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quinta-feira, 28 de abril de 2011

Crônica do dia

Bah, tchê! Uma barbaridade de Rubim Fortunato Júnior é a nossa leitura de hoje!

Um Gaúcho

Inverno  de 1990. Fazia frio. O nevoeiro cobria quase toda a paisagem. Sentado na varanda da casa modesta, lá estava o velho Antônio tomando o seu chimarrão, enrolado num poncho com os fios de lã se desmanchando de tanto uso.
E as lembranças vieram. Corria o ano de 1923 quando, montado num belo zaino, foi combater ao lado de Borges de Medeiros, que era presidente do Rio Grande.
Era um grupo maragato! Montado num cavalo com uma sela caprichada, o poncho colorido atravessado no peito, o sombreiro colocado na cabeça com requintes de elegância e um bigodinho atrevido no rosto másculo, fazia balançar o coração das moças. As chininhas então se ofereciam a ele sem pudor.
Recordou-se de Anita, uma bonita morena, de olhos negros e profundos, descendente de italianos, tranças amarradas com fitas vermelhas. Queria casar com ele, embora a família fosse contra. Mas Antônio queria correr mundo, não queria responsabilidade e foi lutar pelo Partido Libertador.
Ferido, voltou para a estância de onde tinha saído, e aí conheceu Isabel, com quem se casou. Ela morreu cedo e deixou um filho que, quando crescido, se mandou pelas coxilhas e não deu mais notícias.
Antônio cochilou e sonhou com Isabel; era um fiapo de lembrança. Acordou e ficou pensando, era meio triste ficar velho, mas havia tantas coisas boas pra recordar...

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