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segunda-feira, 27 de junho de 2011

Crônica do Dia

E para comemorar a volta do feriadão em clima de romantismo, trazemos a crônica de Dia dos Namorados do Samuel. Encantem-se...

UM HOMEM/UMA MULHER


Que impressões, que emoções, que lembranças poderiam ser sentidas, após assistirmos um filme como “Carta para Julieta”? 
Meditei sobre o tema, considerando a situação particular dos  que  atravessam  a  fase da  terceira  idade.  Enquanto não  nos faltar o entusiasmo, sustentado pela paixão, buscamos nos realizar como  entidades  opostas  em  comunhão. O  princípio masculino em união perfeita com o princípio feminino. 
Quantos  de  nós  temos  deixado    no  passado  um relacionamento  incompleto,  que  por algum  temor  imaturo não  se concretizou...   Mesmo um namorico na  infância  fica gravado  em nossos  corações;  devido  à  insegurança  daquela  fase,  são lembranças de uma fantasia pueril. Alcançando a adolescência, a atração  física  saudável  para  ambos  os  seres  surge  por  instinto. Promessas para um futuro incerto são necessários para uma possível continuidade. 
O  tempo  passa  e  muitas  causas  vão  modificando  as relações humanas. Se alguma promessa não for cumprida, isso não significa,  forçosamente,  uma  traição.  São apenas  adaptações sociais a que se submetem os enamorados. Alguns nunca mais hão de  se  encontrar. Outros  se  cruzarão  nos  caminhos  da  existência, apenas  para  se  reconhecerem    compromissados.  Outros  tantos, após  uma  separação  dolorosa,  por  divórcio  ou  por  viuvez, possivelmente  terão  a  grata  sorte  de  reencontrarem  aquele  amor da  juventude, em  iguais condições de estado. E aí poderá ocorrer, ou não, mais uma vez, a conjunção das almas viventes. 
Considerando a nossa  situação na  terceira  idade  ou na segunda  infância    como  queiram  -,    com  a  produção  dos hormônios  atenuadas,  ganhamos  algo  excepcional,  que  é  a sublimação  de  nossos  egos. O  homem    não  se  sente  atraído  por aquilo  que  “contempla”;  a  mulher    não  se  sente  atraída  por aquilo  que  “escuta”.  Então,  o  que  é  capaz  de  nos  aproximar  do outro  ser  que  nos completa  numa  plenitude  existencial?  Seria  a necessidade simples de se apoiarem um ao outro? Ou seria sentir a espiritualidade manifesta do outro, aceitando como ele ou ela é? E,  aceitando,  deixamos  o  outro  livre.  A  beleza  enaltecida  dessa liberdade é que nos possibilita atingir o paraíso, no aqui e agora, enquanto possível à vida no corpo. 
Que encanto a aproximação de idosos sem a imposição da atração  física. Quão maravilhosa  é a manifestação  de  um amor puro,  desinteressado,  cristalino,  envolvido  numa  felicidade radiosa, capaz de ser percebida e sentida por outros corações.  É a união das energias dos princípios opostos, em harmonia holística, geradora  do  amor  e  de  amar,  da  criatividade  e  da  criação,  do silêncio  e  do  som,  do  estático  e  da  dança,  do  transitório  e  do eterno. 
Naturalmente,  uma  sedução  por  sensualidade  poderá ocorrer e em nada obstar uma conjunção carnal, se desejada pelos amantes. 
O mais admirável e  emocionante,  sempre,  é o  reencontro dos  apaixonados,  após  longo  período  de  separação  física.  A  nós expectantes,  causa-nos um nó na garganta  e um aperto no  peito, do qual não devemos, em hipótese alguma, nos envergonhar de tal sentimento – eleva-nos o espírito. 
Por  isso,  nós,  os  idosos,  temos  a  oportunidade,  quando descompromissados, com  liberdade,  já não  tão  sujeitos ao  instinto de  reprodução,  de  realizar  aquilo  pelo  que  realmente  existimos, isto é, manifestar AmoR (R maiúsculo de responsabilidade), com o respeito espiritual merecido por ele ou ela - a outra face da mesma moeda. 
Também,  porque  o  Universo  nos  escuta,  devemos  sempre expressar  verbalmente,  agradecidamente,  constantemente,  sem leviandade:

- Eu te amo, meu amor! 

Em 12 de junho de 2011 – Dia dos Namorados. 

Crônica  dedicada  a minha  namorada,  Alegra,  após  43 anos de matrimônio.   

Samuel Kauffmann.  

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