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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Crônica do dia

Terminando a semana, a bela crônica da aluna Ney, em que ela fala do que gostaria de ter sido e do que é. Boa leitura!

Quem seria eu...

Lembranças da minha infância, eram bem alegres quando me via molhando a horta da vovó, jogando água fora do portão, respingando as pessoas que passavam, isto porque suas plantações ficavam no jardim da frente da casa. Eu me divertia sempre, levava um pito por fazer aquilo. No quintal tinha um galinheiro, onde também ajudava a dar milho para o galo nervoso correndo atrás de suas galinhas gorjeadoras, e os pintinhos que coisa linda! amarelinhos, fugitivos, medrosos. Ajudava a lavar louças, varrer quintal, sabia de minhas obrigações, não gostava de deixar de fazer nada, para depois brincar.
Divertíamos, correndo pra lá e pra cá, entre os lençóis brancos de minha vó, enxaguados com anil, para dar uma cor alva. Era lá com meus seis anos, brincava com irmã Nilda, mais nova três anos que eu. Vovó gritava "sai daí, meninas arteiras, vai sujar minha roupa", nós saíamos dali correndo prontas para levar palmadas pela arte. Íamos direto para o quarto, onde morávamos, lá ficávamos quietinhas, com minha outra Norma que era de colo. Ela gritava "fica aí, não saiam senão pego vocês". Vó Luiza tinha razão, tinha que enxaguar de novo os lençóis.
Havia uma janela no quarto da frente, onde moravam dois senhores. Eles saíam para trabalhar. Lá ia eu arrumar. Eles tinham um rádio, nele eu ligava na Rádio Ministério da Educação. Sintonizava, era hora das músicas clássicas, as de piano eram minhas preferidas. Então depois da tarefa, ia eu para frente da tal janela, e fingia estar tocando piano no beiral. Olhava para fora e via as pessoas, e pensando com meus botões estou dando um conserto para elas. Que fantasia, queria ser pianista.
Mai tarde, fui estudar no colégio da igreja do Bom Jesus da Penha, consegui uma bolsa, morava pertinho, numa rua transversal. Fiz meu jardim de infância e primeiro ano, lá fui batizada, crismada, e também o catecismo. Com tanto padre e freira, fiquei apaixonada pela religião. Nos credos, nas obrigações religiosas, ajudava em tudo que podia, menina prestativa. Aí pensei quando crescer quero ser freira!
Aos nove anos, mudamos para o conjunto da Light, na Penha Circular. Meu pai trabalhou duro para conseguir esta casinha de dois quartos, sala cozinha, banheiro, tudo só para nós cinco.
Estudei meu primário no colégio público Mario Barreto, pertinho da minha casa. Lá conheci meu primeiro amor, Luiz Antonio, garoto moreninho, muito meu amiguinho, ele nunca soube que eu era apaixonada, bastava estar perto, de segunda a sexta. As tias Maria do Carmo, uma senhora muito compreensiva, sabia ensinar, Solange, Ilma, que moças lindas, cheias de entusiasmos, faziam sempre nas comemorações, ensaios teatrais, as datas não eram esquecidas nunca. Olhava para elas, queria ser também professora quando crescer.
Olho para trás, não fui nada que sonhei, mas aprendi tanto, fui uma filha presente na velhice dos meus pais, fui esposa zelosa para minha família, sou e serei sempre a mãe de todas horas para meus filhos Glaucio e Flavio.
Hoje não vejo nenhuma tristeza, a minha vida está completa, com minha família unida, na UNATI, nas diversões, na aposentadoria, no que eu possa vir a fazer em prol do próximo. Não sou um espelho de grandeza, mas procuro ser melhor que ontem. Obrigado, meus colegas e professores, por mais uma vez ouvir  minha história.

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