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terça-feira, 31 de maio de 2011

Crônica do dia

E o post de hoje traz uma crônica do aluno Apolinário, tratando lindamente o tema alegria de viver. Excepcionalmente, esse é um trabalho antigo, produzido há mais de 20 anos (11/06/1986), e mostra a esperança de um tempo. Aproveitem!

Um país chamado felicidade

"Pra não dizer que não falei das flores."
(Geraldo Vandré)

Havia um certo país localizado além do horizonte, à beira de um lago azul de anil, no sopé de uma montanha, coberta de árvores frondosas, onde habitavam pássaros multicores de canto mavioso.

Chamava-se felicidade, porque seu povo vivia feliz, mesmo que as agruras da vida lhe batessem na face, seu rosto espelhava alegria contagiante e serena, seu sorriso franco e acolhedor, suas lágrimas sinceras, em fim tudo formava um mundo pequeno equilibrado no conhecimento da vida, mas repleto de felicidade. Por isso ficaram sendo conhecidos como os homens de Felicidade.

Conta-se que a muitos anos passados, chegou ao vale um Senhor com sua família e fundou o país que logo cresceu, prosperou e se multiplicou.

Descendente do fundador, nasceu um dia um varão, de tez branca, cabelos sob os ombros da cor do sol nascente, músculos fortes e destemido como as águias que habitavam as montanhas, ms sereno e bondoso como o lago que lhes forneciam o peixe para o alimento. Quando o patriarca envelheceu chamou o rapaz e disse:

- Tu és Príncipe e como tal hás de governar este reinado, na razão e na verdade, na justiça e na esperança, hás de construir um povo feliz como a luz que emana dos teus olhos e teu reino será eterno como o universo”  

E assim dito, assim foi feito.

Seu governo não impunha regras, só ensinamentos, não havia proibições do que dever-se-ia fazer ou não fazer.

·    Todos eram ensinados por todos a não desperdiçar o tempo com futilidades com o ócio ou com preocupações.

·    Todos eram ensinados a ser somente e a conhecer a si mesmos e a ser feliz – no lar, na escola e no trabalho.

·    Todos agiam para o bem comum, na certeza de construir um mundo melhor.


Esses ensinamentos, foram difundidos pelo Príncipe Regente, que fixou na praça principal o símbolo do conhecimento dos seus antepassados e por isso foi festejado e enaltecido.

O jovem Príncipe muito cedo andava às voltas com a terra e com tudo que dela se produz, andou sujando suas mãos com pedras, com terra e barro, até que um dia, alguém lhe deu um galho seco e o desafiou-lhe a plantar, regar e observar.

O jovem curioso e atento seguiu às instruções e descobriu fascinado que podia cultivar uma roseira e dela brotavam rosas; e não satisfeito com seu feito matutou uma forma de engrandecer o seu aprendizado.

Quando sua primeira rosa atingiu o ponto máximo de beleza, colheu e levou ao seu mestre. E deu nome a sua flor: GRATIDÃO. E a todos ensinou que mais importante que cultivar a flor é dar um sentimento nobre ao seu semelhante.

Da primeira rosa batizada de gratidão, ele fez a ideia evoluir e plantou na praça, treze símbolos de sentimentos para seu povo cultivar e admirar.

Contam os antepassados que as pessoas especiais recebiam, anonimamente, treze rosas para simbolizar sua admissão na confraria dos cultores e difusores da felicidade.


01 - GRATIDÃO
02 - FÉ
03 - ESPERANÇA
04 - CARIDADE
05 - HUMILDADE
06 - TOLERÂNCIA 
07 - LEALDADE 
08 - PERSEVERANÇA
09 - SINCERIDADE 
10 - TENACIDADE 
11 - BONDADE 
12 - CONCORDIA. 
13 - AMOR

A missão dos escolhidos era de levar aos corações dos semelhantes, sua filosofia e seus ensinamentos, de forma a perpetuar na terra, a existência de um país um dia chamado FELICIDADE.

Você pode identificar as pessoas que receberam a cidadania do país da felicidade pelo sinal máximo de identificação dos cultores dos símbolos da felicidade, deixado pelo grande Príncipe Regente, porque eles têm:

UM SORRISO FRANCO ESTAMPADO NO ROSTO.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Crônica do Dia

Estamos de volta! E para dar início à nossa semana de Cultura e Literatura Japonesa, temos hoje os haikais(haicais) da aluna Honorina, que falam justamente de como podemos começar a exercitá-los.

Haicais


Haicais são poemas
de tradição japonesa
por Mestre Bashô.

Haicais no Brasil,
é cultura ocidental,
diz o japonês.

Para fazer haicais
não precisa adjetivo
basta só pensar.

Haicus ou haicais
não sei qual palavra certa
gosto mesmo assim.

Hoje, nesta sala
assunto sobre haicais
vocês são bem vindos.

Honorina

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Crônica do Dia

E pra encerrar a semana, quem nos traz a releitura de uma história de arrepiar é a aluna Regina. 
Aproveitem o conto e bom final de semana!!!

"Além da Imaginação"
(Uma cena no Museu)


Pós-guerra, década de 40; no bairro do Brooklin vivia Herbert, um homem de aspecto solitário, chapéu, echarpe no pescoço, barba e bigodes bem acentuados.
Parecia querer não ser reconhecido. Pouco saía de casa. Nas raras vezes em que saia, era ao cair da noite, para não ser percebido. Ele era de naturalidade alemã e estava se refugiando em áreas predominantemente de pessoas judias.
Há anos trabalhara em campos de concentração nazistas com instrumentos de tortura.
Nas noites que saia de casa, temeroso de ser reconhecido, ia para um museu, próximo de seu esconderijo.
Entrava no museu e apreciava lentamente, cuidadosamente, detalhadamente as obras de arte ali exposta.
Certa feita, deparou com um quadro de paisagens muito verdes, um grande lago e um barco ao longe.
Ele se transportava e se imaginava horas a frio neste barco, velejando bem devagar, apreciando minuciosamente a natureza que circundava o referido lago.
Depois, retomava à realidade e ia para casa.
Certa vez, perto do quadro que ele gostava muito, reparou um outro, e ficou arrepiado. Era a cópia de uma "Cadeira do Dragão", instrumento de tortura nazista, que ele mesmo idealizara e fabricara.
Ao olhar fixamente para o quadro, ele viu sua própria figura ao lado do referido artefato.
Voltou logo para casa, nervoso, e no meio do caminho, esbarrou com um homem que pareceu tê-lo reconhecido.
_Ei, você! Não  nos conhecemos?
Mais angustiado, foi para casa e resolveu que iria se mudar.
Pegou seus pertences, deu para os vizinhos, e pensando consigo mesmo foi direto para o museu, já noite, na intenção de refugiar-se definitivamente no lago.
Sem que ele soubesse, dias antes estavam organizando uma exposição, que modificaria a disposição dos quadros.
Chegando lá, com o museu às escuras, apavorado e querendo fugir de si mesmo, ele procurou o local do tal quadro do lago e, sem hesitar, entrou na referida gravura.
No dia seguinte, com a abertura normal do museu, as pessoas puderam apreciar a nova exposição...
 o museu estava cheio.
Uma senhora com sua filhinha apreciavam a exposição, quando a menina perguntou:
_Mamãe, está ouvindo uma voz estranha vinda daquele quadro?
A mãe nem dava atenção, pois via o absurdo de sua palavras.
A menina insistia:
_Estou ouvido um voz vindo daquele quadro: Socoooooooooooorro! (voz da menina)
A mãe, prestando atenção, mais perto da filha, diante da "cadeira do Dragão", ouve também...
_Socooooooooorro, Socooooooooorro, tirem-me daqui!

Regina Celia

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Crônica do Dia

Hoje, temos a crônica do Aluno Homero, que fala do terror/horror da nossa realidade.


O Medo, Respeito e Pavor

Aprendi, desde muito novo, que por maior que seja o predador, ele terá um ângulo de abordagem, pelo qual muita coisa não é lá tão assustadora e, com tempo e paciência, aquilo que parecia assustador, pode ser levado pela coleira como o mais dócil dos animais de estimação.
Aquele aprendizado foi sendo passado por meu pai para cada um dos seus filhos e assim conseguiu formar um grupo de pessoas com carteirinha de boa conduta garantida, sem que se necessitasse recorrer à violência ou outro tipo de expediente de tortura.
Com o nascimento dos meus, passei-lhes também aquela receita e assim conseguiram eles amarrar os burros, até em cercas de arame farpado, sem riscos maiores.
Naquele tempo, o grande perigo para o jovem era a tuberculose e, para evitá-la, recomendava-se uma boa alimentação e alguns outros cuidados com a higiene do corpo, mas mesmo assim muita gente foi decepada por ela, já que muitas doenças ainda não eram identificadas e muita gente morria, no entender dos pais, antes da hora.
Com essas recomendações e a informação de que assombrações não deveriam ser levadas em conta, começamos a verificar que a bebida, o cigarro e mais tarde as drogas passaram a ser o real bicho papão que se escondia. Entre os interesses de políticos, disfarçados de vigilantes do povo, mas que não passavam de quadrilheiros, vigaristas e todo o tipo de inimigo público número um.
É claro que com isso, fica muito mais difícil levantar um muro de proteção.
Como poderemos verificar, o terror não está nos filmes de terror, nem nos terroristas, mas sim nesse bandido fantasiado de gente com paletó e gravata.
Quem não lembra daquela cena mostrada na televisão, onde o então deputado, Sergio Naya, aparece falando como conseguia favores políticos, e depois vimos o que aconteceu com os edifícios construídos por ele no Rio de janeiro, que estão na justiça até hoje, sem que se tenha esperança de liquidação do processo. Isso sim é apavorante, pois não há para quem apelar.
Com um acidente, uma violência ou sabe-se lá de que, a gente morre e estamos conversados. Focando a morte, por conta de um acidente de percurso, ou daquela história de que morremos, sempre na hora certa, do nosso calendário de vida.  

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Crônica do Dia

Nossa terceira crônica de horror/terror fica por conta da aluna Isaura, que nos fala de um causo que gelar a espinha! Divirtam-se... ou apavorem-se!

O casarão

         Passeando pelos corredores da fazenda de um tio, eu e dois primos, vivemos uma aventura assustadora. Nos perdemos ao voltarmos, não lembrávamos o caminho. Passamos por várias trilhas que não davam em lugar algum. Até que encontramos já meio escondida pelo matagal, uma estreita alameda que ao seu fim, encontramos um portão de ferro já enferrujado. Com dificuldade, conseguimos abri-lo. Continuando a caminhar, avistamos um grande casarão, que mais parecia um palacete , mal-tratado pelo tempo, parecia abandonado.
           Metidos a corajosos, mas na verdade, medrosos, resolvemos entrar no assustador casarão. Logo deparamos com grandes teias formadas pelo tempo. Os móveis empoeirados, quadros nas paredes, enviesados. Porém, um deles chamou mais nossa atenção, porque dava a sensação de que nos observava. Barulhos estranhos que talvez fossem frutos de nossa imaginação. Subimos a escada que dava para o andar superior. Mas como rangia a cada degrau pisado! Havia outra escada que nos levou ao sótão. Queríamos voltar, mas a curiosidade era maior! Entramos, mas os ruídos eram fortes demais! Era como se ali morasse alguém, pois o ambiente era diferente. O medo, aumentando! Resolvemos sair depressa dali, pois embora não vissemos ninguém, as vozes gritavam: Faro! fora! Corremos apavorados, quando a porta se abriu, e vimos uma criatura estranha e estática à porta, a nos olhar assustadoramente.
          Corríamos tanto, até chegarmos à alameda. Para alívio nosso, ouvimos vozes chamando por nós. Eram os empregados da fazenda nos procurando, pois já estava anoitecendo.
           Depois de contarmos a desastrosa aventura, eles nos disseram que o casarão, era tido como mal-assombrado, e que os antepassados que lá viveram, continuam vagando por lá.
             Oh! Que terror!

             Isaura

terça-feira, 24 de maio de 2011

Crônica do Dia

E para o nosso segundo dia de horror/terror, a aluna Stella nos leva mais uma vez por suas memórias, falando de outros tempos e de seus pesadelos aterrorizantes... Sem perder o bom humor!

Pesadelo

          Estava eu dormindo, na minha casa, num dia qualquer da juventude acordei e olhei para a porta aberta, que dava para a sala e, sendo míope e estando sem óculos, é lógico, vi um vulto passando pela porta aberta. Vinha do quarto dos meus pais e ia na direção da cozinha. Nem me abalei. Virei para a parede e deitada fiquei.
          Alguns minutos mais tarde, ainda acordada, senti um barulhinho no meu quarto. Quem seria? Talvez meu pai ou minha mãe que, sempre quando acordavam à noite, olhavam para suas duas filhas, para conferir se estava tudo certo. Minha irmã continuava a dormir feito um anjo.
          Virei-me novamente, já que estava olhando na direção da parede, e a "figura" (seria fantasma ou ladrão?) saiu do quarto e foi no sentido do quarto e foi no sentido do quarto dos meus pais. Mais certeza me deu de que seria um deles: só estranhei ao ver que andava um pouco apressado.
          No dia seguinte, ao acordar, falei com a minha mãe do que havia acontecido e perguntei-lhe se fora ela quem entrara. Ela disse que não. Perguntei a meu pai e a mesma resposta me foi dada.
Falei-lhes então, aterrorizada, que um fantasma entrara em nossa casa . Ou teria sido sonho meu?
          Mas...eis a surpresa. Tudo se explicou em alguns segundos.
          Um ladrão havia entrado pela janela do quarto de papai e mamãe (naquele tempo, nos sobrados, as janelas ficavam abertas à noite...) e roubado dinheiro, relógios e percorrido toda a casa à procura de algo mais. Será que ele dera um pozinho ou spray para todos, menos pra mim?
          Não se sabe...E viva a minha miopia!
          Mas o pesadelo foi grande e o prejuízo também. Graças a Deus, porém, entre perdas e danos, salvaram-se todos.
          E se fosse hoje?

          Stella Muehlbauer

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Crônica do Dia

Para iniciar a semana do horror/terror no blog do LerUERJ, trouxemos mais um conto do aluno Samuel. De maneira altamente metafórica, ele descreve, com muita criatividade, os pavores da humanidade.



Persona Trágica 


     Vou lhes contar uma história. Uma história do outro mundo, ou de um outro mundo – bem, como queiram.
Acabei de chegar de lá. E de lá parti na hora nona da noite. Vou lhes explicar. Lá, o tempo diário é dividido em dois compartimentos. Ao pôr do Sol, termina rigorosamente o dia e inicia-se a noite – então, é zero hora da noite. Uma hora após é a hora primeira da noite – e assim sucessivamente. Logo, hora nona corresponde a três horas da madrugada aqui. Ao findar a noite e começar o amanhecer, recomeçam a contagem do tempo, que se inicia com zero hora do dia. E recontam as horas; como hora primeira do dia, hora segunda do dia, etc..
      Vez ou outra eu faço uma visita inesperada àquele mundo tão estranho. Todos os habitantes são atores representando seus papeis, nos diversos palcos da existência, segundo as culturas de cada povo. E, acreditem, são muitíssimos os palcos. Eu nem pude contá-los com absoluta certeza. Eles sempre se apresentam com máscaras. E, nunca uma delas é igual à outra. Quando saem do palco e vão para o bastidor, retornam sempre com uma nova máscara. À primeira vista, pode se confundir algumas máscaras; mas, se aguçarmos a visão, perceberemos diferenças sutis.
       Notei que ficam de um pequeno lapso de tempo até um período bem grande nos palcos, de acordo com o papel de cada um. Ali eles nascem e crescem e morrem. Porem, quando partem para os bastidores, aí sim, eles demoram a voltar para continuar a representação...


sexta-feira, 20 de maio de 2011

Crônica do Dia

Hoje, de uma maneira muito delicada e sensível, a aluna Ney nos traz um texto bastante inspirador. Bom fim de semana!

A menina amorosa


Na roça havia uma grande fazenda, com criação de gado, porcos, também plantação de café e milho.
Mariazinha era filha do fazendeiro. Criada cheia de mimos, pois sendo a caçula, tinha todos os desejos atendidos.
Seu pai, homem de muito trabalho, só aparecia no final da tarde. Mariazinha esperava por ele todos os dias na varanda do casarão.
Certo dia, ela estava lá a esperar, quando anunciou um temporal. Ficando ansiosa, não saia do beiral da varanda. O vento e a chuva molhando todo seu rosto e suas roupas. Sua mãe tentou tirar a menina da chuva, mas nada. Ela dizia "Vou esperar meu paizinho". As horas passando, a noite chegando, com trovões e raios assustadores. Ela não arredava pé. Já cansada e com os olhos lacrimejando, olhou para a tempestade e pediu:
_ Deus, traga meu paizinho depressa para que ele não fique doente com tanta chuva. Sei, Deus, que seu cavalo, o Veloz, sabido, encontrara o caminho nesse escuro de breu.
Adormeceu sem sentir. Tão de repente, Veloz apareceu com seu Geraldo no lombo, todo molhado, sujo. Tinha caido num barranco e não conseguia subir, por isso a demora, tentava, tentava, e nada.
Depois, com todos refeitos, começaram a comer e conversar, tomando leitinho quente com mel e biscoito de nata.
Mariazinha, no colo de seu Geraldo, toda aninhada, falou:
_Paizinho, rezei pra deus lhe trazer de volta no lombo do Veloz e Ele me atendeu. Dormi e acordei já aqui no seu colo.
Seu pai disse a todos com grande espanto:
_Não sei, mas algo divino aconteceu. Não achava jeito nenhum para subir o barranco, com aquela chuva infernal, quando Veloz, relinchando e pulando, empurrou um   tronco grande, que caiu bem dentro do barranco, facilitando a minha subida. Naquele momento olhei pro céu, cheio de raios e trovões e agradeci a Deus por poder voltar são para minha filhinha tão querida.
Assim, devemos saber que, mesmo sem saber escrever, pedi a Deus que me desse uma inspiração. Ele me fez criar essa historinha, pequena, mas mostrando a todos nos que temos que ter fé, e saber que todos os pedidos, de uma maneiras ou de outra, são atendidos. Deus é misericordioso, abençoa minha vida, em todas as direções. 
Obrigada, professores, colegas e leitores por poder me expressar, mesmo que seja de vagar, um pouquinho.

Ney Bretas Neves

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Crônica do Dia

As saudades da aluna Ângela são o nosso deleite literário de hoje.

Eu me lembro com saudades...

Quando penso na escola, no aprendizado e na convivência, fico feliz em perceber o quanto foi plena a minha infância.
Cresci no emprego da minha mãe, doméstica e mãe solteira. Sua patroa era minha madrinha e juntas tiveram a tarefa de me preparar para o mundo e para a vida. E assim foi.
_Acorda, minha filha! O dia já chegou e não espera por você! Escove os dentes e venha tomar o café da manhã.
_Já fez os deveres? Deixa eu ver.
Minha mãe não sabia ler ou escrever e eu nunca a vi titubear diante dos meus cadernos.
_O que é isto aqui? Com esta letra? 
Eu lia cuidadosamente e ela respondia: ah! Bom, assim está ótimo.
E havia a madrinha atenta, corrigindo o necessário e elogiando sempre.
_Pronto, a tarefa está pronta. Vamos para o banho! Não esqueça os ouvidos. 
O uniforme imaculado em cima da cama me esperava com o emblema e a divisa para serem colocados no peito e no ombro. E havia a boina, para mim, o toque final.
_Linda, mãe, eu estou linda!
Tio Fausto era o nosso padeiro, que entrava na rua com uma buzina na mão, pedalando o seu triciclo. Que cesta! Cheia de pães e doces. Com creme, com açúcar cristal, goiabada, enfim, um sonho diário. Escolhia o meu e subia feliz para minha mãe, assim, arrumar a merendeira. Limonada, café com leite, ou Toddy? Ah! Tudo é bom com pão doce!
Já estou indo para a escola. Vou de bonde, mas não posso me sentar na ponta.
_É perigoso, diz minha mãe, vem no colo porque assim você não paga passagem.
Lá vou eu no colo da minha mãe, vendo tudo e todos do alto.
Não fico triste, o colo é bom, quentinho e seguro. Não tenho medo de nada quando estou com ela; nem mesmo quando passo pelo portão. Fico na escola com a certeza de que mais tarde estarei de volta à minha casa e às minhas mães. Vai ser bom. Se volto de bonde? Aí... É uma outra crônica.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Crônica do Dia

E quem hoje nos leva nas asas da imaginação, literalmente, é a aluna Isaura. Boa leitura!

Aventura Desastrosa

Lili estava olhando os verdejantes prados que se perdiam de vista. Ao longe avistou uma casa toda branca e cercada de jardins floridos. Da chaminé saia fumaça. E admirava toda aquela beleza quando pousou em seu ombro uma grande e lenta borboleta multicolorida, querendo conversar. E foi logo perguntando para onde Lili olhava tanto! Quando ela respondeu, disse que morava nos jardins daquela casa e convidou-a para conhecê-la.
_Mas é muito longe! Eu não aguentaria ir até lá!
_Não se preocupe, eu te levo nas minhas costas. Você vai sentir como é bom voar.
Já estavam quase chegando, quando perceberam a aproximação de um tornado e, assustadas, mas querendo livrar a casa, resolveram enfrentar o tornado e desviá-lo para outra direção. Entraram naquelas nuvens escuras e conseguiram o seu intento.
Ao chegarem na casa, depois de relatarem o acontecido, foram brincar no jardim. Enquanto brincavam, a senhora preparou uma suculenta sopa com os legumes colhidos de sua horta.
Lili se despediu e agradeceu a acolhida. Voltaram a voar quando Lili se desequilibrou e caiu! A borboleta rapidamente fez uma ziguezague, mergulhou no espaço e conseguiu salvar sua amiga. Mas, com isso, quebrou uma das asas e, com muito custo, voltaram à casa hospitaleira. Dona Chiquinha, este era o seu nome, e Lili depenaram umas galinhas e fizeram uma asa e prenderam no corpo da borboleta, que mesmo manca, conseguiu voar e levar Lili de volta à sua casa.
Porém, com o peso da amiga, a outra asa também fraturou.Com muita dificuldade, conseguiram chegar próximo à casa, já que a borboleta não resistiu e desmaiou. Desta vez, foi Lili quem aprendeu a voar, para salvar a borboleta e cuidar dela.

Isaura

terça-feira, 17 de maio de 2011

Crônica do Dia

Hoje teremos a história de um anjo, escrita por Stella Muehlbauer.                                                          


Um Anjo

José e Maria casaram-se. Tiveram uma filha, Rosa, mas cinco anos depois, descobriram a falada incompatibilidade de gênios, como milhões de casais no Mundo inteiro, e separaram-se.
E a vida foi passando. Maria trabalhava numa fábrica e tinha uma "vespa", na qual levava sua filha todos os dias à escola e depois ia para o seu local de trabalho.
Tudo corria bem, mas com muito sacrifício. Eis que um certo dia aparece um estrangeiro imigrante na fábrica; e Jamal, esse era o nome dele, e Maria se apaixonaram. Daí  a terem um filho, poucos meses se passaram. 
Nasceu Henrique, um anjinho que foi-se tornando o bebê mais encantador da redondeza, bochechudo e o mais querido por Rosa, Maria e Jamal. 
Oito meses depois, Maria saiu com a filha e Jamal ficou com o filho em casa, pois esse estava enjoadinho e chorava muito. Houve até uma hora em que Jamal perdeu a paciência e colocou-o raivosamente no berço. 
À noite, Maria acalmou o bebê dando-lhe um banho morno, mas ela notou duas manchas marrons em suas costinhas. Conversou com Jamal e, na sua cabeça, achou que o pai havia batido no filho. Brigaram, desentenderam-se e ela expulsou o marido de casa. 
Injustiçado Jamal deixou o emprego e foi-se embora. 
Alguns meses depois, as manchas continuavam lá e Maria notou algo diferente. Assustou-se e, junto com Rosa, levaram-no ao médico. Este disse que o menino era perfeito e, para surpresa de todos, aquilo eram duas asas que lhe haviam crescido nas costas.
Desanimadas, as duas, resolveram não deixá-lo mais sair de casa. E o tempo foi passando. 
Qual não foi a surpresa! Um belo dia a criança sumiu. Procuravam-na em todos os cantos da casa. Nada! 
Foram até a rua e logo formou-se um grupo solidário de vizinhos que desandou a correr chamando: 
-Henrique!
Após uma hora de buscas viram no céu algo se aproximando! Era o anjinho, voando com as suas asas, lépido e fagueiro e cada vez que alguém se aproximava, mais ele se afastava  para os lados de uma grande floresta que existia perto da periferia da cidade onde moravam. 
E sumiu! Uma Tragédia!
Todos voltaram para casa e as duas desesperadas. 
O pai, onde estava, leu no jornal a notícia (sim, havia saído até nos jornais e na TV) e voltou. 
Fizeram as pazes, mas o anjo nunca mais voltou. Nove meses depois, um outro anjinho nasceu. Este, sem asas, deixou todos alegres e prontos para uma nova vida. 
E foram felizes para sempre...                             
                      

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Crônica do Dia (anterior)

Hoje, excepcionalmente, teremos duas postagens (por conta de falhas técnicas no Blogger na sexta-feira, 13, a postagem daquele dia não foi ao ar). Deixaremos um gostinho do Conto Insólito, do aluno Samuel Kaulffmann, e mais abaixo, para quem quiser, o endereço do texto integral.

Conto Insólito

O rapaz pedalava, imaginando a sua bicicleta como um veículo que transportava uns pequeninos humanoides.  Eram eles que conduziam e  controlavam. Ele se via a si mesmo como a máquina propulsora.  O seu pensamento não estava presente aqui em nossa realidade; pois a sua realidade, em determinadas ocasiões, era a de outra dimensão, fora do nosso tempo e do nosso espaço...

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Crônica do Dia

O aluno Homero nos convida a, junto com as andorinhas, sentir o revoado das artes.

Revoartes - Mesquita do Barão                 

A provocação é falar da história do mundo encantado discutido pelo mundo do teatro, cinema e livres pensadores no assunto. E assim, as histórias que não merecerem ser contadas, ficariam para  ad eterno, esquecidas até para os protagonistas delas.
Então, com o pedido de desculpas aos participantes desse laudo banquete, pedimos para contar uma história nossa, sonhada, idealizada e vivida por nós.
De 1980 à 2007, vivemos em Teresópolis, onde a arte e a cultura, escondidas em cada um dos portadores dessas manifestações, gritavam por suas liberdades, na pessoa do trovador, do poeta, do escritor e do jornalista que não viam como falar de sua Serra, falar do seu Rio, falar do seu dia-a-dia, onde suas praças com suas árvores floridas bailavam ante ventos gostosos que fazem dessa nova vida esse gostoso ir e vir.
Com tudo aquilo que havia reunido ao passar pela associação de amigos das bibliotecas de Copacabana, Glória, Estadual, na condição de idealizador de projetos e na Direção, diante de todo aquele desafio, iniciamos a busca dos elementos de sustentação da ideia embutidos, no camuflar formado pelas variantes tonalidades do verde e das sombras formadas por esse camuflar de verde, as imagens formadas na Serra dos Órgãos, onde o Dedo de Deus gritava mais alto e assim o pintor, o poeta, para ele voltasse o seu pincel e sua  pena.
Diante de tudo aquilo, foi só pensar em um nome que pudesse traduzir com firmeza todo aquele encanto, e Revoartes Teresópolis, Revoado pela mais antiga das mensageiras, a Andorinha.
E para completar a forma de aproveitamento daquele arremedo de ideias, juntamos copias em xerox da parte daquilo que foi, durante todo aquele período, registrado, onde o pronunciamento de países convidados abriram seus espaços a seus artistas, a cada um contar aquilo que vê a sua volta.
Revoartes, Mesquita do Barão, é a proposta que fazemos para que por sua voz falemos do nosso trabalho onde a UNATI, a UERJ e nós, poderemos falar do que somos e o que pretendemos daqui por diante.
O próprio local em que está instalada a UERJ, antes a Favela do Esqueleto, gloriosamente salva pelo Governador Carlos Lacerda é assim: passando de um espaço perdido a um espaço perdidamente dedicado à  evolução de todos que, como nós, para aqui viermos em busca de nós mesmos                  

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Crônica do Dia

Hoje, temos o texto da aluna Ney Bretas Neves, que nos passa um grande ensinamento para ser utilizado em  nossa vida. 

Devagar se chega ao longe

Na minha infância, houve no colégio, uma peça de teatrinho. Peça que juntaria alunos do primeiro e do segundo ano. Minha professora, Dona Solange, designou vários papeis, meninos como árvore, gato, cachorrinho; Meninas como flores, rosas, cravos, todas iriam falar um versinho, dançar, etc ...
Eu, ia ser uma joaninha. Fiquei muito triste, pois ia só bater meus braços, fazendo de conta que voava. Fiquei triste, menosprezada. Comecei a falar para os coleguinhas que não queria fazer aquele papel. Disse também que não devia servir muito, por isso, Dona Solange me deu aquele papel.
Chegou aos ouvidos de minha professora que era muito paciente e me explicou que aquela peça era para nos divertirmos e aprender algo de união. Pois, todos precisamos uns dos outros, mesmo achando que somos inferiores, assim como a terra precisa da água para florescer, os animais precisam uns dos outros, a lição era uma explicação, entre a vida entre os animais e eles precisariam sim da joaninha para alegrar o jardim, cheio de flores esperando seu pulinho.
Nunca mais, precisei me sentir menosprezada. Aprendi e me tornei uma pessoa que compreende todos os altos e baixos da vida.              

terça-feira, 10 de maio de 2011

Crônica do Dia

Hoje postamos a crônica da aluna Honorina: o Homem pelo ponto de vista do seu Melhor Amigo.

O Homem visto por um animal
O cachorro

Vejo no homem um grande amigo.
Estou sempre ai seu lado.
Quando ensinado, sou protetor, guia, e até artista!
Vivo no mundo imaginário dos poetas, dando inspirações.
Tenho sentimentos, amo, e sou amado.
Principalmente pelas crianças!
Com meu amigo, estou sempre passeando.
Tenho minha liberdade, mas quando sou contrariado, procuro me defender, fico triste.
É uma zanga passageira, logo tudo se normaliza, coisas de momento.
Sou feito de pedra, madeira, vidro, ouro e pelúcia.
Sou importante em qualquer ocasião, estou sempre feliz.
Agora eu sou Cachorro-Chaveiro feito de miçangas,
enfeitando mochilas das garotadas.
Vida de cachorro é assim mesmo!

Honorina

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Crônica do Dia

Lembra-nos Stella Muehlbauer: lobo que não dorme de olho aberto acorda com pedra no ventre.

A galinha que criou um ratinho

Esta foi uma história que li não sei onde e nem quando. Mas achei bonitinha.
Numa casa lá no interior dos interiores do Brasil, moravam um galo e uma galinha, sua esposa. Eram muito felizes, mas passaram-se os anos e nada de filhos.
Um belo dia apareceu à sua porta um ratinho branco, lindo de morrer, e o casal começou a brincar com ele, a fazer-lhe carícias e a galinha, além de dar-lhe mil beijinhos, fez um quitute queijístico que o ratinho comeu até se fartar.
Ele foi crescendo e sua mãe postiça sempre recomendava:
__ Filho, quando nós estivermos fora, não abra a porta de casa para ninguém. Pergunte sempre quem é e preste atenção à voz que lhe responde, pois anda por aí um lobo-guará feroz que adora comer animais pequeninos!
Certo dia, estava o rato sozinho e bateram à porta. 
__ Quem é? perguntou ele.
Distraído que estava, a  brincar com o patinete que o pai lhe dera, foi até a porta e abriu!
Que aconteceu? Lá se foi o pobre bichinho para a barriga do lobo-guará.
Este, quando ia saindo da casa, feliz e empanturrado, foi visto pelo casal que, ao entrar em casa, deu falta do filho.
__Ai, meu Deus, que tragédia! Que faremos?
O galo então teve uma ideia brilhante.
__Mulher, pega esta garrafa de cachaça e coloca-a bem naquele atalho perto do rio. 
E assim o fizeram. No mesmo dia, o lobo passou por ali e, como era um bebum de marca maior, tomou toda a caninha. 
Conclusão: depois de um almoço apetitoso e de uma carraspana, adormeceu.
O galo, então, pediu à mulher que o acompanhasse até o atalho levando agulha, linha e tesoura. Viram o lobo apagado, cortaram sua rotunda barriga e tiraram o ratinho, que saiu meio tonto pelo álcool.
Assim como naquela história da Chapeuzinho Vermelho, colocaram uma grande pedra dentro de seu ventre, costuraram-no e lá se foram para casa.
Quando o lobo-guará acordou, estava com ressaca e uma sede danada. Correu para o rio para beber água, mas logo afundou e foi-se para o além! 
Moral: filho desobediente paga por todos os seus erros
E quem disse que lobo-guará está em extinção.

domingo, 8 de maio de 2011

Crônica do dia (das mães)

Homenagem especial do LerUERJ a todas as mães, em seu dia, por Samuel Kauffmann

À Grande Mãe

Ó Grande Mãe Cósmica, Amorosa Fonte Altíssima, Eterna Geradora, Nossa Sagrada Origem, sinto um desejo elevado de vos agradecer, de vos venerar, homenageando todas as nossas mamães, em todos os povos, em todos os momentos de um reconhecimento eterno.
Vós que unida estais ao Princípio Masculino, desde o início da Manifestação Primordial Cósmica, gerastes a natureza material, desde a energia condensada em micro pacotes das partículas subatômicas até o macrocosmo, manifesto por todas as galáxias no espaço infinito – e vós sois este infinito, que contém toda a energia visível e invisível.
Em algum momento da eternidade, fecundada pela energia viva do Oposto unido a vós, gerastes a Vida, programada para a evolução, que se nos apresenta na multiplicidade dos seres temporários, da qual faço parte, bem como todos os meus irmãos e irmãs.
Ó Grande Mãe, acolhe-me em vosso seio, mantenha-me em vosso abraço, inunda o meu ser com vossa energia amorosa, mantendo-me vivo e jovem além do aqui e agora, além do corpo perecível. Quando aquele momento chegar, em que abandonarei o estado sólido, para ir além de todos os estados, unindo-me a vós no vazio preenchido pelo Pensamento do Eterno, na Luz Puríssima que não é a física, com certeza estarei em vosso “útero etéreo”, protegido e sendo reestruturado para prosseguir no Caminho do Espírito. Permita-me que, aprendendo pelo vosso exemplo, também seja igualmente capaz de manifestar um amor de tal grandeza, como é o vosso Amor.
Desde o surgir da humanidade consciente, manifestais a vossa Presença, constantemente, simbolicamente, em muitas mães na história das diversas culturas, como mães graciosas; mães amorosas; mães dolorosas; mães carinhosas; mães guerreiras; mães heroicas; mães protetoras; mães severas; mães doadoras; mães criativas; mães altruísticas; e, principalmente, as mães que perdoam, sem exigirem qualquer retorno.
Ó Luminosa, todos os dias são “dias das mães”; todavia o próximo domingo estará consagrado, mais uma vez no ciclo anual, a vós. Recebei de todos os vossos filhos o ósculo sagrado!
Por isto, quero vos gritar o meu sentimento, sempre:
- Amo-vos! Amo-vos! Amo-vos!
- Adoro-vos! Adoro-vos! Adoro-vos!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Crônica do Dia

A aluna Ney Bretas Neves relembra, em sua crônica de estreia no blog, seus saudosos carnavais.

Carnavais saudosos

Lá pelos meus cinco ou seis anos, meus pais me fantasiaram de havaiana, depois índia. Vejo nas fotografias. Pousava toda alegra pra foto na grade do muro da minha casa.
Mais tarde, com uns oito anos, brincava no Salão de cabeleireiro do Zazá, que ficava na mesma calçada da casa dos meus avós, onde eu morava com meus pais. Ele fechava sua loja pra alegrar a criançada da vizinhança no Carnaval. Enfeitava com máscaras, balões, serpentina, tudo muito colorido. À tardinha, nós pulávamos sem parar o som das marchinhas, pais e mães do lado de fora, de olho nos seus filhotes.
Me lembro, a fantasia não importava, uma calça branca pela canela, uma blusinha bem colorida, o cabelo rabo de cavalo com uma flor, no pescoço um colar havaiano. Lá ia eu, toda prosa, só queria era pular muito. Todos nós não queríamos que acabasse o baile, íamos todos reclamando, embora cansados, todos suados, mas queríamos sempre mais. Nós, crianças, sabíamos que só ano que vem haveria outro baile. Que pena...
Uma vez fui passar o Carnaval na casa dos meus tios, lá pro lado de Raiz da Serra, o lugar tinha alto-falante anunciando, a todo momento, o concurso. Minha prima Ondina se candidatou à rainha do Carnaval, não é que ela ganhou?! Foi um Carnaval inesquecível, a família toda em cima do coreto. Que honra! Meu primo Wilson, irmão da rainha, eu, minha tia Totinha e meu tio Augustinho. Coroamos minha prima com seu vestido branco de voil, renda e paetês. A coroa era linda, cheia de pedras brilhosas. Até hoje lembramos com saudade daquele Carnaval.
Depois, moça feita, com meus quinze anos, fui a um baile de Carnaval à noite, no clube - Greipe da Penha. Meu pai me levou, disse que eu já tinha idade para ir. Na ocasião ele trabalhava como comissário de menores, para fiscalizar se algum menor estava sem responsável. Levei a Luzia, minha vizinha e amiga. Nós nunca tínhamos ido a um lugar assim, foi uma novidade, muito legal. Logo arranjamos mais coleguinhas, começamos a dançar sem parar, uma segurando a cintura da outra, fazendo um cordão, um bloco. Só pararmos para tomar guaraná. E assim foram três dias de folia, chegávamos quase ao amanhecer, dormíamos o dia todo, à noite voltávamos pro Carnaval.
A fantasia era um short, um tomara-que-caia, cabelo preso com algum enfeite, só isto bastava para esbanjar a alegria de poder brincar num baile de Carnaval à noite. Assim foram as minhas saudosas lembranças de Carnaval.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Crônica do Dia

O aluno Homero não cansa de nos surpreender. Essa é a história do amor de sua vida, que durou 61 anos. Lindo.

Amor de Carnaval

Sei lá, são tantas as formas para manifestarmos os nossos sentimentos que eu, por exemplo, não seria capaz de dizer, com segurança, aquilo que me iria ocorrer, com o passar de emoções, muito acentuadas, ao abrir-se como ocorre no Carnaval, com aqueles atingidos por tais emoções.
Eu, por exemplo, jamais tive necessidade de explodir em tal dimensão, fosse qual fosse o momento de que me estivesse libertando, como fazem durante os folguedos de Momo.
Até hoje, aos 89 anos de idade, deu para ir diluindo, no decorrer de cada emoção, a liberação da adrenalina ideal para cada um desses meus momentos vividos.
Se tivesse que destacar, nos carnavais passados, um fato que merecesse por todos os motivos ser destacado seria um encontro ocasional com aquela com quem passei a minha vida, sem que ela e eu fossemos carnavalescos. Foi puro acaso.
Como sempre, os meus passeios como jovem, em busca do destino, que dizem estar em cada esquina à nossa espera, prontinho para fazer a sua parte, naquele carnaval saímos, como saímos todos os dias de folga, para ver como a vida está andando. E naquele carnaval, lá pelos idos dos anos 50, eu e meus dois amigos, João e José Maria, saímos para o centro da cidade local, apropriada para se ver o carnaval. E lá estavam as três, como nós, sem fantasia, sem lança perfume, nem confete, apenas como observadoras. E, ninguém sabe explicar como saiu a conversa. Elas eram moças recatadas, e, alguém teve a iniciativa de atirar a primeira palavra. Acredito que não tenha sido eu, nem o João que também, como eu, não era atirado nesses momentos. Mas, algum anjo bom teve a iniciativa de iniciar aquele papo, que para mim, durou 61 anos.
Naquele tempo, eu morava no Jardim Botânico e, ela em Vila Isabel, trajeto feito de ônibus, já que de bonde, condução para a ocasião, levava séculos para chegar de um lugar ao outro.
Assim, aqueles cinemas de domingo e feriado, eu sempre chegando atrasado por ter o hábito de ir à praia antes dos afazeres da tarde e assim ela é quem pagava o pato com a espera.
Mas, a coisa foi andando, as minhas navegações no trabalho foram-se ajustando,quando vi, estava pronto para casar, após três anos de namoro e noivado. E, em 16 de junho de 1951, entramos na igreja Nossa Senhora de Lurdes, em Vila Isabel.
O estranho é que o padre que celebrou o casamento, logo deixou a batina. Não sei se também por algum motivo de carnaval, sei lá, carnaval dá tanto tema.
Tivemos dois filhos, de belíssima formação, graças a ela, ninguém teria sido tão competente.
Hoje, vejo o carnaval pela janela do meu apartamento, olhando, olhando...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Crônica do Dia

A aluna Honorina expressa toda a saudade que ficou depois das cinzas dos carnavais antigos.

Carnaval da Saudade


Festa momesca. Não sei quando começou, mas desde criança, ouço falar em Carnaval; me acostumei e sou apaixonada. Aqui começa sempre com o Zé Pereira, um comerciante que gostava de Carnaval e tocava bumbo.
Dizem que morreu de bebedeira. Ouvi muitas vezes cantada trocada a letra da música. Ela marcou muito, me lembro com saudade; basta tocar o Zé Pereira, eu me empolgo e passa um filme na minha cabeça. Começando pelo entrudo, uma brincadeira de sujar as pessoas de lama, farinha de trigo, ou maisena; eu me escondia de medo e também do mascarado.
É muito bom relembrar momentos, pois em cada música eu vejo uma história, às vezes até parece com a minha vida contida nas letras.
Eu passei minha infância, juventude, maturidade, e agora na terceira idade ouvindo-as. Tenho o mesmo entusiasmo de antigamente, só que agora ouço Cd. 
Basta tocar o Zé Pereira, sinto o calor do Saara, os foliões vestidos a caráter, eu adorava, brincávamos sem medo de bala perdida, era muito bom. A tourada em Madri que nos deu tantas alegrias, os hinos dos clubes criado por nosso legal Lalá, o pierrô apaixonado pela Colombina, o arlequim sempre alegre, a jardineira que é da minha idade: a Maria Sapatão com lata d'água na cabeça para lavar a cabeleira do Zezé, para não ficar careca, porque a fonte secou.
Tá-hi, o pó de mico, chamando o guarda de lanterna na mão procurando a máscara negra. O bigorrilho que queria a chave do vovô na porta da Colombo que estava sassaricando. Ah! Não podia faltar a chupeta pro bebê não chorar. Recordar é viver, aí vem a vassourinha varrendo a tristeza dos corações daqueles que sofreram por amor. Ei, chegou a Turma do funil e pensou que cachaça era água, ficou com bafo de onça e escorregou na casca da banana. Ah! Está chegando a madrugada na Cidade Maravilhosa, bandeira branca, e se a canoa não virar, amanhã eu chego lá porque é quarta feira de cinzas, como tudo vira cinzas, só ficou a Saudade.
Este Carnaval eu passei em Barra de São João.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Crônica do Dia

Mais uma semana de atividades no blog do LerUERJ se inicia, e o tema da vez é: Carnaval! O aluno Apolinário Albuquerque deixa para nós suas impressões saudosistas sobre o assunto.

Recordações de Carnaval

Será que alguém de hoje pode, em sã consciência, dizer que não conhece as músicas antigas, especialmente, as marchinhas, que ainda hoje se tocam nos bailes de carnaval?. Pois, se não conhecem é porque não prestaram a devida atenção à vida. Como poderemos classificá-los: alienados, talvez?
Como uma mensagem subliminar martelando em nossa mente - seguir sempre em frente, nunca parar e, seguir pela vida como Moisés abrindo o mar morto, gritando em plenos pulmões com autoridade: “Ó abre alas que eu quero passar, eu sou da lira não posso negar" (1899), pedindo passagem à vida para viver plenamente.
Mesmo que você hoje se fantasie de esperanças pseudo europeias, ou mesmo como agora em moda – “se achando” americanizado – pensando que isso o faz melhor ou mais poderoso do que realmente é, a sua imagem não permite negar a tua raça de brasileiro: caboclinho querido: “o teu cabelo não nega" (1932).
Veja, por favor, à sua volta – as belezas naturais – rios de águas claras, montanhas verdejantes, o canto do sabiá, a brancura das praias, a alegria transbordante, – e um pôr do sol inigualável – que como em nenhum lugar do mundo se harmonizam nessas cores, sons e sabores. Veja o andar brejeiro daquela “linda morena" (1932), porque ela representa tudo quanto eu sempre implorei desde a infância aos céus: “Mamãe, eu quero" (1936).
Quando ela vem, pelas calçadas, descendo a ladeira, desfilando com o seu “balancê" (1936) , desperta em todos nós - até nos mais céticos - uma nova “aurora" (1940). Um novo despertar, para a felicidade, para a alegria e porque em qualquer um de nós renasce uma nova fé, e apelamos até para os deuses de outros povos: "Allah! meu bom allah" (1940). Mas que calor ô ô ô ô. ô ô.
Ainda que nos ameacem profusa e abundantemente, convocando-nos para viver uma vida que não a nossa, ensinam-nos, diariamente, a prática de hábitos diversos daqueles que nos foram transmitidos por nossos ancestrais. Eu me rebelo contra isso e convoco todos a provar a nossa “Cachaça" (1953). Vamos cair na folia, porque a felicidade é nossa marca registrada e sem constrangimentos vamos por em nossa cabeça a “cabeleira do Zezé" (1963) e vamos brincar o nosso carnaval – porque não há outro modo de vida como o nosso. Livres, alegres e com uma forma peculiar de dizer ao mundo: Sou feliz.
Um povo se identifica por sua forma peculiar de ser, agir, reagir e cantar. Ninguém canta como nós – portanto, preste muita atenção – quando você for para “maracangalha” não vá de mãos vazias; leve consigo a graça de sua alegria, a felicidade ensinada por seus irmãos: Felinto, Pedro Salgado, Guilherme Fenelon... e espalhe amor, muito amor.