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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Crônica do dia

Hoje para começarmos a semana temos a crônica da aluna Ney Bretas que fala sobre o caos que está a nossa saúde. REFLITAM!

                    Socorro Inesperado

Acabava de chegar do hospital, onde fui fazer exame de sangue e consulta ao oftalmologista. Quando lá pelo meio dia de segunda feira, recebi um telefonema de minha cunhada. Aflita, me disse que meu cunhado muito enfermo, tinha dado entrada no Hospital Salgado Filho, no Méier.
Meu filho, o Flavio veio almoçar comigo, e viu que eu queria ir lá depressa para ver se podia ajudar. Assim fizemos.
Chegando lá, ele foi embora e me deixou dizendo que a hora que precisasse ele iria me buscar. Ele não ficou para ver o tio, porque tem angustia por hospital, por outras experiências, inclusive comigo, não é por que não quisesse. Informei, vai, qualquer notícia lhe telefono e assim fui fazendo.
Cheguei a recepção, me identifiquei, pedi informações e logo me disseram que meu cunhado estava na sala de reanimação. Foi um susto enorme, pois pensei que talvez ele estivesse morrendo. 
Fiquei um tempo grande para poder ver ou saber realmente o que era verdade. Geovana, casada com meu sobrinho Marcelo, estava lá acompanhando desde a manhã, corajosa, companheira da família, aguentando tudo ao lado do Celsinho, meu cunhado, tio do Marcelo e de meus filhos. 
Por fim, chegou uma assistente social para dar informações. Dei o nome do paciente e ela me informou que era só um minutinho. Entrei, vi meu cunhado que parecia melhor um pouco, mas seu estado era grave. Geovana me informou mais ou menos tudo  que havia acontecido, pois nosso tempo era pouquinho. Foi ai que propus ficar lá em seu lugar. Ela e Marcelo tem duas criancinhas lindas, a Lorena e o Thiago. Assim fizemos.
Fiquei a espera do Celsinho ser transferido para a emergência. Vai aguardar, Deus sabe quando, uma enfermaria. Não tinha lugar lá dentro, ele ficou no corredor, com outros pacientes graves, enfrente a tal porta de acesso para pacientes recém chegados. Lá só podiam baixar até uns quinze no máximo, haviam  mais de cinquenta, encostados, uma maca na outra. Não era cama hospitalar, isto para caber mais gente. Ficamos no corredor que era passagem para o raio X  e tomográfo, porta de entrada de todos os casos graves, tais como baleados, acidentados como o que foi registrado pelo noticiário da Globo, ontem a noite (20 de setembro). Um rapaz que havia caído do telhado lá pelos lados de Xerém, ficou quase sete horas para ser atendido, passando por diversos hospitais sem sucesso. O paciente estava em estado de coma, o único que o aceitou foi o bendito Salgado Filho, sem nenhuma condição de vaga, mas mesmo assim, prestou atendimento imediato. 
Noite traiçoeira, só quem passa sabe , aprecia que não acabar. Meu cunhado ficou a noite toda em uma maca sem colchão, meu coração não aguentava ver tanto sofrimento. O atendimento dos muitos, mas poucos que se desdobravam para atender a imensidão de doentes, era muito exaustivo para aqueles auxiliares, enfermeiros e médicos. Mesmo assim, não posso negar que eles fazem até o que não podem para atender tantos casos, diferentes; medicação sempre dada com rigor. 
Fiquei tentando passar auxílio para outros colegas de corredor. Dei atenção e carinho no que pude. Tentamos, então conseguimos depois da lavação do corredor, eu e a mãe de um garoto. O menino não conseguiu ficar na pediatria, por ser grandão, não havia acomodação. Conseguimos arrumar num banco de cimento lá atrás, um leito feito com um colchonete trazido pelos familiares, isto já era lá pelas duas da madrugada, por fim o garoto parou de chorar e dormiu, sua mãe também sentou na cadeira que estava com o garoto e dormiu, pedindo para eu lhe chamar na hora da medicação.
Um auxiliar, se desdobrando, atendeu meu pedido, fez uma higiene no meu cunhado, para que pudesse até descansar limpo, um pouquinho naquela maca sem colchão. Ele também arrumou dois cobertores, pois o ar-condicionado gelava.
Foi muito triste aquela noite, em pé, vendo passarem por ali todos aqueles que precisavam de atendimento urgente. Mais deprimente ver passarem pacotes humanos para o necrotério.
Trabalhei em um hospital, mas nunca tinha vivido situação tão difícil e assustadora. Foi então que me dei conta de como anda precária nossa saúde, sem infraestrutura, sub-humana.
Agradeço a atenção de todos vocês, colegas e professores, em ouvir meu relato, onde outras pessoas diariamente vivem tudo isto. É assustador. Quero sempre confiar em Deus, para me auxiliar sempre nestes momentos difíceis. Obrigado, meu Jesus, a quem implorei todo tempo por ajuda.
                                                                                                    

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