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quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Crônica do Dia

Hoje trazemos uma crônica bem imaginativa! O autor é o aluno Oswaldo. Divirtam-se!
  
                                                                       Imaginação

Nossas palavras são a representação falada ou escrita de tudo aquilo que nos vem à mente e queremos torná-lo conhecido aos outros.
Em algumas circunstâncias são elas apenas a rememoração de fatos já vividos.
Em outras, expressam somente o imaginado. Nesse caso, e dependendo da capacidade inventiva do imaginador, ele pode prender sua platéia por horas a fio.
Essa experiência de espectador e expectador eu vivi no meu tempo de colégio.
Estudava na minha turma um paraense, de Conceição de Araguaia.
Era um típico caboclo "amazônida", mas dotado de uma fulgurante imaginação e uma palavra fácil.
Contava vários casos verdadeiros ou nem tanto verdade, mas ficávamos esperando que a hora de recreio não chegasse ao fim.
Era sempre um prazer ouvi-lo.
O tempo não passava para nós, ou, melhor dizendo, o nosso tempo estava sempre no fim porque só ouvíamos a campainha convocando-nos ao dever ou ao sono_ conforme o momento.
Lembro-me, também, de quando morava na Vila Rodrigues Alves, distante umas três horas de remo* da cidade de Cruzeiro do Sul, no Acre.
Lá vivia um senhor que gostava de contar histórias fantasiosas.
Uma delas era que um agricultor da localidade, plantador de mandioca (aqui no Rio, aipim), também criava galinhas.
Um dia ele sentiu falta de uma galinha.
Procura de cá, procura de lá, e descobriu, por fim, que a galinha estava no outro lado do rio.
Mas, como conseguira ela lá chegar, se o rio na época da seca tinha mais de cinqüenta metros de largura, e agora estavam em época de cheia?
Nenhum morador da vizinhança a levara. Entretanto ela lá estava, feliz da vida.
Todos, na vila, começaram a procurar uma explicação para tal proeza da galinha.
Já ao final da tarde alguém descobriu, na plantação de aipim do dono da galinha, um imenso pé de mandioca, com uma batata muito, muito grande.
O mais curioso era que a macaxeira estava oca e com marcas de bicadas de galinha.
Ao exame atento dos agricultores e ao espanto geral, chegou-se à conclusão de que a galinha fizera um túnel na mandioca e saíra do outro lado do rio.
Com isso estava aberto o caminho para a construção de todos os túneis do país.
três horas de remo: as pessoas embarcavam numa canoa, onde um ou mais remadores impulsionavam a embarcação com a força de seus braços, utilizando-se de remos.


Oswaldo Pereira

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Crônica do Dia

Hoje mentiremos pra vocês! Mas não qualquer mentira. Essa tem pontos, vírgulas e muita imaginação. Partida de um tema dado em aula (a própria Mentira) e tendo sido inspirada pela crônica "O Homem que falava Javanês" de Lima Barreto, ela foi imprimida em máquina de escrever pelas mãos do nosso aluno Homero, de maneira bastante divertida e criativa. Divirtam-se!


Verdades Tingidas de Mentira

Outro dia, vendo um desses programas matinais da TV, onde ensinam a pescar, sem que, nem sempre, lembrem de dizer o que seja pesca. Falaram de Deus, aborrecido com tudo isso de errado que estamos fazendo, resolveu inverter a ordem das coisas, para que com isso nos coloque em alerta. E quem sabe, resolvamos criar juízo e fazer do mundo aquilo que todos vêm prometendo desde que o mundo é mundo. Ouvi atentamente a explicação e logo que deu, saí por ali fazendo experiências, sem me importar muito com resultados. Afinal, a coisa estava ainda sem prazo para entrar em vigor e, assim que fosse possível, ir fazendo experiências, para quando a lei entrasse em vigor, a gente não fizesse feio.
Como eu gosto de coisas práticas e, hoje nada se consegue sem que o dinheiro corra na frente, fui ao banco e usei um talão de cheques que ainda me restava, antes dessa febre de cartões, de senhas e de créditos automáticos. Só queria ver se a inversão dos valores poderia também ser aplicada com valores, em reais.
Entrei, para o recinto de trabalho em que trabalham os caixas e eu mesmo peguei o dinheiro, coloquei o cheque para passar no computador e saí naturalmente, sem que ninguém me importunasse com perguntas. Fui para casa, muito feliz com a experiência e passei a comunicar com parentes e amigos sobre a novidade, que muitos deles ainda nem haviam ouvido falar. É claro que ninguém acreditou, que, logo em banco, onde a segurança é a alma do negócio e, em alguns deles, é até a arma do negócio, pudesse haver tamanha facilidade. Com aquele movimento que fiz, acabei por despertar toda essa gente que vive em busca de novidades e, com isso, até a estação de TV que tinha feito o programa ficou curiosa com a repercussão da notícia dada em seu programa e, principalmente, com a inovação que fiz, por cuja via iria reduzir muito o número de atendentes no banco, coisa que as empresas tanto buscam.
Pois bem, antes mesmo de terminar o expediente do banco, a notícia já havia passado de Brasília para o mundo inteiro e todos queriam saber quem teria sido a pessoa com tanta presença de espírito e, principalmente, muita coragem.
O curioso de tudo isso é que até os assaltantes de banco ficaram admirados com a informação e entraram em contato com o banco para confirmar se era verdade a notícia, querendo saber o meu nome e endereço, o mesmo acontecendo com jornais e revistas. Era tal e tamanha a corrente de pessoas interessadas, que levei um susto danado com um telefonema dizendo ser do gabinete especial de Deus, que me convocava com urgência para que eu explicasse aquela história envolvendo o seu Santo Nome. Foi um susto nada comum, Deus sair de seu estado de isolamento para falar com uma pessoa por quem todos passam sem lhe dar a menor bola. Já pensou, Deus?
Fiz a minha prece, vesti uma roupa adequada para ser recebido por Deus e fui para o endereço que me deram no telefonema. Cheguei, sem um minuto de atraso e Deus estava lá à minha espera, recebendo-me com as honras com as quais só Deus é capaz de receber.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

ATENÇÃO - Concurso de Literatura no LerUERJ!

Estudantes da graduação da UERJ, atenção!

I Prêmio de Literatura Lima Barreto

Um Concurso de Contos, Crônicas e Poesias
Participem!
Inscrições: 18/10/2010 a 22/10/2010
                        sala 11111, bloco F

Consulte o nosso EDITAL para maiores esclarecimentos.

Organização
Prof. Victor Hugo Pereira
Diego Novais         (Italiano – 5° Período)
Jefferson Evaristo  (Italiano – 3° Período)
Luana Novaes       (Italiano – 3° Período)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Crônica do Dia

Hoje não postamos uma, mas três crônicas. Elas tratam do tema pecado, que foi muito bem discutido em sala de aula. Com estas crônicas vocês podem se ambientar nas diferentes idéias trabalhadas em sala e levantadas pelos alunos.


Pecado

Esta é uma palavra muito difícil de se entender pois o que é pecado numa parte do mundo, em outras bandas é corriqueiro.

Gula: como separar o pecado da Gula de um lutador de sumo no Japão, das dietas de uma modelo do mundo ocidental? O que era modelo para Rafael nos séculos XV e XVI e para Botero no século XX, não o é para Velásquez e Modigliani que faziam questão de pintar seus modelos gordinhos ou magrinhos. Seria miopia o defeito dos pintores?

Luxúria: no ocidente o “politicamente correto” e lícito de acordo com o código penal, não é lícito no oriente das Arábias onde a poligamia é o status oficial para os homens. Para as mulheres? Nem pensar.

Inveja: o mesmo ocorre em locais diferentes deste nosso planeta de Deus. O que eu invejo aqui, na China é normal e os chineses invejam o que é comum neste Brasil.

Orgulho: em séculos anteriores o orgulho e o preconceito são até tema de literatura clássica. No entanto, se eu tenho orgulho de ser honesta, que dirão os políticos do mundo todo que se orgulham de afanar a todo dia um pouquinho do que vem suadamente do povo trabalhador e honesto?

Ira: como medir o grau da cólera causada por determinados acontecimentos se estamos intimamente ligados a eles ou não? É completamente diferente o que você sente se está sofrendo ou se está lendo determinada notícia num jornal ou vendo na TV.

Preguiça: ter preguiça quando se está cansado de trabalhar de modo braçal é normal, não acham? Mas, quando você trabalha e vive uma vida ociosa, a preguiça se torna um pecado ou não?

Avareza: ter muito dinheiro perece dar ao homem uma certeza: ele é o melhor, ele é o tal! Como medir a avareza que possa existir num rico ou num pobre? Qual a diferença e qual o limite entre economia e avareza?

Diante desses sete pecados, nós chegamos à conclusão que tudo depende do ponto de vista, do meio em que se vive e seria bom que todos levássemos a sério o melhor que podemos fazer, viver, conviver para, no final, a consciência se tornar equilibrada, pura e sem pecado.
E aí? Qual o significado da palavra pecado?

Stella Muehlbauer


Pecado

Instigada pelos professores da UNATI, comecei a pensar qual seria meu maior pecado. Difícil! Uma vez que o termo pecado não se enquadra no meu vocabulário. Aspiro à objetividade, recuso dogmas, acredito que a razão não pode penetrar no reino do sobrenatural e considero que a concepção de divindade, como nos é apresentada pela maioria das religiões, é contraditória e irracional, sendo logicamente impossível a sua existência.
Ganhar ou perder faz parte do jogo. O importante é competir. Depois de muito pensar, lembrei-me de uma competição que travei anos atrás. Um rapaz de olhos verdes estava seguindo a trilha do “Divino”, ia ser padre com louvor, mas, como diria Drummond, “tinha uma pedra no meio do caminho” e ele tropeçou. Esta pedra era eu.
Segundo a fé cristã, ao criar o homem, Deus o teria habilitado com o “Livre Arbítrio”, assim sendo, o seminarista ao tropeçar na pedra, tinha todo o direito de escolher entre um caminho e o outro e usou seu “Livre Arbítrio”.
Mas será que existe mesmo o “Livre Arbítrio”? É questionável. Com certeza em sua estada e trajetória no seminário, o seminarista já fazia elocuções para o abandono da batina. Suas tendências já vinham sendo discutidas, com certeza, até no âmbito familiar. Eu me sentia a própria Capitu desvirtuando o Bentinho. O que não era a verdade.
O conceito de “Livre Arbítrio” tem implicações religiosas, morais, psicológicas, científicas e sociais. Em psicologia implica que a mente controla certas ações do corpo. Em ética implica que os indivíduos possam ser considerados moralmente responsáveis pelas suas ações. No entanto, a filosofia do determinismo rejeita a idéia do livre-arbítrio, pois sendo o homem fruto do meio ele é destituído da liberdade de decidir e de influir nos fenômenos em que toma parte.
Spinoza compara a crença humana do livre-arbítrio a uma pedra pensando que escolhe o caminho a percorrer enquanto cruza o ar até o local onde cai. Ele diz: “As decisões da mente são apenas desejos, os quais variam de acordo com várias disposições; os homens se consideram livres porque estão cônscios das suas volições e desejos, mas são ignorantes das causas pelas quais são conduzidos a querer e desejar”.
As sociedades, de um modo geral, consideram as pessoas responsáveis pelas suas ações, mas afinal, pode-se considerar alguém responsável por uma ação que poderia ser prevista desde o início dos tempos?
Quando assisti, em 1998, pela primeira vez O Advogado do Diabo, com Al Pacino, Keanu Reeves e Charlize Theron, foi um choque. Keanu Reeves no papel de Kevin Lomax, interpretava um advogado que nunca perdia uma só causa, não importando o tipo de crime ou a culpa do acusado, não sentia remorso nem drama de consciência, só pensava em vencer e continuar vencendo. Seu triunfo nas causas atrai Al Pacino, que interpreta John Milton, o dono de uma empresa famosa, que também só queria vencer. O filme nos desperta para uma reflexão sobre a responsabilidade humana diante do bem e do mal, diante da Vaidade, da ambição, do poder, da corrupção e dói materialismo da globalização. E, em dois momentos do filme, somos surpreendidos pela de Milton “A vaidade é o meu pecado favorito”. Muito bom.
Viver em sociedade exige regras e devemos cumpri-las. O respeito às regras contribui para um relacionamento saudável. A fé independe da religião. Devemos propagar o amor entre os homens e, somente assim, poderemos pensar em um mundo melhor.

Sandra Temporal



PECADO

Tomando-se o livro das origens percebemos que o pecado nada mais é que a “desobediência” do homem ao fazer aquilo que Deus determinou:
“Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas do fruto da
árvore da ciência do bem e do mal; no dia em que dele comeres, morrrerás
indubitavelmente”. (Gn 2, l5-l7)
Porém comendo desse fruto o homem passou a perceber o certo e o errado, e passou também a usar seu livre arbítrio, escolher o caminho a seguir.
Foi lhe dado também os Dez Mandamentos. Uma base para fazer as suas escolhas.
Quantos mil anos passados, mudamos os termos: pecado para delitos, crimes, maiores ou menores; mandamentos para leis, códigos, maiores ou menores.
Sem eles viveríamos o caos, maior ou menor.
Sempre que prejudicamos alguém em detrimento de nossos atos e escolhas estamos cometendo um crime: maior ou menor.
Não importa que nome damos a esta seleuma, é preciso que vivamos honestamente, com ética e respeito ao próximo.
“Amar ao próximo como a si mesmo”.
O resumo de todos os mandamentos nos diz que se realmente nos amarmos primeiro saberemos amar ao próximo.
Isso é tudo para que haja paz!
Independente de crermos ou não em Deus!

Vandinha Sosa

terça-feira, 25 de maio de 2010

Crônica do Dia

Já parou pra pensar na questão dos feriados brasileiros? Será que somos mesmo um povo preguiçoso que não gosta de trabalhar e adora um feriado? Será que eles mais ajudam ou prejudicam a correria da nossa vida cotidiana? Nosso aluno Samuel Kauffmann escreveu esta crônica com seus sentimentos e reflexões sobre o assunto. Confira e pense você também!

Feriados: Aspectos Positivos e Negativos

Pretendo expor minhas impressões pessoais, acerca dos feriados, em pelo menos três períodos da existência.

1º - Infância.
Na remota antiguidade, os povos interrompiam suas atividades econômicas, porém sem obrigatoriedade, para festejar os deuses, com rituais pagãos. Foi somente com o Mestre Moisés que veio instruções, com rigor, para interromperem seus afazeres, dedicando-se, a partir daí, em homenagear e cumprir os mandamentos do Deus Uno, incluindo o descanso semanal – o que era observado por um povo entre os povos.
O sentido de interrupção legal, de não se poder trabalhar, é bem mais recente e mais abrangente.
Quando eu era criança, ficava maravilhado com a ocorrência de um dia, ou mais, independente dos finais de semana, às vezes ajuntando-se com esses, de não me sentir obrigado aos estudos e com liberdade para outras atividades. O papai e o vovô ficavam com a família reunida. Recebíamos visitas dos parentes de outra cidade. As refeições principais eram festivas, com guloseimas especiais. Afora os passeios programados para outras localidades, principalmente as praias de municípios vizinhos. Era um sonho que acabava no primeiro dia útil. Permanecia em mim um sentimento de euforia por mais um tempo.
A verdade é que eu não tinha consciência das conseqüências advindas da interrupção das atividades regulares. Porque se acumulavam as lições e exercícios escolares; dentro de casa as conversas se reduziam ao mínimo; aumentavam as tarefas domésticas; via menos o pai e o avô por uns dias mais, ou até o próximo fim de semana.
Enfim, estavam todos correndo para se recuperarem financeiramente. Ainda assim, meus olhos mentais não estavam abertos para uma realidade maior e profunda.

2º - Juventude.
Nesta fase, sufocado pelas obrigações escolares do ginásio, ansiava, em verdade, por um período de descanso além dos finais de semana. Aproveitava para colocar em dia as lições e as leituras. Confesso, também, o permitir-me um pouco de preguiça. Numa vida ego-centrado, pouco me importava com o que podia estar se passando além de minha esfera pessoal. Em que um feriado curto ou longo (como o carnaval) podia ter resultantes, positivas ou negativas, eu não estava nem aí...
No período do curso Cientifico, é que chegava aos meus ouvidos um “zum zum” político; mudança da capital federal; o Brasil em atividade febril; um “corre corre” pelo ganhar mais dinheiro. Aí, escutava, de alguns, reclamações sobre o excesso de feriados – religiosos e institucionais. Percebi que tais queixas partiam de pessoas com atividades autônomas – porque dependiam somente deles a própria sobrevivência – nesta situação não lhes era permitido trabalhar. Tinham suas razões?

3º - Maturidade.
Já casado, pai de dois filhos, vendedor autônomo, trabalhando de sol a sol os cinco dias da semana, ansiava por um feriado que emendasse com o final de semana, para poder sair da grande metrópole, ir para uma praia distante ou cidade serrana.
Naquela época, diferente dos dias atuais, as estradas ainda não ficavam congestionadas. A única desvantagem era ter de aguardar a barcaça para atravessar a baía. Acabávamos chegando ao destino sempre à noite, tanto na ida quanto na volta. Perdíamos preciosas horas de lazer – mas a grande família estava toda reunida.
Após a construção da Ponte Rio - Niterói, o fluxo de veículos foi gradualmente aumentando, as estradas eram de mão dupla; freqüentamos Saquarema. Aí sim, o que era um prazer foi se tornando um desprazer. Viagens que duravam uma hora e meia, passaram para quatro ou cinco horas. Tudo que podíamos aproveitar se perdiam naqueles congestionamentos. Um inferno...
Um episódio humorístico aconteceu numa daquelas viagens. Estávamos na rodovia Amaral Peixoto, já noite, aí pelas dezenove horas, tínhamos saído às dezesseis horas de Saquarema, quando começou o para e anda, no carro não conseguia engatar uma terceira marcha. Meia hora depois, começaram as reclamações.
- Pai, eu quero fazer xixi...
-Mulher, bota para fazer no pinico, eu não posso parar...
- Eu não trouxe o pinico...
- Eu não agüento mais, vou fazer aqui no carro...
- Puxa, mulher, eu falei para trazer aquela garrafa de boca bem larga...
- E eu estou com sede – falou choramingando o menor.
- Dê a mamadeira de água para ele...
- Não consigo encostar o carro, estão trafegando pelo acostamento...
- Já estou nervosa, você deixa tudo por minha conta...
- Quer saber de uma coisa, eu também estou precisando esvaziar o joelho; vou encostar de qualquer jeito...
Às vinte e duas horas estávamos em nosso lar doce lar.
Anos depois tomei uma decisão: nos feriados prolongados passamos a ficar aqui na cidade – aproveitamos muito mais. A praia é logo ali...

Conclusões:
Esta semana ocorreu um feriadão. Um deles institucional e nacional, o outro religioso e municipal. Ficamos aqui na cidade. Mas não se pode trabalhar, produzir e ganhar a vida material. E o lazer tornou-se bem complicado.

Samuel Kauffmann

terça-feira, 18 de maio de 2010

Crônica do Dia

Hoje temos uma crônica que mostra de uma maneira particular, porém leve, como se apresenta o tema "releitura" no decorrer de nossas vidas. Você vai se identificar, afinal quem nunca se surpreendeu ao reler um livro, ou mesmo ao rever um filme?

Orgulho e Preconceito

 
Uma história vista e lida por uma pessoa em duas etapas de sua longa jornada de vida vai levar a duas conclusões bem diversas uma da outra.
Quando era jovem adolescente, o filme foi visto com o sentimento basicamente romântico e, em muitos trechos, tanto no livro como no filme, eu me sentia a própria Elisabeth, personagem principal. O “príncipe encantado”, na tela, foi muito bem representado por Lawrence Olivier que me encantou com sua pose de fidalgo. A família de Elisabeth era bem diferente da minha e, por causa disso, na maioria das vezes eu os achava meio caricatos: pai, mãe, irmãs, etc. A mentalidade machista era constante na época, mas, mesmo assim, para mim não correspondia a realidade que eu tinha em casa.
O filme, no seu âmago, foi um conjunto de sentimentos, tudo muito enfeitado de coraçõezinhos e florzinhas...
Há poucos anos atrás vi o mesmo filme, com outros atores e também fiz questão de reler o livro.
O livro me pareceu meio prolongado, mas, apesar dos pesares, foi muito interessante ver a sociedade da época com seus pensamentos românticos e machistas e também com um linguajar e relações bem diferentes dos atuais.
Todos os dois filmes foram bem representados e, principalmente, o atual mostrou, com muita precisão e detalhes bem específicos tanto nos ambientes quanto nos vestuários, que o amor é sempre a mola do mundo. Porém, também o são e o dinheiro e o preconceito.
Os sentimentos são iguais em sua essência, em sua base, mas o enfoque dado a eles, há sessenta anos atrás, é bem diferente do que se vê e sente atualmente!

Stella Maria Oliveira Muehlbauer 

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Crônica do Dia

Nessa semana a crônica do dia é de nossa aluna Sandra e segue tão emocionante quanto as anteriores. Boa leitura!

Amor Bandido


O levantar tornou-se inexeqüível naquela manhã sem o Bandido. A tristeza invadiu a casa como uma rajada de neve embranquecendo tudo, inclusive meus cabelos, e a vida me pareceram completamente sem sentido.
O ser humano se julga perene, no entanto, em diversos momentos, as circunstâncias nos imobilizam e nos colocam inteiramente à disposição dos acontecimentos que se sucedem num ritmo próprio e como expectadores... Assistimos, vez por outra, interferimos.
Foi em um dia de sol que vi o Bandido pela primeira vez dominado e esperando...
Quando eu abria os olhos, às seis da manhã, ele já se encontrava de pé com seu olhar fulminante e sua impaciência à flor da pele, aguardando que eu levantasse para levá-lo à rua em seu passeio matinal.
Na semana que sucedeu sua morte foram os hábitos os carrascos que me torturaram e me levaram às lágrimas e ao recolhimento, sei que preocupações futuras virão bater em minha porta com o passar do tempo, fazendo com que eu me lembre dele e sofra ainda mais.
O propósito dos passeios diurnos era esvaziar a bexiga e marcar o território do “macho” mais “fofo” da área. Passear com o Bandido tornara-se não só um hábito em minha vida como também uma obrigação prazerosa, afinal ele, como “Bandido”, tinha de assaltar alguém, roubar um carinho, um beijo, dar um cheirinho, paquerar as cadelinhas gostosas de fitas rosa, fazer vários amigos... E, com sua simpatia característica, me permitir um deleite sem dimensões.
Bandido tornou-se o centro da minha vida, integrou-se nela como o odor de um perfume raro que se entranha na pele e se faz presente, participou do meu cotidiano como um escravo pronto para servir o dono, conquistou meus amigos, inimigos e familiares que, até então, não sentiam a menor intimidade com cachorros. Foi roubando meu coração sem o menor pudor e, sem constrangimento, se apoderou do meu espaço como um verdadeiro “Bandido”.
Obedecia sem reservas, sua carência afetiva o fazia único, seus olhos meigos e espertos nos faziam acreditar na humanidade, seu andar faceiro e elegante provocava olhares e risos dos transeuntes. Zafir era um poodle de porte pequeno com uma pelagem mesclada de preto e branco que desceu do morro em um dia de sol e não soube voltar, história esta contada pelo seu antigo dono. Sua aparência era de um cachorro saudável, porém, ao examiná-lo melhor constatei uma idade avançada, os dentes podres, a pele ferida, uma peculiar infestação de pulgas e carrapatos e, após uma visita ao veterinário foi detectada Erlichiose.
Nos dias que antecederam sua partida ele foi ficando magrinho, muito magrinho, mais do que já era quando eu o encontrei perdido. Suas costelas proeminentes me deixavam aflita e triste, a morte parecia inevitável. Para ludibriar o sofrimento e não deixar a tristeza me abater antes da hora, comecei a fazer um tipo de humor negro: dei-lhe o codinome de “Fiapo” e assim passei a chamá-lo.
“Fiapo” dos últimos dias e ex-bandido nos dias anteriores e Zafir quando morava no morro, mesmo com o coração fraco e muita falta de ar, não se detinha. Nos momentos de alegria pulava e brincava tanto que cheguei a pensar em perdê-lo ali mesmo, naqueles momentos.
Seu coraçãozinho foi ficando mais fraco, por um fio, e foi parando... Parando de bater. Não conseguindo bombear devidamente o sangue, seu pulmão se encheu de líquido e, na mesa, fazendo eletro, ele teve um enfisema pulmonar seguido de uma parada cardíaca...
“Fiapo”, “Bandido”, “Zafir” - não importa o nome nem o codinome!... O cachorrinho que achei na rua deixou uma saudade. Uma saudade tão grande que, todas as manhãs, me faz chorar só de pensar que ele poderia estar ali me olhando e me pedindo para levá-lo à rua.
Mas a saudade ameniza e, no final do dia, estou rindo com as lembranças dos quatro anos que ele passou em minha companhia, com as alegrias que me proporcionou e com sua transformação de menino de rua a moço de família.
FIM

Sandra Temporal

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Crônica do Dia.

Aproveitando a proximidade com o dia das mães postaremos hoje uma crônica sensível e emocionada do nosso aluno Samuel Kauffmann. Uma boa dica para ler a todas as mães na manhã de domingo.
Leiam, aproveitem e, desde já, desejamos a todos um feliz dia para todas as mães.


Dia das Mães

Na próxima semana, quando aqui estivermos reunidos, já se terá transcorrido mais um dia das mães. Permitam-me homenageá-las desde agora.
Mamãe, a primeira palavra pronunciada racionalmente por mim, como soa doce e apelativa, a fim de satisfazer meus instintos e sentimentos, desde bebê.
Mamãe, tu me cedeste metade deste corpo, que habito temporariamente, com sacrifício e plena satisfação amorosa, mesmo que inconscientemente.
Mamãe, tu me envolveste no princípio em tuas entranhas, com carinho e amor sem igual, e mesmo depois de vir à luz, continuastes me envolvendo com aquela mesma proteção amorosa que somente tu és capaz de manifestar.
Mamãe, hoje, adulto e tão idoso como tu, eu olho para ti e vejo teus lindos cabelos brancos, teu olhar terno, tuas mãos trêmulas buscando tocar-me, tua fronte luminosa, irradiando a luz da sabedoria acumulada por décadas de sofrimento e experiência, teu corpo alquebrado buscando uma firmeza para vir ao meu encontro, chamando-me ainda: "meu menino".
Mamãe, como anseio, constantemente, estar eternamente contigo, numa doação recíproca de amor. Sou seu devedor e ainda não sei como retribuir o quanto me amas. Coloco-me aos teus pés como servo, pedindo tua benção - e não a negas estendendo tuas sagradas mãos sobre minha cabeça, e beijando-me a testa consumas este ato sublime.
Mamãe, que o reconhecimento do Eterno está contigo, eu o sinto em meu coração. Esteja Nele e com Ele. Até breve...


Samuel Kauffmann
09/05/2010

terça-feira, 27 de abril de 2010

Crônica do Dia.

Hoje trouxemos a bem-humorada crônica do nosso aluno Antônio Moura, feita após a primeira aula. Divirta-se!


É Trote

Faz muitos anos que aguardo completar 60 anos, somente para entrar na Unati. Acho que desde que me aposentei  quero ser sexagenário. Isso faz mais ou menos uns... acho que não vale a pena fazer contas. O certo é que aguardei ansiosamente para começar a me reciclar. Os amigos diziam que era assim, que era assado, que as aulas eram boas, que as pessoas eram interessantes etc.etc.etc. Pois bem, eis-me aqui com meus 60 anos e já dentro da Unati. Escolhi as matérias que pretendo cursar e já me sinto preparado para ser novamente um e s t u d a n t e. Estamos em janeiro de 2010 e essa aula parece que não começa nunca. Esse não é o ano da virada? Fico me imaginando na universidade aos 60 anos... Bem, como seriam meus colegas?  Nessa idade se “mata” aula? Como serão as paqueras? Ainda se pisca o olho? E a cola? Será que hoje em dia é crime?  Um senhorzinho sexagenário tem cara de pau para colar? A expectativa é grande e ainda faltam muitos dias para o início das aulas. Olha o carnaval aí, gente! Viajei. Claro, não pulei o carnaval, mas vivi o clima de momo. Lá onde estava, em meio aos sambas, axés e outros ritmos, me pegava pensando no início das aulas. Que é isso, rapaz?  Vá curtir o carnaval - criticava. Bem, chegou o dia. É hoje que a aula vai começar. De cara constatei não haver diferença dos bancos da universidade do meu tempo. Chega uma senhorinha, mais uma e mais outra. Agora entra um senhorzinho. A turma vai chegando devagar e a sala de aula foi se completando. Chegaram também três jovens.

Ih! Meu Deus será trote? Como vai ser? Bom, cortar meu cabelo, me deixar careca, não vai fazer o menor efeito. Borrar de tinta as senhorinhas também não fica bem. Caramba! Será que eu trouxe uns trocados para o Chopp?  Prevenido, saquei meu celular com câmera para registrar. É, porque se a coisa for violenta eu mando direto para o 


Fantástico. E ai, meu filho, tá registrado e não vai haver desculpas.
Vamos lá, digam o que querem:
- eu sou Amanda,
- eu o Fernando
- e eu a Carol
“Nós vamos trabalhar juntos. Somo alunos de Letras...”
Caraca!! Pensei: esses são nossos professores... Os três juntos não somam a idade do mais novo aqui. No mínimo, o nosso trote será tomar uma injeção de juventude...

Antônio Moura.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Crônica do Dia.

Hoje trazemos a primeira crônica da turma de 2010.
O texto está lindo e sensível, preparem-se para emocionar-se com a crônica de Ana Lúcia Oliveira.




A Saudade do Amigo


Nos meus tempos de jovem não vivíamos pensando em tristezas, só tínhamos alegrias. Doze anos e já me preparava para o futuro. Íamos ao cinema, brincávamos o carnaval na rua, nos clubes, enfim, era uma constante atividade.

Mas o tempo passava e eu, como qualquer jovem da minha idade, já pensava em começar a namorar.

Uma manhã, eu saía para o colégio às seis horas, estudava no Pedro II (Maracangalha). Eu ia muito cedo, só que eu morava no Encantado, um bairro do subúrbio do Rio. Era segunda-feira. Encontrei dois rapazes no caminho, pareciam ter uns quinze anos. Um deles se engraçou logo comigo e começou a perguntar por que eu ia tão cedo, pois a entrada no colégio era às sete e meia. Eles também eram do Pedro II, só que do internato. Então eu lhes disse: “É porque vou de bonde e tenho que chegar cedo para jogar pingue pongue”. Mas sempre sem dar muita atenção, seguindo meu caminho que, por sinal, era o deles, só que a condução para eles era o trem.

Se eu me estender mais, não acaba minha crônica. Sempre segunda-feira eu os encontrava e a atenção de um deles era maior para comigo. Esse foi o início de uma amizade, companheirismo, enfim, tudo de bom. O outro era só risos e concordava com os pensamentos do parceiro.

Então passei a namorar o rapaz. Muito tímido para conversar comigo, nos finais de semana sempre mandava recado pelo amigo. É por ele que hoje estou repassando a nossa vida, já com saudades dos anos que tivemos de amizade.

O meu namoradinho se chamava Nei Jorge. Hoje estamos com 39 anos de casados, são 45 anos entre namoro e casamento.

O amigo o qual me inspirei para escrever chama-se Zanelli Antônio, padrinho do nosso casamento, amigo e irmão, nunca nos separamos até hoje. Ele é casado com Luiza, uma irmã que também achei.

Mas a vida não é eterna e ele está nos últimos dias, os amigos estão sempre juntos, meu marido o faz companhia no hospital e nós já contamos os dias para ele partir; Deus tem todo poder de nos criar, compartilhar e depois levar, quem sabe, para um lugar bem melhor do que hoje ele vive e sofre.

Mas eu penso que poucas pessoas conservam amizades tão tenras e sinceras como a nossa em família. Eu sinto como se meu irmão estivesse partindo, mas deixando um exemplo de vida de que às vezes um amigo é tão importante quanto um parente, pois amigo a gente escolhe. Até qualquer dia, amigo...


Ana Lúcia Oliveira da Silva
20/03/2010