boa leitura!

O bom exemplo vem de cima

Antigamente, nos lugares ainda sem estrutura política e social bem definida, a autoridade simbólica era exercida de uma forma muito simples pelo Juiz de Direito, do Padre e, em lugares em que havia Agência do Banco do Brasil, o gerente, que ocupava um lugar muito simpático em vista de poder liberar recursos para aquele que tivesse alguma dificuldade. A participação do gerente era muito interessante, havendo até hoje, instituições que foram criadas por aqueles profissionais, em favor da arte, do lazer e quem sabe até influência religiosa.
Hoje, com toda essa reviravolta de conceitos, ficamos totalmente sem referências e, por essa falta de orientação, pessoas que poderiam merecer de nós um outro referencial passaram a constar de listas estranhas por suas relações com marginais e, por essa desordem, o cidadão como é o caso do imigrante pai de filhos brasileiros e casado com mulher brasileira, ser molestado, exatamente, por um delegado de polícia que, salvo melhor juízo, deveria ser um mediador e não um capacho de autoridade.
Esse desapreço pelo imigrante que foi por mim constatado em Teresópolis, onde gente da melhor espécie dá o melhor de si, aplicando tudo aquilo que nós deveríamos honrar por tal presença e tal desempenho. Passam desapercebidos em lugar de serem reverenciados.
O interessante é que no meu tempo era muito comum as pessoas descendentes de estrangeiros encherem a boca para dizer: Eu sou filho de pais daqui e dali; dando aos que não tinham tais referências uma espécie de apequenamento social.
O estranho no caso do General implicar com meninos que jogavam bola perto do seu carro me pareceu muito estranho. As forças armadas montam seus esquemas de educação militar como sendo algo muito especial e como sabemos o futebol, hoje, ocupa espaço muito acima dos outros esportes e até ficar com pena do soldado que passar por suas mãos.
Que o Delegado sirva para tal papel, não vou discutir, é um ponto de vista.
O que não dá para entender é a baixeza com que o Delegado se referiu ao imigrante, diante de sua esposa que, para alegria nossa, soube traduzir a sua estranheza.
Há dias fomos informados de que praticamente todas essas irregularidades que estão sendo apuradas estavam ao abrigo da lei.
Será que o nosso regime capitalista não comportará uma forma de punir ao invés de contemplar. Uma pessoa que passa 30 anos na cadeia deveria ser obrigada a pagar o custo daquele abrigo, onde recebeu casa, comida e sabe-se lá mais o quê. Coisas que o não criminoso paga muito caro, sem que haja cometido algum tipo de delito.
Hoje, estou tão confuso com tudo isso que chego até a pensar "o que seria da minha vida, se não contasse com a colaboração de minha morte". Sempre que tenho um problema maior, vem lá a minha morte a matar o problema, dando-me vida e ânimo para seguir pensando pelo lado avesso em que me embrenhei.
Agora se você tem aspirações militares, que faça bom proveito; eu sigo mesmo é na minha linha, do rir primeiro, pouco importando com o que acontecerá com o último.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Crônica do dia

A partir de uma outra leitura da crônica "A mulher do vizinho", de Fernando Sabino, temos esta crônica da aluna Celeste, em que nos relata sua impotência diante da "carteira funcional" de um policial. Boa leitura!


A carteira funcional

Quando li o texto "A mulher do vizinho", de Fernando Sabino, fiquei pensando em quantas situações nos vemos diante de carteiras funcionais supervalorizadas diante de nossa pobre carteira de identidade.
Há alguns anos atrás, passei por um momento inesquecível.
Fui ao banco, como de costume, para efetuar o pagamento de contas e sacar uma certa quantia para efetuar alguns pagamentos, e como era hábito naquela agência, fiz tudo numa caixa especial dentro da tesouraria.
Saí da agência, fiz algumas compras e depois fui para casa, que era próxima do banco. Num dado momento, senti um puxão no meu corpo, estava levando uma gravata, sendo xingada e senti o cano da arma na minha cabeça. O meu marido, que me acompanhava, entregou a minha bolsa para eles, eram dois rapazes, montaram na sua moto para fugir. Imediatamente, o meu marido ligou para a polícia e relatou o que tinha acontecido, passando placa, cor e descrição dos rapazes; resposta: procure a delegacia mais próxima, não podemos fazer nada. Fomos para a delegacia e, chegando lá, ficamos aguardando o atendimento por mais ou menos uma hora.
Veio o escrevente, com muito custo, e começaram as perguntas de praxe, até aí tudo bem. Então ele perguntou o número da minha conta e a minha senha, imediatamente respondi que ele não precisava da minha senha, e sim passar um rádio dando as características da moto e dos rapazes.
Ele me olhou e começou a rir, rir não, gargalhou, e me disse:
- Oh, minha senhora! A senhora anda vendo muito filme americano.
Neste momento, a paciência já tinha ido embora, falei que ele era incompetente, pronto, a carteira funcional da autoridade do escrevente apareceu, isto é desacato, a senhora será processada e presa. Meu marido pediu que ficasse calma.
Pensei o que estava fazendo ali, pior do que assalto foi encontrar este policial usando a sua função para me subjugar. Fui embora, nunca recuperei nada que estava na bolsa, pois para mim havia um tesouro dentro dela, fotos do meu pai e uma bela carta escrita por ele a mim uns dias antes de morrer. No dia do assalto, fazia três dias que ele havia falecido.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Crônica do dia

Mais um relato da experiência, não muito boa, com um vizinho, feito pela nossa aluna Zélia. Boa leitura!

Vizinhança

No Nordeste, quando se dá uma esmola, o pobre agradece e diz: "Deus lhe livre do mau vizinho".
Pois era um desses que morava perto da minha casa, e cuja ocupação era se incomodar com a vida dos outros.
Nessa época eu era adolescente, tinha mais ou menos 14 anos e namorava escondido, o que era muito gostoso.
Um dia meu namorado passou de jeep pela minha casa e buzinou. Como tínhamos um quintal grande, com muitas árvores frutíferas, corri e subi na mais baixa e próxima do muro, para vê-lo. Era um cajueiro.
Pois o tal fofoqueiro foi correndo dizer ao meu pai, que estava na mercearia de sua propriedade.
O resultado foi que ele me puxou pelas pernas, e me deu a maior surra da minha vida. E de tamanco...
No dia seguinte, depois da aula, me encontrei novamente com ele, que me convidou a fugir, mas, como não tive coragem, este foi mais um amor de adolescente frustrado, tudo por causa de um mau vizinho.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Crônica do dia

Hoje abrimos a semana com a crônica da aluna Stella, em que nos relata um caso interessante sobre vizinhos.

Política da boa vizinhança

Quando me foi solicitado falar sobre esse assunto, confesso que, como sempre, fiquei "bloqueada", mas, aos poucos, lembrei de Maria, uma amiga minha, que mora sozinha num apartamento pequeno, em Copacabana. Vizinha ao seu, vive dona Beatriz, que é um pouco mais velha que Maria. Elas não são propriamente amigas, mas, quando o marido de d. Beatriz faleceu, Maria fez questão de ir à missa de sétimo dia. Sabe como é, política da boa vizinhança...
Eram gentis uma com a outra; nada mais que isso!
O tempo passou, a terceira idade chegou e, com ela, chegaram os seus característicos males. Um deles fez a diplomacia, conquistada ao longo dos anos, ir quase para o "fundo do poço"...
D. Beatriz começou a ficar meio surda e, como adorava escutar TV de 7 da manhã até meia-noite e passava o dia em casa, os vizinhos, aos poucos, foram obrigados também a escutar Faustão, Raul Gil, Sílvio Santos, Gugu, etc., que, diga-se de passagem, não eram os preferidos de Maria.
Para os vizinhos que gostavam era bom, pois economizavam eletricidade! Mas Maria, que ainda trabalhava, tinha que ficar vendo TV até meia-noite, e às vezes mais e, no dia seguinte, acordava cedíssimo, pois tinha que estar no seu local de trabalho às 7h da manhã.
Intimidade não possuía com d. Beatriz para pedir-lhe que abaixasse o som! Falar com o síndico, nem pensar, pois era capaz de o próprio pedir que ela usasse aparelho de surdez... Ainda mais, depois de um dia a vizinha ter salvo a vida de Maria, num caso ocorrido de princípio de incêndio e depois de saber dos maus-tratos sofridos por d. Beatriz com o marido falecido já. A filha só aparecia na casa da mãe para berrar e xingá-la, e d. Beatriz não era infeliz, era infelicíssima!
Maria, com seu bom coração, seu espírito caridoso, até hoje continua a assistir a todos os programas de que não gosta e escutará até o fim dos tempo ou até quando Deus quiser!!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Para a nossa quinta feira, temos hoje o texto da aluna Celeste que nos conta todas as vitórias das mulheres e sua importância. BOA LEITURA!




Mulher


Falar sobre a mulher não é uma tarefa fácil. Ela é um ser múltiplo: consegue ninar o seu bebê, cozinhar, ser executiva, ajudar o outro filho nas tarefas escolares...
Mulheres estão numa evolução muito grande que poderia falar de cada profissão, onde elas estão presentes de A a Z.
Vou começar pela música com Chiquinha Gonzaga que no começo do século abriu as portas para as compositoras até hoje, quem não se lembra de Isolda, "Outra Vez", chegamos a Marisa Monte, passamos por Dona Ivone Lara e nas artes plásticas esta vanguardista vanguardista do modernismo brasileiro: Tarsila do Amaral e na literatura Clarice Lispector, ver Bibi Ferreira no palco e tantas outras, todas mostrando a sua sensibilidade de grandes artistas.
Depois de queimarem os seus soutiens na praça, continuam a luta pela liberdade de escolha no seu dia a dia , o das Marias, mães, engenheiras, médicas, cientistas, militares, professoras que da colher de pau a caneta e hoje laptop, mostram pelo mundo a sua garra e e força ainda lutando para mostrar as desigualdades no campo profissional onde a diferença salarial entre homens e mulheres ainda existe, mesmo tendo a mesma qualificação. Apesar de termos uma presidenta da República. 
Como diz a canção de Erasmo Carlos: "Dizem que a mulher é o sexo frágil , que mentira absurda"


Celeste  

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Crônica do dia

Hoje terminamos nossa semana com um excerto de uma tragédia grega - Édipo rei - em que a temática sobre a visão foi abordada na semana anterior. Nesta passagem, temos a fala do arauto quando Édipo, depois de saber que cometera o crime de matar o pai e casar-se com a mãe, fura os próprios olhos; ele que, no entanto, achava-se sábio e irritara-se com Tirésias, um vidente cego, no início da tragédia.


Édipo rei

Arauto: Por suas próprias mãos... O horror do quadro,
             a vós, que não o vistes, será poupado;
             mas eu, que o vi, dele não posso esquecer!
             Desesperada ela entrou no vestíbulo
             e correu para a alcova nupcial,
             as duas mãos arrancando os cabelos;
             bateu a porta atrás de si, com força.
             Gritava - "Laios!" - chamando o marido
             há tanto tempo morto, mas pensando
             no filho que matou o próprio pai
             e que da mãe teve monstruosamente
             uma prole de infelizes...
             Gemia contra o leito nupcial
             onde, coitada, havia concebido
             filhos do filho e era mãe do marido.
             Como afinal morreu, não sei dizer:
             entrou Édipo aos gritos, e vós, vendo-o
             ir de um lado para outro, não chegamos
            a observar a rainha até o fim.
            Ele pedia uma espada e bradava:
            - "Onde está minha esposa, que não é
            esposa alguma, é um útero danado
            que me pariu e pariu filhos meus?"
            - Nessa alucinação, algum poder
            (humano não, não foi nenhum de nós)
            guiou-lhe os passos: num gemido horrível,
            como se algo o empurrasse, atirou-se
            contra as portas, rompendo as dobradiças,
            e num relance entrou, e deparou
            com a mulher enforcada,
            um laço corrediço no pescoço...
            Ao vê-la, num gemido sufocado
           desamarrou a corda, e, quando o corpo
           desmoronou no chão, o que se viu
           foi mais um espetáculo de horror:
           ele arrancou os alfinetes de ouro
          da roupa da rainha, levantou-os
           e os enterrou nos olhos, imprecando:
          "Olhos meus, não vereis mais esta culpa
           e esta vergonha, nunca mais vereis
           quem não deveríeis ter visto nunca,
           e para todo o sempre só vereis
           as trevas!"
          (...)

(Sófocles. Édipo rei. Tradução Geir Campos. São Paulo: Abril Cultural, 1980. p. 128-9)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Crônica do dia

Hoje temos uma crônica surpreendente da aluna Dilza. Boa leitura!

Estava escrito

Ela casou pouco mais que uma criança, apenas 16 anos. Não tivera mãe que a criasse e estava apaixonada pelo namorado, um rapaz muito jovem também. Cheios de sonhos e vontade de serem felizes, foram tentar a vida numa cidadezinha no interior do estado.
Lá fizeram amizade com uma família que os acolheu como se fossem seus irmãos mais novos.
As duas mulheres engravidaram. Quanta alegria!
A jovem inexperiente estava muito insegura com a gravidez, porém sua amiga, já mãe de quatro filhos, procurava tranquilizá-la, dizendo que tudo iria correr bem e que a maternidade não era nenhum bicho de sete cabeças. E assim a amizade entre as duas ia se solidificando dia a dia, até que Maria (este era o nome da mais velha), sentindo que a hora de seu parto se aproximava, mandou dizer a Dilma (a mais nova) que fosse à cidade comprar algo que precisava. Na verdade, ela só queria que Dilma não presenciasse o momento do parto e assim não se assustasse.
De fato, quando ela retornou, um meninão já havia nascido. O quinto filho de Maria, mais um menino! Daí a três semanas, foi a vez de Dilma. Tudo correu bem e ela teve uma menina, também forte e saudável. Quantas dúvidas! A quem recorreria? À Maria, sua grande amiga, por isso, na hora de escolher padrinhos para sua filha , não teve dúvidas: Maria e seu esposo, que aceitaram alegremente.
O tempo passou, a amizade solidificou-se mais e mais. Mas um belo dia, o marido de Dilma viu que não dava mais para permanecer naquela cidade. Lá não teriam condições de melhorar de vida, e resolveu então tentar a sorte no Rio de Janeiro. Saíram da cidadezinha, deixando os compadres e as raízes.
Após dezesseis anos e muitos obstáculos vencidos, muitas dores e também muitas vitórias, Dilma e sua filha resolveram visitar os amigos, tirar férias e matar as saudades de todos.
Maria tivera mais dois filhos e Dilma ficara só naquela. O reencontro foi muito alegre e as lembranças, resgatadas em longas conversas durante as tardes. O que não se previra é que os dois jovens nascidos tão próximos e depois afastados iam tornar-se um pouco mais que amigos: namorados!
As férias terminaram, e elas retornaram ao Rio. O namoro continuou por correspondência durante algum tempo, mas não resistiu a distância e eles romperam.
Um ano depois, o jovem vem para o Rio. Precisava servir à Pátria e, então, novo reencontro.
Os dois reatam o namoro, desta vez em definitivo. O casamento já dura quarenta e seis anos!
E eu pergunto: estava ou não estava escrito?

terça-feira, 17 de abril de 2012

Crônica do dia

Para a nossa terça feira temos o texto do aluno Rubim Fortunato que nos conta o desejo de Clodoaldo conhecer o mar e suas visões sobre isso. DIVIRTAM-SE!

  

O mar

Era uma noite enluarada, sentado na areia da praia, contemplando o mar, estava Clodoaldo. Ele se recordava quando ouvindo histórias sobre o mar desejava tanto vê-lo. Lembrava da emoção que sentira quando pode avistá-lo.
Viera de uma cidade do interior de Minas Gerais. Janaúba. 
Recordava-se da terra natal: Os banhos de rio com seus companheiros e amigos, do som pungente dos carros de boi e da sua primeira namorada. 
O sonho de conhecer o mundo para além da cidade onde nascera era imenso. Montes Claros estava além de sua perspectiva. Belo Horizonte? Talvez. O desejo de ver o mar fascinava-o.
Fora primeiro para Montes Claros e finalmente o Rio de Janeiro. Aqui chegara, quase sem dinheiro. Exercera varias funções: trabalhara em obra, faxina, etc. 
Finalmente entrou para um escritório como office boy. Devido ao seu empenho no serviço, chamara a atenção dos chefes, que lhe orientaram para estudar à noite. 
Com muito esforço atingira uma posição confortável. Casara-se com a Esmeralda e foram morar em Copacabana, que o Clodoaldo sempre sonhara.
Tudo corria bem, quando Esmeralda engravidou e teve complicações no parto que a levaram para a morte.
Naquela noite, depois do serviço, Clodoaldo fora percorrer o calçadão e sentou-se à beira do mar com sua dor, vendo as ondas indo e vindo, tal qual a vida é.

Rubim Fortunato                                    

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Crônica do dia

Iniciamos nossa semana com um caso estranho das bolsas da aluna Maria Luiza. Muito cuidado ao lerem esta crônica! Boa leitura!

Espelhos da alma - A maldição das bolsas "fake" (crônica do terror urbano)

Quem diz que a velhice é torpe consegue errar mais do que aqueles que a chamam de "melhor idade". Há tantos chavões sobre essa fase da vida que só poderíamos esgotá-los num volumoso romance do século dezenove, Usarei o espaço de uma crônica para refletir sobre alguns deles e, quem sabe, divertir os colegas e os professores, que passam uma tarde por semana na UNATI ouvindo toda sorte de relatos e se deixando conduzir por experiências muito pessoais, mas que, de tão pessoais, se tornam universais e interessam a todos.
"Papéis voadores na repartição"? Meninos, eu já vi. "Joias falsas da Dona Sara"? Marco com um x essa também. "Acidente na escada rolante do shopping"? Tenho dois casos para contar. Um de um garotinho subindo sentado nos degraus e ralando perigosamente o traseiro; outro de uma avó aos prantos porque o bebê caíra do carrinho ao chegar no pé da escada.
"Mitologia"? Um dos meus temas preferidos! E que dizer da colega tão referenciada à música que produz suas crônicas com algumas canções ao vivo e outras apenas invocadas? Total empatia.
A minha catarse de hoje diz respeito ao inglório privilégio da idade que permite a nós velhos maior uso de nossa liberdade, e dum possível logro na forma do "fake" que tira algumas pessoas do sério. Não tenho receio de ser presa por assumir publicamente minha conivência com a pirataria, aliás reconhecida por Lei com papel timbrado, alvará e recibos, nem de mexer num improvável vespeiro de inveja e preconceito. Não entre nós!
Os que me conhecem sabem da minha dificuldade em fazer as escolhas adequadas pretendidas por certos grupos fechados. Na faze atual, aproveitando o quinhão maior de liberdade, uso à larga de meu espírito lúdico e não abro mão daquela parcela de individualismo que ainda garante minha sobrevivência.
Dá que com isso, vivi a estranha aventura que passo a lhes contar, tendo como vilãs - pasmem! - as minhas humildes bolsas.
Elas são de lona e couro sintético, suficientemente grandes para mim mas muito levinhas, com bom acabamento e duram anos, como me garantiu V., esposa de meu filho mais velho, em Salvador.
Fomos À lojinha de uma moça chinesa, ao lado do supermercado, perto de nossa casa.
Mais uma surpresa irresistível: as bolsas eram baratíssimas! Menos da metade do preço das de couro "legítimo" compradas em liquidações nas lojas populares do Rio. Essas, pesadíssimas, acabei passando para minha sobrinha e minha diarista porque o ortopedista me proibira usá-las.
As novas bolsas só tinham um defeito: eram decoradas com lindas estampas de famosos designers com direito até a monogramas nos fechos dourados que deveriam receber tratamento especial com esmalte incolor.
Ao voltar para casa, me bateu um medo daqueles só em pensar que podiam atrair a cobiça e a violência de assaltantes. Naquele tempo não haviam sido criadas as famosas UPPs.
Meu filho mais novo me tranquilizou. "Qual é, mãe? Sem essa! Bandido vai logo ver que é falsa. Ele sabe que gente bacana não vai a lugares que vocês frequentam!"
Pensei... andar em volta do Maracanã com tênis de cem reais e camiseta com inscrição "Estive em Araruama e me lembrei de você", acompanhar a procissão do Senhor Morto lá em Cavalcante, ir à feira com sandália de dedo às onze horas da manhã, é... Zé tinha razão, madame que é madame não faz programa de índio.
Desde então, saio com minhas humildes bolsas e jogo-as em qualquer canto, até no chão, onde meus humildes sapatos Usaflex eventualmente as pisam e sujam para escândalo daqueles poucos olhos que as vigiam, vendo a maneira descuidada com que trato objetos de desejo "de alguns milhares de reais", ainda que cafonas.
Mas nada é tão inofensivo assim como parece.
Apenas a vocês, meus amigos, alerto. Depois que as limpo em casa com um trapinho ligeiramente úmido, como me foi recomendado, as bolsas ganham estranha vida e na manhã seguinte como que me obrigam a usá-las e levá-las para sua vil diversão: revelar a nudez das pessoas até seus ossos ficarem expostos e mais além, na radiografia implacável de suas almas.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Crônica do dia

Um comentário (uma análise) irreverente e muito engraçado sobre a crônica de Fernando Sabino, "O homem nu", feito pela aluna  (vó) Cacilda. Boa leitura!


Comentário sobre a crônica "O homem nu"

A culpa dessa história foi, com toda certeza, da mulher dele, que, não gostando das soluções que o marido resolvia para fugir da sua falta de responsabilidade, por não ter o dinheiro ou por ser um mau pagador, já não estava aguentando a situação de cúmplice dos embustes do marido.
Vendo que ele se preparava para o banho, despindo-se ela, para pirraçá-lo, entrou no banheiro primeiro, sem pressa nenhuma de terminar seu banho, só para contrariá-lo também.
Quando ele saiu para apanhar o pão e a porta bateu, deixando-o do lado de fora, ele chamou pelo nome da mulher batendo na porta do seu apartamento.
É claro que ela ouviu. Se chamava pelo seu nome, não seria o cobrador da TV; não abriu porque não quis, fazendo pirraça para contraria o marido (pois pirracenta é uma característica da mulher, quando é contrariada).
Finalmente sua mulher abriu a porta e ele entrou.
Imaginem o susto que levou quando bateram à porta, pensou logo que fosse a polícia, lembrando da velhinha que o vira nu, teria ligado denunciando que ele estava pelado nos corredores do prédio.
Não era. Era o cobrador da TV, de quem se escondia, criando toda essa situação de vexames por que passou.
Atendeu-o, se desculpando por não ter o dinheiro no momento.
Se eu fosse a vítima, também processaria o engenheiro do prédio, que projetou seu apartamento com um só banheiro. Com toda certeza é solteiro, não tem uma mulher pirracenta como aquela, para criticá-lo em tudo que faz de errado.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Crônica do Dia

Para a nossa terça feira temos o texto de Millôr Fernandes, desenhista, escritor, humorista, dramaturgo, tradutor e jornalista brasileiro que nos conta a história do rei da floresta. DIVIRTAM-SE!     


O Rei dos animais 



Saiu o leão a fazer sua pesquisa estatística, para verificar se ainda era o Rei das Selvas. Os tempos tinham mudado muito, as condições do progresso alterado a psicologia e os métodos de combate das feras, as relações de respeito entre os animais já não eram as mesmas, de modo que seria bom indagar. Não que restasse ao Leão qualquer dúvida quanto à sua realeza. Mas assegurar-se é uma das constantes do espírito humano, e, por extensão, do espírito animal. Ouvir da boca dos outros a consagração do nosso valor, saber o sabido, quando ele nos é favorável, eis um prazer dos deuses. Assim o Leão encontrou o Macaco e perguntou: “Hei, você aí, macaco – quem é o rei dos animais?” O Macaco, surpreendido pelo rugir indagatório, deu um salto de pavor e, quando respondeu, já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta: “Claro que é você, Leão, claro que é você!”.
Satisfeito, o Leão continuou pela floresta e perguntou ao papagaio: “Currupaco, papagaio. Quem é, segundo seu conceito, o Senhor da Floresta, não é o Leão?” E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar, mas apenas o de repetir, lá repetiu o papagaio: “Currupaco… não é o Leão? Não é o Leão? Currupaco, não é o Leão?”.
Cheio de si, prosseguiu o Leão pela floresta em busca de novas afirmações de sua personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: “Coruja, não sou eu o maioral da mata?” “Sim, és tu”, disse a coruja. Mas disse de sábia, não de crente. E lá se foi o Leão, mais firme no passo, mais alto de cabeça. Encontrou o tigre. “Tigre, – disse em voz de estentor -eu sou o rei da floresta. Certo?” O tigre rugiu, hesitou, tentou não responder, mas sentiu o barulho do olhar do Leão fixo em si, e disse, rugindo contrafeito: “Sim”. E rugiu ainda mais mal humorado e já arrependido, quando o leão se afastou.
Três quilômetros adiante, numa grande clareira, o Leão encontrou o elefante. Perguntou: “Elefante, quem manda na floresta, quem é Rei, Imperador, Presidente da República, dono e senhor de árvores e de seres, dentro da mata?” O elefante pegou-o pela tromba, deu três voltas com ele pelo ar, atirou-o contra o tronco de uma árvore e desapareceu floresta adentro. O Leão caiu no chão, tonto e ensangüentado, levantou-se lambendo uma das patas, e murmurou: “Que diabo, só porque não sabia a resposta não era preciso ficar tão zangado”.

Moral: “Cada um tira dos acontecimentos a conclusão que bem entende.”


Millôr Fernandes

terça-feira, 3 de abril de 2012

Crônica do dia

Temos hoje o texto da aluna Zélia que nos conta sobre a palavra destino e seu significado em nossas vidas. REFLITAM! 

Destino 

São as palavras que desde a nossa infância aprendemos para exprimir coisas e sentimentos.
Uma das palavras que nos põe muito em dúvida, é a palavra destino.
Destino existe? 
Há os que acreditam e para essas pessoas, é o destino que rege nossas vidas e que já vem traçado desde o nascimento até a morte. 
Outros afirmam destino traçado não existe, pois se houvesse, cairia por terra a noção do livre arbítrio, que nos dá a oportunidade de mudar várias vezes o rumo de nossa existência.
A dúvida então se instala, e lá vem a pergunta: Por quê aconteceu? 
Um único sobrevivente de um grande acidente aéreo no mar, na terra. Pessoas que já estando na sarjeta, encontram alguém que os ajudam e aquelas pessoas se transformam. 
Há pouco tempo, aconteceu uma grande tragédia no Rio de Janeiro. Três prédios desabaram e em todos eles havia um aviso conhecido por todos nós: Em caso de acidente não use o elevador; procure as escadas.
Pois bem, um dos que se salvaram em nenhum dano, foi um rapaz que no desespero, entrou no elevador.
Foi o destino? 
Me respondam por favor ...

Zélia                     

segunda-feira, 26 de março de 2012

Crônica do dia

Para começarmos a nossa semana temos hoje o texto da aluna Dilza que nos conta um engraçado caso de ciúmes de uma esposa que decide investigar a vida do seu marido. DIVIRTAM-SE!     


O Inusitado

Helena e Carlos estavam casados há alguns anos e eram bem felizes. Helena era um pouco ciumenta, mas viviam bem, até seu marido ser promovido a um cargo bel elevado na direção da empresa onde trabalhava. O volume de serviço era muito e ele constantemente precisava ficar trabalhando até muito tarde junto com sua secretária Sheila que levava para casa depois do expediente, fato que não escondia de Helena, pois não via nada demais. Era apenas uma forma de retribuir a dedicação da funcionária, demonstrar sua educação e dar-lhe mais segurança, pois ela morava em um local distante e não possuía carro.
Helena não estava nem um pouco satisfeita com essa situação, sentia-se muito só e pouco a pouco foi imaginando coisas: Será que não estava sendo traída? Ah, se isso for verdade, eles vão me pagar!...
Teve uma conversa franca com o marido expondo sua solidão e também suas suspeitas. Ele negou, é claro! Ainda prometeu que tentaria chegar mais cedo, o que não conseguiu cumprir.
Certo dia ao ler o jornal, Helena viu um anúncio de detetive particular. Poderia ser essa a solução para o seu problema. Fez contato com o profissional, acertou detalhes e contratou seus serviços. 
Nesta noite, Carlos pela janela do escritório viu um homem na calçada em frente em atitude suspeita e tentando se esconder dos transeuntes. As horas passaram e o homem não arredou pé. Já era madrugada e ele lá firme. Carlos intrigado e temeroso, ligou para a polícia que levou o tal sujeito para a delegacia. Mais tarde, Helena foi acordada por um telefonema : Alô madame, por favor venha aqui explicar a situação pro delegado".

Dilza da Cunha Vieira            

sexta-feira, 23 de março de 2012

Para encerrarmos a nossa semana, temos hoje o texto do escritor Fernando Sabino, chamado "Vinho de Missa", onde nos é relatada uma travessura de um menino em um colégio de padres. DIVIRTAM-SE!  


Vinho de Missa

Era domingo e o navio prosseguia viagem. Os passageiros iam sendo convocados para a missa de 
bordo.
-- Vamos à missa?  convidou Ovalle.
O passageiro a seu lado no convés recusou-se com inesperada veemência:
-- Missa, eu? Deus me livre de missa.
-- Não entendo -- tornou Ovalle, intrigado:
-- O senhor pede justamente a Deus que o livre da missa?
-- No meu tempo de menino eu ia à missa. Mas deixei de ir por causa de um episódio no colégio interno, há mais de trinta anos. Colégio de padre -- isso explica tudo, o senhor não acha?
Ele achou que não explicava nada e pediu ao homem que contasse.
-- Pois olha, vou lhe contar: imagine o senhor que havia no colégio um barbeiro, para fazer a barba dos padres e o cabelo dos alunos. Vai um dia o barbeiro me seduz com a idéia de furtar o vinho de missa, que era guardado numa adega. Me ensinou um jeito de entrar na adega -- e um dia eu fiz uma incursão ao tonel de vinho. Mas fui infeliz: deixei a torneira pingando, descobriram a travessura e no dia seguinte o padre-diretor reunia todos os alunos do colégio, intimando o culpado a se denunciar. Ia haver comunhão geral e quem comungasse com tão horrenda culpa mereceria danação eterna. Está visto que não me denunciei: busquei um confessor, tendo o cuidado de escolher um padre que gozava entre nós da fama de ser mais camarada: "Padre, como é que eu saio desta? Eu pequei, fui eu que bebi o vinho. Mas se deixar de comungar, o padre-diretor descobre tudo, vou ser castigado." Ele então me tranqüilizou, invocando o segredo confessional, me absolveu e pude receber a comunhão. Pois muito bem: no mesmo dia todo mundo sabia que tinha sido eu e eu era suspenso do colégio. O homem respirou fundo e acrescentou, irritado:
-- Como é que o senhor quer que eu ainda tenha fé nessa espécie de gente?
Ovalle ouvia calado, os olhos perdidos na amplidão do mar. Sem se voltar para o outro, comentou:
-- O senhor, certamente, achou que o confessor saiu dali e foi direitinho contar ao diretor.
-- Isso mesmo. Foi o que aconteceu.
-- O vinho era bom?
-- Como?
-- Pergunto se o senhor achou o vinho bom.
O homem sorriu, intrigado:
-- Creio que sim. Tanto tempo, não me lembro mais... Mas devia ser: vinho de missa!
Então Ovalle se voltou para o homem, ergueu o punho com veemência:
-- E o senhor, depois de beber o seu bom vinho de missa, me passa trinta anos acreditando nessa asneira? O homem o olhava, boquiaberto:
-- Asneira? Que asneira?
-- Será possível que ainda não percebeu? Foi o barbeiro, idiota!
-- O barbeiro? -- balbuciou o outro:
-- É verdade... O barbeiro! Como é que na época não me ocorreu...
-- Vamos para a missa -- ordenou Ovalle, tomando-o pelo braço.

Fernando Sabino

quinta-feira, 22 de março de 2012

Crônica do dia

A aluna Vó Cacilda descreve, de maneira belíssima, um lugar que não chegou a conhecer. Lindo! Boa leitura!

A excursão

Um grupo de amigas viajou para o Pará, a fim de conhecer o que os paraenses chamam de Praia de Marabá.
Contaram que estiveram num determinado trecho do rio Tocantins, que atravessa a cidade de Marabá, e se encantaram com o que foi visto: um lugar belíssimo!
Souberam pelos moradores do lugar, que, no tempo da seca, quando as chuvas são escassas, o nível das águas do rio desce muito, formando, em suas margens, bancos de areia e pequenos lagos.
A correnteza das águas no centro do rio é forte e perigosa, até mesmo para os pescadores, que estão acostumados a enfrentar, com seus barcos, a força dessas águas. Nas margens a água é lenta e bem rasa, onde as crianças podem brincar e catar pedrinhas, sem perigo.
Falaram também que, em redor de toda orla, de um lado as matas e, ao centro, as águas do rio, formam um cenário deslumbrante.
E eu... lamentavelmente, por motivo de saúde, não pude participar dessa linda viagem. Era um passeio que eu sonhava, mas no dia não pude ir.
Na vida aparecem oportunidades que às vezes não conseguimos segurar.