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terça-feira, 19 de março de 2013

Crônica do dia

Hoje temos a crônica do aluno Samuel, fazendo algumas considerações sobre os poemas trabalhados em sala. Boa leitura!


Vinicius de Moraes

O Poetinha, como era conhecido, se já não estivesse ausente há trinta e dois anos, estaria por completar um centenário de idade em outubro próximo. Esta sua ausência privou-nos de sua companhia a nós idosos, e tantos outros nossos contemporâneos.
E perguntamos se nós idosos teríamos o direito de examinar e comentar sua obra, e mais ainda seus sonetos. Sim, teríamos este direito porque ele nos deixou com 66 anos de idade - na terceira idade, tal como nós nos encontramos nestes dias.
No soneto "O verbo no infinito", ele expõe sua elevada mística calcada nos dogmas cristãos, de tal modo a unir a Luz que nos vem de cima com a materialidade do cotidiano em estado de continuidade perene, para enfim retornar à infinitude da origem atemporal, num ciclo que se repete infinitamente. Sem perder a visão interior dos fenômenos de uma existência terrena, toca por tangente na sensualidade do amor. Comungando com ele, participamos como se fôssemos nós mesmos a passar por aquela existência contida na poética do soneto. E nisto estamos a criar, a gerar, a transformar, a amar, a viver, a crescer, a conhecer, a ter e perder, a recomeçar, a abandonar, a retornar fora do tempo que nos limita. Pulsar com esperança de uma solução de continuidade é a mensagem que o Poetinha está a nos passar.
Do terceiro soneto de "Os quatro elementos", "O ar", para termos melhor noção e visão, faz-se necessário que conheçamos os demais sonetos - "O fogo", "A terra" e "A água", escritos em Montevidéu, em 1960. Ali, ele manifesta em plenitude sua alma de poeta, abordando direto o desejo sensual pela sua Amiga Amada, numa narrativa que nos excita a imaginação e, se possível for, as funções endócrinas. Fantasiamos com ele em deserta praia em companhia de deslumbrante uruguaia. Faz-nos sonhar com amores proibidos e impossíveis. Se o permitimos, arrasta-nos no fogo, pela terra, envoltos no ar e na água da sensualidade. Como um personagem que enfrenta adversários subjetivos como o Sol, a Terra, o Vento e a Água fluídica, ele termina por ter como prêmio o corpo da Amada Amiga. Deste modo, ele confessa, em narrativa, suas aventuras amorosas em solo alienígena. Expõe-nos a sua particular concepção de que prazer não é pecado; contudo, não é lícito o prazer no pecado.

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