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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Crônica do dia

Hoje temos a crônica da aluna Maria Lucia em que discorre com humor sobre o papel da Ciência. Boa leitura! 

Enganadores da morte

Os primeiros enganadores da morte surgiram no Egito. Eles aprenderam muito ao abrirem os corpos dos faraós para retirar as vísceras e mumificá-los. Eles adquiriam informações sobre a anatomia humana e percebiam diferenças entre, por exemplo, um pulmão não fumante de um fumante e outros órgãos doentes. Os gregos estudavam os sintomas das doenças, de lá veio o pai dos enganadores: Hipócrates. Durante a Idade Média, a Igreja que só queria saber da alma, apoiou a morte ao impedir os estudos dos enganadores da morte. Mas após esse período “negro” a cada século surgiam novas descobertas para enganas a morte.
Um dos que muito contribuíram foi Alexandre Fleming, desenvolvendo o primeiro antibiótico, a Penicilina. Ele observou que as bactérias não se desenvolviam na presença de um tido de fungo – fungo enganador. A partir daí, surgiram muitos outros antibióticos, isto é, enganadores da pneumonia, sífilis, meningite, tuberculose etc.
Hoje os aparelhos eletrônicos hospitalares fornecem informações importantes que ajudam a enganar a morte e a vida continua.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Crônica do dia

Para a quarta feira temos  o texto da aluna Honorina que nos conta sobre uma cena que presenciou na época do Natal comprovando o amor das pessoas pelos mais necessitados, animais e sua sensibilidade a data tão especial. DIVIRTAM-SE!       

O valor do natal

Certo dia do mês de dezembro, eu fui visitar um amiga. Logo que peguei o ônibus, passando em frente de um bar, vejo um rapaz com um gorro de Papai Noel, desses bem humildes que fazem carreto (carrinho de mão) dando comida para seu cachorro, preso por uma corda no carrinho. O que chamou minha atenção foi o vermelho da cabeça. Ele estava co  tanto carinho, que eu fiquei emocionada pela cena. 
Nesse momento, passou um filme em minha cabeça. Às vezes as pessoas são mais carinhosas com os animais, e não com os humanos.
Muitas vezes não são percebidos, e ignorados pelas condições em que vivem. Eu sempre penso muito quando vejo essas cenas. Poderiam ter sido grandes, intelectuais, ricos ou pobres mesmo, que perderam tudo, até a família, e entregaram-se a mendigar, roubar e ao vício das drogas, que predomina nas gerações.
Vivem como podem a espera de uma oportunidade, sem amigos, parentes, às vezes não sabem se ainda têm. Mas sempre encontram um coração generoso, que lhes dá comidas, e até para o cachorro, com certeza é seu melhor amigo naquele momento. Há também aqueles que não aceitam ajuda, preferem ficar ao relento, amedrontando as pessoas. 
Eu tive essa imagem de uma pessoa calma, e carinhosa com o seu cão. 
Cada um vive como pode. Eu espero que Deus o ilumine, a encontrar alguém que lhe dê uma oportunidade, para melhorar sua vida. 
Mesmo nas condições que está vivendo, não perdeu o espírito natalino, isso que achei bonito, esse sentimento de amor e carinho. O Menino Jesus, com certeza, já o iluminou pelo gesto nobre com o seu melhor amigo (o cão). Isso que é importante nas pessoas, esse gesto de amor, não só no Natal, mas que seja por toda vida.
Eu nunca mais vi esse rapaz, talvez agora chegando o Natal ele apareça, com o gorro de Papai Noel na cabela. Assim o espero.
A humanidade cada vez mais está perdendo esse amor, o que pé lamentável. Vamos ter mais amor a todos, cada um, fazendo a sua parte.

Honorina                                                      

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Crônica do dia

Para a terça feira, temos hoje o texto da aluna Isaura que encerra com versos feitos por ela para demonstrar a gratidão com a oficina e com a UNATI por essa oportunidade. Além do seu texto que fala sobre sua experiência na Oficina de Crônicas. DIVIRTAM-SE!   

Mais um ano que termina 

Chegamos ao término de mais um ano, com a certeza de que sentiremos saudades dessa convivência de amizade. 
Cada qual com seu estilo, criamos, lemos e escrevemos as mais interessantes crônicas, e com vontade de mais escrever.
Quero falar da minha satisfação em fazer parte deste grupo bem entrosado.
Foi um muito proveitoso. Também não poderia ser diferente, pois com os professores que temos; Eles nos fazem sentir como se fôssemos todos jovens também, nos são muito queridos.
De meus colegas e amigos só posso falar bem. 
Todos nós sentiremos, com certeza a falta das "tiradas" inteligentes do Homero. Mas , se Deus quiser, para o próximo ano nos reuniremos novamente 
Desejo feliz Natal e próspero Ano Novo a todos e seus familiares.

A UNATI agradeço comovida
A oportunidade que dá
Aos jovens da terceira idade,
Para vivermos melhor a vida.

Isaura                  

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Crônica do dia

Para começarmos a semana, temos o texto da aluna Ney sobre as atividades da Oficina durante o ano de 2011, todos os benefícios por ela proporcionados em sua vida e junto com isso tudo o seu agradecimento aos professores e colegas pelo incentivo. DIVIRTAM-SE!       

Agradecimento ...

Hoje é o dia do término da Oficina de Crônicas, faremos nossa confraternização, nos reuniremos para compartilhar nossa alegria em conseguirmos estar juntos este ano, 2011, fazendo mais uma história em nossas vidas. Alegria de compartilhar uns com os outros nossas experiências em escrever. Nossos professores nos ensinando e entusiasmando com suas ideias, fazendo com que nossas mentes estivessem sempre ativas aos acontecimentos do dia a dia e aprimorando nossa cultura na literatura.
Para mim foi um grande desafio, pois eu sempre fui ligada a vida de minha família, passei a ver tudo com mais clareza. Embora com meus 66 anos, não me atrevia a falar sobre assuntos vivi na vida familiar, no meu trabalho, não me  metia em assuntos que achava não saber falar. Foi aqui que conheci a singular bravura de desprender-me de meus próprios preconceitos. 
Oficina de Crônicas, você com seus professores, mestres em estimular nossas mentes para entrarem em movimento crescente em descrever aquilo que está escondido no pensamento de cada um de nós, encontrando uma forma de expressar sua visão dentro do proposto, uma mistura de ideias, diversas atingindo aquilo que é comum para todos. 
Agradeço a UNATI em promover essa Oficina, que nos traz alegrias, conhecimentos não só literário, mas participação com colegas, socializando a vida na terceira idade. 
Obrigada professores e colegas em compartilhar comigo crônicas que não sabia escrever, tentando trazer para mim e para vocês momentos de alegria e emoção.
Viva a Oficina de Crônicas ! Viva...
Um Feliz Natal, um Ano Novo com muita saúde, harmonia e muitas alegrias. Que ano que vem estaremos  juntos novamente com esse professores amigos.

Ney Bretas                                

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Crônica do dia

Continuando com as postagens temos hoje o texto da aluna Nice que nos fala de sua relação com os livros e a importância deles em sua vida. DIVIRTAM-SE! 

O Livro

A história contada pela escritora Clarice, destacando o livro como ponto básico do desenrolar dos acontecimentos, deixa clara a importância que ele tem para cada um de nós.
Fiquei me lembrando da minha infância. Com 8 anos, já alfabetizada, adorava folhear livros de histórias.
Minha alegria era receber de presente um livro, o que meus pais sempre faziam.
Já na Escola Normal,eu procurava a Biblioteca nos tempos vagos para ler e levar para casa um livro. Lia de tudo; romances, contos policiais, versos. A coleção de Cronin eu li toda na época. 
Gostava muito de ler a noite esquecendo até da hora, vendo minha mãe mandando eu dormnir que já era tarde.
Neste fim de semana, por motivo de pintura dos quartos, tivemos que esvaziar móveis e estantes. 
Quando pegava os livros começava a folheá-los, recordando as histórias, os fatos, as gravuras, tudo esquecido nos armários. 
Comentei até com minha filha o valor daqueles livros, que ninguém dava importância. 
Aí ela me lembrou que lendo e folheando os livros não terminaríamos tão cedo a arrumação.
Como é valioso um livro, pois com ele aprendendo a entender os acontecimentos no decorrer de nossa vida.

Nice                   

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Crônica do Dia

E na nossa quarta feira com mais uma postagem, temos hoje a crônica do aluno Homero que nos conta que um livro pode ser tudo o que quisermos, por exemplo  uma arma, um grande amigo ou até um pomo da discórdia. DIVIRTAM-SE!  

O Clandestino de uma Felicidade 

Quando Deus liberou o mundo, para que nele fosse instalada toda essa massa de arruinados e apropriadores de espaços de terra sem dono. Umas desde muito cedo até desproporcionais em relação ao resto de tamanho moderado, como que se não bastasse a desproporção entre praticamente o resto, aquele imenso espaço. Nasciam em toda parte ervas desconhecidas, sem virtudes para o uso, como alimentou, ou mesmo para a ornamentação, mas a verdade é que nasciam ali como que se convidadas houvessem sido. Mas que muito pouco daquilo era aproveitado.
Só que no primeiro aniversário de toda aquela mistura de coisas, alguém certamente com a experiência lá de onde hajam vindo. Nunca se sabe realmente de onde terá vindo todo esse complexo emaranhado, não se sabendo o valor, se é que tem valor a ser mensurado, por não haver referência em nada. Mesmo que se vire ao avesso, nada será encontrado que sugira ou possa dar a menor ideia sobre a data natalícia e saudade.
Mas que talento tinha aquilo tudo para a crueldade. Bastava um pequeno arranhão para que a infecção impiedosa ali estivesse, havendo vários casos de quedas de árvores aparentemente saudáveis, mas sem que despencassem. Como que se aquele desajeitado espaço devesse ser odiado por seu aspecto discrepante de todo o resto, com o contexto de toda aquela região.
Mas que enfim chegou o dia do levantamento aerométrico da região e, sabe-se lá que por cargas d'água a região haja sido contemplada com a visita de agrimensor, meio desajustado, ou quem sabe com o QI acima dos demais e por seu trabalho naquela parte que, para todos, nada servia, de uma hora para outra, passou a um escalão especial, graças ao trabalho feito por aquele atrevido profissional que produzira um livro volumoso a respeito de sua tese; era um livro de se ficar vivendo com ele, devorando-o. Mas muito acima de custos normais para aquilo que habitualmente se poderia pagar por um livro.
Olhando bem para aquele volume do livro, dava para pensar como seria ele, nas mãos daqueles que não podem ver um livro e por essa razão ficam sem saber o que fazer ao descobrir um livro com tal aspecto? O livro parecia ter algo de secreto e ao mesmo tempo satânico, deixando todo aquele que desejo tê-lo para saciar aquele desejo parece ir ficando mais remota a oportunidade de uma resposta favorável, ou quem de uma promessa de alguém que haja lido o referido objeto de desejo. O pior é que não se sabe, por quanto tempo esse desejo terá que ser sustentado. 
O tempo foi passando até que um dia o autor do livro, estranho que esse seguisse na prateleira da livraria, sem que ninguém se interessasse por ele e resolveu saber a razão, entrando ele mesmo no ciclo da livraria ao público e ficou sabendo que jamais o livro fora exposto em vista de colegas seus do departamento de pesquisas enciumados com a beleza da obra e principalmente o conteúdo literário impediram que o livro pudesse chegar as mãos do público. E só aí, ao descobrir toda a trama, promoveu uma tarde de autógrafos, distribuindo gratuitamente o livro como vingança aos colegas invejosos .
É com esse ato corajoso que o livro vai ganhando o mundo batendo os recordes de venda e com isso compensando a distribuição grátis em muito. E com isso aquele pedação de terra desajeitado passou aos olhos do mundo, com a denominação de O Clandestino de uma Feliz Cidade.

Homero                        

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Crônica do dia

Hoje a crônica da aluna Stella nos mostra algumas igrejas com um estilo não muito comum e uma personagem com um gosto também muito esquisito. Boa leitura!

Humor macabro

Estava Laura passeando pela Europa, precisamente em Roma e deveria, para regularização de seu passaporte, ir à Embaixada dos Estados Unidos, que se situava na famosa Via Veneto!
Depois que resolveu tudo, decidiu passear pela avenida mais famosa de Roma. Tomou um café e sentiu-se toda orgulhosa ao fazê-lo, pois, à sua volta, via caras de celebridades conhecidas e sorria para que elas lhe sorrissem também. Que honra! Até parecia que ela era uma brasileira famosa.
Andou, andou e deparou-se com uma igreja linda (soube depois que era a de Nossa Senhora da Conceição dos Capuchinhos). Entrou, rezou e viu uma seta indicando uma porta que ia para a cripta subterrânea. Qual não foi a sua surpresa quando viu uma linda capela toda enfeitada! Chegando mais perto, viu que os enfeites eram ossos (especialmente crânios). Soube então que eram ossos de freiras, ali colocados entre 1500 e 1870, numa arquitetura barroca e rococó.
Quando saiu, reparou que havia três esqueletos completos no portão de entrada. Conversando com um padre, soube que essa capela servira de inspiração para uma das obras do Marquês de Sade (e não era para menos...).
O frei disse-lhe também que esta não era a única capela desse estilo no mundo. Existe uma em Milão (igreja de São Bernardino alle Ossa), outra em Kutna Hora, cidade tcheca (com ossos de 70000 pessoas leigas), outra na Polônia (com ossos de combatentes mortos em guerras desde 1176), outra em Évora, Portugal, e ainda outra na América do Sul (mosteiro de São Francisco, em Lima, Peru).
Se vocês conhecerem alguma igreja nesse estilo macabro aqui no Brasil, por favor, avisem Laura, que, depois da viagem à Europa, ficou interessadíssima no assunto e deseja muito visitar algo semelhante aqui neste nosso Brasil.
Com a ditadura e os atuais traficantes, é possível que ela possa realizar o seu desejo macabro!...

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Crônica do dia

Iniciando a semana, temos a crônica da aluna Isaura, em que nos conta um caso de família muito conturbado e reflete sobre a maldade do ser humano. Boa leitura!

O mal da maldade

A maldade tem suas facetas. Desde as agressões físicas, verbais e invenções de acontecimentos.
Lendo o conto de Clarice Lispector, lembrei-me de um fato acontecido com uma amiga. O filho engravidou uma moça e quis, mesmo ganhando pouco, assumir e foram morar juntos. A mãe dele tinha uma pequena casa de vila no subúrbio e eles foram morar lá. Aí começou o inferno para o rapaz. A moça era muito temperamental e, embora sabendo do baixo salário do companheiro, reclamava de tudo. Ele trabalhava à noite como porteiro, e de dia ajudava no serviço de casa e olhava o filho. Entre tapas e beijos, tiveram três filhos.
Ela não chegava a casa no horário combinado para que ele saísse para o trabalho. Até que ele, devido aos atrasos, foi despedido. Enquanto não conseguia outro emprego, ele vendia coco, empalhava cadeiras etc.
Vou dar um tempo e pular algumas maldades para não me alongar.
Uma ocasião, queimou a camisa do time dele e jogou-lhe no rosto, que, queimado, teve que ir ao pronto-socorro. Em outra oportunidade, gritava por socorro dizendo que ele a queria matar, gravando tudo no celular. A sorte, ou melhor, a Providência Divina intuiu o vizinho que, ouvindo os gritos, se chegou para oferecer seus préstimos. Encontrou o rapaz na sala embaixo, e ela gritando lá em cima.
Em janeiro deste ano, ela saiu de casa levando os filhos. Ele não sabe onde ela foi parar e não mais viu os filhos.
E pensar que tudo isso aconteceu por ele ganhar pouco, mesmo com emprego.
Há maldade maior? É claro que sempre há.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Crônica do dia

Terminando a semana, postamos a crônica do aluno Samuel, em que trata sobre como lidar com a morte. Boa leitura!

O júbilo da morte 

A civilização ocidental encara o processo natural da morte, como algo extremamente doloroso, de grande tristeza e tenebroso. Diferentemente, muitos outros povos, como os do Oriente, os nativos americanos, pensam e sentem o oposto. 
Pelas nossas tradições ocidentais, herdeiras da cultura hebraico-cristã, torna-se difícil, pela não compreensão profunda do assunto, lidar com o fenômeno da morte física. Este fato é impossível de ser aceito, por exemplo, por uma mãe que perde um filho - carne de sua carne, sangue de seu sangue. Porque esquecem e, principalmente, porque desconhecem a transformação da matéria em energia, a qual é eterna, passam por aflição que lhes abate o ânimo e o desejo de viver, manifestando uma ilusória derrocada da vida, como se fosse um fim absoluto. 
Porém, a vida continua: nos que sobrevivem e nos que estão a chegar. 
Aquelas outras culturas abordam o assunto com leveza e sentimento elevado, sabendo da continuidade da existência como um todo. Ao corpo morto dão a atenção restrita ao necessário, ou seja, honrá-lo com um enterro ou com uma cremação, simplesmente. Também honram a memória de seus antepassados, com cerimônias de culto aos mortos, que podem se nos apresentar como uma visita aos túmulos em épocas apropriadas, ou festejando, em certas ocasiões, coletivamente. 
No extremo oriente, as famílias têm em suas residências um local próprio, tal qual um nicho, onde colocam fotos ou objetos pertencentes àqueles que partiram, onde acendem uma vela ou ligam uma lâmpada para iluminar, com reverência de gestos e de preces para com seus entes queridos, que já não estão entre nós. É sempre uma lembrança que mantém viva a consciência da eternidade. 
Interessante sabermos que há, na Índia, uma seita religiosa que comemora de um modo invertido o nascimento e a morte. Quando nasce uma criança, fazem uma lamentação e vestem-se de roupas escuras. Quando ocorre um falecimento, cantam e dançam com uma alegria contagiante e vestem-se de roupas claras, de preferência usando o branco. Alegam que quando alguém nasce é porque morreu no além; e quando alguém falece é porque renasce em outra dimensão. E, assim, a vida continua ininterruptamente... 
Nas culturas nativo-americanas, a consideração com o corpo físico é muito relativa. Eles têm uma noção latente da continuidade existencial. Logo, o que possa acontecer com o cadáver é o que tem a menor importância. Quando abatiam um inimigo valoroso, comiam da sua carne para absorver a energia do valente guerreiro – assim eram suas crenças. Fora isso, também festejava o falecimento dos de sua própria tribo, com rituais respeitosos. 
A popularização das festas dos mortos originou-se de uma mescla das duas culturas, mediante a introdução da catequese católica pelos colonizadores europeus. Nestas festas, amalgamam-se o sagrado e o profano. Desde que predomine a conduta dos nativos, ocorre uma alegria contagiante com o tema da morte. Muitas são as brincadeiras e as comilanças. E assim é que tem que ser... 
Devemos tirar lições dessas atividades sociais, porque a vida não termina com a morte do corpo - esta é simplesmente uma transformação. Assim como com uma semente que tem a aparência de coisa morta, dali surge a vida que é sagrada e preciosa. Decompõe-se a matéria - dito corpo físico - e liberta-se a energia eterna consciente e inteligente, que os antepassados denominavam como a alma. 
Em nossa sociedade, de culturas diversificadas, ainda que um falecimento redunde em lamentações de carpideiras, também predomina, bem lá fundo de nossas mentes, uma subconsciência da eternidade do Ser. Oriunda do nosso meio popular, lembremo-nos da música do nosso poeta Noel Rosa, cujos versos manifestam tal crença em outras realidades: 
“Quando eu morrer, não quero choro nem vela, 
Quero uma fita amarela gravada com o nome dela. 
Se existe alma, se há outra encarnação, 
Eu queria que a mulata sapateasse no meu caixão”. 
Etc. 
Por isso mesmo, deixemos a tristeza para lá após o choque inicial de uma separação, que nos surpreende com o inesperado ou com a interrupção de uma esperança de recuperação, talvez não permitida pelo Equilíbrio Universal, o qual é Onisciente. A aceitação do fato nos traz uma grande e profunda Paz. 
O melhor é manter em nossas mentes e em nossos corações simbólicos as boas lembranças dos nossos entes queridos, que partiram antes de nós, e tenhamos certeza e fé de que eles nos aguardam. Tenhamos sempre para com eles bons e alegres pensamentos, com agradecimentos. 
Justifica-se comemorar com grande júbilo a festa dedicada aos que transporem os portais interdimensionais, pois a Eternidade nos envolve como uma realidade inegável e absoluta. 

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

AVISO

Dia 23/11 (quarta-feira) será o último dia da nossa Oficina de Crônicas. Faremos uma pequena confraternização ao fim da aula, avaliaremos o nosso semestre e teremos uma pequena surpresa para os alunos. Contamos com a presença de todos!

Equipe LerUERJ.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Para hoje temos o texto da aluna Isaura que fala sobre as suas impressões sobre o dia de finados no México e em outras culturas. DIVIRTAM-SE!

Dia de Finados 

Em todo o mundo comemora-se o dia de finados que é no dia dois de novembro.
Porém, cada país tem suas tradições, costumes e hábitos. Achei muito interessante as homenagens no México.
Assistindo a um programa de curiosidades, chamou a minha atenção, o modo como é comemorado o dia de finados no México. Em todos os cemitérios, principalmente os do Distrito Federal, que tem mais atrações para os turistas e curiosos. Fazem verdadeiras festas para oferecer aos seus falecidos. Pintam as sepulturas com cores fortes e cobrem as partes de cima com bastante flores amarelas. Fazem pães especiais chamados "Pão dos Mortos", doces como chocolates com o formato de caixões e caveirinhas, e máscaras para serem usadas no dia. Tem muita música, dança e a festa vai até de madrugada, à luz de bastante velas. 
É um acontecimento muito bom para o comércio. As lojas vendem roupas de caveira e máscaras, etc.
Eu acho as comemorações no México, bem melhores que aqui, pois devemos lembrar os nossos falecidos com saudade e não com tristeza. 
O dia de todos os santos lá comemorado é chamado  o dia dos santos inocentes e começam os preparativos em outubro com bastante antecedência. Os falecidos se sentem como no tempo de sua existência terrestre.

Isaura                        

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Crônica do dia

Em mais um dia de postagem, temos hoje o texto da aluna Ney que nos emocionou muito e que fala  sobre nós professores e de nosso trabalho desenvolvido. EMOCIONEM-SE!                                         

Feliz dia do Mestre...

Ao ler as crônicas postadas pelo dia do mestre no "LerUERJ", senti uma alegria grande em saber quanto fazemos bem a esses professores. Ao ouvir dizer que aprendem conosco, fiquei muito feliz com essa mensagem. Nós viemos aqui para conseguir melhorar a nossa vida. Viemos para para começar a deixar para trás as coisas mais corriqueiras, incentivarem nossa memória, enriquecer nossa existência, caminhar nas vindas para a UNATI, mesmo com chuva encontrar e conviver com outros colegas, temos fome nesta idade de aprender mais, estamos lendo, pensando, tornando nossos passados escondidos desnudados. Nesse momento é que mostramos nossas histórias, nossos desejos que foram concretizados, nossos exemplos na prática de profissões diversas, no tempo que vivemos ensinando aos nossos filhos, e aprendendo com eles tantas coisas que não percebíamos.
Estes metres em aprendizagem estão nos ensinando e mostrando quanto temos em nossas mãos ferramentas que podemos utilizar para nos expressar nas dificuldades do nosso estado, do nosso país, em nossa  vida própria. Contando relatos acontecidos, às vezes inventados procurando nos fazer buscar palavras de desencanto e de muita alegria, crônicas que nos fazem refletir que as famílias, a política, a democracia não são perfeitas, mas o que me consola é que no meio disto tudo existe alguém que quer melhorar e enriquecer a nossa existência.
Meus professores, vocês ensinaram nas aulas de literatura esta vovó a ver como um mundo fica tão lindo fica melhor se tiver alguém para falar como vocês, para nos ensinar. 
Obrigada, queridos, sejam sempre assim professores, mas seres humanos alegres, amorosos, e cuidadosos para conosco.

Ney Bretas Neves                         

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Continuando mais um dia de postagens, temos hoje o texto da aluna Stella sobre a família e todos os seus casos quando se encontram. DIVIRTAM-SE!    

Família

Como é bom ter família e, ao mesmo tempo, como são difíceis os relacionamentos familiares.
Quando se tem um amigo, geralmente, ele foi escolhido pela afinidade, em algum setor da vida, seja estudo, trabalho etc. Família, porém, não se escolhe, mas tem-se a certeza de poder contar com ela em alguma dificuldade. Os amigos também.
Existem as velhas e conhecidas rixas: sogra x nora; cunhado x cunhada; irmão x irmã - todas, motivo de anedotas! E por aí vai...
Clarice Lispector soube magistralmente discorrer sobre os problemas familiares nesse seu conto "Feliz Aniversário", do livro "Laços de Família".
Abordou diversos tópicos, mas o principal deles foi o conflito de gerações. É interessante como os mais novos tratam os mais idosos como se eles fossem surdos, não ouvissem e nem entendessem nada.
Certamente, o velho ditado diz: "o velho volta a ser criança".
Numa reunião de aniversário, são as crianças, autênticas, correndo de lá para cá, as mulheres trocando farpas e falando de moda, fofocando e, os homens, isolando-se como se estivessem numa arquibancada de estádio, falando de seus esportes favoritos. E haja cerveja!... Alguns não bebem, mas a razão é, certamente, a Lei Seca!
Na hora da saída, despedem-se todos, muitos com lágrimas nos olhos (fingidas? não sei) e os donos da casa ficam para limpar tudo, inclusive, procurar mais improváveis cantos, aquela empada que o neto "capeta" colocou enfiada no assento de uma poltrona.
E viva a família! Que viva com união, amor, alegria e que sempre pense no dia em que chegará à idade do vovô ou da vovó. Se não chegar, é porque já se foi cedo para o outro Reino...
E viva a família!

Stella Maria      

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Crônica do dia

Terminando a semana, a bela crônica da aluna Ney, em que ela fala do que gostaria de ter sido e do que é. Boa leitura!

Quem seria eu...

Lembranças da minha infância, eram bem alegres quando me via molhando a horta da vovó, jogando água fora do portão, respingando as pessoas que passavam, isto porque suas plantações ficavam no jardim da frente da casa. Eu me divertia sempre, levava um pito por fazer aquilo. No quintal tinha um galinheiro, onde também ajudava a dar milho para o galo nervoso correndo atrás de suas galinhas gorjeadoras, e os pintinhos que coisa linda! amarelinhos, fugitivos, medrosos. Ajudava a lavar louças, varrer quintal, sabia de minhas obrigações, não gostava de deixar de fazer nada, para depois brincar.
Divertíamos, correndo pra lá e pra cá, entre os lençóis brancos de minha vó, enxaguados com anil, para dar uma cor alva. Era lá com meus seis anos, brincava com irmã Nilda, mais nova três anos que eu. Vovó gritava "sai daí, meninas arteiras, vai sujar minha roupa", nós saíamos dali correndo prontas para levar palmadas pela arte. Íamos direto para o quarto, onde morávamos, lá ficávamos quietinhas, com minha outra Norma que era de colo. Ela gritava "fica aí, não saiam senão pego vocês". Vó Luiza tinha razão, tinha que enxaguar de novo os lençóis.
Havia uma janela no quarto da frente, onde moravam dois senhores. Eles saíam para trabalhar. Lá ia eu arrumar. Eles tinham um rádio, nele eu ligava na Rádio Ministério da Educação. Sintonizava, era hora das músicas clássicas, as de piano eram minhas preferidas. Então depois da tarefa, ia eu para frente da tal janela, e fingia estar tocando piano no beiral. Olhava para fora e via as pessoas, e pensando com meus botões estou dando um conserto para elas. Que fantasia, queria ser pianista.
Mai tarde, fui estudar no colégio da igreja do Bom Jesus da Penha, consegui uma bolsa, morava pertinho, numa rua transversal. Fiz meu jardim de infância e primeiro ano, lá fui batizada, crismada, e também o catecismo. Com tanto padre e freira, fiquei apaixonada pela religião. Nos credos, nas obrigações religiosas, ajudava em tudo que podia, menina prestativa. Aí pensei quando crescer quero ser freira!
Aos nove anos, mudamos para o conjunto da Light, na Penha Circular. Meu pai trabalhou duro para conseguir esta casinha de dois quartos, sala cozinha, banheiro, tudo só para nós cinco.
Estudei meu primário no colégio público Mario Barreto, pertinho da minha casa. Lá conheci meu primeiro amor, Luiz Antonio, garoto moreninho, muito meu amiguinho, ele nunca soube que eu era apaixonada, bastava estar perto, de segunda a sexta. As tias Maria do Carmo, uma senhora muito compreensiva, sabia ensinar, Solange, Ilma, que moças lindas, cheias de entusiasmos, faziam sempre nas comemorações, ensaios teatrais, as datas não eram esquecidas nunca. Olhava para elas, queria ser também professora quando crescer.
Olho para trás, não fui nada que sonhei, mas aprendi tanto, fui uma filha presente na velhice dos meus pais, fui esposa zelosa para minha família, sou e serei sempre a mãe de todas horas para meus filhos Glaucio e Flavio.
Hoje não vejo nenhuma tristeza, a minha vida está completa, com minha família unida, na UNATI, nas diversões, na aposentadoria, no que eu possa vir a fazer em prol do próximo. Não sou um espelho de grandeza, mas procuro ser melhor que ontem. Obrigado, meus colegas e professores, por mais uma vez ouvir  minha história.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Crônica do dia

Hoje, a crônica da aluna Honorina, em que nos relata o que lhe aconteceu em 2004, no cemitério de Inhaúma. Boa leitura!

Cenas reais do Cemitério de Inhaúma

Eu já tinha lido uma crônica de Lima Barreto, falando sobre enterros no Cemitério de Inhaúma. Ele conta que o defunto foi cuspido do caixão quando era conduzido para o cemitério, devida à estrada ruim, e que o morto estava vivo, ficou muito irritado por ter voltado ao mundo dos vivos, querendo processar quem o tinha trazido de volta.
Outro  caso que o autor relata é a do enterro do Felisberto Catarino, que por ser muito querido, todos o queriam levar à última morada. Como era muito distante, durante o cortejo, em todo bar por que passavam, paravam para tomar um trago e deixavam o morto na beira da estrada, aconteceu que ficaram bêbados e perderam o defunto, só quando chegaram ao Campo Santo, que sentiram sua falta e voltaram para procurar. Isso ocorreu em 1922. Entretanto, agora, em 2004, presenciei um fato muito cômico, também no cemitério de Inhaúma, o qual posso relatar.
Por volta das 14:30 horas, todos reunidos para as despedidas do corpo, como é de praxe. Ele era marido de uma colega de trabalho. Na hora de carregar o caixão, para o carro que levaria à sepultura, houve um grande tumulto, eu pensei que era assalto, pois estava acontecendo muito assalto em velórios. Houve correrias, gritos e um grande barulho, eu imaginei serem tiros, fiquei apavorada. Então eu e minha supervisora corremos e entramos no banheiro dos homens, e saímos rápido, tendo impressão de que estavam nos seguindo, me perdi dela, corri até o final das salas e tinha outro defunto sendo velado. Só havia uma moça, eu entrei e sentei-me no banco, fiquei imóvel, não consegui levantar com uma dor na coluna de nervoso. Nesse momento de aflição, olho para cima e vejo uma imagem de São Jorge, eu começo a pedir que me tirasse dessa angústia. Garanto que, se aquela confusão chegasse até ali, eu abraçaria o caixão naquele momento. Só havia uma moça na sala e que na hora saiu para ver o que estava acontecendo. Logo que diminuiu a confusão, eu perguntei à moça o que tinha acontecido. Ela respondeu que era briga de família. Quando parou, eu saí e vi o irmão e o pai da minha colega feridos, rasgados, um sem camisa, vasos quebrados... E o caixão estava dividido entre o carro e o chão, foi horrível. Eu consegui passar e saí rápido, de volta para casa. De repente, vem minha colega (a viúva) com o filho caçula, em passos largos, até me assustei, achei que nem sepultaram o defunto, passaram por mim rápidos, e sumiram. Eu estava nervosa, pois não vinha o ônibus, o tempo fechado, já escurecendo, parecia que era outro mundo. Eu tive vontade de pegar um táxi, mas no momento só tinha vale transporte, pensei em pegar, e em casa pagar, mas finalmente o ônibus 360 apareceu.
Quando passei em frente à capela, não havia mais nada, respirei aliviada. Quanto a minha supervisora, só nos encontramos no dia seguinte, no trabalho. Aquele lugar me deu uma sensação horrível.
Chegando a casa, tomei um chá de camomila bem forte, para acalmar os nervos e esquecer aquele episódio... Aconteceu em 2004.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Crônica do dia

Em mais um dia de postagem, temos o texto da aluna Isaura que nos conta sobre uma comemoração de aniversário que não teve lá tanto sucesso. DIVIRTAM-SE!   

Festa de aniversário


Familiares, parentes e alguns amigos iam chegando para comemorarmos juntos os noventa anos de vida da mamãe. A memória falhando muito. Já não tinha firmeza nas pernas e também era muito impaciente. Os convidados chegando, a sala, embora grande, tornou-se pequena. Parentes que há tempos não via, ela perguntava quem eram.
Mamãe sentada, em sua poltrona cativa, parecia feliz sorrindo muito e respondendo às perguntas que lhes eram feitas.
Mas, à medida que iam chegando mais pessoas, ela se agitava e querendo ir para seu quarto. Os netos muito chegados a ela, para distraí-la e dar tempo para cantar: "Parabéns", pediam para ela rezar a Ave Maria e o Pai Nosso em árabe, para saber se ela ainda se lembrava. Claro que não se lembrou.
Em dado momento, ouviu-se grade barulho!
Não podia ser coisa pior!
Uma das crianças correndo, correndo, caiu e segurou-se na toalha da mesa que já estava arrumada inclusive, o bolo enfeitado. Enfim o caos, pois foi tudo parar no chão com doces, bolo e salgadinhos espalhados por todo lado.
Mamãe, com o tumulto formado pelo incidente, passou mal, e agitada quis ir para seu quarto. Assim terminou a festa, sem "Parabéns para você" e sem apagar as velinhas.

Isaura                
  
 

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Crônica do dia

Para começarmos a semana, temos a crônica do aluno Homero que nos conta a semelhança de alguns fatos e acontecimentos que ocorrem no texto de Clarice Lispector e a realidade brasileira. DIVIRTAM-SE   


Os grandes relatos de Clarice Lispector

Por mais que seja o relato de um escrito, buscado ali, no dia a dia, no berço da família, ele ficará a  dever o essencial da matéria, a razão que nos leve a tal pugna. A parte espiritual dessa cobrança. Sim, porque nada nessa vida é cobrado de nós sem que tenhamos culpa nesse cartório. 
Se já nos tivesse sido facultada as razões que nos trazem ao convívio terreno de preferência, no seio da família, onde esse convívio é mais íntimo e o nosso espaço pessoal fica muito restrito. Muitas vezes, até totalmente devassável exatamente para que não tenhamos que esconder os nossos defeitos de nossos pais e irmãos em decorrência de ali estarmos exatamente, para aquele momento, de aferimento do nosso íntimo, do nosso interior.
Indefeso, respondemos com malcriação, com rebeldia e muitas vezes fugindo de casa até para morar na rua ou muito longe daquele convívio, para fugirmos daquela exposição. 
A ausência dessa coragem para defrontar, com o ex inimigo ou com o cobrador ou devedor de vidas passadas, com que teremos que fazer os nossos acertos de contas para nos libertarmos daquela incomoda dívida deixada para trás.
Clarice, com muita competência faz esse registro com base naquilo que assistiu e testemunhou, sem que contudo tivesse acesso as razões de cada um daqueles confrontos.
Se observarmos nos acontecimentos que estamos assistindo ao vivo passando em países que já deveriam estar servindo como referência de comportamento humano, mas que vão aos limites máximos da violência e da estupidez a ponto de nos levar em nossa ingenuidade de que aquela realmente seja a receita para tais resoluções. 
Vimos no Rio de Janeiro, o assassinato de uma juíza, em pleno exercício de sua atividade profissional ao abrigo de leis ditas capazes de dar conta daquele tipo de desencontro, mas que, ao contrário desdisse tudo o que está previsto na lei do homem, para dar lugar a um problema certamente do passado entre aquela juíza e aquele oficial de polícia de quem estava sendo cobrado o não preparo de policiais desajustados para aquela atividade.
Quando se recomenda que não se deve criticar pelo fato de ao fazer uma crítica, estarmos criticando exatamente um ponto em que somos, por vezes, um devedor ainda  maior e mais perigoso que aquele a quem estamos atribuindo despreparo.
Quem sabe, aí caber daquela máxima do roto estar falando do esfarrapado? 
 É claro que temos a obrigação e o dever de agradecer a Clarice Lispector, por todo esse véu, que ela tem tem conseguido levantar, para que sem ele, diante da nossa visão, possamos ver, pelo menos, o óbvio escancarado, diante de nós. 
Pelos relatos sobre a vida em família registrados por Clarice e tantos outros escritores, dizem da vida, aquilo que realmente, aquilo que realmente os espíritas garantem não haver, a morte. 
Mas sim, uma vida terrena e uma vida no plano espiritual. Certamente, estaremos precisando que talentosos escritores, como Clarice,  venham contar para nós, como seja essa vida espiritual e as suas reais exigências de cada um de nós, já que cada um tenha que cumprir o seu mandato?
O estranho de tudo isso é essa ocultação de nossas falhas que não possam ser, por nós conhecidas, para que assim, comparadas  com vidas de gente melhor que nos sirva de espelho para que nele nos possamos nos mirar e facilitar essa nossa demorada reabilitação ou lá que que nome se possa dar, ao tal remanejar desses entulhos, morais e espirituais, para bem de todos e felicidade geral da nação.

Homero                                                                                       

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Crônica do dia

Terminamos nossa semana com a crônica da aluna Stella. Um pouco cinzenta e turva é a crônica, mas ao final podemos sentir que essa cor tristonha está mudando. Afinal, a esperança é a última que morre, assim nos lembra Stella. Boa leitura!  

Sábado cinzento

Hoje chove não uma chuva forte, mas aquela que contamina tudo e todos com seu tom cinza, penetra na nossa mente trazendo fatos tristes, negativos, que nos tornam impotentes.
O primeiro pensamento que me aparece é o da corrupção. Quando é que conseguiremos fazê-la desaparecer ou, pelo menos, amenizá-la?
O segundo pensamento é o da educação e da saúde brasileiras. Quando é que conseguiremos melhorá-las?
O terceiro é o da segurança. Brasileira? Estadual? Municipal? Quando é que o Governo lhe dará a importância devida e merecida?
Fome, seca, calamidades meteorológicas... Puxa, hoje estou cinzenta por dentro!
Apesar de tudo, tenho certeza de que a humanidade está se espiritualizando e ficando mais atenta aos detalhes. Espero que as “autoridades competentes” também se tornem mais responsáveis. Dizem que a esperança é a última que morre. Sendo assim, sinto que, aos pouquinhos, algo está mudando para melhor, é claro.
Sou otimista, mas, algumas vezes, é difícil sê-lo.
Sou fã do açúcar, natural e interno de cada pessoa. Por isso, devemos fazer o mínimo para mudar uma pequena área deste mundo enorme e eterno.
Aqui fica, pois, a minha reflexão, o meu conselho, aminha esperança de que algo desta crônica tenha tocado no coração dos colegas, dos professores e de alguém que a leia.
Otimismo, felicidade, saúde, amor, amizade, vamos cultivá-los com carinho e paciência para que o futuro possa se lembrar de nós, por tudo que fizemos.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Crônica do dia

Talvez um mundo utópico, uma ficção; mas um desejo e uma crítica aos nossos dias. Assim se mostra a crônica da aluna Maria Lucia Mizutani. Boa leitura!

De ponta cabeça

Saí de férias e, quando voltei a minha cidade, vi que as pessoas andavam de cabeça para baixo, usando as mãos na locomoção, não conseguiam sentar sem dar uma cambalhota. As mulheres e os homens com a cabeça raspada falavam as frases invertidas e, com muita dificuldade, consegui saber o que tinha acontecido: um forte furacão atravessou a cidade.
Tudo ficou complicado: cozinhar, arrumar as casas, ir para escolas e trabalho. Não havia veículos circulando, todos iam à mão.
Qualquer tarefa era feita em grupo, pois ninguém conseguia fazer nada sozinho. aos poucos reconstruíam as casas, agora todas muito mais baixas, diminuíram, cerraram os pés dos móveis, cadeiras e mesas.
A comunicação entre eles girava em torno de 30%, o essencial para tocar a vida. Não havia tempo para tristezas, brigas, era somente olhares profundos, intensos, rolando uma magia para alcançarem o objetivo da tarefa proposta.
No final do terceiro mês, notava-se um grande entrosamento, uma atmosfera de felicidade, e foi aí que apareceu a ajuda externa através dos políticos que logo designaram um novo prefeito, andante com os pés. Foi feito um plebiscito e rejeitaram o prefeito, afinal eles já estavam muito bem sem políticos.
Fundaram um novo jornal, que era distribuído grátis para todos. A posse dos acontecimentos sempre verdadeiros fez criar uma votação mensal para os objetivos (projetos) das pessoas da cidade, onde todas, sem excessão, que queriam votavam.
Sumiram completamente as classes sociais, as discriminações de qualquer tipo. Afinal todos estavam com as mesmas dificuldades, com os mesmos salários (todos participavam da decisão de aumento de salários, por exemplo, de políticos, do judiciário, legislativo etc.).
Comecei com "de ponta cabeça" e termino com "sonho do povo", ou melhor, que venha um "bom furacão".

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Crônica do Dia

A crônica a seguir foi escrita pelo aluno Samuel Kauffmann, que manifesta através dela toda a sua indignação com os governantes do nosso país. A aula que motivou a crônica abordou o tema das remoções na cidade do Rio de Janeiro, que beneficiarão a Copa e Olimpíadas, sendo ruins ao povo. Boa leitura. 

O progresso
e o sacrifício dos excluídos

Quando, em circunstâncias extraordinárias, tomamos conhecimento da opressão a que estão sujeitos milhões de compatriotas, por falta de respeito humano e das leis nacionais e internacionais, é que despertamos deste estado de torpor em que nos encontramos, como que insensibilizados pela mídia. E que nos deveria manter alertas e bem informados, com impecável profissionalismo do mais bem intencionado jornalismo, isento de qualquer falácia tendenciosa.
Então, um grito de revolta sufocado em seu nascedouro, agita o nosso emocional e o mental, consciente de nossa incapacidade momentânea de socorrer os necessitados de nosso apoio global, que estão a sofrer injustiças das mais deploráveis que um ser humano possa suportar, principalmente quando atinge o idoso, que é a destruição de seus humildes lares.
No passado, foram eles invasores de áreas urbanas ou lhes foi permitido, por políticos caçadores de votos, com promessas ilusórias, que ocupassem terrenos abandonados e/ou talvez a espera de especulação imobiliária?
Muitos possuem alguma forma de escritura registrada em cartório, até mesmo por usucapião. Mesmo assim, vê suas pequenas propriedades serem arrasadas pelas máquinas dos poderosos. E as coisas vão acontecendo abafadas, com o desconhecimento intencional das massas anestesiadas por outras atenções, sejam esportivas ou escandalosas, tal e qual no pior
período da última ditadura militar.
E a quem interessa este abuso do poder público? E exatamente na antevéspera da tão esperada e ambicionada Copa do Mundo e mais adiante as Olimpíadas em território nacional?
De repente os administradores públicos despertaram para o desenvolvimento do turismo, após décadas de esquecimento? Ou foram pressionados por corporações multinacionais em busca do lucro? Todos nós sabemos que atualmente qualquer atividade esportiva tornou-se fonte de lucros fáceis, isentos de pesadas tributações. Tais corporações não investem o seu ouro diretamente nas obras, que são executadas com o nosso erário público.
Desde a mais remota antiguidade sabemos que os ‘principais do mundo’ se reúnem em conluio contra o povo, sempre. Se nossas autoridades apoiam sem restrições as atrocidades cometidas, é porque há algum modo de participação e não por nenhum engrandecimento da pátria. Não nos enganemos, são simplesmente obras faraônicas que surgem a olhos vistos. Não proporcionam nenhum meio de defesa às vitimas. A própria defensoria publica está impedida de exercer o seu dever cívico.
Enquanto isso o saneamento, a saúde publica, a educação, a segurança, que são deveres constitucionais do estado, continuam relegados em segundo ou terceiro plano.
Onde estão as vozes das Câmaras Municipais, das Assembleias Legislativas, do Congresso Nacional, em defesa do povo que por tudo paga? Onde estão?!
A maioria de nossos políticos de origem humilde esqueceu-se de cumprir com suas promessas, de zelar por seus compatriotas, agora formando pares com os neoliberais – defensores do capitalismo selvagem, do lucro fácil e destruidor do meio-ambiente.
Despertemos irmãos compatriotas, reajamos com ímpeto varonil, cobremos dos representantes, eleitos com o nosso ingênuo voto, a mudança de comportamento
sociopolítico; seja por missivas ou falando abertamente em público. Comecemos por
incomodá-los.
Estamos todos nós envolvidos e arrolados pela globalização ‘tiranossáurica’; ainda muito longe da verdadeira globalização humanística. A classe dominante, em mutação constante, continua cega às consequências advindas de suas ações no tempo presente, não conseguindo vislumbrar o futuro sombrio que as aguarda e, principalmente, aos seus descendentes. Se possuíssem a mais ínfima partícula de energia amorosa em suas consciências, suas condutas seriam apoiadas em ações de cooperação e divisão dos excedentes com todos os humanos carentes, tanto fisicamente como espiritualmente. Contudo, no momento atual, estão imobilizados e impedidos de mudar suas atitudes, face aos grandes temores arraigados em seus corações simbólicos, em suas mentes ilusórias.
Que o silêncio dos justos seja substituído por suas vozes e envio de energias amorosas e curadoras da alma dos ‘donos do mundo’ – eles os realmente necessitados.
Agradecemos pela paciência de nos permitir manifestar a nossa mais extrema e abrangente indignação.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Crônica do dia

Hoje, uma crítica da aluna Isaura ao desrespeito que parte da população sofre pelas mudanças na nossa cidade, devido aos eventos que aqui ocorrerão. Será o Rio uma cidade maravilhosa? Boa leitura! 

O Rio que não é para todos

O Rio realmente não é para todos os cariocas, e sim para os bem aquinhoados e privilegiados.
Com tantos terrenos do estado e particulares de grande valor, por que não constroem casas populares para os menos favorecidos? E ainda querem remover cento e trinta favelas até as Olimpíadas para construírem vias rodoviárias. Onde colocarão milhares de pessoas? Vão empurrá-las para bem longe, onde não há estruturas de espécie alguma. Enfim, vão soltá-las na ruas da amargura. Uma verdadeira odisseia. E por quê? Porque o Centro e a Zona Sul precisam estar lindas para receber os visitantes.
O Rio terá, nos próximos anos, grandes eventos: Olimpíadas, Copa do Mundo, o encontro de Jovens católicos de todo o mundo e outros. E a cidade tem que estar maravilhosa para fazer jus ao nome.
Com tanta desigualdade social, é bem provável que também despejem toda a comunidade que vive desde a saída da Ilha do Governador até Benfica em favela do asfalto, para que os visitantes estrangeiros não vejam a parte feia e pobre da cidade. E pensar que, com tantos investimentos, poderiam ser construídos hospitais, escolas e moradias populares.
Será que é mesmo patriotismo, ou será para enriquecer mias a burguesia?
Como diria Boris Casoy: Isto é uma vergonha!!
Mas esta cidade que é chamada: Maravilhosa! E na verdade ela é maravilhosa; porém não é para todos que nela vivem.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Crônica do dia

Para começarmos a semana, temos hoje o texto da aluna Nice que nos conta as consequências que toda a população tem sofrido, devida as obras realizadas para os megaeventos esportivos. REFLITAM!

Copa, Olimpíada e Rio de Janeiro

Os megaeventos esportivos que irão acontecer na cidade do Rio de Janeiro levarão a cidade a realizar grandes projetos na área urbana, causando muito transtorno no trânsito. 
Jacarepaguá é um bairro cujo trânsito é muito intenso, devido a dar acesso à Barra e ao Recreio. 
O movimento de carros e ônibus é muito grande, havendo muitos sinais próximos, causando paralisação a todo momento nas vias. 
A construção da Transcarioca que passa por Madureira até a Praça Seca, vem causando engarrafamentos ininterruptos todos os dias, deixando motoristas e passageiros revoltados com a lentidão nas ruas. 
E as demolições nesta área?
Famílias que viviam 30 anos ou mais na mesma casa, e de repente são despejadas com um valor que não dá para comprar outro imóvel em lugar descente. 
Tudo está acontecendo muito rápido, pois o tempo é pouco, mas os governantes têm que lembrar que precisam do povo para a realização das obras, pois pagamos impostos. 
Estes projetos irão colocar a nossa cidade mais em evidência, mas não é só isso de que precisamos.
A saúde, educação, habitação, segurança estão sendo esquecidas pelos governantes.
Precisamos, unidos, fazer esta cobrança para que nossa cidade venha a ser realmente uma "cidade maravilhosa" ao receber outros povos nestes grandiosos megaeventos esportivos.

Nice        

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Crônica do Dia

Para terminarmos a semana, nada melhor do que a boa e velha malandragem com a crônica de Arnaldo Jabor, falando das coisas "erradas" que aprendeu com o seu avô, um autêntico malandro carioca dos anos 40/50. DIVIRTAM-SE!   

Meu avô foi um belo retrato do malandro carioca

Este texto é sobre ninguém. Meu avô não foi ninguém. No entanto, que grande homem ele foi para mim. Meu pai era severo e triste, mal o via, chegava de aviões de guerra e nem me olhava. Meu avô, não. Me pegava pela mão e me levava para o Jockey, para ver os cavalinhos. Foi uma figura masculina carinhosa em minha vida. Senão fosse ele, talvez eu estivesse hoje cantando boleros no Crazy Love, com o codinome Neide Suely.
Meu avô, Arnaldo Hess, foi um belo retrato do Brasil dos anos 40/50. Era um malandro carioca — em volta dele, gravitavam o botequim, a gravata com alfinete de pérola, o sapato bicolor, o cabelo com Gumex, o chapéu-palheta, o relógio de corrente, seu Patek Phillipe tão invejado, em volta dele ressoava a língua carioca mais pura e linda,com velhas gírias [Essa matula do Flamengo é turuna (forte)..] Meu avô era orgulhoso de viver nesta cidade baldia e amada, o Rio que soava nos discos de 78 rpm, nas ondas do rádio, o Rio precário e poético, dos esfomeados malandros da Lapa, das mulheres sem malho e de seus sofrimentos românticos, entre varizes e celulite. Antes de morrer, ele me olhou, já meio lelé, e disse a frase mais linda: "É chato morrer, seu Arnaldinho, porque eu nunca mais vou à avenida Rio Branco". Ali, onde ele me levava para tomar refresco na Casa Simpatia, era o centro de seu mundo. Os políticos canalhas populistas que estão hoje aí querem a volta do passado apenas pelo lado "sujo"do atraso. Mas havia também uma poética do atraso — na Lapa, no Mangue, havia um Rio que, com poucas migalhas, fabricava uma urbanidade pobre, bela e democrática. 
Ele também me dava aulas de sexo. Contou-me uma vez que a melhor mulher que ele teve na vida tinha sido uma "João". Que era "João"? Esse termo, ainda escravista,designava as pretinhas tão pretinhas que tinham o pixaim da cabeça ralo, quase carecas. Eram as "João". Pois ele me disse: "Foi no terreno baldio, ali na General Belfort... foi o melhor nick fostene que eu tive..." (Inventara esse nome de falso inglês de cinema americano para designar a cópula, sendo a palavra acompanhada pelo gesto vaivém de bomba de "Flit": Nick Fostene...) Contava isso a um menino de dez anos, a quem ele dava cigarros e ensinava ( a mim e ao Cláudio Acylino, meu primo) a pegar bonde no estribo,andando. Me apresentou sua amante, uma mulher ruiva chamada Celeste, que me beijava trêmula e carente como uma avó postiça e que, sendo de "boa família" ( ele me falava disso com uma ponta de orgulho), "nunca se metera em sua vida familiar oficial". Isso ele dizia com os olhos machistas molhados de gratidão. Ou seja, ele me ensinava tudo errado e com isso me salvou.
Quase analfabeto, vivera grudado com a turma dos intelectuais da Colombo, babando com os trocadilhos de Emilio de Menezes, Olavo Bilac, Agripino Grieco nos anos 20, o que lhe deu um fascinado amor às letras que não lia, mas que o fez trazer-me sempre um livro novo, da Rio Branco, junto com a goiabada cascão e o catupiry.
Uma vez, já mais tarde, eu namorava uma moça lindíssima e virgem (claro) mas burrinha. Reclamei com ele. Resposta: "Ah, é burrinha ? Você quer inteligência ? Então vai namorar o Santiago Dantas! " Quando fomos aos sinistros rendez-vous, de onde nos floresceram as primeiras gonorréias, nossos pais severos bronquearam: "Vocês são uns porcos!" Já nosso vovô riu, sacaneando: "Poxa... boas mulheres, hein... ?" Vovô nos ensinava a conversar com as pessoas, olho no olho. Na minha família de classe média, celebravam-se as meias-palavras, o fingimento de uma elegância falsa, de uma finesse irreal. Só meu avô falava com os vagabundos da rua, com os botequineiros,com os mata-mosquitos. Enquanto minha família toda votava histericamente na UDN, em pleno delírio golpista, meu avô pegou o chapéu, e foi votar. Eu fui atrás dele... "Votar em quem?" "No Getúlio, seu Arnaldinho... ele gosta do povo e eu sou povo." "E eu sou 'povo' também, vovô?", perguntei. Ele riu: "Você não; você tem velocípede..."
Ele me levava ao Maracanã, ele me levava em seu ombro para ver a estrela de néon da cervejaria Black Princess ( até hoje me brilha esta supernova na alma), ele, uma vez, deixou-me ver um morto na calçada, navalhado no peito ( "Parecia a fita do Vasco da Gama", ele disse) — não me escondeu a tragédia. Me ensinou tudo errado e me salvou... 
Meu avô adorava a vida e usava sempre: o adjetivo "esplêndido", tão lindo e estrelado. A laranja chupada na feira estava "esplêndida", a jabuticaba, a manga-carlotinha, tudo era "esplêndido" para ele, pobrezinho, que nunca viu nada; sua única viagem foi de trem a Curitiba, de onde trouxe mudas de pinheiros. "Esplêndidas..." No fim da vida, já gagá, eu o levava ao Jockey para ele conversar com o Ernani de Freitas, o amigo tratador de cavalos, que lhe dava um carinho condescendente com sua gagazice, falando de cavalos que já haviam morrido. "Hoje corre a Tirolesa ou a Garbosa ? ", perguntava. "A Tiroleza está machucada, Arnaldo..." 
Velho gagá, deu para dizer coisas profundíssimas. Uma vez, já nos anos 70,celebrei para ele as maravilhas lisérgicas do LSD que eu tomara. Ele me ouviu falar em"delírio de cores", "lucy in the skies" e comentou: "Cuidado, Arnaldinho, pois nada é só bom..." Outra vez, vendo passar um super-ripongão sujo, "bicho-grilo brabo", comentou: "Olha lá. Um sujeito fingindo de mendigo para esconder que realmente é...! 
Há dois anos, na exumação de um parente, o coveiro colocou várias caixas de ossos em cima do túmulo. Numa delas, estava escrito a giz: "Arnaldo Hess". Não resisti e levantei de leve a tampa de zinco. Estavam lá os ossos de vovô. Vi um fêmur, tíbias, que eu toquei com a mão. Vocês não imaginam a infinita alegria de, por segundos, encostar em meu avô querido. Eu estava com ele de novo em 1952, sob o céu azul do Rio. 
Meu avô não era ninguém. Mas nunca houve ninguém como ele.

Arnaldo Jabor 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Crônica do dia

Para a quarta feira, temos os textos de nós professores da Oficina de Crônicas falando da importância de nossa profissão e do carinho com o qual nosso alunos nos recebem e o qual temos por eles e darmos nossas aulas. DIVIRTAM-SE!

Ser professor

A profissão do professor é acima de tudo a profissão do amor. Amor ao próximo e ao que se ensina. Quando decidimos segui-la, não pensamos se ganharemos pouco ou muito, se ficaremos ricos ou não. O que realmente nos importa é a paixão. Além da nossa enorme dedicação que faz cada dia nossa função valer mais a pena. 
Nossos alunos são também nossos mestres, sempre dispostos em nos dar broncas, carinho e atenção. Alguns podem até torcer o nariz para o que a gente diz, não gostarem da nossa matéria ou se gostam, gostam somente de uma parte dela, mas quando vemos que despertamos em nossos mestres/ aprendizes o gosto por algo e o seu interesse. Isso é uma grande gratificação, maior do que qualquer salário recebido. 
Notamos isso quando estamos dentro de uma sala de aula, quando lemos um texto e trabalhamos um tema que a turma gosta e desenvolve com prazer um trabalho relacionado com a temática, cada um deles sempre nos surpreendendo e inovando. Vemos isso estampado em vocês, alunos da Oficina de crônicas, sempre interessados, nossos mestres que tanto nos ensinam cada vez mais a sermos o que somos, que ajudam e colaboram  em nossas aulas. Qualquer momento que trocamos para montá-las, postar no blog as crônicas e corrigir redações valem a pena. 
O prazer com o qual vocês nos ouvem, o carinho que têm e o qual nós, professores, também temos por vocês quando corrigimos as redações, faz com que nosso amor cade dia mais aumente. Para concluir, coloco a seguinte frase de Paulo Freire: ‎"Me considero um educador, acima de tudo, porque sinto amor." Paulo Freire.


Crônica do Dia

Hoje, posto meus agradecimentos aos caros alunos da Oficina de Crônicas

Algumas palavras

Em passos lentos, indo tomar o elevador para o 11º andar para mais um dia de oficina. Já escreveu uma crônica sobre o assunto da semana passada. Vira-se para o lado e me cumprimenta. Era a quarta aula que eu participaria como “professor”. Retribuo seu cumprimento. Começamos uma conversa casual, falando de como estava cheio o hall dos elevadores, de como estava quente aquele dia. Entramos no elevador, cheio. Saímos e caminhamos, lentamente, para a sala 11.111. Estávamos um pouco atrasados.
Os outros alunos já liam seus textos, quando entramos. Ficaram felizes ao nos verem chegar. Demos boa tarde. Aquela sala, não muito grande mas confortável, era mais do que um espaço, era um lugar significativo. Memórias, sentimentos, sensações, polêmicas, revelações, comédia, tristezas, idade, netos, uma verdadeira babel acontece nessa sala. E tudo com compreensão e respeito. Muitas vezes conviver é complicado. Mas são dois extremos da linha temporal que, num momento quase que divino, se cruzam e não há choque ou divisão, mas soma. A utopia de querer que esses encontros transbordassem da sala e fossem parar no mundo lá de fora.
Não há o melhor aluno nessa sala. Em certa época, aprendemos que recuar e dar o lugar ao outro é o melhor que se pode fazer, pois concorrer já não mais significa. O que há são alunos que se expressam com mais facilidade que os outros; mas todos estão aprendendo. Mesmo aqueles que quase não falam, quando abrem a boca para darem sua opinião, nos surpreendem.
Hoje, atrasado por causa da demora do trem, os alunos estavam lendo seus escritos, quando cheguei. Costumo pensar que os dias são sempre iguais e que, raramente, coisas novas podem acontecer. A aula transcorreu como de costume. Os alunos leram suas crônicas, comentaram, discutiram. Até que uma aluna interrompe e conclama a turma para parabenizar os professores (somos três). Após os parabéns, mais uma surpresa: os alunos tiram de suas bolsas e mochilas doces, tortas, salgados e suco. Além disso, nos presenteiam com camisas e canetas!
Mais do que presentes ou parabéns, o que ganhamos nesse dia foi o reconhecimento pelo que fazemos e pelo que somos, foi o carinho e a dedicação desses queridos alunos e amigos. Se nada falei durante a aula ou durante a comemoração, escrevo nessas simples palavras um terço (poema do Homero) do que sinto e senti naquele momento. Se tivesse falado, muito iria se perder; mas já que escrevo, fica sólida a minha memória, minha gratidão e meus agradecimentos aos alunos da Oficina de Crônicas. Fica a célebre frase: verba volant, scripta manent.

Gabriel Sant’Ana (19/10/2011)

terça-feira, 18 de outubro de 2011

AVISO

Amanhã, quarta-feira, haverá oficina de crônicas; apesar da paralisação que acontecerá na UERJ.
Contamos com a presença de todos!

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Crônica do dia

Para começarmos bem a semana, nada melhor do que um pouco de romantismo vindo do texto "O Primeiro Beijo" de Clarice Lispector que nos conta a história de um menino com sua primeiras experiências amorosas, tais quais a primeira namorada, e o primeiro beijo, tão idealizado por aqueles que amam. DIVIRTAM-SE!        

 O Primeiro Beijo

Os dois mais murmuravam que conversavam: havia pouco iniciara-se o namoro e ambos andavam tontos, era o amor. Amor com o que vem junto: ciúme.
- Está bem, acredito que sou a sua primeira namorada, fico feliz com isso. Mas me diga a verdade, só a verdade: você nunca beijou uma mulher antes de me beijar? Ele foi simples: 
- Sim, já beijei antes uma mulher. 
- Quem era ela? perguntou com dor. 

Ele tentou contar toscamente, não sabia como dizer. 

O ônibus da excursão subia lentamente a serra. Ele, um dos garotos no meio da garotada em algazarra, deixava a brisa fresca bater-lhe no rosto e entrar-lhe pelos cabelos com dedos longos, finos e sem peso como os de uma mãe. Ficar às vezes quieto, sem quase pensar, e apenas sentir – era tão bom. A concentração no sentir era difícil no meio da balbúrdia dos companheiros. 
E mesmo a sede começara: brincar com a turma, falar bem alto, mais alto que o barulho do motor, rir, gritar, pensar, sentir, puxa vida! como deixava a garganta seca. 
E nem sombra de água. O jeito era juntar saliva, e foi o que fez. Depois de reunida na boca ardente engulia-a lentamente, outra vez e mais outra. Era morna, porém, a saliva, e não tirava a sede. Uma sede enorme maior do que ele próprio, que lhe tomava agora o corpo todo. 
A brisa fina, antes tão boa, agora ao sol do meio dia tornara-se quente e árida e ao penetrar pelo nariz secava ainda mais a pouca saliva que pacientemente juntava. 
E se fechasse as narinas e respirasse um pouco menos daquele vento de deserto? Tentou por instantes mas logo sufocava. O jeito era mesmo esperar, esperar. Talvez minutos apenas, enquanto sua sede era de anos. 
Não sabia como e por que mas agora se sentia mais perto da água, pressentia-a mais próxima, e seus olhos saltavam para fora da janela procurando a estrada, penetrando entre os arbustos, espreitando, farejando. 

O instinto animal dentro dele não errara: na curva inesperada da estrada, entre arbustos estava… o chafariz de onde brotava num filete a água sonhada. O ônibus parou, todos estavam com sede mas ele conseguiu ser o primeiro a chegar ao chafariz de pedra, antes de todos. 
De olhos fechados entreabriu os lábios e colou-os ferozmente ao orifício de onde jorrava a água. O primeiro gole fresco desceu, escorrendo pelo peito até a barriga. Era a vida voltando, e com esta encharcou todo o seu interior arenoso até se saciar. Agora podia abrir os olhos. 
Abriu-os e viu bem junto de sua cara dois olhos de estátua fitando-o e viu que era a estátua de uma mulher e que era da boca da mulher que saía a água. Lembrou-se de que realmente ao primeiro gole sentira nos lábios um contato gélido, mais frio do que a água. 
E soube então que havia colado sua boca na boca da estátua da mulher de pedra. A vida havia jorrado dessa boca, de uma boca para outra. 
Intuitivamente, confuso na sua inocência, sentia intrigado: mas não é de uma mulher que sai o líquido vivificador, o líquido germinador da vida… Olhou a estátua nua. 

Ele a havia beijado. 

Sofreu um tremor que não se via por fora e que se iniciou bem dentro dele e tomou-lhe o corpo todo estourando pelo rosto em brasa viva. Deu um passo para trás ou para frente, nem sabia mais o que fazia. Perturbado, atônito, percebeu que uma parte de seu corpo, sempre antes relaxada, estava agora com uma tensão agressiva, e isso nunca lhe tinha acontecido. 
Estava de pé, docemente agressivo, sozinho no meio dos outros, de coração batendo fundo, espaçado, sentindo o mundo se transformar. A vida era inteiramente nova, era outra, descoberta com sobressalto. Perplexo, num equilíbrio frágil. 
Até que, vinda da profundeza de seu ser, jorrou de uma fonte oculta nele a verdade. Que logo o encheu de susto e logo também de um orgulho antes jamais sentido: ele… 

Ele se tornara homem.

Clarice Lispector

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Crônica do dia

Com mais um dia de postagens, temos hoje o texto da aluna Honorina, que nos conta sobre a privacidade e seus direito, o que e como alguns a usam. Ela também nos conta sobre algo muito pertinente ao tema que é a fofoca, geralmente algo gerado pela falta de privacidade. DIVIRTAM-SE!   

Privacidade

Privacidade é a habilidade de uma pessoa em controlar a exposição e a disponibilidade de informação sobre si.
O direito de privacidade do ser humano de não ser monitorado, direito de não ser registrado e direito de não ser reconhecido (direito de não ter registros pessoais publicados). Ou seja, a "privacidade não significa apenas o direito de ser deixado em paz, mas também o direito de determinar quais atributos de si serão usados por outros".
Há uma infinidade de conceitos sobre a privacidade.
O conceito pela informação pessoal teve início entre os séculos XVII e XVIII, quando as construções passaram a oferecer quartos privados, onde passou a fazer sentido a criação de diárias pessoais. 
Desde essa época até os nossos dias, a privacidade está sendo desviada para outros caminhos, perdendo o respeito e o direito de viver em paz.
Hoje, há sites para desvendar as intimidades das pessoas, tornando espetáculos para a mídia em revistas de fofocas, não respeitando a privacidade das pessoas, não só as famosas como também as comuns, por ser o meio de vida adquirido, basta aparecer na mídia. 
Em condomínios onde moram centenas de pessoas, sempre prevalece o bom senso, pois há moradores de qualquer classe social, e o bom convívio depende de cada um...
Mas nesse ambiente encontramos pessoas educadas, atenciosas, e outras que são mal humoradas, briguentas, barulhentas, pessoas que não te cumprimentam, se você entra no elevador ou cruza no corredor, e cumprimentam por educação, "se está calado sai mudo". Eu já estou acostumada com isso, acho até normal. 
Há também aqueles que ficam atrás das cortinas bisbilhotando, o que acontece nos corredores dos prédios, às vezes nem falam com você, mas vão fofocar. O ser humano é assim 
Mas a partir do momento em que entramos em casa e fechamos nossas portas, ninguém incomoda, ainda prevalece a nossa privacidade, graças a Deus. 
O bom convívio nesses condomínios depende muito dos moradores. Eu não tenho queixa de ninguém.

Honorina Fonseca                                                    

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Crônica do dia

Continuando nossas postagens, temos hoje o texto da aluna Stella, que nos conta detalhes e impressões sobre uma escritora tão adorada pelo público e pela crítica: Clarice Lispector. DIVIRTAM-SE!  

Clarice Lispector


Quando ouvi de meus professores que iríamos ler um conto desta autora, resolvi antecipar-me e fiz uma pequena pesquisa sobre sua vida. 
Havia já lido alguns contos dela, mas não me havia aprofundado e sempre ficou uma pergunta: Por que ao lê-la me é passada sua angústia? Por que ela escreve desse jeito?
Descobri que sua família ucraniana e de origem judia emigra para a América e chega finalmente a Maceió, Brasil. Era uma família unida, uns sempre ajudando os outros e aqui todos mudam de nome, exceto sua irmã Tânia. De Maceió vão para  Recife, onde estuda. Clarice sempre escreveu suas histórias diferente de seus colegas (elas não tinham enredo).
Quando chega ao Rio de Janeiro, termina o ginasial, mas começam problemas financeiro e ela, enquanto estuda, trabalha para manter-se.
Casa-se e acompanha o marido de carreira diplomática. Teve dois filhos e um deles é esquizofrênico. Enquanto coleciona prêmios literários, cuida do filho doente. A Segunda Guerra Mundial acontecia e seus escritos vão tendo cada vez mais características sofridas, tristes, profundas, ao mesmo tempo que aprece em seu semblante a tristeza de suas obras.
Nos Estados Unidos, ajuda os brasileiros feridos de guerra e, em 1959, separa-se de seu marido, o que, naquela época, era considerado uma tragédia. 
Sofre queimaduras na mão direita, que quase lhe valeram, ter que amputá-la. 
Tudo isso influencia seus escritos e, finalmente, consegui entender a sensação que eu tinha cada vez que lia Clarice Lispector. Ela foi uma escritora brilhante, mesmo com menos de sessenta anos de existência. Três livros foram editados depois de 1977, ano de sua morte.
Até hoje é celebrada com entusiasmo por escritores de todo o mundo e, é lógico, também aqui nesse nosso Brasil,  onde há mil dificuldades nesse sentido!                 

Stella Muehlbauer

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Crônica do dia

Para começarmos a semana, temos hoje a crônica da aluna Isaura que nos conta o seu passeio pelo bairro de Santa Teresa. DIVIRTAM-SE!


O bairro de Santa Teresa
Estando eu, no Largo da Carioca, e sem saber onde pegar o bonde para Santa Tereza e estando aquele lugar muito diferente, havia anos que eu não passava por lá, pedi informação a um  senhor que passava. Ele se ofereceu para me ajudar, pois estava indo para onde morava. 
Disse-me que queria rever o casarão onde morara uma tia e no qual eu passara varias férias. Eu me lembrava muito bem de todos os seus cômodos. O homem me ajudou, indagando aqui e ali, e cheguei a conclusão de que o casarão não mais existia. 
Fingi procurar na bolsa o endereço. Obviamente não encontrei, pois o que eu queria era chegar ao bairro para relembrar fios de minha infância. 
Foi então que tive a ideia de sugerir a ele, que "aceitou", de irmos até o fim da linha para apreciarmos a paisagem. Ele concordou, pois não tinha horário a cumprir. Conversamos sobre vários assuntos, e ele me mostrou vários prédios e ia me explicando tudo o que sabia sobre o bairro, pois nascera e vivera sempre ali.
Foi um passeio agradável. Ao retornarmos, agradeci a boa vontade e a companhia. Despedimo-nos e acho que ele acreditou na minha história, pois foi solicito em me ajudar. 
Mas o que eu queria mesmo, era relembrar o bairro!        

Isaura           

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Crônica do dia

Hoje postamos um conto do escritor Franz Kafka, que nos mostra a possibilidade de as coisas terem sido diferentes, mas na realidade não são. Boa leitura!

Na galeria
Franz Kafka [tradução de Modesto Carone]

Se alguma amazona frágil e tísica fosse impelida meses sem interrupção em círculos ao redor do picadeiro sobre o cavalo oscilante diante de um público infatigável pelo diretor de circo impiedoso e de chicote na mão, sibilando em cima do cavalo, atirando beijos, equilibrando-se na cintura, e se esse espetáculo prosseguisse pelo futuro que se vai abrindo à frente sempre cinzento sob o bramido incessante da orquestra e dos ventiladores, acompanhado pelo aplauso que se esvai e outra vez se avoluma das mãos que na verdade são martelos a vapor — talvez então um jovem espectador da galeria descesse às pressas a longa escada através de todas as filas, se arrojasse no picadeiro e bradasse o basta! em meio às fanfarras da orquestra sempre pronta a se ajustar às situações.
Mas uma vez que não é assim, uma bela dama em branco e vermelho entra voando por entre as cortinas que os orgulhosos criados de libré abrem diante dela; o diretor, buscando abnegadamente os seus olhos, respira voltado para ela numa postura de animal fiel; ergue-a cauteloso sobre o alazão como se ela fosse a neta amada acima de tudo que parte para uma viagem perigosa; não consegue se decidir a dar o sinal com o chicote; afinal dominando-se ele o dá com um estalo; corre de boca aberta ao lado do cavalo; segue com o olhar agudo os saltos de amazona; mal pode entender sua destreza; procura adverti-la com exclamações em inglês; furioso exorta os palafreneiros que seguram os arcos à atenção mais minuciosa; as mãos levantadas, implora à orquestra para que faça silêncio antes do grande salto mortal; finalmente alça a pequena do cavalo trêmulo, beija-a nas duas faces e não considera suficiente nenhuma homenagem do público; enquanto ela própria, sustentada por ele, na ponta dos pés, envolta pela poeira, de braços estendidos, a cabecinha inclinada para trás, quer partilhar sua felicidade com o circo inteiro — uma vez que é assim o espectador da galeria apoia o rosto sobre o parapeito e, afundando na marcha final como num sonho pesado, chora sem o saber.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Crônica do Dia


Para continuarmos nossa semana, temos hoje o conto de João Guimarães Rosa que conta a história de uma menina que fazia milagres e que nos traz a lembrança do Padre Cícero e o texto do Mia Couto com o qual trabalhamos o tema da infância. DIVIRTAM-SE! 


A Menina de Lá - João Guimarães Rosa





Sua casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado o Temor-de-Deus. O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe, urucuiana, nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou passando descompostura em alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha dita, nascera já muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes.

Não que parecesse olhar ou enxergar de propósito. Parava quieta, não queria bruxas de pano, brinquedo nenhum, sempre sentadinha onde se achasse, pouco se mexia. – "Ninguém entende muita coisa que ela fala..." – dizia o Pai, com certo espanto. Menos pela estranhez das palavras, pois só em raro ela perguntava, por exemplo: - "Ele xurugou?" – e, vai ver, quem e o quê, jamais se saberia. Mas, pelo esquisito do juízo ou enfeitado do sentido. Com riso imprevisto: - "Tatu não vê a lua..." – ela falasse. Ou referia estórias, absurdas, vagas, tudo muito curto: da abelha que se voou para uma nuvem; de uma porção de meninas e meninos sentados a uma mesa de doces, comprida, comprida, por tempo que nem se acabava; ou da precisão de se fazer lista das coisas todas que no dia por dia a gente vem perdendo. Só a pura vida.

Em geral, porém, Nhinhinha, com seus nem quatro anos, não incomodava ninguém, e não se fazia notada, a não ser pela perfeita calma, imobilidade e silêncios. Nem parecia gostar ou desgostar especialmente de coisa ou pessoa nenhuma. Botavam para ela a comida, ela continuava sentada, o prato de folha no colo, comia logo a carne ou o ovo, os torresmos, o do que fosse mais gostoso e atraente, e ia consumindo depois o resto, feijão, angu, ou arroz, abóbora, com artística lentidão. De vê-la tão perpétua e imperturbada, a gente se assustava de repente. – "Nhinhinha, que é que você está fazendo?" – perguntava-se. E ela respondia, alongada, sorrida, moduladamente: - "Eu... to-u... fa-a-zendo". Fazia vácuos. Seria mesmo seu tanto tolinha?

Nada a intimidava. Ouvia o Pai querendo que a Mãe coasse um café forte, e comentava, se sorrindo: - "Menino pidão... Menino pidão..." Costumava também dirigir-se à Mãe desse jeito: - "Menina grande... Menina grande..." Com isso Pai e Mãe davam de zangar-se. Em vão. Nhinhinha murmurava só: - "Deixa... Deixa..." – suasibilíssima, inábil como uma flor. O mesmo dizia quando vinham chamá-la para qualquer novidade, dessas de entusiasmar adultos e crianças. Não se importava com os acontecimentos. Tranqüila, mas viçosa em saúde. Ninguém tinha real poder sobre ela, não se sabiam suas preferências. Como puni-la? E, bater-lhe, não ousassem; nem havia motivo. Mas, o respeito que tinha por Mãe e Pai, parecia mais uma engraças espécie de tolerância. E Nhinhinha gostava de mim.
Conversávamos, agora. Ela apreciava o casacão da noite. – "Cheiinhas!" – olhava as estrelas, deléveis, sobrehumanas. Chamava-as de "estrelinhas pia-pia". Repetia: - "Tudo nascendo!" – essa sua exclamação dileta, em muitas ocasiões, com o deferir de um sorriso. E o ar. Dizia que o ar estava com cheiro de lembrança. – "A gente não vê quando o vento se acaba..." Estava no quintal, vestidinha de amarelo. O que falava, às vezes era comum, a gente é que ouvia exagerado: - "Alturas de urubuir..." Não, dissera só: - "... altura de urubu não ir." O dedinho chegava quase no céu. Lembrou-se de: - "Jabuticaba de vem-mever..." Suspirava, depois: - "Eu quero ir para lá." – Aonde? – "Não sei" Aí, observou: - "O passarinho desapareceu de cantar..." De fato, o passarinho tinha estado cantando, e, no escorregar do tempo, eu pensava que não estivesse ouvindo; agora, ele se interrompera. Eu disse: - "A Avezinha." De por diante, Nhinhinha passou a chamar o sabiá de "Senhora Vizinha..." E tinha respostas mais longas: - "Eeu? Tou fazendo saudade." Outra hora falava-se de parentes já mortos, ela riu: - "Vou visitar eles..." Ralhei, dei conselhos, disse que ela estava com a lua. Olhou-me, zombaz, seus olhos muito perspectivos: - "Ele te xurugou?" Nunca mais vi Nhinhinha.

Sei, porém, que foi por aí que ela começou a fazer milagres.

Nem Mãe nem Pai acharam logo a maravilha, repentina. Mas Tiantônia. Parece que foi de manhã. Nhinhinha, só, sentada, olhando o nada diante das pessoas: - "Eu queria o sapo vir aqui" Se bem a ouviram, pensaram fosse um patranhar, o de seus disparates, de sempre. Tiantônia, por vezo, acenou-lhe com o dedo. Mas, aí, reto, aos pulinhos, o ser entrava na sala, para aos pés de Nhinhinha – e não o sapo de papo, mas uma bela rã brejeira, vinda do verduroso, a rã verdíssima. Visita dessas jamais acontecera. E ela riu: - "Está trabalhando um feitiço..." Os outros se pasmaram; silenciaram demais.

Dias depois, com o mesmo sossego: - "Eu queria uma pamonhinha de goiabada" – sussurrou; e, nem bem meia hora, chegou uma dona, de longe, que trazia os pãezinhos da goiabada enrolada na palha. Aquilo, quem entendia? Nem os outros prodígios, que vieram se seguindo. O que ela queria, que falava, súbito acontecia. Só que queria muito pouco, e sempre as coisas levianas e descuidosas, o que não põe nem quita. Assim, quando a Mãe adoeceu de dores, que eram de nenhum remédio, não houve fazer com que Nhinhinha lhe falasse a cura. Sorria apenas, segredando seu – "Deixa... Deixa..." – não a podiam despersuadir. Mas veio vagarosa, abraçou a Mãe e a beijou , quentinha. A Mãe, que a olhava com estarrecida fé, sarou-se então, num minuto. Souberam que ela tinha também outros modos.

Decidiram de guardar segredo. Não viessem ali os curiosos, gente maldosa e interesseira, com escândalos. Ou os padres, o bispo, quisessem tomar conta da menina, levá-la para sério convento. Ninguém, nem os parentes de mais perto, devia saber. Também, o Pai, Tiantônia e a Mãe, nem queria versar conversas, sentiam um medo extraordinário da coisa. Achavam ilusão.

O que ao Pai, aos poucos, pegava a aborrecer, era que de tudo não se tirasse o sensato proveito. Veio a seca, maior, até o brejo ameaçava se estorricar. Experimentaram pedir a Nhinhinha: que quisesse a chuva. – "Mas, não pode, ué..." – ela sacudiu a cabecinha. Instaram-na: que, se não, se acabava tudo, o leito, o arroz, a carne, os doces, frutas, o melado. – "Deixa... Deixa..." – se sorria, repousada, chegou a fechar os olhos, ao insistirem, no súbito adormecer das andorinhas.

Daí a duas manhãs quis: queria o arco-íris. Choveu. E logo aparecia o arco-da-velha, sobressaído em verde e o vermelho – que era mais um vivo cor-de-rosa. Nhinhinha se alegrou, fora do sério, à tarde do dia, com a refrescação. Fez o que nunca lhe vira, pular e correr por casa e quintal.

- "Adivinhou passarinho verde?" – Pai e Mãe se perguntavam. Esses, os passarinhos, cantavam, deputados de um reino. Mas houve que, a certo momento, Tiantônia repreendesse a menina, muito brava, muito forte, sem usos, até a Mãe e o Pai não entenderam aquilo, não gostaram. E Nhinhinha, branda, tornou a ficar sentadinha, inalterada que nem se sonhasse, ainda mais imóvel, com seu passarinho-verde pensamento. Pai e Mãe cochichavam, contentes: que, quando ela crescesse e tomasse juízo, ia poder ajudar muito a eles, conforme à Providência decerto prazia que fosse.

E, vai, Nhinhinha adoeceu e morreu. Diz-se que da má água desses ares. Todos os vivos atos se passam longe demais.

Desabado aquele feito, houve muitas diversas dores, de todos, dos de casa: um de-repente enorme. A Mãe, o Pai e Tiantônia davam conta de que era a mesma coisa que se cada um deles tivesse morrido por metade. E mais para repassar o coração, de se ver quando a Mãe desfiava o terço, mas em vez das ave-marias podendo só gemer aquilo de – "Menina grande... Menina grande..." – com toda ferocidade. E o Pai alisava com as mãos o tamboretinho em que Nhinhinha se sentava tanto, e em que ele mesmo se sentar não podia, que com o peso de seu corpo de homem o tamboretinho se quebrava.

Agora, precisavam de mandar um recado, ao arraial, para fazerem o caixão e aprontarem o enterro, com acompanhantes de virgens e anjos. Aí, Tiantônia tomou coragem, carecia de contar: que, naquele dia, do arco-íris da chuva, do passarinho, Nhinhinha tinha falado despropositado de satino, por isso com ela ralhara. O que fora: que queria um caixãozinho cor-de-rosa, com enfeites de verdes brilhantes... A agouraria! Agora, era para se encomendar o caixãozinho assim, sua vontade?

O Pai, em bruscas lágrimas, esbravejou: que não! Ah, que, se consentisse nisso, era como tomar culpa, estar ajudando ainda Nhinhinha a morrer...

A Mãe queria, ela começou a discutir com o Pai. Mas, no mais choro, se serenou – o sorriso tão bom, tão grande – suspensão num pensamento: que não era preciso encomendar, nem explicar, pois havia de sair bem assim, do jeito, cor-de-rosa com verdes funebrilhos, porque era, tinha de ser! – pelo milagre, o de sua filhinha em glória, Santa Nhinhinha.


João Guimarães Rosa